Um defeito de cor : um romance intersemiótico ou as semioses de um romance

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/matraga.2025.90367

Palavras-chave:

Um defeito de cor, Tradução intersemiótica, Tradução como reparação, Oralitura

Resumo

Neste artigo, busca-se escrutinar o romance Um defeito de cor como uma experiência artístico-tradutória intersemiótica, sinestésica, em face da forclusão de raça e gênero ainda persistente por estas bandas do Atlântico, em particular, no Brasil. Para isso, far-se-ão alguns experimentos analíticos, endógenos — na figura da análise dos elementos narrativos e provérbios, presentes nos capítulos, e exógenos — na figura da interrelação com a carta autobiográfica escrita por Luiz Gama, das especulações sobre a existência de Luiza Mahin, do exercício, enfim, que a visão profética do passado preconiza, como sugerido por Édouard Glissant. Busca-se, a partir das apreciações desses elementos, traçar dialogias (inter)sígnicas, interrelacionais, em contraste aos postulados sobre Tradução Intersemiótica trazidos por Julio Plaza. O presente trabalho será o de examinar o referido romance como uma oralitura transcodificada em traduzir um passado que, a princípio, ocultou memórias negras como insignificantes, e que agora essas retornam à baila fazendo a literatura dançar na desmedida do trauma transatlântico, bem como do além-trauma. Ao lançar índices históricos e literários que rasuram noções violentas e banalizadas advindas, muitas vezes, da História monolítica de um Eu-nação agonal e totalizante, o romance em questão traduz e reconstitui tentativas de humanidade a quem teve e tem, continuamente e ao longo dos últimos séculos, essa humanidade usurpada de si.

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Biografia do Autor

Dóris Dias dos Santos, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

É graduada no bacharelado Interdisciplinar em Humanidades com área de concentração em Re- lações Internacionais, licenciada em Letras Vernáculas com Língua Estrangeira Moderna (Port-

-Ing), graduanda em Língua Estrangeira Moderna (Alemão), mestra em Relações Internacionais e doutoranda em Literatura e Cultura, todos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É pro- fessora de língua estrangeira (inglês e espanhol), professora de português brasileiro e literatura, intérprete, revisora e tradutora freelancer. Faz parte do grupo de pesquisa-extensão “Corpos Indóceis, Mentes Livres”. Integra o Corpo Editorial da Revista Inventário. Escreve e pesquisa sobre Teorias da Tradução, Literatura, Afro diáspora, Crítica Literária, em articulação com epis- temologias transdisciplinares e interseccionais.

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Publicado

2025-09-11

Como Citar

DIAS DOS SANTOS, Dóris. Um defeito de cor : um romance intersemiótico ou as semioses de um romance. Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, Rio de Janeiro, v. 32, n. 66, p. 446–462, 2025. DOI: 10.12957/matraga.2025.90367. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/matraga/article/view/90367. Acesso em: 27 out. 2025.