Sobre mostrar e não contar: considerações acerca do uso de cena e sumário em narrativas de não-ficção
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2025.85412Palavras-chave:
Escrita criativa, Narrativa de não-ficção, Teoria narrativa, Jornalismo literárioResumo
Assim como outros gêneros de prosa literária, os estudos acerca do produzir narrativas de não-ficção têm se construído em torno da premissa “mostre, não conte”. Hoje, vista como uma regra maçante e óbvia em oficinas de escrita criativa, seus fundamentos são encontrados em teses de escritores, como Anton Tchekhov, e teóricos, como Wayne Booth e David Lodge. Por sua evidente eficiência, a técnica não poderia deixar de ser absorvida e naturalizada pelas narrativas de não-ficção. Lançando mão das considerações destes teóricos em torno da cena (mostrar) e do sumário (contar), entre outros nomes, como Stephen Koch, Luiz Antonio de Assis Brasil e Noemi Jaffe, este artigo pretende reiterar o fato de que cena e sumário não são elementos antagonistas, refutando uma crença comum, segundo a qual o sumário deve ser evitado. A partir de exemplos de trabalhos do gênero, de autoria de Eliane Brum, Lira Neto, Vanessa Barbara, Gay Talese e Susan Orlean, busca-se evidenciar que ambas as formas têm a mesma potência qualitativa.
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