Contos naturalistas da Guerra do Paraguai
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2024.83119Palavras-chave:
Literatura de guerra, Guerra do Paraguai, NaturalismoResumo
A guerra é um dos temas naturalistas que foi obscurecido pela centralidade atribuída ao determinismo biológico na caracterização do movimento. A visão caricatural de uma literatura cientificista, fracassada e antiartística, obliterou significativamente os corpora naturalistas produzidos no Brasil. Neles, encontramos ficções sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870) e a vida militar que aproximam o naturalismo no Brasil de experiências semelhantes retratadas no naturalismo francês relacionadas à Guerra Franco-Prussiana (1870- 1871). Os textos abordam o conflito a partir de vários ângulos, mas concordam que as situações criadas por ele são absurdas. O sentimento de horror e desengano que marca essa literatura a aproxima da vertente do “naturalismo desiludido” (Baguley, 1990), cuja principal estratégia era romper com o gênero clássico da guerra – a epopeia – como matriz do romance moderno. São histórias sobre viagens fracassadas e conflitos irresolvidos que assumem um posicionamento crítico às guerras e ao militarismo. Neste trabalho, vamos testar a hipótese em três contos brasileiros do fim do século XIX sobre a Guerra do Paraguai: “Vampa” (1890), de Oscar Rosas; “Uma noite” (1895), de Machado de Assis; e “Maria sem tempo” (1891), de Domício da Gama.
Referências
ARAÚJO, Tiago. A identidade nacional brasileira na Guerra do Paraguai (1864-1870). Tese de Doutorado (em História). Brasília: Universidade de Brasília, 2012.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Uma noite. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, tomo IV, out. 1895, p. 321-333.
BAGULEY, David. Naturalist fiction. The entropic vision. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
BARRY, Quintin. Franco-Prussian War 1870-1871: Volume 1. Warwick: Helion and Company, 2011.
BETHELL, Leslie. The Paraguayan war (1864-1870). Londres: Institute of Latin American Studies, 1996.
BORGES, Luís Eduardo Ramos. Vida e obra do escritor Domícia da Gama: um resgate necessário. Tese de Doutorado (em Letras). Assis: UNESP, 1998.
BROCA, Brito. O tema da guerra na literatura brasileira. A Manhã, Rio de Janeiro, 4 set. 1949, p. 1.
CHIAVENATTO, Júlio José. Genocídio americano: a Guerra do Paraguai. São Paulo: Brasiliense, 1995.
DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995.
FRANCHETTI, Paulo. O primo Basílio e a batalha pelo realismo no Brasil. Convergência Lusíada, n° 21, p. 253-279, 2005.
GAMA, Domício da. Maria sem tempo. In: GAMA, Domício da. Histórias curtas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1901.
IZECKSOHN, Vitor. Resistência ao recrutamento para o Exército durante as guerras Civil e do Paraguai: Bra¬sil e Estados Unidos na década de 1860. Estudos Históricos, n. 27, p. 84-109, 2001.
MENDES, Leonardo. Pardal Mallet, naturalismo e modernidade no Brasil oitocentista. Revista Graphos, v. 24, n. 2, p. 29-48, 2022.
MENDES, Leonardo. O retrato do imperador: negociação, sexualidade e romance naturalista no Brasil. Por¬to Alegre: Editora da PUC-RS, 2000.
MENDES, Leonardo; CATHARINA, Pedro Paulo. Le naturalisme brésilien au pluriel. Revue Brésil(s) [En ligne], n. 15, p. 1-22, 2019.
MURICY, José Candido de Andrade. Panorama do movimento simbolista brasileiro. Rio de Janeiro: Depar¬tamento de Imprensa Nacional, 1952.
PEREGRINO, Umberto. A Guerra do Paraguai na obra de Machado de Assis. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 1969.
POMER, León. A Guerra do Paraguai: a grande tragédia rioplatense. São Paulo: Global, 1981.
RIPPOL, Roger. Guerre. In: BECKER, Colette; DUFIEF, Pierre-Jean. Dictionnaire des Naturalismes. Paris: Honoré-Champion, p. 477-480, 2017.
RODRIGUES, Marcelo Santos. Os (In)voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai. Dissertação de Mestra¬do (em História). Salvador: UFBA, 2001.
ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. 5 ed. Rio de Janeiro: JoséOlympio, 1954. t.5.
ROSAS, Oscar. Resposta a Sancho Pança. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 11 out. 1890a, p. 1.
ROSAS, Oscar. Vampa. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 27 jul. 1890b, p. 1.
SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: memórias e imagens. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2003.
SANDANELLO, Franco Baptista. Domício da Gama e o impressionismo literário no Brasil. São Luís: EDU¬FMA, 2017.
SEREZA, Haroldo Ceravolo. O naturalismo e o naturalismo no Brasil. Questões de forma, classe, raça e gênero no romance brasileiro do século 19. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2022.
SILVA, Leonardo de Oliveira. As armas do Império: Guerra do Paraguai, literatura do Brasil. Dissertação de Mestrado (em Letras). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014.
SOARES, Iaponan. Panorama do conto catarinense. Porto Alegre: Editora Movimento, 1974.
SOARES, Iaponan. A poesia de Oscar Rosas. Porto Alegre: Editora Movimento, 1972.
TAUNAY, Alfred d’Escragnolle. A retirada da Laguna. Rio de Janeiro: Tipografia Americana, 1874.
URIARTE, Javier. The desertmakers: travel, war and the state in Latin America. New York: Routledge, 2020.
VERÍSSIMO, José. Os contos do Sr. Domício da Gama. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 9 set. 1901, p. 1.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
AUTORIZAÇÃO
A Matraga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ está autorizada a publicar o artigo ora submetido, caso seja aceito para publicação online. Fica atestado que a contribuição é original, que não está sendo submetida a outro editor para publicação, e que a presente declaração é a expressão da verdade.
Os trabalhos publicados no espaço virtual da Matraga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ serão automaticamente cedidos, ficando os seus direitos autorais reservados à Matraga. Sua reprodução, total ou parcial, é condicionada à citação dos autores e dos dados da publicação.
A Matraga utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.