Diversidade e Capacitismo:

pensando as diferenças a partir dos estudos decoloniais e da teoria do feminismo negro

Autores

Palavras-chave:

Diversidade, capacitismo, pensamento decolonial, feminismo negro

Resumo

Perceber a pessoa com deficiência (PcD) tendo por base uma perspectiva pré-concebida, limitante por natureza, advém de uma construção sócio-histórica de pensamentos colonizadores que instauram uma série de preconceitos, tais como, que a PcD não teria condições de ter um pensamento crítico, autonomia, não teria uma vida ativa social e politicamente, entre outros. O ideal colonizador faz com que as capacidades das PcD sejam suprimidas por um discurso eurocêntrico totalizante e excludente, capacitista, cujo objetivo é manter a estrutura de dominação. A PcD precisa passar a ser protagonista do discurso sobre capacidades, mostrar que a deficiência não está na pessoa, mas na sociedade. A proposta desse ensaio é adotar os princípios trazidos pelos estudos decoloniais e pela teoria do feminismo negro para pensar a diversidade e o capacitismo em seu contexto, práticas, cultura e significados específicos. Importante entender que, ao se contraporem a hierarquia até então imposta, esses estudos não vieram para sobrepor os demais, mas para contestar. Eles surgem para revitalizar as teorias, superando os binarismos com a inclusão de diversas geografias. Por esse motivo, entende-se que unir o pensamento decolonial e as teorias elaboradas pelas feministas negras é a proposta mais apropriada para analisar a diversidade, o capacitismo, e as suas interseccionalidades.

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Publicado

2023-12-31

Como Citar

Beltrame, B. S., & Oltramari, A. P. (2023). Diversidade e Capacitismo: : pensando as diferenças a partir dos estudos decoloniais e da teoria do feminismo negro. Revista Intratextos, 14(1), 90–108. Recuperado de https://www.e-publicacoes.uerj.br/intratextos/article/view/71582