Sustentabilidade para quem? Um olhar da crítica pós-colonial para impressões ambientais e telúricas em Angola

Autores

  • Flora Pereira da Silva Universidade de Brasília
  • Selma Pantoja Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.12957/transversos.2021.56624

Palavras-chave:

Meio ambiente, Terra, Crítica pós-colonial, Angola, Ecologia Política

Resumo

Este artigo procura demonstrar como as nuances de interpretação sobre meio ambiente das sociedades que compõem o sistema-mundo hoje, em particular no contexto angolano, foram formadas ao longo de uma história global de colonização e dominação do Norte sobre o Sul, não apenas econômica e cultural, mas também ambiental. A partir de um olhar da crítica pós-colonial e da ecologia política, abordo a dança de influências e percepções entre a agenda internacional e a regional sobre as noções de meio ambiente e terra, analisando o peso da hegemonia das epistemologias ocidentais e capitalistas na construção e na ideia específica desses conceitos, entendendo como estes são absorvidos e emanados em Angola e seu Sul. As vozes que permeiam e dão o tom ao artigo são as de dez entrevistadas e entrevistados angolanos que trazem suas impressões ambientais e telúricas sobre as dinâmicas locais.

Biografia do Autor

Flora Pereira da Silva, Universidade de Brasília

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília

Selma Pantoja, Universidade de Brasília

Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense, mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo. 

Referências

REFERÊNCIAS

ANGOLA. Boletim Informativo Interno. Edição 6. Ministério do Ambiente de Angola, 2019.

ANGOLA. Lei Associações de Defesa do Ambiente. Ministério do Ambiente, Assembleia Nacional, Lei nº 3, de 18 de janeiro de 2006.

BALL, Jeremy. The history of Angola. Oxford Research Encyclopedia of African History, 2017.

BAPTISTA, João Afonso et al. “Everything”: towards an ecology of land utilization. Biodiversity and Ecology, v. 5, p. 393-406, 2013.

BRINKMAN, Inge. Town, village and bush: war and cultural landscapes in south-eastern Angola (1966-2002). Afrika Focus, v. 25, n. 2, 2012.

BROCH-DUE, Vigdis. Producing nature and poverty in Africa, 2000.

CARVALHO, Ruy Duarte de. O futuro já́ começou? Transições políticas e afirmação identitária entre os pastores kuvale (herero) do Sudoeste de Angola. Lusotopie, n. 2, 1995. Transitions libérales en Afrique lusophone. p. 221-237, 1995.

CARVALHO, Ruy Duarte de. Produção histórica de identidades colectivas diferenciadas no Sudoeste litoral de Angola. A insularização Kuvale e a integração Kimbar. In: III REUNIÃO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DA ÁFRICA (Lisboa). A África e a instalação do sistema colonial (c.1885 - c.1930). Lisboa: Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga do Instituto de Investigação Científica Tropical, 2000b.

CASTELO, Cláudia. African Knowledge and Resilience in Late Portuguese Colonial Empire: The Agro-pastoralists of Southwestern Angola in Portuguese Studies Review, 2017. p. 91-118.

CASTELO, Cláudia. Arame farpado, conhecimento e desenvolvimento no Sudoeste de Angola (c. 1960-1974). Africana Studia, n. 30, p. 47-59, 2018.

CASTRO HENRIQUES, Isabel. Identidade e território: a construção da Angola colonial. Lisboa: Ed. Centro de História da Universidade de Lisboa, 2004.

CHIMAKONAM, Jonathan O. (ed.). African Philosophy and Environmental Conservation. Abingdon, Oxon: Routledge, 2018.

COELHO, João P. B. Estado, comunidades e calamidades naturais no Moçambique rural. In: Boaventura de Sousa. Semear outras soluções: Os caminhos rivais da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Porto: Edições Afrontamento, 2004. p. 183-212

COMAROFF, Jean; COMAROFF, John L. Teoría desde el sur. O cómo los países centrales evolucionan hacia África, Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2013.

EBOKO, Fred. Politique publique et sida en Afrique. Cahiers d’études africaines, n. 178, p. 351-387, 2005, mis en ligne le 30 juin 2008, consulté le 30 juillet 2015. Disponível em: http://etudesafricaines.revues.org/5419. Acesso em: 16 nov. 2020.

EGIZIABHER, Tewolde B. G. Uma globalização baseada nas pessoas. In: SANTOS, Boaventura Sousa. Semear outras soluções: Os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Porto: Edições Afrontamento, 2004. p. 397-419

FREUDENTHAL, Aida. Arimos e fazendas: a transição agrária em Angola, 1850-1880. Luanda: Chá de Caxinde, 2005.

LANG, Miriam. Introdução: Alternativas ao desenvolvimento. In: DILGER, Gerhard; LANG, Miriam; PEREIRA FILHO, Jorge (org.). Descolonizar o imaginário: debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao desenvolvimento. São Paulo: Autonomia Literária, 2016. p. 26-44.

LOGAN, B. Ikubolajeh; MOSELEY, William. African Environment and Development: An Introduction. In: MOSELEY, William G. et al. African environment and development: rhetoric, programs and realities. Farnham: Ashgate Publishing Ltd., 2004. p. 1-16

LOGAN, B. Ikubolajeh. Ideology and Power in Resource Management: From Sustainable Development to Environmental Security in Africa. In: MOSELEY, William G. et al. African environment and development: rhetoric, programs and realities. Farnham: Ashgate Publishing Ltd., 2004. p. 17-40

MBEMBE, Achille. A saída da democracia. Políticas da Inimizade. Lisboa: Antígona, 2017.

MBEMBE, Achille. Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

MOSELEY, William G. Whither African Environment and Development? In: MOSELEY, William G. et al. African environment and development: rhetoric, programs and realities. Ashgate Publishing Ltd., 2004. p. 229-240

ORTEGA SANTOS, Antonio; OLIVIERI, Chiara. Narrativas Coloniales de la Historia Ambiental. Un balance hacia la Decolonialidad como nueva epistemología. HALAC – Historia Ambiental, Latinoamericana y Caribeña, v. 7, ed. 2, p. 32-64, 2017.

PACHECO, F. A terra no contexto da reconstrução e da democratização em Angola. In: VAN DÚNEN, José O. S.; SANTOS, Boaventura de Sousa (ed.). Sociedade e Estado em Construção: desafios do direito e da democracia em Angola, 2012. p. 463-496.

PANTOJA, Selma. Historiografia africana e os ventos sul: desenvolvimento e história. Historiografia africana e os ventos sul: desenvolvimento e história. Transversos: Revista de História, Rio de Janeiro, n. 8, p. 46-70, 2016.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Souza; MENEZES, Maria Paula (org.). Epistemologias do Sul. [S. l.: s. n.], 2010. cap. 1, p. 23-72.

TOKO, Patrick Wafeu. L’analyse des politiques publiques en Afrique. Politiques Publiques em Afrique. 2008. Disponível em: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00397756. Acesso em: 17 nov. 2020.

UNICEF. Relatório Ação Humanitária para Crianças, Nova York, 2019.

VENÂNCIO, José Carlos. Reflexões em torno da política agrária em África e em Angola. In: PANTOJA, Selma; THOMPSON, Estevan C. (org.). Em torno de Angola: narrativas, identidades e as conexões atlânticas. São Paulo: Intermeios, 2014. p. 49-66.

WALDMAN, Maurício. Lições da Mãe África: o exemplo das mobilizações ambientalistas. Revista Acadêmica África e Africanidades (Rio de Janeiro, 2010) & Cultura – Jornal Angolano de Artes e Letras (Luanda, Angola, 2014), 2019a. Disponível em: http://mw.pro.br/mw/eco_licoes_da_mae_africa.pdf. Acesso em: 16 nov. 2020.

WALLERSTEIN, I. O sistema mundial moderno. Vol. I: a agricultura capitalista e as origens da economia-mundo europeia no século XVI. Porto: Ed. Afrontamentos, 1974.

ENTREVISTAS

BAPTISTINY, Savio Samba Pasqual, 47 anos, diretor-geral da ONG Missão Beneficiência Agropecuária do Kubango Inclusão Tecnologias Ambiente (MBAKITA).

CAIN, Allan James, 69 anos, diretor do Development Workshop e professor visitante da Universidade Walterall (Canadá), nascido em Saint Catarinhes, Ontario, Canada. Mora em Angola desde 1981.

DOMINGOS, Adão, coordenador de programas da ONG Federação Luterana Mundial, nascido em Cambande, Kuanza Norte.

KITOMBE, Cecília, 35 anos, directora de Comunicação e Advocacia Social da Acção Para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), conduziu um estudo da ONG sobre terra em Huíla em 2019, nascida em Luanda.

MALAVINDELE, Manuel João, 37 anos, diretor executivo da ONG Omunga (atuação em Benguela, Lubango, Cunene e Cuando-Cubango), nascido em Lobito, Benguela.

PEMBELE, Mfulutoma Manuel, 54 anos, administrador, diretor-geral da Associação Juvenil para o Desenvolvimento Comunitario em Angola (AJUDECA), nascido na Província de Uige.

PINTO, Pedro de França Dória Vaz, 52 anos, doutor em Biologia e diretor da Fundação Kissama, nascido em Luanda.

QUITARI, Garcia Neves, 40 anos, professor de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, mestre em Sociologia e Direito. Desenvolve pesquisas sobre questão agrária, agricultura familiar, sociedade civil e cidadania no pós-guerra civil em Angola.

RUSSO, Vladimir Kiruange Agria, 45 anos, diretor executivo da Fundação Kissama e Diretor Técnico da Holísticos, nascido em Luanda.

TAVARES, Erica, 22 anos, bióloga ambiental, fundadora do site EcoAngola, nascida em Luanda.

Downloads

Publicado

2021-08-30