Antropofagia ou Simbiose? Uma questão do modernismo brasileiro

Autores

  • Maria Cristina Machado Motta Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

DOI:

https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2018.37847

Resumo

O modernismo brasileiro foi um movimento que pensou a originalidade da nossa cultura, seja através da visão folclórica de Mario de Andrade em Macunaíma, seja através da poesia mágica e amazônica de Raul Bopp em Cobra Norato, seja através das formas coloridas e primitivas do Abaporu de Tarsila do Amaral ou do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade. A antropofagia modernista assumiu características canibais quando pensou na devoração do outro como modo de auto-sustentação e fortalecimento. Entretanto, há de necessidade de fazer uma distinção entre canibalismo e antropofagia: o primeiro conceito se dá em um nível biológico, enquanto o segundo se dá em um nível mágico e ritualístico. Mas o fato é que ambos os termos usados para repensar a cultura nacional, nos aproximam da Biologia, que tem como temas principais a evolução e a origem da vida: todos os seres que existem descendem de associações, permanentes ou transientes, entre espécies primitivas diferentes. Não é possível descrever com exatidão como a vida surgiu, mas com certeza a devoração e o canibalismo fizeram parte de eventos evolutivos que nos possibilitam hoje existir com diversidade e plenitude. “Nós somos todos Canibais”, como concluiu em seu ensaio etnológico Lévi-Strauss. “Nós somos todos Simbiose”, como concluo ao longo de vários anos como cientista que estuda a biologia da evolução celular. Neste breve ensaio vou me deter na questão da antropofagia e do canibalismo, nos seus conceitos e na possibilidade destas relações participarem no processo de reinvenção da cultura brasileira. Ao mesmo tempo, vou questionar a proposta do Manifesto Antropófago e repensar sua criação não através da antropofagia, mas sim através da simbiose, relação biológica que dá origem a novos seres, a novas coisas e especialmente a novos modos de pensar.

Biografia do Autor

Maria Cristina Machado Motta, Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Possui graduação em Ciências Biológicas Licenciatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e pós-doutorado pela Fiocruz Paraná em Biologia Molecular (2003). Além disso, possui pós-graduação lato-sensu em Filosofia Contemporânea, Filosofia das Diferenças e Filosofia Antiga pela PUCRio. Atualmente é professor associado do Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ). Atua principalmente na área de Parasitologia, onde utiliza protozoários tripanosomatídeos como modelo de estudo através de abordagem celular, bioquímica e molecular. Principais linhas de pesquisa: 1 - Tripanosomatídeos monoxênicos que contêm bactéria simbiótica como modelo de estudo para a evolução celular 2 - Caracterização do cinetoplasto de tripanosomatídeos através de estudos quimioterápicos e do mecanismo de replicação do kDNA.

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Publicado

2018-12-27

Como Citar

Motta, M. C. M. (2018). Antropofagia ou Simbiose? Uma questão do modernismo brasileiro. Em Construção: Arquivos De Epistemologia histórica E Estudos De Ciência, (4), 159–172. https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2018.37847

Edição

Seção

Artigos