TERRA E POVO TAPAYUNA:
violência, aniquilamento, desterritorialização e (r)existência no avanço da fronteira capitalista no Vale do Arinos-MT
DOI:
https://doi.org/10.12957/geouerj.2025.85658Palavras-chave:
Fronteira integracionista, Colonização, Pacificação indígena, Povo Tapayuna, DesterritorializaçãoResumo
O estudo objetiva compreender aspectos históricos e atuais do processo de ocupação capitalista no Vale do rio Arinos-MT, durante a implantação do primeiro núcleo de colonização regional. O território, habitado por vários povos originários, incluindo os Tapayuna, foi palco de conflitos com os novos ocupantes e de tentativas de pacificação pela Igreja Católica. Como suporte teórico, analisa-se a política da colonialidade e o processo de constituição da fronteira integracionista, baseado na ideologia geográfica da modernização dos sertões. Fundamenta-se ainda no debate sobre a des-re-territorialização e no Instituto do Indigenato. A metodologia, de abordagem qualitativa, envolveu revisão bibliográfica e levantamento documental. Como resultado, confirma-se que a ocupação iniciada na década de 1950 trouxe violência, morte, depopulação e desterritorialização aos Tapayuna. Os poucos membros restantes foram transferidos ao Parque Indígena do Xingu e a área, anteriormente a eles destinada, foi disponibilizada pelo governo militar ao mercado imobiliário que consolidou a ocupação irregular, contrariando os direitos garantidos pelo Instituto do Indigenato e pela Legislação. Na atualidade, os Tapayuna buscam juridicamente retornar ao seu território ancestral.
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