A A REALIDADE DA FRONTEIRA:
o desmatamento, a sujeição do trabalhador e a ambivalência do estado
DOI:
https://doi.org/10.12957/geouerj.2024.83939Palavras-chave:
Fronteira, Amazônia, Agronegócio, Crime Ambiental, SeletividadeResumo
Pertencente ao município de Humaitá-AM, o distrito de Realidade, hoje, é uma das nucleações dinâmicas mais avançadas, em termos de posição territorial, da fronteira sul-amazônica. Empurrada pelo agronegócio e pela agricultura mecanizada e de alta tecnologia, são em áreas como essa que os pequenos agricultores, os migrantes, os madeireiros, pequenos e médios pecuaristas, comerciantes (aventureiros e visionários), falsificadores e estelionatários, entre outros, fornecem as condições materiais para a expansão do ecúmeno primário-exportador do capitalismo em território brasileiro. Atualmente, no entanto, o desbravamento do território envolve também o enfrentamento da legislação ambiental e essa conjuntura coloca em posição de maior vulnerabilidade os trabalhadores sem vínculo formal que realizam boa parte do serviço de abertura da mata. Correlato a isso, um modo de operação do poder público se solidariza com o universo de ações aparentemente desconcertadas que resultam no moto-contínuo de avanço da fronteira. É a constatação dessa premissa operante no âmbito da política pública que permite considerar a expansão da fronteira como um projeto do Estado brasileiro.
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