A CARTA DEL PAISAJE DE LAS AMÉRICAS: UMA COMPREENSÃO RESPONSIVA
DOI:
https://doi.org/10.12957/geouerj.2021.45417Palavras-chave:
Carta da Paisagem. Gênero do discurso. Bakhtin. PaisagemResumo
Introdução: O presente artigo é resultado de uma compreensão dialógica e crítica da recém-publicada Carta del Paisaje de las Américas, e nele procura-se descobrir as características singulares desta Carta em relação à outras Cartas da Paisagem já redigidas nas Américas. O texto, de forma geral indaga em que medida o dito documento se trata de um instrumento e, se o for, em que medida é um instrumento que garante o direito à felicidade como bem patrimonial coletivo das Américas. Objetivo: O objetivo do presente artigo é interpelar a Carta enquanto instrumento que garantirá o direito à felicidade como bem patrimonial coletivo das Américas. Métodos (opcional): Para atingir ao objetivo exposto recorreu-se a leitura dialética de todas as Cartas da Paisagem já produzidas em âmbito nacional e regional nas Américas a fim de compreender o gênero discursivo – categoria ancorada à concepção dialógica da linguagem desenvolvida por Mikhail Bakhtin e seu círculo – ao qual pertence o documento em epígrafe neste artigo. Após a elucidação do gênero do discurso do documento, tomou-se o caso da “felicidade como bem patrimonial” como objeto de reflexão, uma vez que aparece na Carta como sendo o princípio máximo a ser garantido através da paisagem e enquanto bem patrimonial coletivo das Américas. Buscou-se, ainda, identificar características das Cartas nacionais e regionais já escritas no âmbito americano que nos denunciassem suas metodologias. Isso, pois ao se compreender o processo de criação das Cartas, entende-se quão comprometidas estão com a representação das singularidades e particularidades; quão comprometidas estão com a alteridade e com as diversas formas de conceber e relacionar com a paisagem. Resultados: A escolha do gênero discursivo não garante a vontade de servir como instrumento e há uma falta de precisão conceitual que abre a possibilidade de manipulação subjetiva e ideológica dos princípios declarados. O direito à felicidade como bem patrimonial coletivo das Américas é uma vontade transcendental, despreocupada com a realidade concreta que, por fim, não se legitima. Conclusão: Tal documento representa um avanço no caminho de pensar nossas paisagens de maneira coletiva. Mas no mesmo movimento, mostra-nos também a dificuldade de operacionalizar um projeto coletivo; a dificuldade de construir coletivamente metodologias que possibilitem representar a alteridade presente nos países e regiões que compõem as Américas. Os princípios nela declarados são muito mais expressão transcendental da vontade de alguns intelectuais, que uma expressão imanente e realmente concreta. Chama-se atenção, especialmente, para a necessidade de superação desse transcendentalismo que marcou a Construção de nossas Cartas nacionais, regionais e, consequentemente, de nossa Carta Continental da Paisagem; para a necessidade de abrir-nos em direção ao Outro. As realidades das Américas que são diversas, plurais, singulares, contraditórias ao serem tocadas pelos instrumentos desenvolvidos a partir dos princípios universalistas da Carta, certamente serão descaracterizadas por princípios descolados de sua realidade. Por tanto, a escolha do gênero discursivo não garantiu a vontade de servir como o instrumento que viabilizará a conquista do direito a felicidade como bem patrimonial coletivo das Américas.
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