Barroco mineiro mestiço: o abre-alas para repensar a cultura brasileira

Autores

  • Maria Cristina Machado Motta Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2023.76804

Resumo

Discutir a cultura brasileira é pensar o barroco por excelência e nele está a nossa expressão primeira de criatividade, o barroco mestiço. O barroco se insere no tempo da arte e a verdade é que a arte está em todos os tempos, inclusive nos dias atuais, com seus conflitos, contrastes e choques. O carácter inquietante e sedutor do barroco certamente se relaciona com a arte contemporânea, com seus exageros e metanarrativas, com a falta de necessidade de descrever tecnicamente os procedimentos de criação. O barroco é a arte de dobras e redobras que aguçam as sensações e geram novos sentidos, sua essência não depende de teorias estéticas e de inserção cronológica. Aqui, no Brasil, o barroco nos fez desconfiar das imposições culturais europeias e, mais que isso, foi força inspiradora, e perturbadora, para a construção da nossa modernidade que tem ecos na contemporaneidade. Viva as curvas sensuais da arquitetura de Oscar Niemeyer, as bandeirinhas coloridas de Alfredo Volpi, a sensibilidade carnavalesca e tropical de Caetano Veloso, o rompimento de fronteiras entre arte e insanidade de Arthur Bispo do Rosário. Viva o grito de decolonização presente na obra de Adriana Varejão! É o barroco que se (des)dobra em inúmeras manifestações da arte e da cultura brasileira.

Referências

ANDRADE, G. Modernismos 1922-2022. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

ANDRADE, Mário. Aspectos das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1965 [1928].

ANDRADE, Mário. 20º Aniversário da Semana de Arte Moderna. Biblioteca do Itamaraty. Anais... 1942.

ANDRADE, Oswald de. Manifesto da Poesia Pau Brasil. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976 [1924].

ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976 [1928].

ARGAN, G.C. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

ROCHA, João Cezar; RUFFINELLI, Jorge (Orgs.). Antropofagia hoje? Oswald de Andrade em cena. São Paulo: É Realizações, 2011.

AVANCINI, J.A. Mário e o Barroco. São Paulo: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, vol. 36, 1994, p. 47-66.

ÁVILA, A. Barroco, teoria e análise. São Paulo: Perspectiva, 2013.

ÁVILA, A. O lúdico e as projeções do mundo barroco I: uma linguagem a das cortes, uma consciência a dos luces. São Paulo: Perspectiva, 2012.

BATISTA, E. Iconografia tropical: motivos locais na arte colonial brasileira. São Paulo: Anais do Museu Paulista. N. Sér., v. 25, n. 1, 2017, p. 359-401.

BAUMGARTEN, J.; Tavares, A. O Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas. Paris: Perspective: Actualité en histoire de l’art, vol. 2, 2013, p. 1-21.

BAZIN, G. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1956.

BAZIN, G. Barroco e Rococó. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

BERRIEL, C. Tietê, Tejo, Sena: a obra de Paulo Prado. Campinas: Unicamp, 2000.

CALABRESE, O. A Idade Neobarroca. Coimbra: Edições 70, 1987.

CALCANHOTTO, Adriana. A Mulher do Pau Brasil. Concerto-tese [residência artística]. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2018.

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta de achamento do Brasil. Campinas: Unicamp, 2021.

CAMPOS, A.A. Arte sacra no Brasil Colonial. Belo Horizonte: C/Arte, 2011.

CAMPOS, A.A. Manoel da Costa Ataíde. Aspectos históricos, estilísticos, iconográficos e técnicos. Belo Horizonte: C/Arte, 2007.

CAMPOS, A.A. Introdução ao barroco mineiro. Belo Horizonte: Crisálida, 2006.

CAMPOS, Haroldo. Da Razão Antropográfica: Diálogo e Diferença na Cultura Brasileira. In: CAMPOS, Haroldo. Metalinguagem e outras metas. Ensaios de teoria e crítica literária. São Paulo: Perspectiva, 1992.

CARDOSO, R. Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

CHIAMPI, I. Barroco e modernidade: ensaios sobre literatura latino-americana. São Paulo: Perspectiva, 2010.

DELEUZE, Gilles. A Dobra: Leibniz e o Barroco. Campinas, SP. Papirus, 1ª Edição, 1991.

FERNANDES, Orlandino Seitas. Sobre a arte do Aleijadinho: abrasileiramento e valoração. In: Mendes, N.M. (org.). O barroco mineiro em textos. Belo Horizonte: Autêntica, 2003 [1968].

GIL, Gilberto; TORQUATO NETO. Geleia Geral. In: Tropicália ou panis et circenses. [Faixa de música/Long Play]. São Paulo: Philips, 1968.

GOMES JUNIOR, G.S. Palavra Peregrina: o barroco e o pensamento sobre artes e letras no Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.

GUERRA, A. O primitivismo em Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Raul Bopp. Rio de Janeiro. Romano Guerra, 2010.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. (Pnad Contínua). Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

LATERZA, M.; VIEGAS DE ANDRADE, S.M. O Aleijadinho e o barroco da alegria. In: MENDES, N.M. (org.). O barroco mineiro em textos. Belo Horizonte: Autêntica, 2003 [1983].

LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Papirus, 1997.

LIMA, J. L. Expressão Americana. São Paulo: Braziliense, 1988.

MELLO, S. Barroco mineiro. São Paulo: Brasiliense, 1985.

MENDES, N.M. (org.). O barroco mineiro em textos. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

MONTE, Marisa; ANTUNES, Arnaldo; BROWN, Carlinhos. Tribalistas. Produção fonográfica. São Paulo: Universal; EMI, 2002.

MUNANGA, K. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

NÓBREGA, M. Cartas Jesuíticas 1 - Cartas do Brasil. São Paulo: Edusp, 1988.

OLIVEIRA, Myriam Ribeiro. Reavaliação do barroco mineiro. In: Mendes, N.M. (org.). O barroco mineiro em textos. Belo Horizonte: Autêntica, 2003 [1994].

OLIVEIRA, M.A.R.; SANTOS FILHO, O.R. Barroco e rococó nas igrejas de São João Del-Rei e Tiradentes – Roteiros do Patrimônio. Vol. 2. Brasília: Iphan; Programa Monumenta, 2010.

PAIVA, E.F.; ANASTACIA, C.M.A. O trabalho mestiço. Maneiras de pensar e formas de viver, séculos XVI a XIX. São Paulo: Annablume, 2003.

PAZ, O. A outra voz. São Paulo: Siciliano, 1993.

PENA, S. Muitas cores, um povo. São Paulo, Pesquisa FAPESP, vol. 181, 2011, p. 55-56.

RIBEIRO, D. O povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

ROCHA, Glauber. Terra em transe. Longa metragem cinematográfico. Rio de Janeiro: Mapa Filmes do Brasil, 1967.

SANT´ANNA, A.R. Barroco, alma do Brasil. Rio de Janeiro: Comunicação Máxima, 1997.

SANTOS FILHO, O.R. Manoel Victor de Jesus, Pintor Mineiro do ciclo rococó. Revista Barroca, vol. 12. Belo Horizonte: Imprensa Universitária, 1982/3.

SILVA, H.P. Atahyde um gênio esquecido. Rio de Janeiro: Pongetti, 1965.

VAL, A.V.C.; ROSÁRIO, R.S. O Barroco e Rococó Mineiro: arte, arquitetura, artistas: nota histórica. Jurisprudência Mineira, ano 63, n. 203, 2012, p. 13-22.

VARELLA, M. V. M. Aleijadinho e Mestre Ataíde e a (particip)ação do negro na visualidade do barroco mineiro. Niterói: Marcos Vinícius Macedo Varella, 2006.

VIVEIROS DE CASTRO, E. Araweté - os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.

VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Ubu, 2017.

WÖLFFLIN, H. Renascença e Barroco. São Paulo: Perspectiva, 2021.

Downloads

Publicado

2024-01-29

Como Citar

Motta, M. C. M. (2024). Barroco mineiro mestiço: o abre-alas para repensar a cultura brasileira. Em Construção: Arquivos De Epistemologia histórica E Estudos De Ciência, 7(1 e 2). https://doi.org/10.12957/emconstrucao.2023.76804

Edição

Seção

Ensaios