Artes da Vila, Vila nas Artes
DOI:
https://doi.org/10.12957/concinnitas.2024.85967Palavras-chave:
ArteResumo
Esse artigo põe em diálogo algumas experiências históricas que promoveram encontros com arte e clínica, experiências pioneiras que estiveram desde sempre vinculadas aos movimentos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial no Brasil e no exterior, nos idos dos anos de 1960/1970. Seguindo os rastros de algumas figuras que ousaram se antagonizar aos métodos agressivos que vigoraram durante todo o século XIX e até bem recentemente, mas que elegeram, em contrapartida, outras dinâmicas relacionadas às expressões culturais criadoras de seus clientes como contraponto à rotina degradante dos hospitais psiquiátricos, o texto traz para o primeiro plano uma experiência com oficinas artísticas em uma unidade de saúde no Rio de Janeiro, trabalho esse que vem, desde 2015, construindo uma interface entre arte, saúde, cuidados coletivos e educação.
Em que pese o debate cada vez mais urgente sobre a formação e as diretrizes que regem os currículos dos profissionais da área de saúde, em especial, os médicos, a perspectiva interdisciplinar com o campo das artes, o diálogo com a sociedade, a criação dos dispositivos clínicos com as portas abertas, ajudam a repensar os espaços asilares, sendo esse o próprio hospital psiquiátrico, mas também outros centros de atendimento e reabilitação. Essas abordagens, identificadas como “integrativas” e “humanizadoras”, visam reabilitar as instituições libertando-as, na medida em que o interesse público assim o deseje, da indiferenciação dos corpos e das abordagens clínicas que vigoraram no chamado “século dos manicômios”.
Somos tributários das notáveis experiências dos ateliês de artes nas primeiras décadas do século XX na Colônia do Juqueri, em São Paulo, sob a sensível atuação do psiquiatra e crítico de artes Osório Cesar, mas também do trabalho com os clientes do Hospital do Engenho de Dentro e a criação do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, pelas mãos da psiquiatra Nise da Silveira. Essas iniciativas, que influenciaram a criação de um sistema de saúde mental no Brasil, contribuíram para a criação de políticas públicas únicas no mundo até bem recentemente, pavimentando muitas e diversas experiências em arte e clínica aos quais nos inspiramos para construir o trabalho que vem sendo realizado no projeto Casa Ateliê: um recanto de cuidados em saúde mental em pleno bairro boêmio de Vila Isabel; neste espaço, uma nova pesquisa com arte em unidades de saúde tem possibilitado criar abordagens senão originais, mas fundamentadas em experiências que acreditamos possuir grande relevância para os fazeres artísticos e suas partilhas em uma época marcada por adoecimentos físicos, mentais que acometem não só os usuários desses serviços, mas toda uma comunidade de profissionais, estudantes, colaboradores, que se intensificaram após a pandemia pela Covid-19.
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