O medo dos outros

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/concinnitas.2022.67434

Resumo

Pierre Clastres perguntava, em um artigo publicado em A socie-dade contra o Estado: de que riem os índios? Pergunto, por analogia: e de queeles têm medo? A resposta é, em princípio, simples: eles riem e têm medodas mesmas coisas, aquelas mesmas apontadas por Clastres – coisas comojaguares, xamãs, brancos e espíritos, isto é, seres definidos por sua radicalalteridade. E eles têm medo porque a alteridade é objeto de um desejo igual-mente radical por parte do Eu. Esta é uma forma de medo que implica ne-cessariamente  a  inclusão  ou  a  incorporação  do  outro  ou  pelo  outro  comoforma  de  perpetuação  do  devir-outro  que  é  o  processo  do  desejo  nassocialidades amazônicas. Partindo de um mito taulipang sobre a origem doânus  (órgão  que  costumamos  associar  ao  medo),  também  um  mito  daespeciação e, no caso, da origem das diferentes corporalidades, o artigo en-vereda por uma discussão em torno do “perspectivismo ameríndio”, passan-do por mais uma analogia, desta vez entre os perigos da sujeição envolvidosnos encontros sobrenaturais e a experiência do indivíduo moderno peranteo Estado. A questão que emerge é como, nos regimes perspectivistas, é pos-sível  se  deixar  investir  pela  alteridade  sem  que  isto  se  torne  um  germe  detranscendência.

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Publicado

2022-10-07

Como Citar

Castro, E. V. de. (2022). O medo dos outros. Revista Concinnitas, 23(43), 28–52. https://doi.org/10.12957/concinnitas.2022.67434