Mulheres e literatura de crime no Rio de Janeiro no início do século XX
Maxime Villemer e A envenenadora no Jornal do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.12957/cdf.2024.84000Palavras-chave:
Rio de Janeiro, Literatura de crime, gênero, criminalidade feminina, Maxime VillemerResumo
Entre fins do século XIX e início do XX, uma série de romances que tematizavam o crime e os criminosos ganhou popularidade no mercado livreiro carioca. O presente trabalho propõe-se a compreender tais produções a partir da categoria de gênero, pensando as mulheres como sujeitos representados e produtores de representações na ficção. Assim, trazemos considerações acerca da trajetória da escritora francesa Anne Violet que, sob o pseudônimo Maxime Villemer, teve romances publicados pelo Jornal do Brasil. Somando-se a estas considerações, apresentamos análises acerca das representações da criminalidade feminina presentes em um de seus romances - A envenenadora (1906). Buscamos compreender tais representações em diálogo com o contexto brasileiro e os discursos hegemônicos sobre mulheres e crime do período. Nossa abordagem fundamenta-se teoricamente nas contribuições de Constans (2007), Duarte e Paiva (2009), Chartier (2002) e Scott (1989). Nossas análises apontaram para a especificidade da atuação de Anne Violet na produção de narrativas de crime e das representações que cunha. Quanto às representações da criminalidade feminina temos a presença de um repertório socialmente compartilhado por este tipo de produção literária, que dialoga com discursos conservadores sobre a natureza e o papel social da mulher, mas que também tece incisivas críticas à condição feminina na sociedade da época. A partir deste intento analítico, destacamos a importância do uso ampliado da categoria de gênero nas pesquisas sobre as narrativas de crime no Rio de Janeiro, capaz de incorporar definitivamente as mulheres como sujeitos históricos, presentes no imaginário social e em sua construção.
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