Chamada aberta para volume 18, n.2 (2025)

25-10-2024

A revista Arcos Design está com chamada aberta de artigos para o volume 18, n.2 - Designs, fronteiras e dissidências cosmológicas

Prazo de envio dos textos: 28 de fevereiro de 2025.
Previsão de publicação: início do segundo semestre de 2025.

Editores convidados:
Raquel Noronha, NIDA-UFMA
Imaíra Portela, NIDA-UFMA
Luiz Lagares, NIDA-UFMA

Proposta:
“A terra dá, a terra quer”: o chamado atencional e relacional de Nêgo Bispo (2023) nesta obra que se revela como uma abordagem contundente sobre importantes aspectos da existência coletiva nos instiga a um caminho de embate com o que ele define por cosmofobia, a “responsável por esse sistema cruel de armazenamento, de desconexão, de expropriação e de extração desnecessária”, cosmofobia esta que constrange os seres viventes “à necessidade de desenvolver, de desconectar, de afastar-se da originalidade.” (Bispo dos Santos, p. 27, 2023). A cosmofobia é o “medo”, uma doença para a qual não existe cura, apenas a imunidade.
E em suas digressões, não apenas teóricas, pois são decorrentes, acima de tudo, de suas vivências – e por isso assumem mais a feição de depoimentos viscerais – Nêgo Bispo segue afirmando: “o que nos imuniza da cosmofobia é a contra-colonização” (op.cit). O anticorpo é, pois, em seu entendimento, a palavra. Mas não a palavra do colonizador – ele nos convida a semear e fortalecer outras palavras e, para isto, é necessário “transformar a arte de denominar em uma arte de defesa” (op.cit), ou seja, é necessário denominar também. Neste sentido, em contraposição ao humanismo e ao desenvolvimento, na visão de Nêgo Bispo, há a possibilidade da fronteira.
Oportunamente, por ocasião do aniversário de 10 anos do NIDA – Grupo de pesquisas Narrativas em inovação, design e antropologia da Universidade Federal do Maranhão, nesta chamada, formulamos o presente convite para se pensar a fronteira como locus para que processos de designs insurgentes aconteçam, subvertendo a noção de dentro e fora, de inclusão e exclusão, tratando essas fronteiras como instâncias a serem provocadas por cosmologias outras, direcionando-nos ao pensar em fluxos, em movimentos. A fronteira não é um lugar estável (uma instância cômoda), mas de conflitos e fricções, a abrir caminhos para o dissenso, para os “diversais”, com repercussão na dimensão política e na dimensão epistêmica, envolvendo todes que participam de um projeto, de uma pesquisa, de uma ação.
Neste sentido, propomos que a fronteira que delimita os espaços, divide, marca a diferença também possa se constituir campo de ação, não apenas de forma conceitual, como em uma abstração geométrica que delineia com pontos, linhas e planos, mas como campos de jogo, de batalhas ou campos magnéticos, com corpos, forças, linhas de vidas, chão, texturas que dão às vidas ali presentes a possibilidade de serem e estarem conforme suas visões de mundo, trazendo suas narrativas outras.
O transbordamento da vida, para além da racionalidade moderna, é tema abordado em diversas disciplinas e campos do saber. A contenção sempre foi a tônica da visão moderna de design (Noronha, 2020) e o que sobra deste processo causa assombro e medo, como monstros e fantasmas com os quais nunca quisemos alianças (Tsing et al., 2017), sob a égide da cosmologia positivista. O espaço de fronteira – o design de/na fronteira – pode ser assustador, da mesma forma, porque não é um lugar pacificado. É espaço de turbulência, luta e especulação, sendo a potência desta instância aquilo que possibilita que outros cosmosentires e imaginações emerjam.
Assim, convidamos, para esta edição da Revista Arcos, escritas que contemplem pesquisas e projetos que estão interessados em habitar e/ou friccionar as fronteiras, encarando os conflitos, contradições e dissensos como possibilidades de moldar outras formas de fazer, pesquisar e ensinar design na contemporaneidade. 

BISPO DOS SANTOS, Antônio [Nêgo]. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora (coedição
Piseagrama), 2023.
NORONHA, Raquel. Dos quintais às prateleiras: as imagens quilombolas e a produção da louça em
Itamatatiua – Alcântara – Maranhão. São Luís: EDUFMA, 2020.
TSING, Anna et al. (ed.). Arts of Living on a Damaged Planet: Ghosts and Monsters of the
Anthropocene. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2017.