O ESCARAVELHO FÚNEBRE

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Ana Resende

Resumo

“O escaravelho fúnebre”, de Vincent O’Sullivan


Nas últimas décadas, teóricos como Kirsten MacLeod, autora de Fictions of British Decadence (2006), têm procurado mostrar as especificidades da produção literária decadente em língua inglesa. Em sua pesquisa, a estudiosa aborda alguns dos mitos que parecem ter prejudicado o estudo da prosa de ficção decadente: o mito da geração trágica, o mito da produção literária decadente como sinônimo de alta literatura e o mito dos autores boêmios e aristocratas.


Para MacLeod, a popularização de tais mitos na pesquisa acadêmica exerceu uma influência negativa no estudo da Decadência inglesa, produzindo representações incorretas e simplificações acerca da contribuição da produção decadente para a cultura literária da época. A autora observa que esses mitos limitaram as pesquisas a alguns poucos autores e textos, e levaram a um interesse maior pela poesia em detrimento da prosa de ficção, o que ocasionou afirmações acerca do número reduzido de obras decadentes em língua inglesa.


Embora durante muito tempo a literatura decadente inglesa tenha sido denominada ironicamente de “Huysmans com água” (Macleod, 2006, p. 16, tradução minha) em referência ao seu caráter imitativo da produção literária francesa, é possível afirmar que a Decadência se estendeu além dos limites das nações e dos períodos, e identificar a produção decadente em “locais surpreendentes e improváveis” (Kaye, 2017, p. 136, tradução minha). Portanto, a produção decadente inglesa deve ser considerada em seus próprios termos, “como uma forma condicionada por forças literárias, sociais e culturais específicas de seu contexto histórico e nacional” (Macleod, 2006, p. 16, tradução minha).


O progresso das tecnologias de impressão, influências estéticas estrangeiras, mudanças na publicidade e outros fatores econômicos, além da flexibilidade e da liberdade oferecidas pelos contos, desempenharam um papel importante na criação de um mercado para a ficção curta em língua inglesa. No fim do século 19, o conto tinha apelo popular e literário, e essas condições de produção e recepção levaram ao surgimento de obras mais voltadas para o mercado consumidor.


Em carta de 1844 ao amigo Charles Anthon (1797-1867), um intelectual americano, o escritor Edgar Allan Poe (1809-1849) traça planos sobre a criação de uma revista literária e observa que o conto constituía uma “forma adequada” ao “espírito ativo e enérgico da época” (POE, 1948, p. 268, tradução minha), mas também se prestava a ser um espaço de experimentação e de exploração de temas associados ao mórbido, ao assombroso etc., tal como veremos na coletânea The Green Window (1899), de Vincent O’Sulllivan (1868-1940), da qual traduzimos o conto “Will”.  


O’Sullivan nasceu em Nova York e muito jovem deixou seu país natal e foi morar em Londres, onde conheceu vários nomes importantes da literatura e da cultura fin-de-siècle, incluindo Oscar Wilde. Ele escreveu seu primeiro livro de contos sobrenaturais, A Book of Bargains, em 1896. Suas histórias frequentemente giram em torno de pactos diabólicos, cadáveres reanimados e aparições fantasmagóricas, além da caracterização de uma interioridade neurótica. O conto “Will” foi traduzido ao francês em 1897 e publicado na revista Mercure de France com o título de “Le Scarabée Funèbre”, título que emprestamos à tradução em português.

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Como Citar
RESENDE, Ana. O ESCARAVELHO FÚNEBRE . Abusões, Rio de Janeiro, v. 25, n. 25, 2024. DOI: 10.12957/abusoes.2024.82176. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/abusoes/article/view/82176. Acesso em: 30 abr. 2025.
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Tradução Comentada
Biografia do Autor

Ana Resende, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Tem graduação e mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Doutoranda em Teoria da Literatura e Literatura Comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Tem interesse na literatura gótica finissecular, em histórias de fantasmas, em literatura de autoria feminina e na literatura brasileira do entreguerras. É tradutora e foi indicada ao Prêmio FNLIJ 2013 (Produção 2012), na categoria Tradução/Adaptação Jovem, com o livro O azarão, de Markus Zusak, publicado pela editora Bertrand Brasil. É membro da British Comparative Literature Association (BCLA), da International Comparative Literature Association (AILC-ICLA) e da Modern Humanities Research Association (MHRA).