TRÊS MULHERES E UMA RUA: COINCIDÊNCIAS FORTUITAS E ATOS GRATUITOS EM BINGHAM STREET

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Resumo

Admitimos que é difícil delimitar definitivamente o fantástico bem como distingui-lo do insólito como gênero narrativo à parte, mas quando avaliamos a ambos como produto de uma reação sociocognitiva a uma contingência sociocultural, pressupondo conhecer não apenas o contexto sócio-histórico de produção da obra como também a formação intelectual e as tendências ideológicas do autor, a tarefa se torna mais factível. A conclusão parcial à qual chegamos é que, ainda havendo grandes zonas de intersecção entre temas e técnicas narrativas, podemos estar diante de gêneros narrativos distintos: a partir da concepção de que o sobrenatural é uma figura de linguagem que torna concebível aquilo que está indisponível (seja porque ainda não foi descoberto, seja porque simplesmente não existe) é possível considerá-lo um recurso narrativo para além da simples representação de eventos que superam a capacidade física, intelectual ou tecnológica da ação humana sobre o mundo. O sobrenatural passa a ser, assim, um recurso narrativo que torna perceptível, seja de forma evidente, seja de forma sutil, relações de causa e efeito até então desconhecidas ou não formalizadas tanto pelos personagens quanto pelo leitor. Dessa forma, podemos entender que enquanto o fantástico é uma narrativa que problematiza as implicações de um evento ser ou não real, o insólito questiona o próprio conceito de real. No caso do conto aqui analisado, “Quando de uma guinada pela rua Bingham” (Umwege durch Bingham Street) (1965), de Johannes Urzidil (1896-1970), acompanhamos uma discussão que, essencialmente, opõe coincidências fortuitas aos atos gratuitos: duas mortes desencadeadas pela mesma criança fariam dela um instrumento do destino ou tudo não passa de uma leitura enviesada dos fatos?

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Como Citar
Pierini, F. L. (2024). TRÊS MULHERES E UMA RUA: COINCIDÊNCIAS FORTUITAS E ATOS GRATUITOS EM BINGHAM STREET. Abusões, 23(23). https://doi.org/10.12957/abusoes.2024.77179
Seção
Abismo e vertigem: dinâmica da personagem na ficção fantástica