A ATUALIDADE DA REPRESENTAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO ROMANCE A PARÁBOLA DO SEMEADOR, DE OCTAVIA E. BUTLER

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar como o romance A parábola do semeador (1993), de Octavia E. Butler, antecipa questões que se tornaram prementes na contemporaneidade, como a crise hídrica e a insegurança alimentar, ao mesmo tempo em que demonstra o aspecto fragmentado do Antropoceno, no qual há uma variação das condições de habitabilidade que se traduz em desigualdade social. Defendemos que Butler expõe formas de negacionismo que se tornaram comuns na sociedade atual, como o quietista (LATOUR, 2020), que propaga a indiferença e se relaciona a uma perspectiva de salvação baseada na arca de Noé, por uma seleção de corpos-em-perda (FERDINAND, 2022). Nesse contexto, demonstramos como a protagonista Lauren apresenta-se como a mais apta para sobrevier neste mundo distópico, justamente por cultivar uma visão de mundo compatível com a realidade que a cerca e entender que é necessário lidar com os incômodos (HARAWAY, 2016) e propor novas formas de parentesco e relações sociais. Por fim, consideramos que a obra se trata tanto de uma distopia crítica (MOYLAN, 2016) quanto de uma ficção climática (JOHNS-PUTRA; TREXLER, 2011), na qual os efeitos das mudanças climáticas são explorados em situações da vida diária das personagens, em termos cognitivos e emocionais, promovendo conexões com as estruturas sociais, políticas, econômicas mais amplas da sociedade.