Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares, v. 10. n. 2, nov.
2013
Leonardo
Augusto Bora (UFRJ)
O
estudo enfoca, em cotejo com importantes obras da literatura brasileira, a
complexa figura do “índio de cordão”,
representação carnavalesca de um “mau
selvagem”, que, nos cordões da virada do século XIX para o
XX, no Rio de Janeiro, gerou bastante polêmica – e foi parar nas
delegacias.
ÍNDIOS;
CORDÕES; CARNAVAL; LITERATURA.
Leonardo Augusto Bora (UFRJ)
The study
focuses on comparing – with important works of Brazilian literature
– the complex figure of the “índio de
cordão”, a carnivalesque representation of a “bad savage”, which, in the carnival
groups of the turn of
the 19 to the 20 century in Rio de Janeiro,
generated considerable controversy – and ended up in police stations.
INDIANS; CORDÕES; CARNIVAL; LITERATURE.
Sou índio, sou forte,
sou filho da sorte,
sou natural;
Sou guerreiro, sou a luz da
liberdade,
Carnaval!1
E deu Tupi or not Tupi -
eis a visão do artista.
Nessa nação
tupiniquim,
índio virou um anarquista!2
O índio no carnaval
carioca do século XIX: entre barbas, letras e tacapes
Um ponto comum às
dezenas de manifestações carnavalescas que tomam de assalto os
bairros da cidade do Rio de Janeiro nos dias (des)governados por Momo é o apreço pela fantasia,
tradição que já no século XIX movimentava a
economia e estimulava a imaginação dos brincantes. Pode-se dizer
que a fantasia carnavalesca é a responsável pela instauração
de um jogo duplo: entre identidade e alteridade e entre real e imaginário
(ferreira, 1999, p. 98). No Brasil, a ascensão
dos bailes de fantasiados, em meados do século XIX, é o fato
responsável pela popularização do uso de trajes diferentes
dos usuais durante os festejos que antecedem a Quaresma; até
então, o carnaval era basicamente o entrudo, brincadeira um tanto
violenta em que as pessoas usavam roupas sem maiores ornamentos: o povo
brincava em sendo povo.
É na segunda metade do
século XIX que as fantasias de índios ganham destaque nas folias
de rua da cidade, conforme comenta Eneida de Moraes (1958, p. 97):
Nesse ano de 88 desfilou a Sociedade
Carnavalesca Triunfo dos Cucumbis, o primeiro
cordão organizado na cidade. Eram negros fantasiados de índios,
tocando instrumentos primitivos. No centro levavam uma rainha com um grande
manto segurado por dois mascarados, “dois figurões”,
políticos, possivelmente. Negros fantasiados de índios executando
músicas e danças de africanos.
Maria Clementina Pereira Cunha
(2001, p. 42) igualmente relata a ação dos negros fantasiados de
índios, explicando o fio condutor da apresentação dos cucumbis:
A história contada pelos
cucumbis representa um cortejo de príncipes,
princesas, feiticeiros, embaixadores de outras nações africanas e
o povo, levando para o rei do Congo seu filho recém-circuncidado. A
morte do príncipe, atacado por tribo inimiga que se veste de penas, como
os índios do Brasil, dá origem a uma série de
peripécias, encerradas pela ressurreição do jovem por
intermédio da mágica do feiticeiro. Além das
saudações em português, o enredo fecha-se com
louvações a São Benedito e à Virgem Maria,
novamente cantadas no idioma dos brancos ao ritmo de ganzás,
agogôs, xerequês, tamborins, chocalhos,
marimbas e adufes – ao passo que todo o resto permanecia na língua
africana. As fantasias envergadas pelos participantes do cucumbi
eram também bastante características:
para os índios, círculos de penas nos joelhos, cintura,
braços e pulsos; cocares de plumas com palas vermelhas, colares de
miçangas, corais e dentes.
Outra descrição
do visual desses índios carnavalescos foi feita pelo historiador Luiz
Edmundo (apud cunha, 2001, p. 177): usavam “vastos cocares de penas
longas e coloridas, emoldurando rostos cor de canela, pintados a urucum,
brincos de metal e colares de vidrilho; na boca sempre traziam um apito de
barro, por onde silvam, aos pulos; traziam atravessado nas costas um lagarto
seco, uma serpente ou uma pele dura de jacaré” (Figura 1).
As fantasias de
silvícolas são uma constante nas manifestações
carnavalescas não apenas do Rio de Janeiro, mas do Brasil (vide os
caboclinhos do Nordeste, por exemplo) e do mundo (vide as fantasias de
“homens selvagens”, presentes nos festejos carnavalescos de cidades
da França, Suíça e Hungria (ferreira,
1999, p. 101) ou as manifestações carnavalescas não oficiais
e negras de Nova Orleans, nos Estados Unidos, que não são
comandadas por reis, mas por caciques, os black
indians (góes,
2009). A existência dessas fantasias de índios nos carnavais
populares do Brasil pode ser entendida como algo decorrente do fato de que os
personagens carnavalescos são figuras periféricas da sociedade
brasileira (damatta, 1997, p. 62).3
É possível dizer, ainda, que as fantasias de selvagens, bem como
as de “sujo” e de clóvis,4 surgiram numa delicada
intercessão entre o meio popular e as fantasias
“tradicionais”, no intercâmbio entre os fluidos conceitos de
popular e erudito (ferreira, 1999, p. 101). O
índio, especificamente, ganha os festejos ao final de uma época
em que figurara de maneira distinta no “mundo erudito” das
orquestras e páginas literárias – sem esquecer das
menções ao universo indígena e à natureza tropical,
com abacaxis, aves, palmeiras entre outros elementos, feitas graficamente em
telas, partituras, cartazes e objetos do período. A figura do
índio, que tanto instigou o imaginário europeu à
época das grandes navegações, no final do Renascimento (o
“índio de tocheiro de Catarina de Médicis”5),
no Brasil, foi, portanto, bastante difundida durante o Império (ferreira, 2004, p. 291-293).
A associação
entre o índio e o governo dos imperadores não é descabida,
uma vez que o nacionalismo estimulado após a independência, em
1822, propiciou a valorização dos cocares emplumados.6
Na ficção romântica, os nativos das florestas eram a
personificação da vontade de “fantasiar” uma nação
de história curta, maquiando a mestiçagem com tintas heroicas (candido, 1959, p. 223). Tais índios estavam
inseridos, portanto, no ideal nacionalista de descobrir as “raízes
do Brasil”, uma “utopia selvagem” retrospectiva disposta a
dar “traços autóctones”7
à civilização brasileira. No plano político, Pedro
II valeu-se do índio com o objetivo de associar a imagem do
Império brasileiro à da natureza maravilhosa, mãe de um
povo cujo brado é retumbante (Figura 2). O
indígena é alçado ao posto de símbolo nacional,
como aponta, com riqueza de detalhes, a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (1999, p. 204-205) em sua obra As barbas do
imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos”; nela,
ao retratar as particularidades do Segundo Reinado, esclarece:
Sabia-se muito pouco a respeito
dos indígenas, mas na literatura ferviam os romances épicos que
traziam chefes indígenas heroicos, amores silvestres com a floresta
virgem como paisagem. Os antigos dicionários de nossas línguas nativas
feitos pelos jesuítas passaram a ser estimados, pois neles se escolhiam
termos indígenas que poderiam ser entremeados às estrofes dos
novos poemas. O próprio imperador, inspirado por essa voga, além
de propor a criação de gramáticas e dicionários,
começa a estudar o tupi e o guarani, que lhe seriam úteis durante
os litígios com o Paraguai, na década de 60, e mesmo para que
ganhasse uma espécie de liderança do movimento romântico.
Cunhava-se então a representação do sábio mecenas.
Schwarcz afirma que a literatura cedeu
espaço ao discurso oficial e transformou o índio em modelo de nobreza,8 ainda que, na realidade, trágica
e ironicamente ele, o indígena, tenha sido uma grande vítima do
processo colonizador que levou ao Império – e continuou a ser
vitimado pela pena governamental, durante o reinado de Pedro II.9
Os bons e os maus selvagens:
entre ruas e bibliotecas
A vontade de retratar o
indígena como um ser dotado de valores elevados ocasionou a
condenação dos selvagens antropófagos, tidos como a
expressão máxima da barbárie, nas páginas da
literatura romântica indianista. Tanto Gonçalves Dias como
José de Alencar desenharam os Aimoré
como nativos ferozes, vis, sem qualquer indício de
civilização. Nas páginas de Alencar (2006, p. 195), a
descrição dos Aimoré, no
capítulo de O Guarani intitulado “Os selvagens”,
é marcada pela truculência:
Homens quase nus, de estatura
gigantesca e aspecto feroz; cobertos de peles de animais e penas amarelas e
escarlates, armados de grossas clavas e arcos enormes, avançavam
soltando gritos medonhos.
A inúbia retroava; o som
dos instrumentos de guerra misturado com os brados e alaridos formavam um
concerto horrível, harmonia sinistra que revelava os instintos dessa
horda selvagem reduzida à brutalidade das feras.
Nota-se, no excerto da obra, um
sofisticado jogo de contrastes utilizado para endossar a ideia de que tais
índios eram bárbaros e não expressavam os valores
cortesãos. Alencar menciona “concerto horrível”,
estabelecendo uma oposição entre os gritos dos selvagens e a
sutileza dos acordes de uma orquestra sinfônica, símbolo
máximo do mundo erudito. Além disso, usa a expressão
“harmonia sinistra” e compara os homens aos animais ferozes,
visão que nada lembra a delicadeza de Iracema ou a hombridade valorosa
de Peri, cuja descrição foi assim elaborada:
Sobre a alvura diáfana
do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos dourados; os
cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos
exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a
boca forte mas bem modelada e guarnecida de dentes
alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da
força e da inteligência (alencar, 1996,
p. 28).
Se nas páginas
literárias os índios “bárbaros” figuravam como
coadjuvantes, posto que o protagonismo era dos
índios cavalheirescos, alegórico modelo de lealdade que atendia
aos interesses do trono, nas ruas do carnaval o estereótipo do selvagem
animalizado roubaria a cena. O índio dos cordões não
viveria amores elevados, com aroma de baunilha, tampouco representaria os
ideais românticos do Império, esfacelados em 1889: faria algazarra
com o rosto pintado e empunharia tacapes nos cortejos negros.10
A fantasia do
“índio de cordão” é, em sua
configuração plástica, bastante peculiar. Na visão
de Ferreira (2004, p. 291), “ao contrário de representar um
índio brasileiro, (...) mais parece saída da
imaginação de algum estrangeiro. A curiosa ‘coroa’
circular e o saiote, ambos feitos de penas, pouco têm a ver com o
habitante original do Brasil. O fato se explica através da visão
que o europeu tinha do nosso índio”. Trata-se, portanto, de outra
idealização; se o romantismo literário pintou nossos
indígenas com traços de donzelas e cavaleiros
medievais, as vestes dos índios dos cordões são
fruto da mistura de referências visuais dos índios americanos, o
que resultou em uma figura genérica, síntese das diferentes
culturas das Américas (p. 291). Havia, também, elementos da
indumentária tribal africana, como escudos e máscaras –
sobreposição de referências, explicitando a miscigenação.
Os brincantes dos
cordões, aos poucos, passaram a ser mal vistos pela imprensa. Já
não eram julgados pitorescos tão somente, mas incivilizados,
rudes, violentos e potencialmente perigosos, a exemplo dos
Aimoré literários. São esses personagens brutalizados
que João do Rio (2008, p. 142) descreve em sua crônica
“Cordões”, de 1906:
Na turba compacta o alarma
correu. O cordão vinha assustador. À frente, um
grupo desenfreado de quatro ou cinco caboclos adolescentes com os sapatos
desfeitos e grandes arcos pontudos corria abrindo as bocas em berros
roucos. Depois um negralhão todo de penas, com a face lustrosa como
piche, a gotejar suor, estendia o braço musculoso e nu sustentando o
tacape de ferro. Em seguida gargolejava o grupo
vestido de vermelho e amarelo com lantejoulas d’oiro a chispar no dorso
das casacas e das grandes cabeleiras de coches, que se confundiam com a
epiderme num empastamento nauseabundo. Ladeando o bolo, homens em tamancos ou
de pés nus iam por ali, tropeçando, erguendo archotes, carregando
serpentes vivas sem os dentes, lagartos enfeitados, jabutis aterradores com
grandes gritos roufenhos.
Entre escudos, lanças e
tacapes, aos olhos da elite, os cordões foram colocados em
posição oposta à das civilizadas grandes sociedades.
Não bastasse isso, a República recém-nascida pretendia
enterrar os ideais do Império, refutando o apreço pelo nativismo
e vendo na alva “pureza” dos imigrantes a solução
racista para as mazelas do Brasil, supostamente geradas pela mistura carnal de
brancos, índios e negros. É o que explica Maria Clementina
Pereira Cunha (2001, p. 176):
Às vésperas da
abolição, uma tônica quase decepcionada marcava os
comentários da imprensa sobre os cucumbis e
sobre a presença dos negros no carnaval, com suas formas tradicionais de
apresentar-se na festa. Seguiu-se o discurso francamente racista da
década de 1890, que desenhava os “africanismos” como uma
ameaça ao próprio futuro do país. No século XX os cucumbis, alvos dessas críticas e desse temeroso
olhar branco, haviam sumido das ruas, na forma como foram vistos no
século anterior.
Começava o processo de
esterilização da festa.
A “limpeza” do
carnaval e a expulsão do índio: folia à francesa
No início do
século XX, a figura do índio estava intimamente associada ao
carnaval mais popular e “selvagem” que precisava ser
“chutado” para fora da folia (Figura 3). É o que se vê
em charge de 1909, em que um pierrô branco, símbolo da
europeização da festa, dá um pontapé violento no
traseiro de um silvícola – e o sorriso estampado no rosto do
agente evidencia a felicidade com que a atitude é tomada. Penas voam,
aos pedaços, num cenário de destruição; o
“selvagem” tomba em tons acinzentados, sujos, ligados ao
esquecimento.
Mais do que reflexo do
apagamento simbólico dos apreços nacionalistas do Império,
o desejo de expulsão foi decorrente do processo de “limpeza”
pelo qual passou o carnaval carioca, em tempos de bota-abaixo.
Ferreira (2004, p. 249) complementa as ideias de Cunha e explica essa espinhosa
questão de maneira precisa:
Após a
proclamação da República, o Brasil percebia a necessidade
de se manter a unidade nacional, essencial para a legitimação do
novo sistema de governo. O país precisava definir sua nacionalidade. E a
pergunta sobre o que seria a verdadeira “essência da brasilidade”
tornava-se de crucial importância para que o antigo símbolo da
coroa pudesse ser substituído pela ideia de nação. Essa
questão começara a ser discutida já na década de
1880, quando uma primeira geração de intelectuais nacionalistas
abordaria o tema. No final do século XIX, a intelectualidade havia
chegado à conclusão de que a grande responsável pelo
atraso brasileiro em relação às nações mais
desenvolvidas era a mestiçagem que existia no país. A
preocupação com a necessidade que a nação tinha de
superar esse atraso fazia com que muitos chegassem a afirmar que, se o povo
brasileiro continuasse a se misturar, o Brasil iria se extinguir em alguns
anos. Para eles a modernidade significava um Brasil europeizado e somente a
imigração poderia “limpar” os efeitos perniciosos da
miscigenação.
O Rio,
“embranquecido”, civilizava-se. A festa, igualmente, precisava de
bons modos − e a repressão policial foi uma das formas de
controlar a bagunça. Valendo-se da apregoada imagem de vandalismo
associada aos cordões (e aos cucumbis,
principalmente), a polícia buscava novas formas de controlar os
foliões de saiotes e cocares. A burocracia estatal, por meio do seu
braço armado, interferia nas brincadeiras, a ponto de, em 1904, a
imprensa noticiar “que o cordão que não exibisse
licença, quando solicitada por uma autoridade policial, seria levado com
todos os seus componentes (...) para a polícia central (...)”
(cunha, 2001, p. 196).
Enquanto isso, o corso, os
ranchos e as grandes sociedades prosperavam a olhos vistos. Em 1908, a Avenida
Central, com apenas quatro anos, observava a multidão de homens com
chapéus de palhinha e mulheres elegantes que se aglomeravam para ver os
desfiles dos Fenianos, Democráticos e Tenentes do Diabo. As janelas dos
prédios da avenida eram ofertadas aos endinheirados, arquibancadas e
palanques começavam a ser erguidos,
decorações ainda singelas coloriam as ruas de
inspiração francesa – culminando a prática na
primeira decoração de rua oficial, feita por Luiz Peixoto, em
1928 (ferreira, 2004, p. 408). O carnaval de Nice era
o parâmetro a ser seguido. Para isso, o governo passaria a investir
maciçamente na festa, visando ao lucro; estava decidido a usar a imagem
do carnaval como símbolo de um novo Brasil, republicano e civilizado,
pronto para receber turistas de primeira classe. Nas palavras de Felipe
Ferreira:
No final dos anos 20, o
Carnaval do Rio de Janeiro já era visto como a grande festa nacional e
sentia-se forte o suficiente para procurar ganhar o mundo. A
separação cada vez mais precisa entre as diferentes formas de
brincadeiras carnavalescas populares fazia com que a folia carioca se tornasse
cada vez mais fácil de ser compreendida pela burguesia nacional. A
“confusão” que reinara na virada do século estava em
vias de ser totalmente substituída pelas novas categorias do carnaval de
rua. Corso, Grandes Sociedades, ranchos, blocos e cordões formavam uma
espécie de escala “decrescente” da folia, começando
pela mais elegante e terminando na mais popular. Por trás desse tipo de
classificação, havia uma ideologia que procurava expressar na
festa carnavalesca todo o arco social brasileiro (FERREIRA, 2004, p. 310).
Eis que surge
1932, um ano de inflexão.11 O prefeito Pedro Ernesto decidiu
associar a prefeitura ao Touring Club; juntos,
organizariam o carnaval do Rio. O Touring Club
impôs, em definitivo, caráter internacionalista à festa,
criando uma “Comissão Executiva dos Festejos”. Surgia, a
partir disso, um “programa oficial” do carnaval carioca, no qual
figuravam, entre outras atividades, os desfiles de blocos, corsos e grandes
sociedades. Tratava-se, bem se vê, de uma organização
rígida, uma grade com datas e horários preestabelecidos. E foi um
sucesso, ao menos no meio da imprensa, que não poupou elogios ao prefeito.12
Nesse contexto de cifras e borbulhas
de champanha, quando também tinha início a luxuosa
tradição dos bailes do Municipal e o concurso das escolas de
samba, na Praça Onze, os índios começariam a reaparecer,
travestidos, transformados.
A folia antropofagiza-se:
novos índios, novos tempos
A temática
indígena esteve em alta, nos círculos da intelectualidade
tupiniquim, nos anos 20 e 30. Macunaíma, de Mário de
Andrade, e Cobra Norato, de Raul Bopp, são apenas dois exemplos
literários que comprovam o interesse que as lendas indígenas despertavam
nos escritores da chamada Primeira Geração Modernista. Em 1923,
Oswald de Andrade, aríete do Modernismo brasileiro, defendeu, em Paris,
a “presença sugestiva do tambor negro e do canto do
índio” nas festas do nosso carnaval (ferreira,
2004, p. 257). Nas artes plásticas, a pintura de Tarsila do Amaral
ilustrou a antropofagia oswaldiana, que demarcava,
com a morte do bispo Sardinha devorado pelos Caeté,
o início da Terra Brasilis. Na
arquitetura, o movimento Art Déco coloriu-se
de verde e amarelo e apresentou inusitados traços marajoaras, com
muiraquitãs e grafismos indígenas estilizados, em
edifícios como o Itahy e o Itaoca, em
Copacabana. A música de Villa Lobos, por sua vez, com incursões
pelo Amazonas, sintetiza a mitologia da floresta tropical nas partituras dos
anos 20.
Nesse contexto nativista,
perdia força o entendimento de que a folia carioca deveria apenas imitar
os festejos europeus e crescia o interesse pela diversidade do Brasil,
fomentando a necessidade de novos símbolos, diferentes daqueles
observados nas folias do século XIX:
A visão modernista vai
incorporar ao sentido de desafogo do cotidiano a ideia do Carnaval como uma
forma de resistência “antropofágica” do povo
brasileiro às imposições externas. Uma espécie de liquidificador
capaz de transformar tudo em loucura carnavalesca (...) A
partir dessa constatação, estava pavimentado o caminho para que a
festa carnavalesca do Rio de Janeiro se tornasse a maior expressão da
índole e da ‘alma’ brasileiras. Uma festa múltipla,
que sintetizaria um país plural, produto da reunião de muitas
diferenças (...) O carnaval passava a
representar a síntese do Brasil (ferreira,
2004, p. 325).
No campo das serpentinas,
porém, não foi o índio o símbolo escolhido para os
novos tempos. Entravam em cena, para continuar sob os holofotes, até
hoje icônicos, malandros e baianas. A roupa de
malandro não era exatamente uma novidade: muitos brincantes trajavam
paletós e chapéus de palhinha já no século XIX, por
influência francesa. Quando os intelectuais descobriram o samba, nos anos
20, ganhou outra conotação a vestimenta
típica dos negros sambistas dos morros, composta por sapato bicolor,
calça branca, chapéu e camisa listrada. Juntamente com isso, a
vestimenta de baiana giraria o mundo. Saias rodadas, rendas, torços e
tabuleiros com quitutes eram comuns no Rio de Janeiro imperial.13
Nos primeiros anos da década de 1930, “a figura teria seus
traços fixados definitivamente no imaginário carnavalesco
nacional” (ferreira, 2004, p. 259).14
Esse conjunto de
símbolos encontraria nas nascentes escolas de samba um terreno
fértil, tanto que no segundo ano de concurso oficial muitas postulantes
ao título apresentaram enredos que tinham a mítica Bahia como
vedete principal. Na bicampeã Mangueira, “Uma segunda-feira do
Bonfim, na Ribeira”; na Azul e Branco do Salgueiro, “Uma noite na
Bahia”; na União do Uruguai, “Na Bahia”.15
Afora essas referências, os desfiles dos anos 30 elegeram o
próprio samba como tema principal, demarcando o território e
solidificando o ritmo, ao som dos tamborins.
Curioso é o fato de que
as escolas demorariam a assimilar em definitivo os temas africanos e
indígenas. A fantasia de índio, à base de penas de pato ou
de plumas de espanador (daí a denominação “índio
de espanador”, comum no carnaval), é barata, assim como a roupa de
africano, à base de tecidos grosseiros e palha. Não havia,
porém, o compromisso com o desenvolvimento de um enredo de
temática indígena. A chamada “revolução
salgueirense”, cujos expoentes foram o professor da Escola de Belas Artes
Fernando Pamplona acompanhado de Arlindo Rodrigues, na transição
dos anos 50/60, é considerada a responsável pela
internalização da africanidade nos
desfiles das escolas de samba, que, até então, preferiam temas
governistas e fantasias de veludo e bordados. Na esteira do negro, o
índio passaria, nas décadas de 1960 e 1970, a aparecer mais
vezes, inserido em enredos como “Aquarela Brasileira”, do
Império Serrano, em 1964, “Lendas e Mistérios da
Amazônia”, da Portela, em 1970, e “Macunaíma,
herói da nossa gente”, também da Portela, em 1975. Bons
representantes dos enredos de temática integralmente indígena
são “Como era verde o meu Xingu”, de Fernando Pinto, para a
Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1983; “Raízes”, de
Max Lopes, para a Unidos de Vila Isabel, em 1984;
“O dono da terra”, de Oswaldo Jardim, para a Unidos da Tijuca, em
1999, e “Ykamiabas”, de Fábio
Ricardo, para a Acadêmicos da Rocinha, em 2010. “Todo dia é
dia de índio”, de Chico Spinosa, para a
União da Ilha, em 1995, é um enredo síntese dos
desdobramentos de 1922. “Tupinicópolis”,
carnaval de Fernando Pinto para a Mocidade Independente, em 1987, é um
dos enredos mais originais que a Passarela já viu; trata-se de inventiva
revisão histórica que imagina uma cidade brasileira moderna,
pós-industrial, com características indígenas.
Pode-se dizer que os
índios de Fernando Pinto são uma releitura crítica do
longo processo de exploração pelo qual passaram as terras e as
tribos indígenas. O enredo de 1983, por exemplo, rendeu um samba que
clamava pela manutenção das terras verdes e a
preservação dos solos indígenas (Deixe nossa mata sempre
verde / Deixe nosso índio ter seu chão), num veio político
que permanece a gerar disputas judiciais de grande repercussão (vide os
casos envolvendo a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol e a
construção da usina de Belo Monte). São índios
carnavalizados que apontam para os riscos da aculturação e da
marginalização social. O mesmo viés crítico
é notável em “Tupinicópolis”,
enredo que ao mostrar cenas cotidianas da metrópole indígena (do
Cabaré da Iara ao Shopping Boitatá) aponta, num contraste
típico do carnaval, para a realidade que está além dos
limites da Passarela do Samba: metrópoles em que os índios
não são vistos, à exceção de alguns nomes de
ruas e estátuas de bronze. De certa forma, o carnavalesco Renato Lage
usou da mesma proposta crítica ao apresentar, na abertura do carnaval
desenvolvido para a Mocidade Independente, em 2000, índios espaciais
pendurados nas estruturas metálicas de uma imponente “nave-mãe”, voltando do espaço sideral,
para onde foram após séculos de violência. A
interpretação carnavalesca da canção “Um
índio”, de Caetano Veloso, conseguiu manter o viés
político bastante relevante da obra do compositor baiano.
Joãozinho Trinta e Rosa
Magalhães são, certamente, os artistas que mais vezes fantasiaram
brincantes de índios na era Sambódromo (pós-1984). Em
linhas gerais, nos enredos de Joãozinho os índios figuram como nobres
de “almas purificadas”, seres de beleza física e espiritual
(notar a semelhança com os índios românticos de Alencar)
que habitavam nossas matas antes da presença branca, que transformaria o
país em um inferno.16
Rosa Magalhães, por sua
vez, reinventou a figura do índio ao longo dos seus carnavais, não
ficando presa a um estereótipo. Se em 1994, na Imperatriz Leopoldinense, foi campeã a exaltar os índios
belos e fortes que encantaram nobres europeus na festa ocorrida em Ruão
em 1550 através do enredo “Catarina de Médicis
na corte dos Tupinambôs e Tabajeres”,
declarou guerra, em 2002, ao “índio tocheiro de Catarina de Médicis”, no enredo intitulado
“Goitacazes: tupi or not
tupi, in a south american way”, que mostrava as mutações
pelas quais a imagem do índio passou, em diferentes momentos da cena
cultural brasileira, do romantismo de Alencar ao tropicalismo de Gil e Caetano.
Os índios carnavalescos de Rosa, então, são mutantes, o
que enriquece a análise da obra da artista e nos aproxima da
produção literária que, contemporaneamente, procura
dialogar com a temática indígena. Temos, hoje, um cenário
literário que não mais retrata o indígena como um ser
unilateral, mas complexo, na esteira das atuais reflexões
antropológicas e das discussões sobre identidade e limites culturais.17
Ao final desse passeio por diferentes
momentos do carnaval carioca, em cotejo com algumas obras literárias,
notamos que as fantasias de índios continuam a colorir as folias da
cidade. O Cacique de Ramos, bloco fundado em 1961, no
bairro de Olaria, é o melhor exemplo disso (e uma análise um
pouco mais cuidadosa das vestes tradicionais do bloco revela que o Cacique
está mais para índio apache norte-americano que para selvagem
brasileiro). Destacamos que o bloco não tem como símbolo um
“índio de cordão” que foi duramente reprimido e passou
por um processo de apagamento simbólico, no início do
século XX, fato que seguramente contribuiu para a decadência dos cucumbis. Tal contexto deve ser investigado com
exaustividade, mediante pesquisas iconográficas mais rigorosas e
análises mais acuradas de textos jornalísticos da época.
Mas isso é samba para outro desfile!
Referências
bibliográficas
ALENCAR, José de. O
Guarani. São Paulo: Editora Ática, 2006.
ALMEIDA, Maria Cândida
Ferreira de. Tornar-se outro. O topos canibal na
literatura brasileira. São Paulo: Annablume,
1999.
ARAÚJO, Vânia
Maria Mourão de. Yes, nós temos baianas: o processo de
construção da personagem baiana de escola de samba no
século XX. Dissertação (Mestrado), Instituto de Artes,
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NOTAS
1 Samba de enredo defendido pela escola
de samba Imperatriz Leopoldinense, no carnaval de
1994. Autores: Marcio André, Alvinho, Aranha e Alexandre da Imperatriz.
2 Samba de enredo defendido pela escola
de samba Imperatriz Leopoldinense, no carnaval de
2002. Autores: Marquinhos Lessa, Guga e Tuninho
Professor.
3 O autor exemplifica a ideia mencionando
fantasias de reis e duques (nobres em geral), caveiras e diabos (seres das
sombras), gregos, romanos e chineses (povos distantes), ladrões,
palhaços, prostitutas, caubóis e malandros (“figuras
liminares que o cotidiano só revela dolorosamente”). A figura do
índio pode ser enquadrada nessa última categoria. O
genocídio indígena pós-1500 legou aos nativos brasileiros
papel periférico, exótico, marginal em nossa sociedade.
4 Sobre as fantasias de clóvis, ou bate-bolas, ver Pereira, 2008, 2008a,
2009 e Pereira e Ferreira, 2009.
5 Expressão utilizada por Oswald
de Andrade no Manifesto Antropófago, de 1928.
6 Marco Morel
(2008, p. 125) afirma que durante o período do governo de dom
João VI já apareciam algumas alegorias, iconografias e obras
literárias de temática indígena, numa tentativa de
diferenciar a identidade brasileira da matriz cultural europeia.
7 Expressão utilizada por Antonio Candido (1959).
8 É curioso constatar que
José de Alencar, maior expoente do romantismo indianista brasileiro, era
um “inimigo do rei”, uma vez que nunca escondeu a
oposição a certas atitudes de Pedro II. O escritor, usando o
pseudônimo Erasmo, publicou textos panfletários, condenando a
corrupção que roía os tapetes do
alto escalão. Além disso, criticou com veemência o poema
épico A Confederação dos Tamoios, de
Gonçalves de Magalhães, feito sob encomenda
do Imperador – que, adversário confesso, perseguia o romancista
nas esferas da política. A ironia reside na percepção de
que as obras regionalistas e indianistas de Alencar atendiam, sim, aos
interesses do Império, unificados sob a égide do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (lira neto, 2006).
9 Sobre isso, aponta Maria Cândida
Ferreira de Almeida (1999, p. 194): “O retorno ao passado,
histórico ou mítico, era uma tentativa de ressignificar
o presente e projetar o futuro, camuflando a violência e a
destruição que marcaram o começo da
colonização do Brasil”.
10 Em 1889, segundo dados
apresentados por Felipe Ferreira (2004, p. 285-286), o Jornal do Commercio de 4 de março
noticiou que a Sociedade Iniciadora dos Cucumbis
Carnavalescos “desfilara apresentando dois estandartes, com seus
sócios ‘fantasiados de índios’ e tocando
‘instrumentos originais’. Em 1890, o mesmo periódico
noticiou a passagem de dois grupos de cucumbis:
“a Sociedade Iniciadora dos Cucumbis Africanos
– e a sociedade dos Cucumbis Carnavalescos
– trajando rico vestuário indígena”.
11 Tanto Felipe Ferreira quanto
Maria Clementina Pereira Cunha consideram 1932 um
divisor de águas na história do carnaval carioca.
12 Ferreira
(2004, p. 332)
comenta que o periódico O Jornal, de 30 de janeiro de 1932,
“destacava que a comemoração se realizava em agradecimento
ao fato de Pedro Ernesto ter tornado o Carnaval carioca oficial, ao auxílio
destinado às Grandes Sociedades, ranchos e blocos, além da
isenção de taxas e impostos sobre os primeiros festejos”.
13 Sobre o surgimento e as
modificações do conceito e do traje das baianas ver
Araújo, 2011.
14 Vale lembrar que a
“macumba”, termo genérico utilizado para designar os cultos
afro-brasileiros, intimamente relacionados às tias baianas, instigava a
curiosidade da cena intelectual brasileira – e não à toa
Macunaíma visita o terreiro de Tia Ciata, no
capítulo intitulado “Macumba”.
15 Dados colhidos do
sítio www.galeriadosamba.com.br/V41/CA.asp?parm=%3F%F4%F4%CA%E7%E754&BT=OK.
16 Ver o enredo “Brasil:
visões de paraísos e infernos”, desenvolvido
para a Unidos do Viradouro, no ano 2000; no qual os índios viviam
em absoluta paz, antes do “achamento” do
Brasil. A comunhão com a natureza, porém, seria profundamente
abalada com a presença do colonizador, que transformaria as vidas dos
silvícolas em um inferno dantesco
17 Antonio Callado, em Quarup, obra de 1967,
já levantava discussões sobre o processo de
marginalização do indígena.
Leonardo Augusto Bora é licenciado em letras
português-inglês (Pontifícia Universidade Católica do
Paraná), bacharel em direito (Universidade Federal do Paraná) e
mestrando (bolsista CNPq) em teoria literária (Universidade Federal do
Rio de Janeiro).
Recebido em: 29/05/2012
Aceito em: 07/08/2012
BORA, Leonardo Augusto. Entre
bons e maus selvagens: a representação do índio no
carnaval brasileiro. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio
de Janeiro, v.10, n.2, p. 109-126, nov. 2013.
Figura 1:
Ilustração de Raul Pederneiras representando um índio de
cordão, publicada no Jornal do Brasil de 14 de fevereiro de 1926 Fonte: Ferreira, 2004, p. 292
Figura 2: Alegoria do
Império Brasileiro (Francisco Manuel Chaves Pinheiro, 1872),
escultura de guerreiro indígena cujo escudo exibe as armas do
Império, sintetizando a profunda ligação que havia entre o
governo dos imperadores e a figura do índio; a obra está exposta
no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro; foto do autor
Figura 3: Charge publicada
na revista Careta de 20 de fevereiro de 1909 Fonte:
Cunha, 2001, p. 388