Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares,
v. 10. n. 1, mai. 2013
Luciana
de Araujo Aguiar (UFRJ)
Este
artigo aborda os grupos folclóricos e a relação entre eles
a partir dos critérios e categorias que os hierarquizam no contexto de
sua participação no Encontro Cultural de Laranjeiras, festival
folclórico realizado anualmente há 38 anos, na semana do dia 6 de
janeiro na cidade de Laranjeiras (SE). A hierarquização dos
grupos precipita os conflitos existentes entre eles e as tensões que os
constituem e neles se desenvolvem.
ENCONTRO CULTURAL DE
LARANJEIRAS, GRUPOS FOLCLÓRICOS, TAIEIRA, CACUMBI, CHEGANÇA.
Luciana
de Araujo Aguiar (UFRJ)
This article
intends to approach folk groups and
their interrelationships based on criteria
and categories that hierarchize such groups in the context of
their participation in the Cultural Meeting of Laranjeiras, a folk festival which has been
held annually in the past 38 years
on the week
of January 6th in the city of
Laranjeiras (SE). The hierarchization of groups precipitates
inner conflicts and tensions that
constitute and are developed inside the groups.
CULTURAL MEETING OF LARANJEIRAS, FOLK GROUPS,
TAIEIRA, CACUMBI, CHEGANÇA.
Introdução
O Encontro Cultural de
Laranjeiras pode ser visto como um festival folclórico que reúne
intelectuais, políticos e entusiastas do folclore em torno da
temática da cultura popular brasileira. Realizado anualmente há
36 anos, na semana do dia 6 de janeiro na cidade de Laranjeiras (SE), o
Encontro se afirma como um dos maiores festivais de folclore e cultura popular
do Brasil e é aqui abordado como um processo ritual e festivo articulado
em torno da noção folclore.1
Além de um
simpósio temático anual, no qual folcloristas e intelectuais se
reúnem para debater questões relacionadas à cultura
popular brasileira, o festival se promove pela apresentação de
grupos folclóricos não só de Laranjeiras, mas
também de outras cidades do Estado de Sergipe. O evento inclui outras
atividades, como apresentações de teatro e dança,
exposição, oficinas de artesanato, concertos e, as que mais
público atraem, shows noturnos.
O festival é evento que
permanece no tempo, mas não de forma estática, já que
está constantemente mudando, a exemplo do tema do simpósio,
diferente a cada ano. Embora seja processo em permanente mudança, é
constituído de partes que necessariamente devem acontecer, entre as
quais a realização do simpósio temático, a abertura
oficial, a apresentação de grupos folclóricos pelas ruas
da cidade, a procissão do Dia de Reis e a louvação dos
grupos folclóricos em homenagem a Nossa Senhora do Rosário e
são Benedito.
Segundo seus realizadores, o
Encontro Cultural de Laranjeiras se destaca por promover a cultura popular do
município de Laranjeiras e do Estado de Sergipe. Nessa perspectiva, a
presença dos chamados grupos folclóricos é essencial.
Trata-se de grupos de danças consideradas tradicionais em
função dos elementos que as compõem, entre eles canto, indumentária e coreografia.
O corpo é um dos
principais instrumentos para a execução das danças. O
corpo que dança não é só um instrumento
técnico, mas também um meio de comunicação, uma
linguagem que através da sua ação e performance
comunica, sendo dessa forma eficaz. Conforme observa Thomas Turino (2008),
música e dança estão muito
frequentemente no centro de nossas mais profundas experiências pessoais e
sociais.
Segundo Schechner
(2006) “Performances marcam identidades, dobram o tempo, remodulam
e adornam o corpo, e contam estórias. Performances – de arte,
rituais, ou da vida cotidiana – são comportamentos restaurados, comportamentos
duas vezes experenciados, ações realizadas para as quais as
pessoas treinam e ensaiam”. Porque possuem dimensões simbólicas e comunicativa expressivas, as
performances produzem subjetividades. Segundo Turner (1987, p. 76), o termo
performance completa uma experiência. A
execução das chamadas danças folclóricas
completa, assim, uma experiência que já foi evidenciada nas
relações cotidianas dos fazedores das danças. A
execução das danças formaliza ideias da ordem social e
performativamente as instaura.
Apesar de reunidos numa mesma
nomenclatura, “grupo folclórico”, os diversos grupos
folclóricos que se apresentam no Encontro Cultural de Laranjeiras
possuem status simbólico diferenciado, dado pelo contexto do
próprio Encontro Cultural. Abordo aqui os grupos folclóricos e a
relação entre eles a partir dos critérios e categorias que
os hierarquizam no contexto de sua participação no Encontro
Cultural de Laranjeiras. A dimensão conflitiva própria da
estrutura ritual aparece mais fortemente entre os grupos folclóricos. A
hierarquização precipita os conflitos existentes entre eles e as
tensões que os constituem e neles se desenvolvem. Mesmo que nesse
contexto o conflito se estabeleça de maneira intensa, ainda assim ele
não aparece de modo muito explícito.
Os de dentro e os de fora
Participam do Encontro grupos
folclóricos de Laranjeiras e de outros municípios de Sergipe,
todos contratados pela prefeitura de Laranjeiras. Em 2011 se apresentaram no
Encontro Cultural 110 grupos, entre locais e de fora, cuja remuneração
é diferente como aponta a fala do secretário de Cultura de
Laranjeiras.
A gente paga para os grupos de
Laranjeiras a mais do que a gente paga para os grupos que vêm de outras
cidades (...). Este ano [2011] foi 2.000 reais os
adultos e 1.500 os infantis, e os de fora 1.000 reais. Agora, a gente dá
transporte, a gente dá alimentação (...)
Os grupos daqui, fora esses 2.000 reais, eles recebem todo o material
das roupas deles. Todos os anos eles recebem todo o material (...) Alguns grupos grandes, como o Bacamarteiros,
por exemplo (...) recebem mais ou menos parecido com os grupos de Laranjeiras.
Grupos como Bacamarteiros, Parafusos, são grupos
tradicionais do Encontro Cultural, a Chegança de Itabaiana.
São grupos que chegaram juntos desde o primeiro momento. São
considerados para a gente grupos também de Laranjeiras (Irineu
Fontes, entrevista, 14.1.2011; grifo meu).
Houve, porém,
mudança na remuneração dos grupos de 2010 para 2011. Em
2010, a remuneração dos grupos locais era de 1.000 reais para os
de crianças e 1.500 para os de adultos. Os de fora receberam, em 2010,
entre 600 e 800, dependendo de seu tamanho, pois os grupos recebem de acordo
com o número de componentes.
Há, dessa forma, uma
diferença material e simbólica entre os grupos locais e aqueles
de cidades ou municípios vizinhos. Alguns turistas notaram a
diferença entre os grupos folclóricos. Uma fotógrafa de
Recife chamou atenção para o envolvimento de alguns grupos com a
comunidade, citando o Chegança como exemplo.
Também observou que alguns grupos pareciam, nas palavras dela, estar
lá “por obrigação”, como alguns dos cortejos.
Os grupos de Laranjeiras são, portanto, os mais valorizados.
No entanto, alguns de outros
municípios são simbolicamente tão importantes para o
Encontro Cultural como os locais, por exemplo, Bacamarteiros,2
de Carmópolis (SE), Parafusos,3 de
Lagarto (SE) e Chegança,4 de Itabaiana (SE) citados pelo
secretário de Cultura e por ele considerados “grupos também
de Laranjeiras”.
Os de dentro e os de dentro
Também ocorre diferenciação
entre os grupos folclóricos de Laranjeiras, embora simbólica,
já que todos os grupos locais recebem a mesma quantia para participar do
Encontro. Eu já tinha percebido essa diferença desde minha primeira
ida ao Encontro, em 2008, e, em 2011, isso foi explicitado pelo
secretário de Cultura do município, em entrevista a mim
concedida, ao se referir à apresentação dos grupos de
Laranjeiras em outros municípios do Estado de Sergipe:
Às vezes as pessoas
dizem “só quero o grupo tal”, mas às vezes o grupo
tal não pode ir. A gente está colocando todos os grupos para se
apresentarem, não só os grupos de ponta, que dizer,
que alguns falam, né, os mais importantes.
– Quais são os
grupos de ponta?
Os grupos mais importantes da
cidade que as pessoas dizem, e que eu também concordo, é o
São Gonçalo,5 o Samba de
Pareia,6 a Chegança, o Cacumbi,7 a Taieira;8
esses são os grupos mais tradicionais. Na verdade para mim não
são os grupos de ponta, são os grupos mais tradicionais da
cidade, os grupos verdadeiramente da cultura popular. São os
grupos tradicionais, são os grupos folclóricos; tem outros que
são representações de grupos folclóricos, como os
reisados, os guerreiros, mas que a gente trata todos do mesmo nível; mas
para as pessoas que gostam, gostam muito de ver o São Gonçalo
dançando e tal, e ali você como gestor não pode esquecer os
outros, você tem que dar oportunidade a todo mundo da mesma forma que as
pessoas gostam de ver o São Gonçalo, mas é interessante
também a gente ver o Samba de Coco; são coisas que a gente tem
muito bonita que as pessoas precisam conhecer,
então a gente dá oportunidade a todos da mesma forma (Irineu
Fontes, entrevista 14.1.2011; grifo meu).
A taieira,
o cacumbi e a chegança são manifestações
folclóricas diretamente relacionadas à louvação dos
santos: Nossa Senhora do Rosário e são Benedito, antiga
celebração festiva que foi ressignificada
com a criação do Encontro Cultural, em 1976. A dança de
são Gonçalo, embora não esteja associada à
devoção dos santos pretos, tem aspecto religioso, pois ocorre a
pedido de algum pagador de promessa. O samba de pareia, por outro lado, apesar
de não estar associado ao universo religioso, remete às
raízes culturais quilombolas, pois era dançada para celebrar o
nascimento de um bebê na Mussuca, povoados
oriundo de um dos mais fortes quilombos da região.
O prestígio
simbólico desses grupos parece basear-se, assim, em sua originalidade,
devido à peculiaridade de seus mitos de origem e singularidade dos seus
aspectos performáticos e de sua antiguidade. A taieira,
o cacumbi e a chegança são vistos nos grupos folclóricos
mais antigos do município de Laranjeiras, sendo seguidos
pela dança de são Gonçalo. O samba de pareia, embora
não tão antigo, se destaca por ser único:
tem muito são Gonçalo por
aí, mas que nem o da Mussuca não tem
não, e outra, eu sei que você é pesquisadora, estudante,
mas você já ouviu falar de samba de pareia em outro lugar,
não o da Mussuca? Samba de
coco você ouve falar aos muitos, mas samba de pareia, só tem na Mussuca” (Nadir, entrevista, 17.1.2011).
Os cinco grupos de Laranjeiras
citados pelo secretário de cultura - Taieira,
Chegança, Cacumbi, Dança de São Gonçalo e Samba de
Pareia – embora não sejam os únicos grupos que praticam
essas manifestações folclóricas já que há,
por exemplo, em outras localidades do Brasil grupos que praticam taieira e a dança de são Gonçalo como
a Dança de São Gonçalo em Echaporã (SP), a Taieira de Lagarto (SE) e a dança de são
Gonçalo no povoado de Santa Brígida (BA), distinguem-se facilmente
dos demais pela indumentária, pelas músicas, pelos toques dos
tambores. Isso não ocorre, por exemplo, com os grupos que praticam
reisados e os sambas de coco, todos muitos parecidos entre si, de modo que
é difícil identificar sua localidade de origem. Os cinco grupos
mencionados são conhecidos pela maioria dos turistas que se dirige a
Laranjeiras para vê-los. Os mestres desses grupos são
também muito procurados pelos turistas, pela imprensa e pelos
pesquisadores.
Esses mestres sabem que
são personagens fundamentais para o acontecer
do Encontro Cultural, e isso faz com que eles tenham relação
muito privilegiada com a prefeitura de Laranjeiras, principalmente com a
Secretaria de Cultura do município. Porque desfrutam dessa
relação, têm mais liberdade de se posicionar frente aos
órgãos públicos, seja para obter vantagens, seja para
contestar algo que não funcionou. Tal liberdade não é
consentida a todos os grupos, como ilustra esta fala de mestre Zé Rolinha
(entrevista em 14.1.2011), da Chegança: “Chegamos na sexta-feira, depois da abertura, no Cras9 para
jantar, cadê comida? Cras fechado. Vamos
brincar chateado? Não voltei mais lá nenhum dia, me adularam, mas
eu não voltei. Isso tira o ânimo para brincar”.
O autêntico e o
não autêntico
Alguns grupos
folclóricos em Laranjeiras são vistos como grupos parafolclóricos, também chamados de grupos
artísticos de projeção folclórica; são
formados por pessoas interessadas em danças e folguedos
folclóricos, mas que, segundo meus interlocutores, folcloristas e mestres
de grupos folclóricos, não possuem legitimidade para ser
considerados folclóricos, seja por não ter
“tradição” ou continuidade no tempo, seja por imitar
os grupos reconhecidos pelo saber local como folclóricos.
No universo pesquisado, os
grupos parafolclóricos são
considerados, pelos informantes mencionados, inautênticos, em
oposição aos que possuem mito de origem convincente e têm representabilidade no universo social em que estão
inseridos, sendo reconhecidos como autênticos. Além desses,
há ainda outros dois outros fatores vistos no universo pesquisado que
atestam autenticidade a um grupo: sua antiguidade e a idade de seus membros.
Dessa maneira, os grupos mais
antigos são os que detêm “tradição”,
continuidade no tempo, e por isso são considerados autênticos, em
oposição aos novos, “criados recentemente” conforme
as palavras de meus interlocutores. Um grupo folclórico é ainda
considerado autêntico quando é formado
por adultos e, principalmente, pessoas idosas. Nesses casos são
considerados “folclóricos de verdade”. Se, em vez disso o
grupo é formado por crianças e jovens, em grande parte das vezes
é visto como grupo-mirim, parafolclórico
e não autêntico.
Pude conversar com o fundador
do grupo Cacumbi-mirim. Jorge foi secretário de Cultura do município
de Laranjeiras no início da década de 1990. E há 25 anos,
quando coordenava o Museu de Arte Sacra em Laranjeiras, criou o que chama de o
Grupo Parafolclórico Cacumbi-mirim. “O
Cacumbi-mirim foi o primeiro grupo parafolclórico
de Laranjeiras; de lá para cá foram criados o São
Gonçalo e o Samba de Pareia Mirim, Reisado Mirim” (Jorge,
entrevista indireta, 11.1.2011). Segundo ele, quase todos os povoados do
município de Laranjeiras, possuem grupos parafolclóricos.
Os grupos considerados
autênticos legitimam esse seu status colocando-se em
oposição a esses outros, considerados não
autênticos. Presenciei uma conversa de Bárbara, mestra da Taieira, com uma pessoa que perguntava se, na Taieira, só dançavam crianças, e ela
respondeu “sim, mas não é um grupo mirim não,
sempre foi assim”. Conversei também com dona Nadir (entrevista,
17.1.2011), mestra do Samba de Pareia do povoado de Mussuca,
que informa ser o grupo de Samba de Pareia Mirim considerado parafolclórico
Porque é o grupo mais
novo. O meu Reisado
também é parafolclórico,
não é folclórico ainda. Porque eles estão
contribuindo agora, aí é para, não é mesmo o
original. Original é o São Gonçalo e o Samba de
Pareia, porque esse Samba de Pareia ele não é de agora não
(...) foi no tempo da escravidão, então esse grupo é
velho, é folclore (grifo meu).
Dessa maneira, tanto no
discurso de Bárbara quanto no de dona Nadir, é o passado que
atesta autenticidade e tradicionalidade a
manifestações artísticas supostamente oriundas desse
período “longínquo”. Já que os grupos de
crianças e os mais recentes não são associados a esse tempo que garante a tradição, eles
não são vistos como originais. Os grupos provenientes desse tempo
passado são chamados de tradicionais, autênticos, originais, sendo
que essas categorias se equivalem nesse contexto social, se contrapondo aos
grupos chamados de não tradicionais e inautênticos, considerados parafolclóricos.
Há, contudo, um efeito
paradoxal na denominação dos grupos mirins como não
originais, já que, embora eles sejam considerados “não
autênticos”, sua presença atesta uma continuidade futura do
grupo “autêntico”. Em nome da valorização do
original e do autêntico, se adotam comportamentos e condutas que
não são por eles mesmos considerados autênticos. Há
uma descontinuidade de discurso em nome de uma continuidade cultural:
O grupo parafolclórico
foi criado para alimentar os grupos autênticos, porque antigamente os jovens tinham
vergonha de dançar, então se acostumasse desde criança
eles iriam crescer e não iriam ter vergonha de ir para os grupos
folclóricos (...) a maioria dos meninos que iniciaram no Cacumbi-mirim
estão hoje na Chegança (Jorge, entrevista indireta, 11.1.2011;
grifo meu).
A presença de
crianças e adolescentes nas danças pode ser vista, dessa forma,
como não autêntica, mas também como responsável pela
continuidade do grupo tradicional. Embora pareçam duas facetas opostas,
elas são complementares e determinam, juntas, o
lugar dos “grupos de criança” no evento. Essa questão
vai de encontro a uma premissa muito formulada no senso comum sobre cultura
popular. Trago a premissa, a partir da fala de um turista que estava no
Encontro Cultural de 2010. O turista de São Paulo estava hospedado em
Aracaju, e um dos funcionários do hotel lhe recomendara ir a Laranjeiras
porque aquelas danças estavam acabando e logo desapareceriam. Enquanto
ele me relatava o fato, havia a apresentação de um grupo de
reisado; ele então olhou para mim e confirmou essa impressão:
“você pode ver, é só velho que dança”.
Essa imagem bem comum nas falas
sobre cultura popular e folclore encontra ressonância, mas provoca efeito
oposto, no evento, do qual também participam crianças. O Encontro
Cultural de Laranjeiras aparece, portanto, como um espaço não
só de idosos, mas também de jovens.
O prestígio
simbólico dado pelo lugar de apresentação dos grupos
A apresentação
dos grupos folclóricos pode ocorrer em diversos palcos na cidade. A
ideia de palco que estou trazendo não se restringe ao palanque de
madeira montado para apresentações artísticas. A igreja de
Nossa Senhora de Rosário e são Benedito e as ruas de Laranjeiras
também o são, pois esses dois espaços permitem a performance dos grupos folclóricos, tal como o
palanque de madeira montado exclusivamente para a festa.
A distinção
simbólica e valorativa dos grupos se expressa também
através do espaço em que se apresentam. Os grupos
folclóricos de maior prestígio são aqueles ligados
às celebrações festivas em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário e são Benedito, a saber: Taieira (Figura 1), Cacumbi (Figura 2) e Chegança
(Figura 3). Esses grupos se apresentam na igreja de Nossa Senhora do
Rosário e são Benedito. Além
desses, a Dança de São Gonçalo e o Samba de Pareia possuem
também bastante prestígio nesse universo, mas, não estando
relacionados à devoção religiosa a são Benedito,
só se apresentam nos palanques. Os demais grupos folclóricos que
participam do Encontro Cultural não possuem tanto prestígio
quanto esses cinco e por isso a maioria deles se apresenta em cortejo pelas ruas
da cidade, embora alguns também apareçam nos palanques.
O prestígio da Taieira, do Cacumbi e da Chegança é dado pelo
próprio contexto de louvação aos santos pretos em que eles
estão inseridos e por sua antiguidade. Segundo Bárbara, a mestra
da Taieira: “as Taieiras,
como outros grupos da cidade de Laranjeiras, o Cacumbi e a Chegança,
elas são bem antigas, são os primeiros grupos da cidade”.
Mestre Zé Rolinha, da Chegança, informa: “aqui só
existiam cinco grupos: Taieira, Chegança,
Cacumbi, Lambe-Sujo e Caboclinho, e São Gonçalo do Amarante que
não brincava em Laranjeiras”.
A coroação da
rainha das taieiras e a apresentação do
Cacumbi e da Chegança na missa em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário e são Benedito constitiuem o
momento mais importante do Encontro Cultural para quem vai lá reverenciar
os “grupos folclóricos”. Eles são “a menina dos
olhos” dos órgãos públicos municipais e das
autoridades eclesiais, apesar de sua forte
ligação com a religião afro, como é o caso
da taieira. Porque já se apresentam na igreja
e em um dos momentos mais importantes do evento, eles não reclamam a
apresentação nos palanques montados ao longo da cidade e
também não fazem cortejos pelas ruas.
A Dança de São
Gonçalo e o Samba de Pareia, por outro lado, obtêm
prestígio por se apresentar no palanque e pelo glamour daí
derivado. Segundo seu Sales (entrevista em 17.1.2011), mestre da Dança
de São Gonçalo, “o Brasil inteiro conhece a gente, e as
pessoas que vêm para o Encontro Cultural é para ver o São
Gonçalo dançando”. Porque possuem, como a Taieira, o Cacumbi e a Chegança, elevado status
simbólico, a maioria dos turistas tem conhecimento da existência
desses dois grupos, e seus dirigentes são também procurados pela
imprensa e pelos pesquisadores. Esse status simbólico elevado os
leva a não dançar em cortejo pelas ruas, e como não dançam também na igreja, seu lugar de
apresentação é o palanque.
Os grupos que são de
fora do município e se apresentam em cortejo pelas ruas alcançam
prestígio pelo próprio dançar nas ruas, o que demanda ter
tempo para dançar. Em relação a isso, é ilustrativa
a fala da dirigente do Guerreiro10 Santo Amaro, de Santo Amaro das
Brotas (SE), responsável pela organização da dança,
aborrecida porque, em sua opinião, o encontro estava muito
desorganizado: “eu gosto de dançar, não só de sair
correndo em desfile; quando a gente para um pouquinho para dançar, eles
já vêm dizendo, ‘anda, anda’.”
Esses grupos, sem nenhuma
ligação com a louvação dos santos pretos, vêm
apresentar-se em Laranjeiras porque recebem cachê para isso, motivo pelo
qual, aliás, têm status simbólico menor em
relação aos demais. Os turistas não dão conta
exatamente dessas características e se posicionam de maneiras
diferentes. Alguns consideram positivas as apresentações em
cortejo, como uma turista baiana, argumentando ser essa a melhor forma de
mostrar muitos grupos folclóricos diferentes em poucos dias. Outros,
porém, a criticam, como um turista
egípcio, a quem elas pareceram ser um catálogo: “temos
isso, isso e isso”. Em sua opinião, as apresentações
são muito rápidas, e afirmou que poderia ficar um dia inteiro
assistindo a uma dança para a conhecer de
verdade e não só para ver pessoas de um grupo de dança
passando em cortejo.
Os mestres desses grupos
não são procurados nem pela imprensa nem por pesquisadores, e
são de alguma forma desconhecidos pelos órgãos
públicos municipais e autoridades eclesiais. Porque recebem para
dançar nas ruas, de alguma forma se satisfazem e não reclamam a
apresentação nos palanques.
As apresentações
dos grupos folclóricos atraem majoritariamente turistas e pesquisadores, seja em cortejo nas ruas, na Igreja de Nossa
Senhora do Rosário ou nos palcos. As que ocorrem nestes dois
últimos espaços, entretanto, atraem mais pessoas da
população local do que os cortejos.
Essa leitura nos permite pensar
o espaço urbano como investido com valores próprios e por isso
participando ativa e não passivamente na produção de
sujeitos e de relações sociais (lévi-strauss, 1957). A igreja, considerada
eminentemente um espaço sagrado, atrai para si
manifestações folclóricas envolvidas em um universo
religioso e que são valorizadas positivamente naquele contexto. Palco
das manifestações consolidadas na cidade como religiosas, ela
não só as atrai como apoia os grupos, como evidencia a homilia do
padre na missa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário e são
Benedito em 10 de janeiro de 2010:
Saudamos a Taieira,
saudamos o Cacumbi, saudamos todos os demais grupos da nossa cidade, visitantes, saudamos o povo de Deus (...) secretário
geral do Encontro Ione Sobral, secretário de Cultura Irineu Fontes,
secretário Paulo Leite, os demais secretários que participaram,
grupos folclóricos da nossa cidade, a Chegança na pessoa de
Zé Rolinha, o Cacumbi na pessoa de seu Deca, a Taieira
na pessoa de Bárbara, a todos os grupos da nossa cidade e aos grupos
visitantes (...) É a cultura do povo que se torna cada vez mais
visível nesse ponto alto da festa do Encontro Cultural, por isso,
queridos irmãos e irmãs dos grupos folclóricos, aceite,
divulgue, faça com que cada grupo se torne cada vez mais conhecido,
porque vocês arrastam consigo não somente o grupo, mas toda a
cidade de Laranjeiras que torna-se conhecida culturalmente não porque
faz esse grande encontro mas porque deixa-se aceitar durante todo o ano a
cultura do seu povo.
O palanque e a rua, por outro
lado, são vistos como espaços mais profanos, sendo, portanto,
palcos de manifestações que não possuem nenhuma
relação com os contextos originais da Festa dos Santos Reis. O par Igreja x Rua/Palanque exprime em sua polaridade uma
tensão que perpassa os grupos folclóricos em
apresentação no Encontro Cultural de Laranjeiras.
Podemos pensar também
que a valorização mais positiva dos grupos folclóricos que
se apresentam na igreja em oposição à menor
valorização dos grupos que desfilam nas ruas denota a
importância que as ideias cosmológicas e religiosas possuem ainda
com relação aos espaços.
Sob outro ângulo, podemos
pensar ainda que a igreja e o palanque sintetizam duas formas de
construção de prestígio, em oposição
às apresentações em cortejo pelas ruas, que não
parecem promover prestígio. A igreja está inserida no regime da
louvação dos santos pretos enquanto o palanque está
inserido no regime do Encontro Cultural.
Disputa pelo
prestígio simbólico
Tanto para o Samba de Pareia
quanto para a Dança de São Gonçalo a
apresentação no palanque parece ser importante como
estratégia visando manter alto seu status simbólico e, de
alguma maneira, disputar prestígio com os grupos “mais
tradicionais” da cidade: Taieira, Cacumbi e
Chegança. Esses dois grupos são os que mais prezam as
apresentações em palanque, forma que, por exemplo, a Taieira recusa, considerando-a inautêntica. A Taieira, o Cacumbi e a Chegança obtêm
prestígio via louvação a Nossa Senhora do Rosário
na missa de domingo, o Samba de Pareia e a Dança de São
Gonçalo, por sua vez, precisam do palanque para alcançar
prestígio.
Os grupos chamados mais
tradicionais parecem querer evitar a partilha de seu alto prestígio
simbólico com os chamados menos tradicionais. Em um de meus primeiros
dias de 2010 em Laranjeiras, presenciei forte crítica à
Dança de São Gonçalo por se estar “espetacularizando”. Conversava com uma pessoa ligada
ao Cacumbi e ela declarou que o pessoal do São Gonçalo estava
ficando muito esnobe porque foi para Brasília, entre outros lugares.
Segundo suas palavras, eles possuem três grupos, um adulto, um mirim e um
adolescente; quando um não vai para fora da cidade, vai outro. E,
só para se apresentar no Encontro, vão receber 3.000 reais.
“E os outros grupos, quanto cada um vai receber?”, perguntei.
“Mil reais.” Descobri depois que cada grupo de são
Gonçalo iria receber também 1.000 reais e, como são três, o total era de 3.000 reais.
Disputa, conflito e
competição são inerentes aos processos sociais. Quando
vemos as expressões da cultura popular de forma “essencializada” tendemos a
pensar, de forma romantizada, que elas são puras e que as formas de
competição não as atingem. Um olhar atento, porém,
nos revela essa dimensão conflitiva.
O palanque e os grupos
folclóricos
A presença do palanque
para as apresentações folclóricas gera muitas
controvérsias entre os participantes das danças e os
pesquisadores e políticos envolvidos com o Encontro. As
controvérsias giram em torno de dois polos opostos: autenticidade x desejo de ser mais bem visto. Para alguns políticos e
alguns pesquisadores, e mesmo para alguns atores da cultura popular, o palanque
tira a autenticidade dos grupos folclóricos. Por outro lado, para a
maioria dos participantes desses grupos, o palanque é considerado a
melhor maneira de ser mais bem visto pelos
espectadores.
Cito um caso ocorrido em 2010
com relação às apresentações programadas
para o Palco Dona Lalinha. O primeiro dia planejado
era sexta-feira, depois da abertura oficial do Encontro. Por conta de grande
atraso na programação, logo após a abertura oficial, o
ônibus da prefeitura levou os grupos para seus povoados, e, por isso,
não houve apresentação. O outro dia planejado para essas
apresentações era o domingo após a procissão.
Encerrada a procissão, porém, o Palco Dona Lalinha
estava sendo preparado para o show do padre Antonio Maria, cuja grande
estrutura requereu exclusividade do palanque por tempo maior do que o
inicialmente previsto pelos organizadores do Encontro. Os grupos
folclóricos ficaram, então, sem espaço e, ao procurar
orientação junto à comissão organizadora do evento,
foram encaminhados para o Tablado Cultural Igreja Matriz,11
que, entretanto, já estava ocupado por apresentações de
dança e teatro. Dona Nadir, mestre do Samba de Pareia, liderou,
então, em favor dos grupos folclóricos, um protesto que saiu em
cortejo pelas ruas, seguido por estudantes. Posteriormente, disse-me dona Nadir
(entrevista em 14.1.2010):
Não fiquei satisfeita
com essa festa aí não, vem um monte de gente de fora, um monte de
colega pra ver a gente e nós não dança, deu aquele
problema todo, o primeiro ano que aconteceu isso foi esse ano agora. (...) Esse
encontro tratou os grupos folclóricos como cachorros, uma coisinha
aí à toa, que não tem importância.
Nadir acrescentou que aquilo
nunca ocorrera e que era tradição do Encontro os grupos
folclóricos se apresentarem no palanque. Lindolfo Amaral (entrevista em
12.1.2010), funcionário da Secretaria de Estado de Cultura,
também comentou essa tradição:
Uma mudança que
aconteceu ao longo dos tempos é que o palco foi crescendo (...)
também temos que entender que os grupos folclóricos acabaram indo
pro palco. Isso desde sempre. No primeiro encontro,
realizado em maio de 1976, havia um circo; o circo tinha um picadeiro, o
picadeiro não deixa de ser um palco. E isso muda o espaço
geográfico de apresentação; se você disser, hoje,
que os grupos folclóricos vão-se apresentar no chão, eles
não vão querer em Laranjeiras, porque
existem palcos, no plural (...) então, se existe essa
tradição que é o palco, eles desejam se apresentar da
melhor maneira possível. Eles querem ser
visíveis, eles querem que as pessoas vejam, então o palco acabou
sendo inevitável. “Ah, os grupos estão perdendo as suas
características”. Não sei se isso perde
característica não (grifo meu).
Sua posição,
todavia, não é unânime. Uma fala do secretário de
Cultura de Laranjeiras, Irineu Fontes (entrevista em 13.1.2010), ilustra
opinião divergente:
Qual é o palco do grupo
folclórico? O palco do grupo folclórico é a rua (...) Por que se colocou em palco? Porque acharam que se
devia moldar o grupo ao palco. O palco que tem que se moldar ao grupo (...).
Tanto que esse ano foi muito pouco grupo no palco (...)
Então, o que que a gente faz na rua: dá
condição técnica para que todo mundo possa ouvir o que
está acontecendo. Quando você dá essa
condição, microfonando, colocando piso
mais baixo para que as pessoas vejam a movimentação do grupo,
toda essa questão, você consegue fazer com que o palco que
é a rua se transforme num palco mesmo, onde as pessoas tenham lugar para
ver. Agora se você colocar num palco, com uma iluminação
e um espaço deste tamanho, não é nada, não vira
grupo folclórico, não vira grupo artístico, não
vira nada (...) É isso que a gente tem que
fazer, fazer com que dê prioridade ao que é mais importante no
Encontro Cultural que é a cultura popular (grifos meus).
A ideia de autenticidade
está implícita ou explicitamente indicada nessa fala. Segundo
Gonçalves (2007), o autêntico é equacionado ao original,
enquanto o inautêntico à cópia ou reprodução.
Essa categoria, porém, só existe quando se acredita que o que
está sendo referido como autêntico é algo dado, natural.
Dessa maneira, os discursos em torno de uma suposta autenticidade
atribuída à rua como espaço legítimo para apresentação
de um grupo folclórico e as diferentes visões sobre o significado
do palanque para mostra de danças ditas folclóricas não
levam em conta a natureza cultural dessas construções. Quando se
acredita que uma relação já é dada e não
construída, atribui-se uma ideia de pureza a essa relação.
Isso pode ser visto de modo muito presente nos estudos sobre o folclore
brasileiro.
Canclini (apud carvalho, 1991, p. 7)
propõe descartar a escorregadia noção de autenticidade,
presente na conceituação de vários autores, e sugere o
critério de “representatividade sociocultural: não importa
tanto os objetos, música e hábitos tradicionais por sua
capacidade de permanecerem ‘puros’, iguais a si mesmos, como porque
representam o modo de conceber e viver daqueles que os produzem e usam”.
As categorias pureza,
autenticidade, ruralidade e povo associadas às
manifestações do folclore levariam à conclusão
aparentemente óbvia de que os grupos folclóricos deveriam
apresentar-se na rua, já que parece ser autêntica, por
oposição ao palanque. Quando usamos essas nossas categorias
classificatórias, hierarquizamos as expressões culturais a partir
de um sistema de valores constituído dentro de um
certo contexto ideológico. À medida, portanto, que nos
deslocamos para o que as pessoas que estão dançando querem,
falam, pensam e desejam, vemos a questão por outro prisma. Saímos
de uma visão etnocêntrica e nos direcionamos para uma visão
relativizadora, buscando compreender de dentro, a
partir daquele outro, seus desejos e suas aspirações.
Assim, de um lado, a
apresentação dos chamados grupos folclóricos na rua parece
ser autêntica. De outro lado, o que alguns integrantes dos grupos desejam
é justamente mostrar suas manifestações como trabalho de
arte, o que sabem fazer bem, e numa perspectiva o melhor jeito de fazer isso,
na concepção de alguns deles, como dona Nadir, é no palco.
Há outra questão que precisa ser posta neste debate. Por mais que
pareça mais tradicional aos olhos do secretário de Cultura a
apresentação dos grupos folclóricos nas ruas, a
tradição criada pelo Encontro Cultural foi sua
exibição em palanque, como apontado por Lindolfo Amaral.
Diferente dos grupos que se
apresentaram na igreja e no cortejo, o Samba de Pareia e a Dança de
São Gonçalo em 2010 não se apresentaram em lugar nenhum,
só participando do cortejo na abertura oficial do evento e da
procissão no domingo, sem apresentações
específicas, salvo nas casas de algumas pessoas que os convidaram a
dançar. Embora tenham sido pagos mesmo sem se apresentar, lutaram por isso,
pois o prestígio, nesse contexto, parece ocorrer não na esfera
econômica, mas na esfera simbólica. Por isso, dona Nadir e seu
Sales, mestre da Dança de São Gonçalo, foram os mestres de
grupos folclóricos que mais se aborreceram com a não
apresentação em palanque.
Considerações
Finais
A diferença de
prestígio obtido junto à população de Laranjeiras,
a turistas, pesquisadores e pessoas ligadas a órgãos
públicos de Laranjeiras e de Sergipe pelos grupos que se apresentam no
Encontro Cultural de Laranjeiras acaba construindo uma hierarquia
simbólica entre eles que passa por diferentes planos, idade,
antiguidade, lugar de apresentação, patrocínio, entre
outros.
Os critérios que
constroem essa hierarquia não são acionados juntos; são
acionados e reivindicados por diferentes pessoas em diferentes contextos, a
partir da estrutura do evento e da relação entre os atores (gluckman, 1987). Esses critérios podem ser
explícitos ou implícitos e revelam negociações de
hierarquia de prestígio e de autenticidade. Negociações
que, como vimos, se manifestam de maneira bastante
ativa no contexto do Encontro Cultural.
Referências
Bibliográficas
CANCLINI, Néstor
García. Las Culturas Populares en el
Capitalismo. México: Editorial Nueva Imagem, 1982.
CARVALHO, José Jorge. As
duas faces da tradição. O clássico e o popular na
Modernidade latino-americana. Brasília: UnB, 1991. (Série
Antropologia, n. 109)
DANTAS, Beatriz Góis. A
taieira de Sergipe − pesquisa exaustiva sobre
uma dança tradicional do nordeste. Petrópolis: Vozes, 1972.
GLUCKMAN, Max. Análise
de uma situação social na Zululândia
moderna. In: FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.). A antropologia das sociedades
contemporâneas. São Paulo: Global,1987.
GONÇALVES, José
Reginaldo Santos. Antropologia dos objetos:coleções,
museus e patrimônios. Rio de Janeiro: Iphan, 2007.
LÉVI-STRAUSS, Claude:
“Zona Pioneira” In: Tristes Trópicos.
São Paulo: Editora Anhembi Limitada. 1957.
SCHECHNER, Richard. “O
que é performance?”. In: Performance Studies: An Introduccion. New York
& London: Routledge, p. 28-51, 2006.
TURINO, Thomas. Music as
social life: the politics of participation.
Chicago. University of
Chicago Press, 2008.
TURNER, Victor. The Anthropology of Performance. New York: PAJ Publications, 1987.
1 Este artigo é parte de minha
dissertação de mestrado intitulada Celebração e
estudo de folclore brasileiro: o Encontro Cultural de Laranjeiras (SE),
defendida em junho de 2011 pelo Programa de Pós-Graduação
em Sociologia e Antropologia da UFRJ e orientada pela professora doutora Maria
Laura V.C. Cavalcanti.
2 Folguedo formado por grupo intitulado
batalhão ou tropa, subordinado a um sargento. Os participantes portam
bacamartes que são utilizados nos festejos natalinos e juninos para dar
tiros de pólvora seca. Podem ser acompanhados por banda de
pífanos ou zabumbas que se encarregam da parte musical. Fonte:
http://www.cnfcp.gov.br/tesauro/00001895.htm Acesso em 14.8.2012.
3 Dança de conjunto cujos
participantes executam coreografia de passos acelerados, fazendo grandes
círculos e girando ao mesmo tempo em torno de si, com habilidade
perfeita e precisa, cadenciada pelo som da batida de um zabumba. Na cidade de
Lagarto, em Sergipe, só os homens dançam. No final dos versos,
fazem uma curta série de voltas, terminada por um staccato e
batida forte de pé. Fonte: http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00001722.htm
Acesso em 14.8.2012.
4 Folguedo de características
variadas que dramatiza as dificuldades vividas pelos portugueses durante as
conquistas − corsários, calmaria, motim e tempestade. Em algumas
variantes inclui também o combate entre cristãos e mouros, quando
aparecem ainda um rei mouro, seus embaixadores e
princesas. Os personagens vestem uniformes da Marinha, segundo o escalão
militar, podendo também figurar nas apresentações, dois
palhaços, um padre, um doutor, por exemplo. Fonte:
http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00002050.htm Acesso em 14.8.2012.
5 Dança de pares de origem
portuguesa, em louvor a são Gonçalo do Amarante, organizada
geralmente em pagamento de promessa ou voto de devoção. Em frente
ao altar com a imagem do santo, formam-se duas fileiras, podendo ser de
mulheres, de homens ou de homens e mulheres, encabeçadas por dois
violeiros − mestre e contramestre. A dança é dividida em
partes ou jornadas. Os dançarinos se alternam cantando a uma só
voz e fazendo movimentos para a esquerda e para a direita. No final, podem
formar uma roda em que o promesseiro dança segurando a imagem do santo
retirada do altar, ou, no caso de haver apenas uma imagem para vários
promesseiros, o santo vai passando de mão em mão. Em Laranjeiras
o fecho é dado pela chula de encerramento, com as duas fileiras, ora se
aproximando, ora se afastando, chegando diante do altar, onde todos se
ajoelham, fazem vênia e dão por encerrada a dança. Fonte:
http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00000094.htm Acesso em 14.8.2012.
6 O samba de pareia parece derivar do
nome parelha por ter formação de dois pares que se destacam e se
sucedem na roda. O samba de pareia ocorre sempre que nasce uma criança
na comunidade quilombola de Mussuca, em Laranjeiras.
O objetivo é manifestar a alegria do grupo com a chegada do
recém-nascido. A dança naquela região é relatada
como surgida na época áurea dos engenhos de
cana-de-açúcar. O samba de pareia tem um ritmo parecido com o
samba de coco. Fonte:
http://sitedobareta.com.br/municipios/samba-de-pareia-leva-a-cultura-de-laranjeiras-a-assembleia-legislativa-26-03-2011/
acesso em 16.7.2012
7 Congada com ocorrência em
localidades do Nordeste e Sul do Brasil. O enredo apresenta
variações, mas em geral alude aos reis Congo e Bamba e homenageia
Nossa Senhora do Rosário e são Benedito, sendo composto de cantos
de chegada, louvores religiosos, cantos soltos e uma parte de guerra entre os
dois reis. Os cantos são denominados marchas e marchas-fogo e são
acompanhados por música de pandeiro e batuque de tambores em
várias toadas. Em Santa Catarina, representa a revolta de marinheiros
que cobram do capitão o dinheiro da ração; formam-se duas
alas de marinheiros trajados com calças azuis e camisas brancas, sapatos
brancos e chapéus enfeitados por quatro fitas, tendo ao centro o
capitão, que desempenha o papel de chamador. Fonte:
http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00002062.htm Acesso em 14.8.2012.
8 A taieira,
segundo a coordenadora do grupo, é um ritual de coroação de
Nossa Senhora do Rosário. As taieiras
são meninas que dançam para louvar a Virgem. Além
das taieiras, o ritual é composto ainda por
outros personagens: as rainhas, personagens que são coroadas junto com
Nossa Senhora do Rosário na missa, as lacraias (mulheres que seguram
sombrinhas debaixo das quais seguem as rainhas), o rei, o ministro (que
é quem acompanha o rei) capacete (menino que faz guarda ao rei) e o
patrão, que é o tocador do tambor, instrumento que marca o ritmo
dos cânticos. Segundo Dantas (1972, p. 58), a taieira
tem relação direta com o reinado dos congos: reis e rainhas
escolhidos através das irmandades de Nossa Senhora do Rosário e
com a permissão das autoridades civis e religiosas durante o
período escravocrata brasileiro. “Para a coroação desses
reis, cujo mandato era anual ou vitalício, organizavam-se festas e
pomposos cortejos, que os acompanhavam até a Igreja onde eram coroados
pelo padre. A dança da taieira, como outras
danças-cortejos, derivaria desses acompanhamentos reais.”
9 Centro de Referência de
Assistência Social. É na sede do Cras de Laranjeiras que, durante o Encontro Cultural de
Laranjeiras, são servidas as refeições para os grupos
folclóricos que participam do evento.
10 Reisado surgido na década de 1930 em
Alagoas. De caráter dramático profano-religioso, é
comemorado entre 24 de dezembro e 6 de janeiro,
anunciando de porta em porta a chegada do Messias e homenageando os três
Reis Magos. Com número de componentes variando entre 25 e 35, o folguedo
se compõe de elementos dos reisados e caboclinhos. Consta de uma
sequência de cantigas dançadas por bailarinos em trajes
multicores. Alguns personagens: mestre, contramestre, rainha (às vezes
são três), lira, índio Peri e seus vassalos, embaixadores,
palhaços. Fonte: http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00002058.htm Acesso em
14.8.2012.
11 Palco montado pela prefeitura para as
atividades do Encontro Cultural.
Luciana de Araujo Aguiar é bacharel e
licenciada em ciências sociais pela UFRJ e mestre em sociologia com
concentração em antropologia pelo Programa de
Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ.
Recebido em: 01/06/2012
Aceito em: 08/08/2012
AGUIAR, Luciana de Araujo.
Autenticidade, prestígio e rivalidade no contexto da cultura popular : o Encontro Cultural de Laranjeiras (SE). Textos
escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v.10, n.1, p.
81-100, mai. 2013.
Figura 1: Taieras Fotografia: Luciana de Araujo Aguiar
Figura 2: Cacumbi
Fotografia: Luciana de Araujo Aguiar
Figura 3: Chegança
Fotografia: Luciana de Araujo Aguiar