EDITORIAL

Os fios que tecem este número de Teias tiveram como centro a tríade: sujeitos, espaços educativos e processos de comunicação. A partir dela, foi tecido o entrelaçamento das questões Em Pauta. Nesta seção, os dois textos trazem o legado de Bakhtin como referência comum em bordados multicoloridos específicos. Cecilia Goulart e Maria Teresa de Assunção Freitas inauguram este percurso de sentidos, abordando, na trajetória das suas pesquisas, diferentes processos, espaços diversos, sujeitos múltiplos.

A alteridade é uma marca deste número de Teias, tecido também por fios trazidos do V Seminário Internacional “As redes de conhecimento e as tecnologias – os outros como legítimo outro”, realizado na UERJ, neste mês de junho. Assumindo explicitamente a intertextualidade, aqui se encontra a Entrevista de João Alegria, acerca da “produção colaborativa de conteúdos audiovisuais”, bem como os Artigos produzidos por Rosalia Duarte e Antônio Zuin, a partir das suas falas na mesa-redonda “O OUTRO na informação e na comunicação”, focalizando “o outro no cinema” e “as representações dos alunos sobre os professores” no espaço do Orkut.

As tecnologias da informação e da comunicação também estão presentes no artigo de João Batista Bottentuit Junior e Clara Pereira Coutinho, na perspectiva da sua recontextualização educacional, mais precisamente no que diz respeito à utilização do Google no “processo de ensino e aprendizagem” no ensino superior.

Dimensões curriculares são privilegiadas nos dois artigos seguintes. Edna de Abreu Barreto tematiza “hibridismo e ambivalência na análise de política de currículo”, a partir de análise circunstanciada das questões envolvidas. Carmen Lúcia de Mattos e Paula Almeida de Castro, baseadas em pesquisa etnográfica, discutem as relações entre o tempo escolar e a inclusão dos alunos no espaço da escola.

A perspectiva da educação inclusiva é aprofundada por Carlos Alberto Severo Garcia Júnior e César Augusto Nunes Bridi Filho, na concepção da “terceira margem” para a inclusão de alunos com transtornos graves do desenvolvimento.

Abrindo o leque para a presença de outros bordados, Tania Mara Pedroso Müller traz “outras imagens” das crianças e seus brinquedos, no sentido de assumir os últimos como objeto em construção e a brincadeira necessária à imaginação. Fechando esta seção, o artigo também pode ser lido como anúncio da temática do próximo número (2009.2): “Infância, territórios & temporalidades”.

A seção Elos reforça a perspectiva da legitimidade do “outro”, com Stefanie Gasse abordando inclusão-exclusão no contexto das estratégias de luta contra o analfabetismo no Mali. Assim como em Müller, palavras e imagens tecem outras possibilidades envolvendo processos, espaços e sujeitos.

Os Ensaios retomam questões postas nas seções anteriores. Bruna Sola Ramos e Ilka Schapper trazem Bakhtin na abordagem da leitura, com base em conceitos também presentes em Goulart e Freitas. Vera Lúcia Orlandi Cunha e Simone Aparecida Capellini empreendem discussão das dificuldades do ensinoaprendizagem da leitura, considerando filiações teóricas diversas. Rita de Cássia Mendes Pereira fecha a seção, abrindo para a discussão de “cultura, educação e identidades em tempo de globalização”.

Finalmente, na seção Resenhas, duas possibilidades são desenhadas. A primeira diz respeito ao conjunto de reflexões acerca do tema “identidade”, com Narcimária Correia Patrocínio Luz apresentando “A floresta de símbolos africanobrasileira”, de Ronaldo Martins. A segunda é representada pela dinâmica de aproximações e distanciamentos no livro de Solange Puntel Mostafa (Vigotsky e Deleuze: um diálogo possível?), em que Sérgio Augusto Leal de Medeiros destaca questões relativas à mediação pedagógica na leitura de imagens.

Tendo sido estes os fios trançados no processo de edição, vale sempre lembrar que não cabe a pretensão de dar conta dos muitos riscos deste bordado e, ainda, do que deles “escapou” nesta produção. Daí o convite à leitura como possibilidade de outros percursos de sentidos, discursos diversos, novos bordados, em Teias múltiplas.

Raquel Goulart Barreto
Rio de Janeiro, junho de 2009