EDITORIAL

É com muita satisfação que apresentamos o número 18 da Revista Teias, contendo dezesseis textos, organizados em cinco seções, nos quais são abordadas as seguintes temáticas: inclusão social, linguagens e políticas.

Na seção Em Pauta trazemos dois textos, que constituem relatos importantes sobre questões relativas à inclusão escolar e social de alunos com deficiência. O primeiro artigo, de Carolina Schirmer, fonoaudióloga e doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, traz elementos que informam o leitor sobre a importância de recursos clinico-pedagógicos, como a Comunicação Alternativa, para a educação de alunos com severas deficiências físicas e de comunicação oral. A autora discute ainda temas como acessibilidade, tecnologia assistiva e legislação brasileira que favorecem, sobremaneira, a compreensão dessa questão.

No segundo artigo, Mônica dos Santos e Kátia Silva, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, descrevem um estudo sobre as representações sociais de palavras e expressões associadas às características do "professor inclusivo" expressas por estudantes universitários de licenciaturas no Rio de Janeiro.

A seção Artigos contempla o leitor com seis trabalhos de pesquisadores dedicados à temática da "inclusão" sob diferentes óticas, nos quais são destacadas questões polêmicas a respeito da diversidade humana. São textos que revelam tanto a preocupação como o preconceito das pessoas com relação às condições biológicas, étnicas e sociais sob as quais indivíduos considerados diferentes enfrentam a vida. No primeiro artigo, Fernanda Souza da Universidade de São Paulo e Cesar Leite da Universidade Estadual Paulista, discutem questões relacionadas à educação especial, infância e literatura, a partir de relações estabelecidas com a obra "O Corcunda de Notre-Dame" de Victor Hugo, ressaltando a idéia da construção social de estigmas presentes nas relações humanas.

Os dois artigos seguintes relatam experiências referentes aos processos de inclusão e exclusão escolar decorrentes das mudanças nas políticas públicas. Ana Cristina Cunha, Mauricia Leandro, Mariana Gonçalves e Michelly Mirailh, pesquisadoras do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, propõem indicadores de análise do sistema de atenção e atendimento às pessoas com deficiência, com base nas políticas inclusivas atuais e avaliam alguns serviços especializados do município do Rio de Janeiro. No terceiro artigo, Sandra Mattos, m estre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis, discute o processo de inclusão/exclusão escolar sob a perspectiva da afetividade na relação educador-educando, destacando a importância da afetividade no processo de aprendizagem.

O quarto artigo trata das questões de gênero e educação e apresenta ao leitor os significados atribuídos por mulheres idosas ao processo educativo. Nesse texto, as autoras, Ana Domingos da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mirian Martins, mestre em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, analisam as formas de autogestão alcançadas por essas mulheres, após sua inserção em processo educativo fora dos espaços escolares convencionais. No texto seguinte, Maria das Graças Gonçalves e José Luiz Antunes da Universidade Federal Fluminense propõem uma reflexão sobre as questões sociais, culturais, políticas e educacionais que envolvem a população afro-brasileira: a discussão necessária do preconceito racial e a implementação das Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-raciais. Finalizando a seção de Artigos, Ednardo Monti, mestrando em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis, revela as representações sociais contidas nas canções do repertório orfeônico, desenvolvido por Heitor Villa-Lobos, as quais foram utilizadas na construção da imagem do bom trabalhador dentro da ideologia nacionalista da era Vargas.

Neste número, o leitor é contemplado ainda com uma Entrevista com a Dra. Enicéia Gonçalves Mendes, professora adjunta e atual coordenadora do Programa de Pós Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos, na qual discorre sobre as relações entre a Educação Especial e a Educação Inclusiva. Nesta entrevista, concedida à Professora Leila Nunes, Enicéia Mendes retrata de forma brilhante um pouco da história da Educação Inclusiva no Brasil, revelando sua vasta experiência como docente e pesquisadora junto ao primeiro programa de Pós Graduação em Educação Especial do Brasil.

A seção Elos apresenta um texto redigido por pesquisadoras renomadas internacionalmente no cenário da Educação Especial: Dra. Judith LeBlanc, da Universidade de Kansas (USA), Dra. Liliana Mayo e Profa. Rosa Oyama, do Centro Ann Sullivan del Peru. O trabalho descreve o programa educacional e os serviços de investigação desenvolvidos no referido Centro, situado na cidade de Lima, que há mais de 25 anos promove, de forma exemplar, a inclusão escolar e social de indivíduos severamente comprometidos nas funções físicas e cognitivas. O Centro Ann Sullivan del Peru utiliza a abordagem do Currículo Funcional Natural, que orienta não somente as atividades propostas na área educacional, como fundamenta a filosofia de educar para a vida todas as pessoas com "habilidades diferentes" – expressão empregada pelas autoras para se referir aqueles indivíduos com deficiências.

Na seção Ensaios, dois trabalhos tratam das ações do movimento inclusionista no ensino superior e no ensino fundamental. No primeiro texto, Maria Noalda Ramalho e Maria Aparecida Carneiro discutem o processo de inclusão de alunos com deficiência na Universidade Estadual da Paraíba, onde ambas são docentes, através do programa intitulado "Tutoria Especial". Esse projeto oferece acompanhamento pedagógico a discentes com necessidades especiais, com o emprego de recursos de informática, leitura e escrita em braile, além de tradução dos conteúdos em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). O segundo trabalho, de autoria de Carlos Alberto Severo Garcia Junior, pós-graduando em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria/RS, discute o desenvolvimento de aspectos simbólicos no espaço escolar, balizando uma análise acerca dos alunos com transtornos graves do desenvolvimento. O autor mostra que, mesmo com falhas e faltas, a escola é uma instituição essencial para crianças e jovens que, muitas vezes, exibem extrema dificuldade em construir laços sociais.

Ainda nesta seção, Alysson Artuso, m estre em Educação pela Universidade Federal do Paran e professor da UNIFae, traz à baila discussões presentes na literatura sobre a inserção de (novas) tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. Propõe uma análise sobre as escolhas didáticas do uso de ferramentas tecnológicas e o papel da escola em sua função de constituir sujeitos com domínio de seu próprio desenvolvimento e com atitudes críticas perante a sociedade em que vivem.

Na seção Resenha, são analisadas três obras recentes. A primeira – Um Retrato da Comunicação Alternativa do Brasil, de Leila Nunes, Myriam Pelosi e Márcia Gomes, foi resenhado por Patrícia Quiterio, psicóloga e mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A obra, composta por dois volumes, apresenta relatos de pesquisas e de experiências na área da Comunicação Alternativa desenvolvidos por diversos pesquisadores em todo o Brasil e no exterior. A segunda resenha é do livro Deficiência e Escolarização: novas perspectivas de análise, de autoria de José Geraldo Bueno, Geovana Mendes e Roseli Santos. Essa obra, resenhada por Eduardo Manzini, professor livre docente da Universidade Estadual Paulista, descreve e discute uma série de pesquisas que tem como foco a escola e o aluno com deficiência. Por último, a obra Escola Inclusiva: pesquisa, reflexões e desafios, organizada por Lucia Martins e resenhada por Francisco Ricardo Lins Melo, traz um conjunto de investigações desenvolvidas, nos últimos anos, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde ambos são professores orientadores.

Esperamos que a leitura dos artigos deste número da Revista Teias possa contribuir na divulgação de estudos e pesquisas conduzidos em sua maioria sob o impacto do paradigma da Educação Inclusiva. Se o contato mais atento com esses textos provocar uma reflexão crítica sobre atitudes e práticas profissionais de nosso leitores, teremos atingido nosso objetivo.

Leila Regina d'Oliveira de Paula Nunes

Professora Titular do Programa de Pós Graduação em Educação
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter

Pós-doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bolsista FAPERJ