Um fio esticado aqui, outro dali, outro vindo d'acolá e muitos outros em movimentos de encontrar e passar dos encontros vão formando as teias em que vivemos nossos cotidianos acadêmicos e não-acadêmicos. Não por acaso, uma revista que pretende mostrar reflexões sobre educação se chama TEIAS. Não é por acaso, mas poderia ser. O mais importante é que, presa de si mesma, as teias da TEIAS voltam a se movimentar e a retomar os debates que lhe dão sentido de existir.
Teias 2007 tem sua tríade temática expressa no título "Culturas, internet e educação", e busca colocar em confronto textos que articulem esses temas entre eles mesmos e a outros da complexa rede da educação das pessoas, dentro e fora dos espaçostempos escolares. Para atender a essa proposta, privilegiamos, principalmente, dois eventos importantes do cenário acadêmico: o "IV Seminário Internacional As Redes de conhecimentos e a tecnologia: práticas educativas, cotidiano e cultura", realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, de 11 a 14 de junho de 2007, e o "1º Colóquio de Pesquisa em Educação e Mídia: diálogo entre culturas", realizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, de 29 a 31 de agosto de 2007.
Vindos desses eventos, ou de outros, ou de nenhum, a Revista Teias agradece aos autores que participam desse número, contribuindo para um debate que julgamos necessário para uma compreensão cada vez maior dos processos educativos, o que possibilita práticas mais eficazes na direção de uma educação de qualidade.
São estudos realizados nos mais diferentes e variados espaçostempos de ensinoaprendizagem, são projetos de pesquisa, são pesquisas de projetos, são relatos de experiência, são falas de entrevistados, são vozes de crianças, são trajetórias de vida, são compreensões teóricas dos múltiplos cotidianos em que computadores, TVs, vídeos, orkuts, cinemas, celulares, jogos e brinquedos enriquecem os saberes cotidianos dos também múltiplos e variados usuários desses artefatos culturais que dão sentidos ao nosso tempo.
São professores-doutores, doutores-professores, mestres e contramestres, alunos de pós e de antes, são psicólogos, jornalistas, são filósofos, matemáticos, pedagogos de muitos matizes. São pessoas que, ensinandoaprendendo, mostram suas descobertas e invenções, sua maneiras de pensar e de compreender, suas linguagens.
Em pauta nos traz Amorin e a escrita-experimentação, derivada do encontro com textos, imagens e sons a partir dos conceitos de Deleuze. O texto brinca com o que diz e com o como diz. Também em pauta estão duas Marias, uma com esperança e outra com as chaves que abrem as portas do cinema para que as crianças passeiem em suas veredas por meio da tecnologia na construção de seu próprio conhecimento.
Os artigos estão colocados numa lógica intencionalmente dispersiva e bem abrangente, trazendo as falas dos jovens receptores da TV através das quais Geni Vasconcelos procura compreender a recepção e o que os jovens produzem a partir dela. Tânia Dauster e Dione Amaral mudam o foco para os professores universitários e procuram mostrar como os novos tempos digitais afetam suas práticas leitoras e escritoras. Sommer, o Luiz Henrique, traz o caso de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, nos anos 80 do século XX, e como a sua compreensão e análise percebem a informatização da educação básica naquela cidade. Retomando o "protagonismo juvenil", Márcio, Rita e Rosilana mostram a necessidade de (re)pensar o processo educativo a partir da emergência de novas tecnologias da informação e da comunicação, trazendo o projeto "Jovem Navegando pela Cidade".
Continuando os artigos, Robson Simões traz como o internetês tem aparecido nas salas de aula e como essa linguagem apresenta sinais fortes de uma língua produzida com apelo subjetivo. Em (des)continuidade, Luiz Adolfo indaga sobre "conhecimento e simulação, o que podemos aprender jogando MMORPG, numa análise será feita a partir da experiência em Star Wars Galaxies. Luciano e Gláucia se voltam para o professor na sua relação com a internet e como as pesquisas feitas pelos alunos usando ambientes informatizados podem ser (re)pensadas. Pensar o "Currículo como prática cultural, burocracia e o lugar do computador no currículo escolar" foi a tarefa que se deram Ozerina e Denise quando compreendem que "o computador pode ser atravessado por lógicas mais potencializadoras no sentido de proporcionar que as pessoas enxerguem o lugar em que se encontram no mundo, indaguem sobre a legitimidade de sua posição e tenham condições de se deslocar para espaços e tempos mais favoráveis".
Outros artigos já trazem "mídia-educação e cinema na escola", estudo que Mônica Fantin traz para pensar como "é possível desenvolver um percurso didático que ultrapasse algumas fronteiras no trabalho com crianças: das crianças consumidoras e espectadoras às crianças produtoras de cultura". Terminando os artigos, Kelly Russo conta como, "desde o final da década de 1980, diferentes povos indígenas utilizam a tecnologia audiovisual em suas comunidades", apresentando um "trabalho etnográfico desenvolvido durante o ano de 2004, no território indígena Rio das Mortes, da etnia Xavante, localizado no estado do Mato Grosso".
A conversa de Manuel Pinto e Válter Filé é o que nos apresenta a entrevista, em que o professor português conta um pouco da sua trajetória nos estudos de comunicação e suas principais preocupações. Fala, dentre outras questões interessantes, sobre o Projeto Mediacópio e sobre as relações dos estudos sobre comunicação com a educação.
Elos é uma seção de intercâmbio com pesquisadores de outras paragens, e traz, em "Tecnologia Educativa e Currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam?", de estudiosa portuguesa Clara Pereira Coutinho, uma séria reflexão sobre como as TICs estão atravessadas no desenvolvimento curricular nas escolas de hoje. Celulares y computadoras son la temática que Silvina Gvirtz y Marina Larrondo, estudiosas desde nuestra vecina Argentina, traen para el debate en sus "Notas sobre la escolarización de la cultura escolar", mostrándonos como "el avance tecnológico hace su aparición en las aulas muchas veces como un hecho buscado por las políticas educativas. Otras veces, irrumpe casi azarosamente. Así, las computadoras con sus redes informáticas, los teléfonos celulares, los videos y hasta pizarrones magnéticos entran en la vida escolar."
As pesquisas dos cursos de pós-graduação são o objeto dos ensaios, que traz um Sacramento apresentando "Cinema, a maior diversão", parte do seu estudo etnográfico que "pretende aproximar-se dos prováveis atravessamentos e mediações que organizariam a produção de sentidos, diante das produções cinematográficas". Já Solange Castellano e Maria Cristina Teixeira trazem para o centro da cena o celular nas classes de alfabetização e como seus usos atravessam as "imagens e práticas pedagógicas nas escolas". "Pichar, pixar, grafitar e colar" é o que nos apresenta Rodrigo Barchi quando busca compreender" os discursos e representações sobre as pichações nas escolas analisados na perspectiva ambiental e libertária".
Trazendo traz alguns achados da pesquisa "Letramento digital e aprendizagem na era da internet: um desafio para a formação de professores", Ana Paula, Olívia e Yara mostram "os desafios do processo de inserção do professor no universo digital". Fechando os ensaios, Milene e Elisete apresentam "algumas idéias e problematizações acerca da relação mídia / infância", procurando desvendar algumas questões importantes dessa relação.
Em foco dá centralidade ao orkut e ao que circula nesse espaçotempo de comunicação, trazendo o estudo de Leila Bergmann, que busca observar "os registros escritos pelos alunos a respeito de professores e do ensino em geral". Com base nessas informações, propõe uma reflexão aos educadores sobre como operar com esses materiais que estão circulando neste tipo de mídia, que representa, por assim dizer, a linguagem das novas gerações.
Para terminar essa edição de Teias, Josemir Almeida Barros nos apresenta sua leitura de Palavras, meios de comunicação e educação, de Adilson Citelli, lançado pela Editora Cortez em 2006.
São fios e tecedores. São TEIAS.
Paulo Sgarbi