EDITORIAL

O cotidiano dos sujeitos contemporâneos tem sido, cada vez mais, atravessado pelos processos tecnológicos, seja pelo acesso material aos mais diversificados aparatos, seja no plano simbólico, pela experiência de um contexto cultural calcado nesses novos signos. Celulares, computadores, cartão cidadão, urnas eletrônicas, câmeras de vigilância, softwares educativos, e-books, ultrassonografias. Criando novos instrumentos e aparatos técnicos, desencadeamos novos modos de compreender o mundo e a nós mesmos, na ciência, na arte, na política, na economia, nos processos educacionais. Buscar compreender o significado desses atravessamentos tecnológicos é objetivo deste sétimo número de Teias - Revista do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que tem por eixo temático tecnologia, conhecimento, cotidiano.

Abrindo o debate, na seção Em Pauta, Carlos Alberto Sobrinho, com o texto "Mediação digital e pedagógica", propõe uma visada às implicações da era digital no cotidiano docente e às novas competências demandadas à categoria.   Armando de Barros, Célia Abicail e Delfin Afonso Jr. dão continuidade à discussão com o texto "Educação do olhar: desafios à formação nos cursos de Pedagogia e Comunicação", assumindo a perspectiva da formação na cultura verbo-visual.

Na seção Artigos, diferentes suportes tecnológicos são postos sob o crivo da pesquisa: Estrella Bohadana e Sandra Oliveira abordam as transformações desencadeadas pelas novas tecnologias nos contextos cultural e educacional com o texto "Conhecimento, educação e construção do sujeito: as novas tecnologias de interação e comunicação". Alessandra Bernardes, Patrícia Cunha e Paula Vieira enfocam as transformações dos modos de ler e escrever na era da internet, em "A leitura/escrita no ciberespaço: uma leitura a partir do conceito de gênero discursivo em Bakhtin". "A televisão e o cenário do conhecimento das crianças na contemporaneidade" é o tema abordado por Adriana Hoffmann Fernandes. "Aproximações possíveis entre a educação de jovens e adultos e a perspectiva histórico-cultural, a partir do registro fotográfico", é o artigo de Lúcia Lenzi, que traz para o debate a utilização do recurso fotográfico na produção de conhecimento entre adultos em processo de escolarização. Rita Frangella, em seu texto " Formação Docente e a emergência de uma nova identidade profissional - a revista Escola Secundária da Cades (1957-1963)" estuda a Revista Escola Secundária promovida pela Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário (CADES) do Ministério da Educação (MEC), editada entre 1957-1963. Acredita que a leitura propiciada pela revista investe-se do objetivo de fundar uma nova racionalidade docente, calcada na renovação técnico-metodológica da escola secundária. Uma análise crítica de uma publicação anterior da própria autora é feita por Nilda Alves no artigo "Sobre movimentos das pesquisas nos/dos/com os cotidianos". Na anterior, Alves indicava quatro movimentos necessários às pesquisas nos/dos/com os cotidianos e, nesta, conclui pela necessidade de um quinto movimento a essas pesquisas. A partir da leitura da obra de Italo Calvino, Eliane Fazolo discute a leitura concebida como experiência formadora da constituição do sujeito, em seu texto "Leitura e Narrativa em Ítalo Calvino: uma experiência de formação". E, encerrando a seção de artigos, Rafael dos Santos chama a atenção para a importância do reconhecimento das dimensões imateriais da cultura para a questão racial negra, em especial no caso brasileiro, quando escreve "Dimensões imateriais da cultura negra".

Os artigos compõem um fértil debate com as questões trazidas por Jochen Dietrich em seu texto, intitulado "Vinho velho em pipas novas: anotações sobre rupturas na história dos mídia", presente na seção Elos.

O professor Muniz Sodré fala sobre o que seria uma televisão de qualidade e analisa programas e novelas da TV brasileira na Entrevista concedida à jornalista Stela Guedes Caputo.

José Gonçalves Gondra, com "Imagem e Pedagogia: algumas reflexões", sistematiza, em Debate, as discussões acontecidas durante o Seminário "As redes do conhecimento e a tecnologia: Imagem e cidadania", realizado em junho de 2003, na Faculdade de Educação da UERJ, com vistas a refletir sobre o uso da imagem na história da pedagogia.

Finalizando este número de Teias, quatro resenhas convidam a novas leituras sobre os temas em apreço: "A importância social da mídia nas temáticas associadas à infância e à adolescência", por Angélica Borges, Giselle Teixeira, Marina Uekane e Rodrigo Narciso; "Por que estudar a mídia?", por Rosália Duarte; Crianças negras e educação, por Maria Fernanda Rezende Nunes e "Televisão de qualidade, uma questão de sintonia", por Glauce Pinheiro e Pollyanna Pinho.