EDITORIAL

Neste número, Teias chamou para si o desafio de trazer à cena discussões que viessem a se estruturar com base no eixo temático Conhecimento, Sociedade, Educação, logrando o êxito esperado, sobretudo, em face da elevada qualidade dos textos encaminhados e selecionados para publicação, em todas as suas modalidades, e que ora temos a grata satisfação de disponibilizar ao leitor através de seu quarto número. Tratam-se de estudos que se movem no interior de perspectivas históricas, antropológicas, sociológicas, políticas e filosóficas e que, quando confrontados, exprimem a relevância daquele eixo temático para a reflexão crítica atual, quer no âmbito das ciências humanas e sociais, quer no que tange à educação, em particular.

Assim, a seção Em Pauta principia através de artigo de Lílian Lacerda, no qual a autora debruça-se sobre autobiografias femininas e textos de época – datados do século XIX e das primeiras décadas do século XX –, traçando um roteiro do olhar de meninas e mulheres na sociedade brasileira. Também marcado pelo enfoque histórico, o texto seguinte, de autoria de Ana Magaldi, coloca em debate as contribuições do médico-educador Júlio Porto-Carrero, apresentado pela autora como o originário disseminador das teorias e práticas psicanalistas no Brasil.

Contudo, a maior densidade de estudos é encontrada na seção Artigos, constituída por seis trabalhos, também de relevo. Inicialmente, Estela Scheinvar analisa as contradições na política setorial para crianças e adolescentes, com foco no Estatuto em vigência, indagando acerca do papel que os diferentes Conselhos podem desempenhar na construção da cidadania. Em seguida, Sônia Carneiro aborda temática relativa à dimensão ambiental da educação escolar, sinalizando para a necessidade de se proporcionar uma efetiva integração entre os programas e campanhas públicas ou institucionais e os planos curriculares das escolas. Mais a frente, Eucídio Arruda investiga o papel das novas tecnologias no mundo do trabalho, privilegiando os impactos decorrentes da internet e, ainda, de modo crítico, denunciando os processos em curso, entre outros, de “fetichização”, de pseudo-neutralidade e de mercantilização dos meios virtuais. Aprofundando ainda mais o exame sobre a internet, Alessandra Bernardes e Paula Vieira colocam em discussão as novas modalidades de produção de escrita e leitura desencadeadas neste meio informático, enfocando a participação dos jovens nas chamadas “salas de bate-papo”. Dando continuidade, Jacqueline Morais coloca em debate a suposta crise da escola, reivindicando um outro olhar que a perceba em suas potencialidades, muitas vezes invisíveis às políticas públicas. E, nessa mesma vertente, Eloiza Oliveira convida a refletir sobre os sentidos da profissão docente e o compromisso com a produção do conhecimento.

Por seu turno, a seção Entrevista é agraciada pelo pensamento marcante do filósofo e professor Leandro Konder – entrevistado por Luiz Bazílio, Rita Ribes e Solange Jobim –, através do qual emerge a temática do caráter político da produção do conhecimento e sua indissociabilidade em relação às dimensões ideológica e utópica.

Em Elos, identificam-se três textos de autoria de pesquisadores estrangeiros, a saber: Jorge Larrosa, propondo uma avaliação dos sentidos da educação; Myrian Andrada, trazendo relatos da experiência argentina de modo a problematizar o lugar social das famílias nas políticas públicas educacionais; e Roberto Miranda que, em seu artigo sobre o projeto educativo para o Mercosul, possibilita-nos refletir sobre as dificuldades e os desafios que se fazem presentes na integração entre países que compõem esse bloco.

Desta vez, Ensaio se pauta em trabalho expressivo de Tania Dauster, o qual trata da dinâmica das bibliotecas em nossas instituições de ensino superior, estabelecendo, sob a perspectiva de construção de uma política cultural, um rico debate sobre o modo de transformar estudantes em leitores, os contextos de circulação e difusão da escrita e o papel da leitura silenciosa. Enquanto isto, na sessão Em Foco, Stela Caputo convida a refletir acerca da relação entre a acuidade do olhar do fotógrafo e a tarefa do pesquisador no texto.

Por fim, nas Resenhas, encontramos uma convocação à leitura de quatro obras, realizada por Irlen Antônio Gonçalves, Fátima Bitencourt David, Antonia Simone Coelho Gomes, Luana de Souza Siqueira e Maria do Carmo Maccariello que, de modo sistemático e rigoroso, visitam os seguintes trabalhos: Raízes da modernidade em Minas Gerais, de João Antônio de Paula; Coisas velhas: um percurso de investigação sobre a cultura escolar (1928-1958), de Marilena Aparecida Camargo; Memórias de professoras: história e histórias, de Maria Teresa Freitas; e, ainda, O local e o global: limites e desafios da participação cidadã, de Elenaldo Teixeira.

Desta feita, resta-nos agradecer o apoio de todos os colegas envolvidos com a produção de mais este número de Teias, assim como aqueles que nos prestigiaram com seus trabalhos e que, movidos pelo mesmo ímpeto, lançaram-se na aventura conseqüente de buscar uma compreensão mais intensa sobre o emaranhado de questões que perpassa a tríade Conhecimento, Sociedade, Educação.

 

Ana Chrystina Venancio Migno
Luiz Cavalieri Bazílio
Rita Marisa Ribes Pereira
Donaldo Bello de Souza

Comissão Editorial, dezembro de 2001