ARTIGO 3
O MENINO E O TEMPO
THE BOY AND THE TIME


Nympha Amaral*



RESUMO

Existem especificidades no atendimento psicanalítico com crianças e adolescentes. O final do tratamento, que é um dos aspectos a serem destacados quando pensamos nesta clínica, encontra-se em relevo neste artigo, que interroga os limites da psicanálise com adolescentes, através da apresentação de um caso clínico no qual a autora relata os passos da análise de um menino, dos 11 aos 15 anos, levada ao seu término.

O atendimento ao jovem serve de fundamento para a discussão mais geral sobre o final de análise, a partir dos avanços de Lacan acerca da topologia, especialmente aqueles apresentados no texto do Ètourdit (1972), retornando, a seguir, a questão para a clínica de adolescentes, na medida em que, segundo Freud, a incidência da “segunda onda de investimento da libido” tem conseqüências a serem ainda pesquisadas pelos analistas em seu aspecto teórico-clínico.

PALAVRAS-CHAVE:
Psicanálise; Adolescência; Final de tratamento; Direção da cura de adolescentes; Casos clínicos.

 

“O que é que está em jogo (...) na borda do Édipo?
Trata-se de que a criança assuma o falo como significante,
e de uma maneira que faça dele instrumento da ordem
simbólica das trocas, na medida em que ele preside a
constituição das linhagens.”

Lacan, Seminário 4.

O trabalho analítico, e disso sabem os que desta práxis participam tanto como analisantes quanto como analistas, é feito de muitas voltas. É preciso desbastar, aos moldes de um ponto de ritornello imperfeito, os inúmeros retornos dos mesmos impasses de vida, objeto de sofrimento do neurótico. Este ritornello é imperfeito porque nunca retorna, como na música, ao mesmo ponto, mas é de um mesmoponto-outro que a fala do analisante, em seus entraves na vida, balizados pelas traves da fantasia, se oferece, resistindo às intervenções do analista decorrentes das incidências de seu desejo sobre o sujeito.

Lacan menciona no Étourdit*1 , a propósito da topologia, mais especificamente do cross-cap, a necessidade de uma operação de fecho duplo*2 , para que realmente ocorra a queda do objeto, ponto de fixão do gozo, que convoca o ritornello.

Tendo o trabalho deste texto rico e árduo coincidido com o que chamarei de término da análise de um adolescente de 15 anos, por mim conduzida durante quatro anos, afetou-me de modo contundente uma questão, desdobrável em duas: será possível pensar a ocorrência deste destacamento e da queda do objeto, com a conseqüente desmontagem deste ponto de fixão, na análise de um adolescente? Pode-se pensar o término da análise de modo semelhante com um adolescente e com um adulto?

Teria o trabalho que ora terminava, levado o sujeito a estar diante de uma possibilidade desta ordem? Para tentar fazer avançar estas questões, trarei, resumidamente, o relato deste atendimento em alguns de seus pontos nodais, chamando o analisante aqui de Maurício.

Quando Maurício tinha 11 anos, sua mãe me procurou, recomendada pela psicóloga do colégio onde ele estudava. Esta mãe chegou afogada em um poço de aflições, trazendo de Maurício o retrato de um menino com graves problemas de aprendizagem, que desde o C.A. “se arrastava” na escola, passando de ano “raspando”. Ele já tinha sido levado a um grande número de fonoaudiólogos e psicopedagogos que não haviam conseguido encontrar nada de “anormal” nele, sugerindo que talvez o problema não fosse de ordem cognitiva. A mãe de Maurício, formada em psicologia, sem exercer a profissão há muitos anos, inteiramente dedicada à casa e aos dois filhos (Maurício é o mais velho), declara que seu maior problema e angústia é o fracasso escolar do filho. Passo os primeiros 6 meses de tratamento ouvindo separadamente, uma vez por semana, a mãe e o menino. Ele, bastante falante e expressivo, parece à vontade, em sua longa carreira de visitas a especialistas. A mãe sempre chegava angustiada, sendo o menino seu único problema. Decidi escutar ambos, separadamente, por um tempo, já que não era claro quem era o sujeito que buscava tratamento. Se a angústia estava do lado da mãe, o sintoma estava do lado do menino, e este sintoma era menos de fracasso escolar, que até então não se configurara de modo contundente, e mais de uma colagem, de um assujeitamento radical a esta mãe, assujeitamento encharcado de culpa, e que pela primeira vez me foi relatado assim: “Não importa o que eu faça, nem quanto tempo eu cuide da minha mãe na velhice, eu nunca poderei pagar o tempo que ela gasta todo dia comigo, estudando.”

Quando aponto que o sintoma estava situado no menino, o faço mais tomando como referência a possibilidade de representar-se por um significante sintomático para outro, do que considerando a dimensão da queixa sintomática propriamente dita. Tanto a angústia quanto a queixa eram trazidas, ambas, pela mãe, de quem se pode dizer que legara a Maurício o lugar de sintoma dela. Aceitando e aderindo à atribuição do Outro que lhe chegava através desta mãe, Maurício insistia, entretanto, em realizar em ato sintomático os desígnios que lhe foram reservados. Isto foi um primeiro indicativo para recebê-lo em entrevistas.

A tomada de Maurício como analisante deu-se pelo endereçamento transferencial e pedido de ajuda vindos dele, incluindo a analista através de uma suposição de saber sobre sua questão, ao passo que a mãe, ainda que muito aflita, e mesmo tendo feito declarações impressionantes acerca do lugar deste filho em sua economia de gozo, nunca alçou à condição de demandar, apesar de muito trabalho, nada diverso do que um tratamento para o menino. Para exemplificar uma destas declarações: ela relatou que passou anos fazendo gestalt-terapia para livrar-se de um incômodo sintoma fóbico de sair à rua, acompanhado de desmaios e medo de morrer, mas que nada tinha adiantado, e que foi apenas a partir da chegada de Maurício em sua vida que tais manifestações acabaram, permitindo o abandono do tratamento. Logo depois, os problemas do menino, descritos por ela como sendo de ordem cognitiva, de sociabilidade e mesmo de uma apreensão acerca da possível futura orientação sexual dele, tinham-na ocupado inteiramente. Em um determinado momento do trabalho com Maurício, chegamos a encaminhar esta mãe para uma analista e, no entanto, esta procura nunca se deu.

Uma vez aceito em análise (eu passaria, a partir daí, a ter encontros apenas eventuais com os pais, cuja iniciativa partia tanto de mim quanto deles), Maurício passou o primeiro ano contando todas as suas “artes e armações”. Fazia engenhocas com os primos que serviam de armadilha para sua irmã caçula, simulava incêndios no carro do avô, criava mil invenções para... matar o tempo. Tudo o que afligia Maurício poderia resumir-se à palavra TEMPO. A passagem do tempo era um fardo. O tempo gasto de sua mãe era impagável, o tempo transcorrido na escola era infinito, o tempo da semana útil era um deserto, o tempo do fim-de-semana passava num flash. Idem para o período letivo em relação às férias. O tempo da análise era usado para, com uma verve muito particular, endereçar à analista suas travessuras, como um presente e como um enigma, que foi aos poucos formulando-se como enigma para ele: que lugar posso eu cavar no Outro com minhas “armações”? Que lugar há na análise para minhas travessuras e para o silêncio sobre o que para mim é problema?

Entendi, a partir de suas falas e atos (em torno do fim de seu primeiro ano de análise), que o sintoma, da mesma forma que o tempo, passaria, então, a se apresentar de modo mais flagrante. A partir daí, por dois anos consecutivos, Maurício “parou” no tempo e foi reprovado na escola, tendo então experimentado um verdadeiro
desespero. Estas reprovações foram acompanhadas de outro sintoma, surgido apenas a partir do início da análise e que preocupou a mãe tanto quanto o fracasso escolar: ele passou a mentir compulsivamente acerca de suas notas, sumindo com os testes, rasgando boletins, inventando mil histórias. Nossa suposição é de que esta determinação a ocultar seus resultados na escola, ao mesmo tempo que se constituia como um lugar de manifestação do desejo, furtando-se ao olhar materno, era também resposta à inclusão do analista no campo da transferência, pois foram as crises decorrentes de seu comportamento “mentiroso” os primeiros verdadeiros momentos de sofrimento trazidos à análise, como sendo algo inescapável, maior do que ele, inevitável: “quando eu vejo, eu já menti”.

Ao longo deste tempo, os pais, que têm sérias dificuldades financeiras, tentaram fazer uso desta realidade como meio de interromper o tratamento, mas a reação de Maurício nas sessões e, de uma certa maneira, em casa, eram tão veementes quanto a necessidade de prosseguir, que em uma destas tentativas, ao invés da interrupção,ele passou a ter mais uma sessão por semana.

Ao longo do trabalho, Maurício produziu seus ritornellos sempre da mesma forma: mentia e prometia nunca mais mentir, fracassava e prometia nunca mais fracassar. Os pais produziam seus ritornellos também num mesmo diapasão: era impossível continuar pagando a análise. Foi, a propósito, em uma destas tentativas dos pais de interromper a análise que se deu uma passagem bastante curiosa. Julgando que perderia o espaço de sua análise, o menino resolveu, na “última” sessão, dizer tudo que vinha se poupando de dizer ao longo do tempo. Maurício revelou-me que desperdiçara o tempo de sua análise, até ali, mentindo para mim ou omitindo coisas e disse que não poderia parar de vir aqui sem confessar isto. Disse-lhe que eu tinha escutado: ele não poderia parar de vir aqui. E o tratamento prosseguiu, após uma conversa com os pais.

Uma última tentativa de interrupção dos pais, seguida invariavelmente de uma chamada para falarmos, resultou em uma surpreendente revelação transferencial por parte do pai, o que, me parece, pôde sustentar de algum modo este trabalho até o fim, dizendo que via efeitos importantes em Maurício, decorrentes da análise, naquilo que para ele sempre tinha sido o mais grave problema do menino: sua “imaturidade”, sua inadequação em relação a seu desenvolvimento ao longo do “tempo”.

Este suposto amadurecimento, presente na fala do pai, parecia, na versão de Maurício, querer revelar que os pontos de fixão inamovíveis da fantasia pareciam abalados, promovendo a entrada de algo de novo no campo de suas repetições. No penúltimo ano da análise, por exemplo, Maurício descobre que quer trabalhar em teatro. Faz um concurso para uma oficina de teatro de jovens e, superando a sina de eterno fracassado, classifica-se nas vinte vagas oferecidas a 280 meninos.

No início do último ano, Maurício muda de escola, para um supletivo em sistema de créditos, e anuncia que sua vida profissional será na área de televisão e teatro. Relata seguidamente nas sessões o alívio de ter se livrado da compulsão de mentir e chega um dia dizendo que sua mãe colocara como alternativa para ele: pagar o curso de teatro ou a análise – o que o fez pensar em parar a análise. Ao ser interrogado sobre sua posição diante dos ditos da mãe, perturba-se, diz que quer ficar na análise, mas que quer demais fazer teatro e sai da sessão dizendo que vai tentar entender o que foi esta escolha que lhe foi oferecida. Pede, a seguir, uma sessão extra, onde vem me contar, estarrecido, que, ao tentar esclarecer o impasse com a mãe em uma conversa, sua mãe dissera nunca ter lhe colocado esta alternativa, que aquela idéia de usar o dinheiro da análise para o teatro era dele, e que seu pai dissera que ele ia continuar na análise “e ponto final”. Ele, então, lembra que efetivamente as palavras da mãe não tinham sido aquelas, mas que ele tinha pensado, no momento da conversa com ela, que aquela deveria ser sua intenção. A intenção suposta à mãe, ele dera condição de verdade, eximindo-se de escolher ou de colocar-se diante do impasse. A confrontação com o caráter de construção e adesão decidida que ele fazia do desejo suposto à sua mãe teve um efeito de grande visibilidade. Quando percebeu o que acontecera, disse que tinha entendido algo sobre suas mentiras. Este ritornello aí se concluiu.

Os últimos 6 meses de trabalho com Maurício gravitaram quase que exclusivamente em torno da questão do tempo. Ele percebeu que o tempo tinha passado. Percebeu que estava com um corpo grande, de homem, e que algo nele se descongelara. Isto que ele denominou descongelamento, expansão, aquecimento, numa tocante descrição do final da latência, lhe chegou através da constatação de que ele não amava mais a menina com quem ele decidira se casar quando tinha 8 anos. Desde então, ele tinha “ficado” com algumas meninas, mas sempre pensando naquela amiguinha como meta romântica. Em uma recente festa de casamento, ao dançar com ela, percebeu, no entanto, que não queria agarrá-la, nem “ficar” com ela. Disse, então, que seu coração se “descongelara” e agora ele se sentia desamparado e sofria sem a fantasia deste amor, pensando que ia precisar, então, encontrar uma menina de verdade e não de sonho para namorar, já que seu ideal conservado de amor romântico acha muito esquisito esse negócio de “ficar” um dia com alguém e no dia seguinte mal cumprimentar a pessoa. Diante dos ditos alusivos ao descongelamento, todos cercando um mesmo ponto e nunca abordando-o diretamente, a analista introduz o significante sexo, mais do que sugerido, porém não dito por ele. Maurício considerou que esta questão ainda era bastante confusa para ele, no sentido de uma efetiva realização, e que ele não sabia nem como e nem quando se lançaria nesta direção que se descongelara e que o convocava.

Depois de anos de cartas escritas e não enviadas, Maurício escreve a um programa de televisão e consegue ser chamado a participar de um quadro que, segundo ele, não por coincidência, trata do encontro ou possível namoro entre jovens. Apesar da proibição da mãe de que ele vá sozinho (o programa é em São Paulo), ele a convence a acompanhá-lo de ônibus, enquanto ele vai de avião às expensas da produção do programa.

Por fim, ao final do semestre, sem brilho, mas sem ficar em recuperação, Maurício é aprovado no primeiro segmento do supletivo, que corresponde a uma série da escola regular.

Logo em seguida, manifesta-se o ritornello dos pais, mas acreditamos, não o de Maurício. Mais uma vez, a situação financeira insustentável os faz propor o fim do tratamento. Peço a Maurício para falar o que pensa disso e ele responde que acha que sempre teria o que falar ali e que ele se perguntava o quanto seria duro para ele “perder a analista”, mas que ele pensava que desta vez era o caso de parar, porque, depois de descongelado, ele não precisava mais matar o tempo, mas que agora ele contava com o tempo para realizar as coisas que pretendia: passar de ano, namorar e, mais do que tudo, trabalhar em televisão, como jornalista ou cameraman. Quem sabe, tentar também ser ator ou diretor. Pergunto a ele em que medida a aprovação na escola determinava esta parada e ele afirma que a aprovação realmente representava muito, na medida em que ele sabia que não seria dispensado disso pelos pais, e, agora, não se sentia mais num débito repetitivo, mas que seu desejo de parar a análise decorria de sentir-se capaz de fazer as coisas que eram dele, como o teatro, e não dos pais, como o estudo.

Algo de minha escuta informou-me que um ciclo se cumprira. Marquei uma última entrevista com os pais e, separadamente, no dia seguinte, com o próprio Maurício, na qual ele ficou sentado e não mais deitado como estivera nos últimos 3 anos. Sua mãe comparece, como sempre lamentando que o filho não possa continuar por causa da falta de dinheiro, mas informando que algo está muito diferente na família no que concerne ao filho. A tensão e as brigas horríveis com Maurício tinham acabado, principalmente, desde o início do ano quando ele a impedira de continuar estudando junto com ele. Ela diz que, apesar dele continuar um aluno medíocre, compreendeu, a partir das intervenções dele, que se algum dia ele desejar algo da vida que dependa, por exemplo, de um vestibular, ele terá que, às suas próprias expensas, empenhar-se para ser bem sucedido. A este propósito, em sua última sessão, Maurício afirma que não poderia mais continuar estudando com a mãe porque ela já era “formada” e que, diante dela, ele sempre estaria em inferioridade, já que ela cada vez aprendia mais e ele, nada. “Antes, se ela fazia um trabalho e eu a prova na escola, minha média era 5 porque ela tirava 10 e eu zero. Agora o meu 5,5 ou 6 é todo meu”. Esta manifestação de Maurício, parece-me, aponta diretamente para um deslocamento “geracional” no campo do Édipo. Sendo herdeiro, e não mais postulante a uma potência sempre inalcançável no que tange ao desejo materno, algo da ordem de uma separação e de um conseqüente alívio pode estar presente a partir de então.

Encerro aqui a história do tratamento de Maurício não sem questões. Como afirmei acima, creio realmente que um ciclo se cumpriu. Mas qual será o alcance desta “volta”? Qual é o limite para o trabalho analítico com um adolescente? Podemos supor que o trabalho com Maurício não passou pela desagregação das relações com o semelhante, na medida em que encarnam o Outro, de quem se espera, em sua consistência, a anistia ou a condenação e o objeto de investimento da libido para o sujeito, e que é doloroso e promissor evento num trabalho analítico. Sem isto, obviamente, não estamos autorizados a pensar que tenha se dado algo da destituição subjetiva, o que não significa que a transferência tenha ficado intocada. A dimensão do Ideal tampouco foi macerada a um ponto de exaustão, e o encontro real com um exercício sexual, com tudo de eventualmente perturbador que daí decorre, tampouco foi posto à prova. Apesar de seu intenso sofrimento ao longo e por causa do tempo, o índice da angústia como medo da morte, como aquilo que aponta para a iminência da queda do ponto de fixão do objeto, isto também não compareceu.

No entanto, houve uma clara operação de separação, podendo algo do desejo do sujeito ser exercido de modo mais franco. Houve também um abandono da repetição, alcançado através do laço transferencial, o que possibilitou que, mesmo persistindo os ritornellos familiares, uma outra posição fosse adotada pelo analisante. Será que podemos, a rigor, falar topologicamente de uma volta de fecho duplo, como diz Lacan no seu escrito? Será que isto pode ser pensado num trabalho com um adolescente? Cito Lacan:

A topologia ensina o laço necessário estabelecido do corte ao número de voltas que ele comporta para obter uma modificação da estrutura, (....) [na medida em que esta é o] único acesso concebível ao real e concebível do impossível no que ela vai demonstrá-lo. Assim, da volta única que na asfera faz um retalho esfericamente estável ao introduzir aí o efeito do suplemento que ela toma do ponto fora-de-linha, a ortho doxa. O fechar duplo, esta volta obtém coisa bem diferente: queda da causa do desejo, de onde se produz a banda moebiana do sujeito, demonstrando esta queda não ser senão ex-sistência ao corte de fecho duplo do qual ele resulta. *3

Não há análise sem a produção de ortodoxa, o que é o mesmo que dizer, como Lacan em A Direção do Tratamento e os Princípios de seu Poder*4 , que uma análise se inicia pela retificação das relações do sujeito com o real. Desimplicado, alienado no Outro, em “fading”, o sujeito encontra sua própria condição de constituição e também a condição de possibilidade de uma análise, que operará, exatamente, no caminho da destituição do sujeito, em sentido oposto. Logo, a análise não se esgota na produção de ortodoxa. Do mesmo modo, não se faz acontecer uma análise sem que as incidências da repetição aí se encontrem a todo momento, manifestação princeps da fantasia, desde que partindo do furo que a transferência implica, o que enseja que não se limite à repetição aquilo que na análise vai ocorrer. Como afirma Lacan, entretanto, coisa bem diferente é a queda da causa de desejo, o que inaugura, na estrutura, outra topologia. Do trabalho com adolescentes, de um modo geral, e deste caso clínico em particular, restam questões, que apontam para os limites e para o teor de radicalidade passíveis de estar presentes no término de uma análise.

NOTAS
* Mestre em Psicologia Clínica pela PUC.
Professora do curso de Especialização em Psicologia e Saúde Mental na UERJ.
Professora Adjunta da Escola de Comunicação da Unigranrio.
*1 Lacan, J. O Aturdito. Inédito. Tradução não autorizada. Mimeo.
*2 Compreendemos esta operação, a partir da clínica, da seguinte maneira: sendo verdade que a neurose se vale todo o tempo da repetição de uma matriz fantasística, é também inegável que o trabalho de análise vai desbastando estas repetições de um mesmo ponto, promovendo o avanço do sujeito. Entretanto, antes que o trabalho de análise tenha se encerrado, vemos adiante, numa posição mais avançada de uma espiral, o encontro com os elementos presentes num circuito repetitivo já superado, como se numa trajetória helicoidal o sujeito seguisse subindo em seu rumo, mas a cada volta, “desse com a cabeça na parede” no mesmo ponto da curva, na mesma parede, sempre. Se não se realiza a operação de “duplo fecho”, encerrando o circuito da repetição nos dois sentidos de seu movimento, não poderemos dizer que a análise verdadeiramente deslocou o sujeito desta posição de gozo.
*3 Lacan, J. O Aturdito. Inédito. Tradução não autorizada. Mimeo.
*4 Lacan, J. A Direção do Tratamento e os Princípios de seu poder. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, J. O Aturdito. Inédito. Tradução não autorizada. Mimeo.
__________. A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: __________. Escritos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998.

ABSTRACT
There are some specifical aspects to deal with when recieving psychoanalytically for treatment children and teen agers. The end of treatment, a central mobile when we pay attention to this kind of work, is centrally considered in this article, concerning psycoanalytical limits when teen agers are recieved by the professional. Here there is a report of a full treatment of a boy, from 11 to 15 years old, since it’s beggining, through it’s end. The clinical story sustains a general discussion about end of analysis, based on Lacan’s topological advances, particularly in his 1972 text, named “L’Ètourdit” . Afterwards, discussion turns back to the specifical aspects of adolescence, as referred by Freud wth the expression “second investment wave of libido”. There are still consequences deserving psychoanalytical investigation in the theoretical Palavras-chave: Psicanálise, adolescência, final de tratamento, direção da cura de adolescentes, casos clínicos.

KEYWORDS:
Psychoanalysis; Teen-agers; End of treatment; Direction of treatment for teen-agers; Clinical stories.