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ARTIGO 4
MAQUIAVELISMO: UM CONSTRUTO PSICOLÓGICO
MAQUIAVELISM: A PSYCHOLOGICAL CONSTRUCT
Ana Valéria Marques Fortes Lustosa*
Antonio Roazzi**
Cleonice Camino***
RESUMO
As idéias de Nicolau Maquiavel, discutidas em O Príncipe
(1513), influenciaram decisivamente na iniciativa de Christie e Geis
(1970) de desenvolverem um instrumento capaz de avaliar a personalidade
maquiavélica. Este estudo investiga o Maquiavelismo, conforme
definido por estes autores e outros, como Braginsky (1970) e Touhey
(1977). Participaram deste estudo 10 meninos de rua, sem referência
familiar formal; 20 meninos trabalhadores, que utilizam a rua como
fonte principal ou secundária de geração de renda;
20 alunos de escola pública e 20 alunos de escola particular
com idades entre 11 e 17 anos. O método consistiu na aplicação
da escala Kiddie Mach, desenvolvida por Nachamie (1970). Os resultados
indicaram que os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores
constituem grupo menos maquiavélico do que o grupo da escola
particular, no que se refere à visão de mundo. Por outro
lado, o grupo de meninos de rua demonstrou ser mais maquiavélico
do que o grupo da escola particular no que se refere às táticas
para atuar no mundo
PALAVRAS-CHAVE
Maquiavelismo; meninos de rua.
O
famoso historiador e pensador político do século XVI, Nicolau
Maquiavel (1469-1527) modificou o pensamento político considerado
até então como meramente especulativo, religioso e ético,
ao se opor à tradição do pensamento grego que priorizava
a justiça e o bem-comum, separando efetivamente a política
da religião e da ética (REALE & ANTISERI, 1990). Para
esses autores, Maquiavel descreveu a natureza do homem de forma pessimista,
pois, para ele “em si mesmo o homem não é bom nem
mau, mas, de fato, tende a ser mau” (p.129). Essa visão de
humanidade decorria, em parte, de uma herança intelectual da Idade
Média, como também da influência da situação
da Itália e de sua própria época.
Em O Príncipe
(1513), Maquiavel aconselha o soberano sobre a arte de governar, especificando
que, para tanto, deve usar todo e qualquer expediente. É o surgimento
do tão conhecido “os fins justificam os meios”. Moreira
(1980, p. 35) situa as lições contidas em O Príncipe
em um contexto ético:
Seus conselhos aos príncipes e republicanos se
situam no nível do que Weber chamaria de ética da responsabilidade
e não no da ética da consciência. Isto é, da
ética que analisa as ações não em função
da hierarquia interna de valores, mas sim em vista das conseqüências,
dos resultados previsíveis da ação, que procura condicionar,
comandar e efetivar. É uma ética essencialmente política,
da ação eficaz, que o coloca entre os fundadores da ciência
política da categoria específica desta.
Embora o próprio
Maquiavel nada tivesse em seu comportamento que sugerisse amoralidade,
corrupção, ou comportamentos outros desprovidos de honra
e decência, suas idéias chegaram aos nossos dias como fonte
de intensa polêmica, pois alguns consideram-nas, como ao seu autor,
exemplo de imoralidade e oportunismo, entre outras coisas; ao passo que
outros consideram que Maquiavel era um patriota, defensor da liberdade
e que sua obra, na verdade, destinava-se a ensinar ao povo e não
ao soberano. Não obstante essa ambigüidade, o termo maquiavelismo
em linguagem comum é visto como pejorativo e pressupõe um
indivíduo destituído de moral e manipulador.
Com o intuito de investigar
a personalidade maquiavélica, Christie e Geis (1970) apresentaram
em seu livro Estudos sobre Maquiavelismo a análise de
38 estudos realizados no período de 1959 a 1969, considerando o
comportamento e a forma de pensar de indivíduos por eles denominados
muito ou pouco maquiavélicos. Esses autores criaram alguns instrumentos
destinados a avaliar quantitativamente o maquiavelismo. Para tanto, utilizaram
frases extraídas diretamente de O Príncipe, de
Maquiavel, e adaptaram-nas para a linguagem contemporânea.
Desde então,
o número de pesquisas referentes a esse construto tem crescido,
abordando as mais diversas variáveis, sendo que pesquisas mais
recentes abordam temas tais como: moralidade-consciência de culpa
(DRAKE, 1995); narcisismo (MCHOSKEY, 1995); psicopatia (McHOSKEY, WORZEL
& SZYARTO, 1998); esquizofrenia (SULLIVAN & ALLEN, 1999); entre
outras.
Maquiavelismo
tem sido definido ao longo do tempo ora como um traço ou disposição
da personalidade (VLEEMING, 1979; MCHOSKEY, 1995), ora como estratégia
de conduta social (WILSON, NEAR & MILLER, 1996), que envolve a manipulação
de outros para obter ganhos pessoais. De um modo geral, Christie e Geis
(1970) consideram que os indivíduos maquiavélicos tendem
a ter uma relativa ausência de afeto nas relações
interpessoais, não apresentam preocupação com a moral
convencional, embora não sejam necessariamente imorais e demonstram
baixo comprometimento ideológico. Além disso, eles consideram
que os indivíduos altamente maquiavélicos superam aqueles
menos maquiavélicos quando interagem em situações
face a face, quando há espaço para a improvisação
e em situações que envolvem detalhes afetivos que são
considerados como irrelevantes para a vitória (ver VLEEMING, 1979).
Para Gable e Dangelo (1994), maquiavélicos devem ser vistos não
como antiéticos, mas como indivíduos capazes de sacrificar
a ética, segundo seus interesses.
Inicialmente,
interessa-nos abordar a influência da família no desenvolvimento
do maquiavelismo. Nesse sentido, Nachamie (1970) desenvolveu uma medida
do maquiavelismo adaptada para crianças, com pontuação
de 1 a 5 para cada quesito, a partir dos instrumentos elaborados por Christie
e Geis e encontrou que a orientação maquiavélica
já é identificável a partir dos nove anos de idade.
Os itens da escala Kiddie Mach são agrupados em três
áreas específicas: táticas, moralidade e visão
de mundo. Essa pesquisadora e Braginsky (1970) desenvolveram estudos voltados
para a avaliação da existência de maquiavelismo em
crianças, considerando também o desenvolvimento moral, cognitivo
e emocional.
Braginsky
(ver VLEEMING, 1979) em um primeiro estudo, verificou que crianças
maquiavélicas parecem mais eficientes, mais bem-sucedidas e capazes
de utilizar estratégias manipuladoras com mais freqüência
do que as não-maquiavélicas. Em estudo posterior, encontrou
que “o maquiavelismo da mãe está inversamente relacionado
com o da criança e que o sucesso da criança em manipular
outros está, por sua vez, inversamente relacionado à magnitude
do maquiavelismo de seus pais, respectivamente, (F = 5.02, p< 0.025
para o pai e F= 4.28, p <0.05 para a mãe)” (VLEEMING,
1979, p.301). Considerando esses resultados, observamos que, quanto mais
maquiavélicos os pais forem, quanto mais utilizarem manipulação
na sua relação com o filho, menos provável torna-se
a evolução do maquiavelismo na criança.
A pesquisa
realizada por Kraut e Price (1976), além de apresentar dados empíricos
interessantes, também apresenta considerações teóricas
adequadas e úteis para o esclarecimento dessa questão. Nesse
sentido, eles avaliaram uma amostra de 53 estudantes de 6ª série,
da cidade da Pensilvânia, através da escala Kiddie Mach.
Com base nos resultados da escala, foram selecionados para o jogo do blefe
25 pais e 28 mães das crianças escolhidas. Este jogo foi
desenvolvido por Nachamie (1970) e consiste em jogar os dados e tentar
enganar o oponente sobre o resultado, sendo que, quem tem sucesso, é
recompensado com uma bala. Os resultados mostraram que pais com crenças
maquiavélicas tinham filhos com mais crenças desse tipo
e manipulavam os outros melhor. Em relação às mães,
essa correlação foi negativa.
Kraut e Price
(1976) consideram que as crenças e os comportamentos maquiavélicos
das crianças são aprendidos separadamente e, com o passar
do tempo, tendem a ser unidos. Em alguns casos, as crianças têm
seu comportamento influenciado indiretamente por um sistema de crenças
aprendido dos pais, enquanto outros não adotam as crenças
maquiavélicas, mas modelam seu comportamento através de
técnicas manipulativas bem-sucedidas dos pais.
Além
disso, estes autores acreditam que o maquiavelismo exige habilidade manipulativa
que pressupõe duas características fundamentais: 1) habilidade
para persuadir outros e 2) capacidade para perceber as intenções
dos outros com exatidão. Os resultados mostram, todavia, que persuasão
é aprendida dos pais, mas não a capacidade perceptual.
Vleeming (1979),
ao comentar essa pesquisa, compara-a com aquelas realizadas por Dien (1976)
e Braginsky (1970b), que descobriram que maquiavelismo se desenvolve fora
do contexto familiar e que há uma relação inversa
entre a atitude maquiavélica da mãe e da criança,
ainda que somente quanto ao filho primogênito e ao filho único
de famílias nucleares. Ele explica que esse resultado pode ser
devido ao fato de Kraut e Price (1976) terem avaliado famílias
nucleares e não-nucleares, simultaneamente. Além desses
resultados, Dien e Braginsky encontraram que pais maquiavélicos
têm crianças pouco astuciosas. Essa é também
a conclusão a que chegam Dien (1974) e Dien e Fujiwa (1979).
Kraut e Price
(1976) afirmam que existem duas hipóteses teóricas que tentam
explicar a influência da família no desenvolvimento da orientação
maquiavélica. A primeira pressupõe que a criança
desenvolve essa orientação através da aprendizagem
prática, na qual os papéis de manipulador e manipulado são
desenvolvidos de forma complementar. Nesse sentido, para Christie e Geis
(1970), pais muito maquiavélicos, ao interagirem com seus filhos,
ensinam-lhes o papel de manipulado, ao passo que pais pouco maquiavélicos
reforçam o comportamento maquiavélico dos filhos, por serem
facilmente manipuláveis.
Essa hipótese
tem recebido críticas por estar fundamentada em dados retrospectivos,
obtidos através de entrevistas a sujeitos adultos sobre as crenças
de seus pais. Somente Braginsky (1970) eliminou esse problema, pois investigou
os pais e as crianças diretamente. Por outro lado, existem defensores
dessa hipótese, como Tourney que, entretanto, foi criticado por
ter equiparado modelação a identificação afetiva
e pressuposto que boas relações entre pais e filhos conduzem
ao modelo que uma criança tem dos pais.
Na verdade,
Kraut e Price (1976) afirmam que outros pesquisadores consideram que conflitos
pais-filhos e modelo parental podem ser causas coexistentes do comportamento
das crianças. Além disso, no caso do maquiavelismo, é
mais provável que a neutralidade afetiva dos pais atue como modelo
para os filhos, justamente por atingi-los.
A segunda
hipótese, modeladora ou de identificação, tem por
preceito que, durante a socialização, as crianças
buscam imitar os pais e, nesse processo, desenvolvem a habilidade e a
ideologia que os pais usam para manipular outras pessoas, inclusive eles
mesmos.
Segundo Vleeming
(1979), outro estudo que considera que o maquiavelismo se desenvolve fora
da família foi realizado por Touhey, que afirma ser o traço
determinado pela socialização secundária, sendo a
escola um dos primeiros e mais penetrante agentes da socialização.
Em um outro
estudo, Touhey (1977) examinou se a relação entre maquiavelismo,
previsibilidade e certeza afeta a percepção dos professores
das crianças. Sua hipótese é de que professores costumam
atribuir o comportamento maquiavélico de seus alunos a causas externas,
ao invés de causas internas e investigou se a exatidão do
julgamento dos professores era afetada por esse comportamento.
A amostra
foi constituída por 75 garotas e 79 garotos da 5ª série
de duas escolas. As condutas impróprias foram: lutas, brigas, falar
muito, tomar objetos pessoais dos outros, trabalho desorganizado e prejudicar
a propriedade escolar.
Os resultados
mostram que os professores, em relação à atribuição
de causalidade, responderam com menor atribuição de responsabilidade
pessoal aos alunos com altos escores de condutas impróprias, o
que sugere que estes têm uma maior capacidade de persuadir os outros
a atribuírem seu mau comportamento a causas situacionais. Touhey
(1977) afirma que tanto os professores quanto os pais de crianças
maquiavélicas ignoram as preferências, atitudes e atividades
das crianças.
Além
disso, quanto à exatidão dos julgamentos em relação
ao comportamento maquiavélico das crianças, os professores
foram mais exatos em relação aos alunos com altos escores,
mas não acertaram as preferências desses alunos, no que diz
respeito a atividades acadêmicas e não-acadêmicas.
Concluindo
a esse respeito, pessoas com altos escores em maquiavelismo aparentam
ser mais previsíveis quando, na verdade, são menos previsíveis
do que pessoas com baixos escores (Touhey, 1977), ou seja, elas aparentam,
em virtude do próprio maquiavelismo, um comportamento dissimulado,
que permite que realizem seus desejos, enquanto enganam os outros.
De uma forma
geral, esses estudos não foram suficientes para pôr um ponto
final na controvérsia acerca da origem do maquiavelismo, enquanto
disposição da personalidade, permitindo-nos sugerir que
novas pesquisas devem ser feitas com o intuito de esclarecer esse aspecto,
principalmente no que se refere ao processo de socialização.
Foi com o
propósito de explorar as habilidades maquiavélicas em suas
diferentes facetas que desenvolvemos esse estudo, tendo como referência
apenas a dimensão escola, como fator provável de aumento
do maquiavelismo, conforme discutido por Touhey, Braginsky e Shu-Fang
Dien (citados por VLEEMING, 1970), que afirmam que a orientação
maquiavélica se desenvolve fora da família, principalmente
através de outras agências socializadoras, como a escola.
Nesse sentido, foram escolhidos para integrar a amostra crianças
e adolescentes em situação de rua (meninos de rua e meninos
trabalhadores) e grupos de crianças e adolescentes de escolas pública
e particular.
Os estudos
acerca dessa parcela da população infanto-juvenil têm
aumentado em virtude do crescente interesse dos pesquisadores sobre como
essas crianças e adolescentes em situação de rua
se desenvolvem e em que condições sobrevivem. Aliado a esse
fato há a necessidade de atuar de forma a atenuar e, se possível,
modificar essas condições, fato que só é possível
através do conhecimento real acerca dos mesmos.
MÉTODO
Amostra
Inicialmente,
os sujeitos desta pesquisa foram 10 meninos de rua, aqueles sem referência
familiar formal; 20 meninos trabalhadores, aqueles que utilizam a rua
como local de geração de renda, mas que mantêm contato
com a família, retornando para seus domicílios à
noite. Posteriormente, foram selecionadas, através da técnica
de pareamento, 20 crianças e adolescentes de escola pública
e 20 crianças e adolescentes de escola particular, ou seja, para
cada componente da amostra de meninos de rua, quanto à idade, foram
selecionados 2 integrantes nas duas amostras com característica
similar e que estavam matriculados em uma escola. A amostra definitiva
foi, portanto, de 70 sujeitos, todos do sexo masculino, na faixa etária
de 11 a 17 anos.
O grupo de meninos de
rua foi definido através de três critérios norteadores:
espaço, aparência e atividade. Nesse sentido, assim como
no estudo de Rosemberg (1994), consideramos como rua “toda via ou
logradouro público externo”1. Não entramos em espaços
internos para contactar e/ou entrevistar o grupo em questão, que,
conforme mencionado, foi considerado como aquele que usa tais espaços
como o local principal ou secundário para outras atividades que
não somente a circulação.
Quanto à
aparência, foram considerados como integrantes da amostra as crianças
e adolescentes que se apresentavam sem condições adequadas
de higiene e vestimentas.
No que se
refere à atividade, foram integrantes da amostra as crianças/adolescentes
que estavam desenvolvendo atividades como trabalhar, esmolar, ou ainda
brincar e/ou conversar em grupos. Sob essa perspectiva, não foram
considerados adolescentes em atividades que envolviam somente o circular
na rua, como por exemplo, a categoria de office-boys.
Ainda nesse sentido,
a atividade estava associada à aparência física e
à distância do local de moradia. As dúvidas quanto
à pertinência de sujeitos na amostra foram dirimidas no processo
de entrevista.
PROCEDIMENTO
Na fase
inicial desse estudo, foram identificados os locais de concentração
do grupo de meninos de rua e, a partir dessa localização,
foram feitas observações em fichas de anotação,
em que constaram dados acerca da sua organização, das práticas
adotadas para a sobrevivência, as atividades que desenvolviam, as
principais ocorrências e as ações que caracterizavam
as interações sociais entre os membros do grupo e destes
com os transeuntes.
Em um segundo momento, foi utilizado
um roteiro de entrevista do tipo semi-estruturada, com ênfase nos
seguintes temas: identificação da população
infanto-juvenil na faixa etária de 11 a 17 anos quanto à
idade, ao tipo de organização familiar, aos motivos de sua
ida para a rua, ao tempo de permanência na rua e à escolaridade.
A entrevista foi realizada apenas com o grupo de crianças/adolescentes
em situação de rua, ou seja, os meninos trabalhadores e
os meninos de rua, com o intuito de diferenciar esses dois grupos.
Após o período
de observação, foram selecionadas aleatoriamente 10 crianças
e adolescentes, cujas características apontavam como sendo meninos
de rua e 20 sujeitos que somente utilizavam a rua como fonte de geração
de renda, ou seja, 20 meninos trabalhadores, para as fases seguintes da
pesquisa e que consistiram na aplicação de entrevista e
de uma escala de maquiavelismo para crianças – Kiddie
Mach2.
As entrevistas
e aplicação da escala foram feitas no próprio ambiente
dos meninos de rua, em virtude da constatação de que a mobilidade
do grupo era intensa, o que poderia tornar inviável a apreensão
das informações necessárias, uma vez que havia a
possibilidade de ser dado início à pesquisa com um dos participantes
e, posteriormente, não fosse possível localiza-lo, dada
a fluidez que os caracteriza e que se manifesta através de constantes
deslocamentos da rua para casa e até mesmo para outras cidades.
As dificuldades foram contornadas com o apoio dos Educadores de Rua do
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), que entre outras
coisas auxiliou-nos a contatar o grupo, a discutir os dados das observações
com o intuito de aprofundar nosso conhecimento acerca do mesmo.
Quanto aos grupos da escola
particular e pública, as escolhas se deram, no primeiro caso, através
de sorteio e, no segundo, em função de ser esta escola a
única que estava tendo aulas normalmente, enquanto outras escolas
da rede municipal de ensino de Teresina haviam aderido à greve
dos professores naquele período.
O grupo de meninos em situação
de rua foi entrevistado e todos os participantes responderam à
escala de forma individual. O tempo médio de entrevista e aplicação
da escala foi de 30 minutos, não tendo sido determinado o tempo
para seu término. No caso dos grupos de rua e trabalhadores, o
instrumento foi lido em voz alta e, ao término de cada sentença,
foi permitido que perguntassem acerca do que não haviam entendido.
Por outro lado, no caso dos sujeitos das escolas, cada um recebeu a escala
Kiddie Mach, após a confirmação da sua adequação
ao grupo em função do fator idade. Esses participantes responderam
à escala, perguntando o que não compreendiam, à medida
que respondiam.
RESULTADOS
Tendo
em vista que julgamos necessário dar maiores informações
sobre o grupo de crianças e adolescentes em situação
de rua, a descrição dos mesmos teve prioridade nesta pesquisa.
Nesse sentido, consideramos em primeiro lugar a família, tanto
dos meninos de rua sem referência familiar formal, quanto dos meninos
trabalhadores, que utilizam a rua como fonte de geração
de renda e que possuem referência familiar formal. Constatamos que
os meninos de rua foram, em sua maioria, criados pela mãe (40%)
e, em segundo lugar, pelos avós (30%). No caso dos meninos trabalhadores,
a maioria expressiva desse grupo (90%) foi criada pelos pais e continua
morando com eles.
Os sujeitos são
provenientes de famílias numerosas, com um número de irmãos
entre 1-2 (25%); 3-4 (20%); 5-6 (25%); 7-8 (15%); 11-12 (15%); e de classe
baixa, conforme análise da profissão dos pais e que buscam
o mercado de trabalho informal por motivos tais como: ajudar a mãe
(25%); ajudar ambos, pai e mãe (20%); para terem autonomia financeira
(15%); por influência dos irmãos/colegas que já trabalham
(20%); por não gostarem de ficar ociosos (15%) e para alimentar
os irmãos (5%). No caso dos meninos de rua, os pais estão
separados em 70% dos casos; o pai morreu em 10% e somente em 20% dos casos
os pais ainda estão juntos.
A outra categoria analisada
foi a escola. Nesse sentido, os meninos de rua apresentam como motivos
para o abandono da mesma os seguintes: não aprender (10%); expulsão
(30%); por que saiu de casa (50%) e em um único caso, o sujeito
nunca freqüentou a escola (10%).
Além disso, quanto ao
tempo de permanência na escola, houve variação, com
um maior índice nas 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental
(60%); na 4ª série (20%); na 5ª série (10%) e
apenas um nunca freqüentou a escola. Entre os meninos trabalhadores,
também houve variação, pois a maior incidência
encontra-se na 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental,
respectivamente, 25% e 45%; e o restante da amostra apresentou-se distribuída
em outras séries do Ensino Fundamental, 3ª (5%); 4ª (5%);
5ª (10%); 6ª (10%), dos quais 15% já abandonaram a escola.
Quanto ao maquiavelismo, avaliado
a partir dos itens da escala Kiddie Mach2, percebe-se alguns
resultados interessantes que serão descritos a seguir. Inicialmente,
como resultado geral, foi encontrado que existem diferenças significativas
entre os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores em relação
ao grupo da escola particular no que diz respeito à visão
de mundo e às táticas para atuar no mundo.
Com relação aos itens
específicos da escala, a diferença entre os quatro grupos
foi obtida através de uma análise de variância a uma
via. Os resultados destas análises encontram-se apresentados no
lado direito da Tabela 1. Diferenças significativas foram observadas
no item 2 ( F= 8.43; p< .00); item 3 ( F= 5.63; p< .001); item 11
( F= 5.92; p< .001); item 14 ( F= 19.8; p< .00). Em seguida, as
diferenças entre as médias dos quatro grupos de crianças
por cada item foram analisadas através do teste a posteriori de
Duncan.
Tabela 1. Média, desvios padrões e ANOVA
da avaliação dos itens da escala de maquiavelismo por cada
grupo de crianças.

Em relação
ao item negativo 02 (“A maioria das pessoas são boas e gentis”),
os meninos de escola particular apresentaram média mais alta do
que os outros três grupos (p< .01). No item 03 (“a melhor
maneira de se dar bem com as pessoas é dizer coisas que as façam
felizes”), os meninos de rua atingiram média superior aos
sujeitos da escola particular (p<.01). No que se refere ao item negativo
11 (“Pessoas de sucesso são na maioria honestas e boas”),
o grupo de meninos trabalhadores apresentou média inferior aos
sujeitos dos grupos da escola pública e particular (p< .01).
Foi encontrada também média superior no grupo da escola
particular em relação ao grupo de meninos de rua (p<.05).
No item negativo 14 (“A maioria das pessoas são corajosas”),
o grupo da escola particular obteve média maior do que os outros
três grupos (p<.05). Ainda em relação a esse item
o grupo da escola pública obteve média mais alta do que
os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores (p<.05).
DISCUSSÃO
Os
resultados da análise qualitativa apontam que a maioria dos meninos
trabalhadores não se constitui de abandonados, mas sim que entre
os motivos que alegam para procurarem a rua predomina o aspecto econômico,
ou seja, para ajudar na manutenção da família, seguido
pela necessidade de independência financeira e como forma de evitar
a ociosidade. No caso dos meninos de rua, constata-se exatamente o oposto,
uma vez que, embora tenham sido criados pelas mães (40%) ou pelas
avós (30%), decidiram sair de casa em função dos
constantes conflitos com a figura masculina, como por exemplo o pai ou
o padastro, o que corrobora o que a literatura apresenta nesse sentido
(PRADO & GOMES, 1993; ALVES, 1991).
No que se
refere à hipótese, foram encontradas diferenças significativas
entre os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores em relação
aos da escola particular quanto à orientação maquiavélica.
Esse resultado confirma aqueles citados pela literatura em Maquiavelismo
(DIEN, 1976; BRAGINSKY, 1970B; TOUHEY, 1970 citados por VLEEMING, 1979),
que consideram que a socialização secundária é
geradora da orientação maquiavélica, mais do que
a própria socialização primária. Em outras
palavras, a escolaridade pode atuar de forma a aumentar o grau de Maquiavelismo
em crianças e adolescentes, aliada à questão da competitividade,
como é o caso dos sujeitos das escolas pública e particular.
No caso dos
sujeitos em situação de rua, especificamente os meninos
trabalhadores (que possuem referência familiar formal), a freqüência
à escola não se dá de forma regular, em virtude da
necessidade que os obriga a trabalhar para ajudar no sustento da família,
o que pode explicar o fato da mesma não ter muita influência
sobre eles, assim como ocorre em relação aos meninos de
rua propriamente ditos, que não têm acesso à escola.
As experiências
vivenciadas nas ruas pelo grupo de meninos trabalhadores diferenciam-se
daquelas vividas pelos meninos de rua pelo fato de, sobre os primeiros,
pesar a responsabilidade de auxiliar no sustento da família e,
ao mesmo tempo, o vínculo com a mesma ainda existe, o que pode
aumentar a possibilidade da influência dos valores familiares sobre
esses sujeitos.
Analisaremos
os itens específicos da escala, que apresentaram diferenças
significativas. Chamamos a atenção para o fato de que os
itens negativos foram convertidos em itens positivos quando da sua contagem
e posterior análise.
Em relação
ao item negativo 2 (“A maioria das pessoas são boas e gentis”),
que se refere à visão de mundo, os meninos da escola particular
consideram que as pessoas, de forma geral, não são boas
e gentis. Essa forma de considerar o outro tem relação direta
com a opinião de Maquiavel acerca da natureza humana, pois, para
ele, o ser humano, embora não seja em si mesmo mau ou bom, tende
à maldade mais do que ao bem.
O item 3 (“A
melhor maneira para se dar bem com as pessoas é dizer coisas que
as façam felizes”) refere-se às táticas para
atuar no mundo, no qual os meninos de rua obtiveram média superior
à dos sujeitos da escola particular. Esse resultado parece indicar
uma maior tendência entre os meninos de rua para tentar agradar
as pessoas com o intuito de conseguir sua benevolência em relação
a eles, tendo em vista a necessidade de sobrevivência que os obriga
a adotarem estratégias voltadas para esse fim.
O “estar”
na rua implica relações interpessoais diversas em diferentes
contextos, com indivíduos de todas as classes sociais. Nesse sentido,
quanto mais recursos forem utilizados para ser bem sucedido, melhor. Isso
não ocorre em relação aos sujeitos da escola particular,
para quem as necessidades básicas estão supridas e que,
de algum modo, podem correr o risco de não serem aceitos.
No que se
refere ao item negativo 11 (“Pessoas de sucesso são na maioria
honestas e boas”), avalia-se novamente a visão de mundo dos
sujeitos, com relação ao que pensam sobre as pessoas de
uma forma geral. O grupo de meninos trabalhadores apresentou média
inferior em comparação ao grupo de escola pública
e particular. Consideramos que essa diferença deve-se ao fato de
o primeiro ter uma visão do ser humano menos crítica e realista,
simultaneamente mais sonhadora e idealista. Esse aspecto pode estar relacionado
ao fato de que esses sujeitos desenvolvem muito cedo a responsabilidade
de arcar com o auxílio e, muitas vezes, com o sustento integral
da família, nos casos em que o pai está ausente ou inválido,
o que não é difícil acontecer, pois grande parte
da literatura existente sobre esse grupo mostra que, em sua maioria, a
mãe é a principal provedora da família (GOMES, 1994;
NASCIMENTO, 1997).
Nesse sentido,
consideramos que há por parte dos pais de famílias de baixa
renda a transmissão de valores morais como a honestidade, bem como
a idéia de que o trabalho é recompensado pelo sucesso; idéia
essa alimentada pelos próprios meninos trabalhadores para justificar
o fato de estarem trabalhando, enquanto poderiam estar na escola ou brincando
ou até mesmo realizando outras atividades, como os meninos de rua,
dos quais querem ser diferenciados, conforme notamos no trabalho de campo,
através das entrevistas realizadas com esse grupo.
Foram
encontradas, também em relação a esse item, diferenças
entre os grupos da escola particular e o grupo de meninos de rua: o primeiro
alcançou média superior ao segundo. A provável explicação
para essa diferença pode estar relacionada à distinta experiência
de vida dos dois grupos.
Para os meninos
de rua, a honestidade é um valor a ser alcançado, uma vez
que sua vivência os leva a atuar de forma a sobreviverem a qualquer
custo, o que, conseqüentemente, os faz, muitas vezes, adotarem comportamentos
considerados negativos, como roubar, por exemplo, para atingir essa meta.
Nesse sentido, seu referencial na avaliação dessa questão
é o próprio comportamento e aquele das pessoas com as quais
convivem, os quais são distintos da maioria das pessoas da sociedade,
o que os induz a avaliar os outros de forma positiva. Entretanto, pesquisas
sobre a auto-estima são necessárias para confirmar a veracidade
dessa suposição.
No caso das
crianças da escola particular, há um maior senso crítico
e consciência de que o sucesso nem sempre está relacionado
a honestidade e bondade, bem como, provavelmente, conforme indicam os
resultados, pode ser necessário adotar atitudes que permitam que
se alcance o sucesso, independente da opinião de outros. Logo,
sua visão está mais relacionada ao maquiavelismo do que
a de crianças e adolescentes em situação de rua,
uma vez que não existem diferenças significativas entre
os grupos de meninos de rua e meninos trabalhadores.
A compreensão
do item negativo 14 (“A maioria das pessoas são corajosas”),
também relacionado à visão de mundo dos sujeitos,
no qual o grupo da escola particular obteve média superior aos
outros três grupos, relaciona-se da mesma forma à concepção
de mundo. Ainda em relação a esse item, o grupo da escola
pública atingiu média superior à do grupo de crianças
e adolescentes em situação de rua. O que há em comum
entre os grupos que obtiveram as maiores médias é a escolaridade.
De um
modo geral, podemos notar que a escolaridade parece estar relacionada
ao maquiavelismo, uma vez que a literatura psicológica referente
a esse construto afirma que o mesmo desenvolve-se a partir da socialização
secundária. Entretanto, ressalva-se que o maquiavelismo não
é um construto unidimensional, tampouco uma característica
definidora por si só da personalidade dos sujeitos, mas deve ser
considerado, tendo em vista as circunstâncias de vida dos sujeitos
e as interações que estes desenvolvem.
Nesse sentido,
os resultados apontam que os meninos de rua constituem grupo mais maquiavélico
do que o grupo da escola particular no que diz respeito às táticas
para atuar no mundo, o que parece estar de acordo com a vivência
desse grupo. No entanto, o grupo da escola particular demonstrou ser mais
maquiavélico do que o grupo de meninos de rua quanto à visão
de mundo.
Queremos ressaltar
um ponto por nós considerado de extrema importância para
a compreensão do grupo de crianças e adolescentes em situação
de rua existentes em Teresina-PI. Com relação ao grupo de
meninos de rua, especificamente, o mesmo difere de outros grupos em diferentes
cidades, sob diversos aspectos. Em primeiro lugar, a cidade de Teresina
é uma cidade de porte médio, com um número pequeno
de habitantes, com um reduzido índice de violência, ainda
que a situação sócio-econômica de grande parte
de seus habitantes seja precária e, muitas vezes, miserável.
Contudo, a
índole do povo é dócil e hospitaleira, o que nos
permite afirmar que esses fatores influenciam na maneira como se comportam
as crianças e adolescentes em situação de rua, que
não são demasiadamente violentos, nem tão maquiavélicos
conforme aponta esse estudo.
Considerando
esses fatores, sugerimos que pesquisas futuras sejam realizadas, tendo
em vista a comparação de meninos de rua de cidades de médio
porte e metrópoles, bem como que levem em conta a influência
da família no desenvolvimento desse traço de personalidade,
assim como aprofundem a pesquisa no que se refere à relevância
da socialização secundária para o desenvolvimento
desse construto, controlando variáveis tais como a freqüência
e a série dos sujeitos investigados. Por outro lado, recomenda-se
também que novos estudos verifiquem a questão da moralidade
nos grupos estudados.
NOTAS
* Doutoranda do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
** Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal
de Pernambuco
*** Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal
de Pernambuco.
1Ruas, avenidas, praças, parques, terrenos baldios, estacionamentos,
calçadões, portas/entradas de universidades, escolas, casas
comerciais, igrejas, cinemas, restaurantes, teatros, etc.
2 A validação da escala Kiddie Mach está em andamento,
sendo que este estudo faz parte do processo de validação.
Nesse sentido, a escala foi utilizada mais como um questionário
inicial e analisada a partir dos itens. A tradução foi feita
pelos autores.
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ABSTRACT
Nicolau Machiavel's ideas, discussed in “Il Principe”
(1513), influenced decisively in the initiative by Christie and Geis
(1970) to develop an instrument able to evaluate the Machiavellian
personality. This study investigates Machiavellianism, as defined
for these authors and others, like Braginsky (1970) and Touhey (1977).
The participants of this study were 10 street boys, without formal
family reference; 20 working boys, that use the street as main or
secondary source of income; 20 state school students and 20 private
school students with ages between 11 and 17 years. The method consisted
in the application of the Kiddie Mach scale, developed by Nachamie
(1970). The results indicated that the street boys' groups and working
boys present less Machiavellian personality than the group of the
private school.
KEYWORDS
Street boys; machiavellianism; Kiddie Mach scale.
Recebido em: 09/12/03
Aceito para publicação em: 04/03/04
E-mail: anavfortes@uol.com.br, roazzi@ufpe.br
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