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ARTIGO 3
MASCULINO E FEMININO NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA
MASCULINITY AND FEMININITY IN THE CONTEMPORARY FAMILY
Teresa Creusa de Góes Monteiro Negreiros*
Terezinha Féres-Carneiro**
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir questões referentes
aos papéis de gênero nas relações familiares
contemporâneas, onde coexistem o “modelo antigo”
e o “modelo novo” de família, ressaltando a tensão
existente nos registros identificatórios da “nova”
mulher e do “novo” homem. Lançando mão
de contribuições teóricas da psicologia social
e da psicanálise, utilizamos os conceitos de papel, identidade,
ideais, identificação e expectativas para compreender
as mudanças na família e a transformação
do masculino e do feminino na contemporaneidade
PALAVRAS-CHAVE
Papéis de gênero; identificação; família.
GÊNERO:
PAPEL E IDENTIDADE
Neste
texto destacaremos o masculino e o feminino como papéis de gênero.
Ou seja, sem prescindir de sua natureza anatômica, será privilegiada
a categoria sexo desbiologizada e integrada às redes de relações
institucionais e culturais em que se inserem o sujeito e a família.
Entendemos que não existe um conteúdo universal para os
papéis de gênero, pois estes são construções
históricas, sociais e culturais e através deste prisma desenvolveremos
nossas reflexões sobre mudanças de tais papéis ocorridas
nos últimos tempos e suas implicações nas famílias
das camadas médias dos grandes centros urbanos.
Papel,
tal como formulado por Goffman (1975) e Berger (1978), é concebido
como um conjunto de prescrições e proscrições
para determinada inserção no meio social. Tal noção
compreende direitos e deveres, com as respectivas sanções,
numa determinada condição. Os papéis masculino
e feminino configurariam tipificações do que seria pertinente
ao homem e a mulher num dado contexto. Englobam aprovações,
restrições e proibições que seriam apreendidas
e transmitidas ao longo de gerações e durante o percurso
da vida, do bebê ao idoso
Algumas
abordagens tradicionais da psicologia social e da psicologia do desenvolvimento,
desde há muito, focalizam a socialização dos papéis,
como a teoria da aprendizagem social de Bandura (1971) e a teoria do desenvolvimento
cognitivo de Kohlberg (1966). Esses autores, em suas inúmeras pesquisas,
estudaram aspectos variados quanto à aprendizagem de papéis
masculino e feminino, mas ambos postularam que as diferenças psicossociais
entre meninos e meninas são de certo modo absorvidas, desde tenra
idade, porque os agentes socializadores influenciam, através de
expectativas, reforços, disposições, atitudes e comportamentos
típicos para cada sexo, uma noção do que é
ser homem ou ser mulher, e do que é esperado, permitido, consentido
e excluído para tal. Além do mais, essas noções
são mantidas, porque meninos e meninas inclinam-se mais a imitarem
os seus iguais do que os do outro sexo, baseando-se tanto na observação
direta, como na interpretação do que percebem como “masculino”
e “feminino”.
A dicotomia
sexual homem-mulher com características e peculiaridades próprias
e mutuamente exclusivas - assumida por pais, familiares, escola, meios
de comunicação e sociedade em geral, é incorporada
como uma forte formação, através do desenvolvimento
humano. Assim, como assinalou Biaggio (1976), os desempenhos esperados
culturalmente - que os meninos sejam, “fortes, independentes, agressivos,
competentes e dominantes”, e as meninas “dependentes, sensíveis,
afetuosas e que suprimam seus impulsos agressivos e sexuais”, de
algum modo, formam conjuntos de disposições diferenciais
a serem seguidos. E, conforme a clássica hipótese de Parsons
(1964), orientam-se os meninos de uma forma instrumental, com ênfase
na competência e capacidade para a ação - respostas
impessoais - e as meninas para uma dimensão expressiva, com foco
na ternura e no bem-estar dos outros - respostas pessoais.
Kohlberg já
registrara, porém, há várias décadas, a importância
da interação contínua, isto é, apesar de as
atitudes dos adultos emergirem de uma aprendizagem infantil inicial, elas
configuram, a cada momento, uma reestruturação das concepções
e dos valores anteriores. Trata-se, pois, de uma avaliação
cognitiva gradativa e permanente do que é, ou não, adequado
como pauta de conduta, feminina ou masculina a ser seguida e não
de um modelo rígido a ser imitado através do ensinamento
direto, de prêmio-castigo, pelo acerto-erro da resposta ou da mera
observação das referências de cada gênero. A
experiência com o meio social estimularia, assim, uma reorganização
das concepções, conforme oportunidades e recompensas acompanhem
atitudes e comportamentos adotados como masculinos ou femininos.
No entanto,
em investigação contemporânea sobre crenças
e valores de adolescentes das camadas médias urbanas acerca da
família, do casamento, da separação e de projetos
de vida, foram evidenciadas diferenças relevantes entre meninos
e meninas (WAGNER, FALCKE E MEZA, 1997). Entre os jovens estudados, a
crença de que as pessoas se casam por amor e de que se separam
quando o amor acaba tornou-se consenso. Contudo, observa-se que essa crença
é predominante entre as meninas, realçando as diferenças
entre os gêneros. Os resultados obtidos, pois, nos permitiram concluir
que os aspectos relacionados aos sentimentos e à subjetividade
ainda se encontram mais associados ao sexo feminino, enquanto a praticidade
e a objetividade predominam nos padrões de relacionamento do sexo
masculino.
Também
em pesquisas sobre a construção da identidade conjugal no
casamento contemporâneo (FÉRES-CARNEIRO, 2001), encontramos
diferenças semelhantes entre homens e mulheres adultos. As mulheres
descreveram a escolha amorosa como “apaixonada” e como “amor
à primeira vista” e definiram casamento como “relação
amorosa”, realçando uma perspectiva romântica e subjetiva.
Por outro lado, os homens ressaltaram a “atração física”
na escolha amorosa e definiram o casamento como “constituição
de família”, enfatizando aspectos objetivos e práticos.
Resultados similares foram também observados em pesquisas anteriores
(MAGALHÃES, 1993; FÉRES-CARNEIRO, 1997).
Em relação
à identidade, consideramos a contribuição psicanalítica
um campo fértil para a compreensão de sua formação
e desenvolvimento, através da noção de identificação.
Por isso dela partimos para desenvolvermos a temática, pois concordando
com Tucker & Money (1981), entendemos que a identidade e o papel sexual
não são dois conceitos distintos, mas aspectos diferentes
- verso e reverso - da mesma questão. O papel expressaria publicamente
a identidade sexual e esta seria a experiência particular daquele.
Identificação,
por sua vez, compreende o processo através do qual se assimila
um aspecto, um atributo, uma característica, uma imagem, um traço
do outro e, segundo esta referência, se transforma. A identidade
se produz e se refaz através deste processo, ao longo da vida de
cada ser humano. Trata-se de um modo de constituição psicológica
segundo um outro.
Na perspectiva
psicanalítica freudiana, identificação foi apresentada
como “a mais remota expressão de um laço emocional
com outra pessoa” (FREUD, 1921, p.133). A fase fálica estaria
ligada à identificação das crianças aos pais
do mesmo sexo. O menino nutriria desejos de possuir a mãe, sendo
detido pela figura do pai - rival que o ameaçaria com a castração
e com o qual se identificaria para, em sendo como ele, um dia poder realizar
seu desejo em relação ao objeto amoroso.
A resolução
do conflito edipiano, na menina, passou por reformulações
(FREUD, 1905, 1923, 1924, 1925). No texto “Algumas conseqüências
psíquicas da distinção anatômica entre os sexos”,
o autor consolida a idéia de que, após a ligação
inicial com a mãe, comum aos dois sexos, será a própria
constatação de ser castrada como a mãe, e a conseqüente
“inveja do pênis”, que levará a menina a uma
identificação com ela. Ou seja, abandona-a como objeto sexual,
por não lhe ter proporcionado um pênis e volta-se para o
pai que lhe poderá dar, como o fez com a mãe, um filho-pênis,
caso se identifique com ela. E as figuras parentais introjetadas a partir
do Édipo abririam caminho para outros modelos culturais a serem
absorvidos, durante a vida.
De qualquer
forma, Freud (1921, p. 133) adverte: “a identificação,
na verdade, é ambivalente desde o início; pode tornar-se
expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do afastamento
de alguém”. E, dentre as várias revisões apresentadas
por seguidores da psicanálise a respeito do processo de identificação,
destacamos as colocações de Bleichmar (1988) e de Chodorow
(1990).
A primeira
propõe que este se opera por múltiplas vias pautadas pelos
ideais de masculinidade e feminilidade preponderantes na família
e na cultura em que se está inserido.
...desde as origens míticas, a identificação
acontece pela tomada do valor do modelo. A sintaxe, sobre a qual se
articula 'eu desejo ser como tu', deriva do fato que o tu é
avaliado, ainda no registro mais elementar, como possuindo uma qualidade
superior (BLEICHMAR, 1988, p. 47).
Porém, para esta autora, no desenvolvimento psicossexual da menina,
tal como sugerido por Freud, este modelo já estaria, em princípio,
comprometido com algum tipo de desqualificação, pois o
abandono do primeiro objeto amoroso teria se efetuado a partir de uma
desvalorização e não de uma proibição-interdição,
como no caso masculino. Em suas formulações, contudo,
ela enfatiza a identidade de gênero anterior ao reconhecimento
e aceitação da diferença anatômica entre
os sexos, ou seja, com a mãe toda poderosa da primeira infância
e que corresponde ao seu ego ideal feminino primário.
Nessa mesma
linha de argumentação, Chodorow (1990) afirmara também
que o período de simbiose entre mãe e filha é mais
intenso e demorado do que entre mãe e filho, além de constituir-se
a mãe, em nossa cultura, num modelo mais presente durante a infância,
enquanto o pai seria um modelo ausente. Esta condição
conduziria a processos de identificação distintos entre
os dois gêneros, isto é, a menina se encaminharia para
uma reprodução mais fiel de pautas de conduta materna,
posto que a distância e a ausência paterna favoreceriam
uma identificação mais diferenciada. Ou seja, o menino
aprenderia a ser homem sozinho, identificado com um “pai-herói”.
Assim, as mulheres teriam suas identidades marcadas pela condição
de serem mães (gerar e cuidar) e os homens pela condição
de não-pais.
De qualquer
modo, como sinaliza Laplanche & Pontalis (1983, p. 229): "O
ideal de ego é constituído por identificações
com ideais culturais não necessariamente harmonizados entre si".
E, tanto homens como mulheres, da infância ao envelhecimento,
tomam modelos de identificação variados e têm que
lidar com múltiplos papéis.
Consideramos
que, na série identificatória intrínseca ao processo
de constituição e de diferenciação da personalidade,
que principia na relação mãe-bebê e se prolonga
por toda a vida, cada membro significativo da estrutura familiar, e
mesmo da esfera social mais próxima, pode representar um elemento
importante. Em estudos sobre as influências da conjugalidade sobre
a subjetividade, analisamos como a experiência amorosa participa
nesse movimento de construção do “eu”, e como
os parceiros representam elementos significativos no processo de identificação,
realçando a idéia de que o sujeito não somente
repete padrões assimilados, mas também os recria. Dessa
forma, entendemos que modelos de identificação variados
estendem-se para além dos pais, transformando a subjetividade
a partir da possibilidade de recriar padrões introjetados (FÉRES-CARNEIRO
& MAGALHÃES, 2001; MAGALHÃES & FÉRES-CARNEIRO,
2003).
DINÂMICA
FAMILIAR ATUAL: MODELO ANTIGO X MODELO NOVO
Desde
duas décadas, um considerável número de estudos
psicossociais em nosso país dentre eles Figueira (1981, 1987,
1991), Magalhães (1993), Nolasco( 1993, 1995), Negreiros (1996),
Féres-Carneiro (1998) e Jablonski (1998), ao abordarem temas
como visão de mundo, representações sociais, apreensão
de valores, relações familiares, casamento, separação,
maternidade, e outros, inseridos nos segmentos médios urbanos,
atestam um fenômeno comum: a convivência de representações
tradicionais e modernas, a despeito da aparência de substituição
de modelos antigos por novos. A partir desses estudos, destacamos o
conceito de “desmapeamento”, desenvolvido por Figueira (1981).
Como o termo equivocadamente pode sugerir, não se trata de ausência
de mapas, mas da convivência conflituosa de dois modelos: um tradicional
e outro igualitário. Ou seja, o novo e o antigo convivem na subjetividade,
sem que o primeiro tenha substituído o segundo, como aparentemente
pode-se supor. No "modelo antigo" os dois sexos são
concebidos como "naturalmente" diferentes, tanto bio-psíquica
como socialmente. As identidades masculinas e femininas configuram-se
demarcadas com precisão - o que cabe a um exclui o outro, quer
em comportamentos, atitudes, sentimentos, inclinações
ou interesses.
O casamento
é considerado indissolúvel, monogâmico e ligado
à reprodução. Abriga duas ordens de responsabilidades
morais. A masculina é fundada na relação com o
trabalho e na virilidade - manutenção econômica
da família e atitude protetora para com os seus membros. A feminina
está calcada na preservação da sexualidade e no
exercício da maternidade - virgindade pré-nupcial, fidelidade
conjugal e dedicação ao lar e filhos. Na organização
familiar, verifica-se uma clara e explícita assimetria entre
homem-mulher e adulto-criança, os primeiros sendo porta vozes
da autoridade, detentores de saber e poder. A dimensão pública-masculina
é mais valorizada que a privada–feminina, e a participação
do homem ou da mulher na área pertencente ao outro é eventual
e descontínua. O ponto de equilíbrio se dá na aceitação
- acordo tácito - de que cada um deve fazer o melhor possível
em seus domínios excludentes.
O “modelo
novo" é marcado pelo fenômeno do individualismo, peculiar
dos grandes centros urbanos brasileiros e absorvido principalmente pelos
segmentos médios, onde o processo de modernização
se expandiu intensa e rapidamente, conforme afirma, entre outros, Velho
(1981, 1985, 1989). Duarte (1995) ao discutir esta questão, destaca
o conceito de ideologia familialista e pontua diferenças em relação
aos diversos segmentos sociais. Ressalta que a maior parte das afirmações
de senso comum relativas à família no mundo ocidental
moderno estão relacionadas às camadas médias que
muitas vezes se apresentam como vanguarda da individualização,
enquanto as camadas populares, que apresentam uma individualização
independente da ideologia familialista, ficam subordinadas às
necessidades da unidade doméstica, na qual destacam-se, sobretudo,
as estratégias de sobrevivência.
No
“modelo novo” de família, as fronteiras de identidades
entre os dois sexos são fluidas e permeáveis, com possibilidades
plurais de representação: mulher oficial de forças
armadas, homem dono-de-casa, mãe e pai solteiros, mulher chefe
de família, casais homossexuais masculinos ou femininos, parceiros
masculinos mais jovens, casal sem filhos por opção, produção
independente, bebê de proveta e demais possibilidades que a evolução
científica permite ou está em vias de possibilitar, tal
como a discutida clonagem humana.
A instituição
casamento já traz, em si, o embrião da dissolução
- desde a ligação informal e descomprometida até
o divórcio, crescentemente observado. A sexualidade dos parceiros
é desvinculada da reprodução ou de uma resposta
feminina ao desejo masculino. No interior da relação é
esperado que o homem seja, ao menos, um coadjuvante na criação
dos filhos e nas lidas domésticas, e que a mulher exerça,
no mínimo, um papel auxiliar quanto à economia da família.
As peculiaridades de cada membro do casal - companheiros nas obrigações
e prazeres - e as necessidades emergentes substituem a hierarquia por
sexo ou faixa etária. Ou seja, deveres e privilégios são
compartilhados, bem como é enfatizada a atenção
e pretendido o apreço aos desejos, às idéias e
aos projetos dos filhos - crianças ou adolescentes.
Verificamos
que os ideais e as expectativas veiculadas pelo “modelo novo”
de casamento e de família foram evidenciados em estudos sobre
ruptura e manutenção do casamento (FÉRES-CARNEIRO,
1995) e sobre a construção da identidade conjugal (FÉRES-CARNEIRO,
2001), apresentando diferenças entre homens e mulheres. Esses
ideais parecem ter sido mais absorvidos pelas mulheres, que manifestaram
freqüentemente expectativas igualitárias, enquanto os homens
mostraram-se mais apegados aos valores tradicionais. As mulheres apresentaram
ainda maior possibilidade de realizarem mudanças e também
de romperem o casamento do que os homens. Esses resultados podem sugerir
que as diferenças entre os gêneros, ainda hierarquizadas,
sobrecarregam as mulheres que expressam almejar renovações
e rupturas com as desigualdades de condições experimentadas.
A
partir dos estudos mencionados, podemos destacar alguns fatores que,
em seu conjunto, contribuíram para a expansão do "modelo
novo" de família, nas camadas médias urbanas brasileiras,
nas últimas décadas: o crescimento da economia, possibilitando
uma mobilidade social ascendente dos setores médios; a inserção
da mulher no mercado de trabalho, modificando o cotidiano familiar;
o poder do homem, baseado na relação econômica,
como único provedor, caindo em contradição; a escolaridade
crescente da mulher, ampliando o seu nível de compreensão;
os avanços da medicina, permitindo um controle efetivo da função
reprodutora; a rapidez da transmissão de informações
através da informatização e dos meios de comunicação
de massa, permitindo uma constante exposição aos novos
acontecimentos; mudanças jurídicas, garantindo direitos
à mulher; progressos científicos e tecnológicos,
abrindo espaços diversos.
A
mulher, ao ingressar no mundo do trabalho extra-doméstico, munida
de escolaridade superior - ora conseguida por abdicar do casamento,
ora obtida a custa de sua ruptura, ora perseverada dentro de sua manutenção
- filtrou valores herdados e reafirmou suas conquistas - direito à
cidadania, à sexualidade, à visibilidade científica,
literária e histórica. Mas qual o peso dos valores plantados
em suas raízes, nesta fase de sua existência? Se a mulher
alcançou um lugar no mundo masculino, garantiu também
seu espaço no que idealizou, em diferentes etapas de sua existência,
como feminino?
Em investigação
por nós desenvolvida com mulheres de meia idade com escolaridade
superior dos extratos médios urbanos (NEGREIROS, 1996), captamos
tensão entre esses registros identificatórios da "nova”
mulher, condizentes com a noção de “desmapeamento”,
formulada por Figueira (1981). Trata-se da consolidação
de uma identidade profissional, acoplada a papéis masculinos,
em contraposição a uma nostalgia narcísica da grande
mãe sábia, generosa, transmissora do afeto e do poder,
tal como uma imagem mítica, representante da segurança
e do equilíbrio, uma fonte inesgotavelmente procurada. Os discursos
da “nova” mulher expressaram, além de sentimentos
de culpa pela dificuldade de conciliação de interesses
extra-domésticos e realizações na dimensão
pública com os papéis femininos internalizados, uma aspiração
de volta, algo mágica, ao mundo privado, de resgate de um “reinado”
no lar, para obter paz, aconchego e plenitude.
Supomos,
pois, que ligações com raízes tradicionais, ainda
presentes, abalem os novos alicerces e façam com que experiências
da vida adulta, tanto de homens como de mulheres, tornem-se passíveis
de serem sentidas como insatisfatórias, contendo esforços
vãos, incertezas, desconfortos, relacionamentos efêmeros
e frustrantes, separações, competição e
solidão. Nem a mulher encontra o seu “príncipe encantado”,
na forma de pai protetor, nem o homem conquista a sensual parceira,
que também seria mãe acolhedora.
Olhando
para trás, no entanto, diante do testemunho feminino das gerações
anteriores - via observação direta nas próprias
famílias, ou indireta por meio da literatura, cinema, televisão,
etc - o "antigo" não se apresenta como uma perspectiva
atraente. Não é difícil constatar que a assimetria
de direitos e deveres foi uma “cruz” que as antepassadas
tiveram que carregar. Retroagir ao modelo anterior, assim, seria inconcebível.
O destino da mãe precisa, antes de tudo, ser evitado.
É
como se a "nova” mulher vivesse o paradoxo de uma terceira
opção idealizada e inacessível. Os dois modelos
- antigo e novo - configuram-se testados e desaprovados, muito embora
nem o primeiro jamais tenha sido por ela vivido em seu formato original
(face às transformações ocorridas), nem o segundo
sequer tenha conseguido se instalar mais efetivamente (novos papéis
da mulher como geradora de renda substantiva não foram, por exemplo,
acompanhados por novas atribuições domésticas e
paternas dos homens, no cotidiano). O incômodo resulta provavelmente
da ambivalência em relação aos dois - há
uma percepção de inadequação das tradicionais
pautas de conduta quanto às requisições do presente,
mas, por outro lado, os padrões que as substituíram parecem
não trazerem a almejada sensação de gratificação,
isto é, antes são percebidos como pesados, frustrantes,
incompletos.
Quanto ao
“novo” homem, em seus estudos sobre a masculinidade, Nolasco
(1993, 1995, 2001) refere-se à banalização das
representações sociais masculinas, como opostas às
novas representações femininas (assim como também
de negros e de homossexuais). Essas representações teriam
passado a ocupar o lugar de “inimigo”, impedindo a dialética
do esclarecimento. Como alternativas para este impasse, o autor ressalta
a desconstrução da virilidade truculenta (interpretada
como possível dúvida sobre a identidade sexual do homem,
comprometido em provar e prover) e a construção da paternidade.
Esta última não apenas no sentido clássico de proteção
material e moral - incumbência masculina do pai - mas com uma
“possibilidade de ampliação de suas dimensões
internas e de renovação de sua relação com
a vida” (NOLASCO, 1993, p.170)
FIM
DA FAMÍLIA?
Vários
autores sinalizam que, na sociedade atual, fomenta-se o sujeito auto-absorvido,
competitivo, eterno produtor-consumidor, que acaba por adotar uma forma
hedonista e materialista, na qual viver significa procurar sensações
prazerosas e imediatas, sem medir os meios e as conseqüências.
Lasch denuncia esta cultura predatória em dois momentos de sua
obra. No primeiro denominando-a "cultura de sobrevivência",
pelo desamparo e impotência típicos do que chamou de "mínimo
eu" (Lasch, 1984). No segundo, apontando a precariedade da estrutura
e dinâmica da família, ou, nas suas próprias palavras:
A situação da família espelha
assim a situação da sociedade como um todo que criou
uma sensação sempre presente de ameaça e reduziu
a vida social a um estado de guerra, freqüentemente empreendido
sob a aparência de uma cooperação amistosa. (LASCH,
1991, p. 204).
Viver
numa cultura orientada para o lucro, para o novo e para o belo significa
também alimentar a insegurança e o temor, isto é,
a realidade externa traz à tona os fantasmas da realidade psíquica.
Paira, neste cenário, uma ameaça de ruptura, de efemeridade,
com empobrecimento das relações humanas. A família
extensa – avós, pais, filhos, tios, sobrinhos e demais
parentes e agregados - transformou-se em um pequeno núcleo –
pais e filhos e daí para lares de mãe e filhos ou para
o casal sem filhos, ou ainda, para os crescentes lares unipessoais.
Quanto ao universo afetivo e sexual, as dificuldades se ampliam, pois
sensações prazerosas e imediatas elevaram-se, nesta sociedade
narcisista e neófila, à categoria de valor máximo.
Todos os amores são descartáveis e renováveis -
amigos, companheiros, parentes.
Os adultos
vêem sua geração premida por valores assumidos pela
anterior, a de seus pais, que se ampara nos "direitos adquiridos"
frente aos filhos e pela posterior, a de seus filhos, criados num contexto
de relações familiares mais igualitárias. O que
antes era validado como direito inquestionável, hoje se inverte,
sendo até passível de ser rotulado como neurose e/ou imaturidade
de pais exacerbadamente reinvindicadores ou excessivamente possessivos,
a exemplo de difundidos clichés de mãe “simbiótica”,
pai “castrador”, etc. Assim, ao cumprir papéis paradoxais,
a “nova” mulher e o “novo” homem precisariam
se comportar à antiga, disponíveis e atentos para seus
pais e avós, e mostrarem-se atualizados e desprendidos diante
de seus filhos. Assim sendo, se por um lado estão presos a uma
crença na autonomia econômica e psicológica do adulto,
por outro vivenciam a dependência típica da relação
intergeracional, quando há pais mais velhos e frágeis,
filhos pequenos ou enfermos na família. E se os adultos arcam
com despesas e providências dos dependentes, certamente cuidados
mais intensos pesarão mais sobre o grupo feminino, que fica mais
exposto às dificuldades domésticas cotidianas.
Em estudo
recente (NEGREIROS, 2002), discutimos como num panorama sócio-cultural
de mudanças aceleradas, já não há um lugar
social definido para os mais velhos. E o mais incrível não
é a construção desta etapa por uma geração,
mas as redefinições dos espaços públicos
e privados que isto envolve. Se antigamente a tradição
e a continuidade de papéis sociais calcavam-se em modelos das
gerações precedentes, hoje em dia, em nossa sociedade
descontínua, são as novas gerações que tendem
a ser imitadas pelos mais velhos, em vestuário, exercícios
físicos, locais da moda, eventos socioculturais, etc... E, ainda,
desfaz-se a rede de apoios solidários e estáveis que assegurava
aos mais velhos um novo status - o de avós - após a aposentadoria
pública (do trabalho) ou doméstica (saída dos filhos
de casa). O potencial poder familiar dos idosos estará, senão
nulo, diminuído, diante de outros agentes educacionais, médicos
e psicológicos aos quais será confiado o neto. Os que
estão envelhecendo, conseqüentemente, procuram manter um
“apogeu idealizado”, deixam a desqualificada posição
de avós para a geração dos bisavós, tentam
viver uma “eterna meia-idade”, até que, com o passar
dos anos, uma temida enfermidade física ou psíquica inviabilize
a pretendida autonomia.
Os adultos, ocupados em produzir e consumir, não têm disponibilidade
para o cuidado e atenção com os idosos, os doentes, tampouco
com as crianças. Ainda que estas funções estejam
localizadas na esfera feminina, as mulheres, ao se deslocarem para o
mundo masculino, subtraem esses encargos da forma que lhes é
possível. Portanto, creches, hospitais, asilos acolhem os “fardos”
insuportáveis à dinâmica familiar. Assim, o lar
como unidade de afeto e abrigo, espaço de amor, solidariedade
e segurança, parece que está dissolvendo-se. Mas não
se pode concluir daí, como nos diz Castells (1999), que chegamos
ao fim da família. O que se dissolveu foi a família idealizada.
A regra é a diversidade e a solicitação é
a criatividade de pautas de conduta, sem um referencial de apoio ou
um modelo a seguir. Ou seja, o adulto tem que inventar sua maturidade,
como o jovem sua juventude, a criança sua infância e o
idoso seu envelhecimento, através de fragmentos de modelos identificatórios
renováveis, sem um roteiro a seguir.
Muitas vezes
esta família idealizada é atualmente procurada em grupos
religiosos ou grupos de mútua ajuda, tais como os alcoólicos
anônimos e demais inspirados neste, os quais proliferam nos centros
urbanos. Através deles, busca-se uma estrutura de apoio e de
laços afetivos que promovam uma identificação entre
os participantes e que funcione como um espaço coletivo (família
imaginária) de proteção e afirmação,
para recodificar representações e redimensionar valores.
Outras vezes é através de várias modalidades de
psicoterapia (incluindo a familiar), que se tenta o resgate dessa idealização.
De qualquer
modo, o fato é que novas configurações familiares
estão sendo vivenciadas e ainda é cedo para avaliar os
resultados. Há várias crianças e adolescentes criados
em famílias há pouco concebidas como marginais ou mesmo
inconcebíveis – a exemplo de casais homossexuais que adotam
ou inseminam artificialmente um filho. Ou de mães tardias, que
evitaram a maternidade na idade fértil, quando estavam por demais
ocupadas com sua inserção e ascensão profissional.
Ou ainda, de adultos que voltam aos lares paternos após casamentos
dissolvidos, com ou sem filhos, por razões econômicas,
e mais um sem número de arranjos complexos, para além
de um grupo estável constituído por esposos e filhos,
ordenados por obrigações legais e orientados para scripts
previsíveis. Os grupos familiares atuais convivem com uma flexibilidade
de papéis masculinos e femininos e traduzem arranjos mais ou
menos improvisados para dar conta da multiplicidade de tarefas e de
afetos a elas subjacentes – amor, ódio, medo, esperança,
raiva, inveja, respeito, culpa e todo um arco-íris de sentimentos
advindos de um convívio próximo e potencialmente dissolúvel.
O que presenciamos
hoje é a mudança no próprio conceito de família
e a transformação do “masculino” e do “feminino”.
A divisão de papéis constituinte do “modelo antigo”
onde o homem é o provedor e a mulher é a responsável
pela casa e pelo cuidado dos filhos não perdura no modelo atual
de família. Em pesquisas anteriores realizadas com segmentos
médios da população (FÉRES-CARNEIRO, 1987,
1995) encontramos em diversas famílias mulheres com ganhos financeiros
superiores aos dos homens. E, no entanto, consideramos que em alguns
casos nem sempre se confirma o dito popular “quem traz a grana
manda na choupana”, pois quando é a mulher a principal
provedora, a culpa pelo exercício de “papéis masculinos”
pode ser um fator de manutenção do status-quo.
De qualquer
modo, na transformação do conceito de família,
vários mitos da família organizada, próspera e
feliz estão se desfazendo. Mas ainda é cedo para avaliarmos
os resultados de tantas e tão diversificadas relações
familiares num mundo plural e complexo como o atual. Neste trabalho,
calcado em pesquisas contemporâneas realizadas com sujeitos oriundos
dos segmentos médios de grandes centros urbanos, especialmente
da cidade do Rio de Janeiro, e com o apoio de abordagens teóricas
da Psicologia clássica e de suas revisões, não
pretendemos tecer generalizações ou conclusões
apressadas e equivocadas. Apenas tentamos chamar atenção
para mudanças na relação homem-mulher na atualidade
e suas implicações nos contextos familiares estudados.
E, principalmente,
entendendo gênero como expressão cultural de diferenças
entre os sexos, constituindo-se pois num produto social, aprendido,
representado e transmitido ao longo de gerações, buscamos
ressaltar dois pontos básicos: o primeiro diz respeito à
aparência moderna que muitas vezes encobre emoções
antigas e posturas conservadoras; o segundo assinala que não
precisamos ter uma visão catastrófica nem utópica
sobre a família de hoje. É importante manter uma postura
crítico-reflexiva e não preconceituosa sobre as novas
configurações familiares, na medida em que as novas famílias
estão abrindo mão de uma dimensão maniqueísta,
que opõe masculino e feminino, o que sem dúvida pode contribuir
para o estabelecimento de uma nova ótica e de uma nova ética
das relações entre homens e mulheres no contexto sócio-familiar
contemporâneo.
NOTAS
* Professora Assistente – Doutora em Psicologia Clínica
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
– PUC-Rio.
** Professora Titular – Doutora em Psicologia Clínica da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro –
PUC-Rio
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ABSTRACT
This paper has the aim of discussing issues regarding gender roles
in contemporary family relationships, where “new” and
“old” family models coexist, highlighting the tension
existent in the identifications of the “new” woman and
the “new” man. In accordance with theoretical contributions
stemming from the areas of social psychology and psychoanalysis,
we use the concepts of role, identity, ideals, identification and
expectations to understand changes in the family, as well as the
transformation of masculinity and femininity in contemporary society.
KEYWORDS
Gender roles; identification; family.
Recebido em: 02/09/03
Aceito para publicação em: 04/08/04
E-mail: teresagoes@openlink.com.br, teferca@psi.puc-rio.br
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