Contribuição do Leitor

O ECOFEMINISMO

EDUARDO BELTRÃO DE LUCENA CÓRDULA é Especialista em Supervisão Escolar, licenciado em Biologia pela UFPB, professor de Ciências na Prefeitura Municipal de Cabedelo/Paraíba, Pesquisador das ONG’s Maré Produções Artisticas e Educacionais e Mar.

GLÓRIA CRISTINA CORNÉLIO DO NASCIMENTO éMestranda da UFPB, licenciada em Biologia Técnica Ambiental, Pesquisadora da ONG Mar, atua nas áreas de ensino, pesquisa, gestão e desenvolvimento do meio ambiente.


Resumo: O mundo contemporâneo passa, ainda, por problemas seculares e até mesmo milenares, desde questões socioeconômicas e culturais a questões ambientais planetárias, que desequilibram a vida e esgotam os recursos naturais da Terra. Porém, em meio a tudo isto, um movimento vem ganhando espaço, desde a década de 70, desenvolvendo a essência da feminilidade humana, na transformação do meio ambiente, com vistas à sustentabilidade. O Ecofemismo vem na busca de qualidade de vida social e ambiental, na gênese da preservação, conservação dos nossos recursos naturais e consequentemente, da vida.
Palavras-chave: meio ambiente; ecofeminismo; sociedade.

THE ECOFEMINISM

Abstract: The contemporary world is still a secular problems and even millennia, from social issues related socioeconomic and cultural issues, reaching planetary environmental issues that disrupt the life and deplete the earth's natural resources. But amid all this, a movement has been gaining ground since the 70's to develop the essence of femininity in human transformation of the environment towards sustainability. The Ecofemismo comes in search of quality of life and social environment, the genesis of preservation, conservation of our natural resources and hence life.
Keywords: environment, ecofeminism; society.

Misoginia e a Mulher

Segundo a epistemologia da palavra, misoginia significa aversão e desprezo às mulheres (HOLANDA, 2010). Esta patologia sociocultural, oriunda de algumas culturas da antiguidade, ainda está presente na contemporaneidade, principalmente, nas culturas orientais, como a exemplo da China (DIAS, 2012).

Segundo Vernant (2000), a misoginia surge na cultura Grega, com a dominação do gênero masculino sobre o feminino sendo perpetuada, ao longo dos séculos. Mesmo durante a modernização social e com o surgimento dos movimentos de igualdade de gêneros, ainda há resquícios de misoginia na sociedade contemporânea. Para Garcia, uma parábola de valores de gêneros, ilustra a misoginia na atualidade, onde o homem é concebido por muitas culturas como a semente e a mulher o vaso (GARCIA, 2012). Esta concepção menospreza o ser feminino do seu valor como ser humano e como progenitora da humanidade, mantendo a patologia de dominação dos gêneros.

Na sociedade medieval, o papel e o espaço a ser ocupado pelas mulheres eram definidos previamente pelos homens. Elas tinham sua existência determinada pelo controle masculino e estavam sempre sob sua tutela. As esposas, as filhas e as sobrinhas estavam sempre submetidas ao poder do pai, do irmão, do tio ou de qualquer outro homem que assumisse a responsabilidade sobre elas (PEREIRA, 2012, p.01).

Porém, em uma visão humanista “holostêmica”, considera-se que a mulher é muito mais que o vaso, e junto com o homem tem a função vital de desenvolver e proteger a vida antes, durante e depois da concepção (CÓRDULA, 2012).

Feminismo

Os preconceitos de gênero têm sua gênese na cultura Grega e são evidenciados nas obras, principalmente literárias, onde os ideais das entidades masculinas e femininas não são vistos apenas como gêneros, mas como duas essências, duas energias distintas e poderosas (DIAS, 2012). Para eles, o arquétipo feminino é simbólico, mas representado por Gaia – planeta Terra – como oriunda da essência masculina Kháos (Caos) que é o seu oposto. Gaia nasce de Kháos, mas ela é nítida, firme e estável (equilíbrio) e esta concepção é utilizada para idealizar a necessidade de subjugar o sexo feminino, em virtude de sua oposição ao poder e domínio de Caos (VERNANT, 2000).

Por volta do século XX, com as novas concepções psicológicas e filosóficas sobre o ser humano, a sociedade, a natureza e a ciência, a humanidade começa a reconhecer os direitos femininos e, temos o início dos movimentos da Revolução Feminista, que culminam na conquista de direitos políticos, trabalhistas e sociais (SALLEH, 1992).

Ecofeminismo

Como tudo que evolui na sociedade humana, as questões feministas também não seriam diferentes e as mulheres, naturalmente, acabariam por fazer mais pela sociedade, despontando movimentos em que a essência feminina viria a mudar paradigmas e paradoxos na contemporaneidade (DIAS, 2012; GARCIA, 2012).

Como destaque, o Ecofeminismo busca atuar dentro das questões ambientais, tanto locais como globais, em prol de um meio ambiente sustentável e equilibrado (PEREIRA, 2006). Este movimento surgiu na década de 70, do fato das mulheres vinculadas a movimentos feministas se cansarem de esperar da sociedade um maior olhar/cuidado com as questões que envolvem o meio ambiente (SALLEH, 1992). O ecofeminismo veio como expressão da essência feminina e sugere a existência de uma estreita relação entre a emancipação das mulheres e a luta pela preservação da natureza (DIAS, 2012). As ideias deste movimento vieram recompor a visão cartesiana e mecanicista do mundo que dicotomiza o ser humano do planeta, onde o primeiro entende que é dominador do segundo, e em virtude disto, passa a consumir desenfreadamente todos os seus recursos, causando os graves problemas ambientais da atualidade (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012).

Segundo Garcia (2012), este movimento ambientalista não vem apenas como expressão de um manifesto feminino, mas sim, de todos os seres humanos que buscam um maior entendimento com as questões naturais, em virtude das essências vitais envolvidos no despertar da consciência planetária (GARCIA, 2012).

O Ecofeminismo representa uma mudança de paradigma na condição da vida de dominação seja das mulheres, ou seja, da natureza, uma vez que possuem como objeto a criação de uma comunidade interligada e sem o patriarcado ou outras formas de hierarquia (DIAS, 2012, p.04)

O ecofeminismo não se preocupa apenas com as mulheres, mas também com os menos favorecidos: raças, gêneros, etnias, organismos e todos que, de algum modo, vivem sobre julgo de formas de opressão e dominação por essa matriz com lógica dualista (cartesiana mecanicista) (DIAS, 2012). Portanto, é perceptível que esta ideologia vem como protagonista para superar a crise ecológica em que vivemos, não só pelo aspecto natural mas também social, pois estaremos levando as civilizações atuais a repensar seus paradigmas, e a adotar visões de igualdade, para tentar a reconciliação com o natural e com todas as formas de vida existentes neste planeta (SALLEH, 1992). O ser humano tem que compreender a complexidade do todo do qual fazemos parte, desconstruindo o falso dogma instituído pelo modelo socioeconômico capitalista e androcêntrico que foi enraizado há séculos nas sociedades (GARCIA, 2012; CÓRDULA, 2011).

CONCLUSÃO

Notadamente, vemos que o papel da mulher, ao longo da história da humanidade, mesmo passando por uma dominação patriarcal machista, vem libertando-se a cada dia e conquistando seu espaço na sociedade, mudando conceitos, concepções, culturas e dando ao ser humano sua essência feminina. O ecofeminismo nos trás a perspectiva de um movimento igualitário, ético, com valores em mudança e pode trazer luz a paradigmas enfrentados na contemporaneidade, principalmente, diante de questões ligadas à problemática ambiental emergente. Sua contribuição será primordial na revitalização de uma sociedade sustentável e na construção de um futuro equilibrado e em consonância com o meio ambiente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÓRDULA, E. B. L. A Natureza Sistêmica da Realidade: em busca de uma percepção sustentável para a humanidade. Revista Educação Ambiental em Ação, Novo Hamburgo-RS, Ano X, N° 36, ju.-ago./2011. Disponível em: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1049&class=02. Acesso em: 14 jun. 2011.

______. Ser Humano Holostêmico. Cabedelo, PB: EBLC, 2012, 46p.

CÓRDULA, E. B. L.; NASCIMETNO, G. C. C. Modismos em Educação Ambiental. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, n° 41, out. 2012. Disponível em: http://educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/meioambiente/0035.html. Acesso em: 24 out. 2012. 

DIAS, T. L. P. Os Princípios do Ecofeminismo. Disponível em: http://www.nipeda.direito.ufba.br/artigos/pdf/osprincpiosdoecofeminismo.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

GARCIA, L. G. Ecofeminismo – a teoria das conexões. Material Didático da Disciplina de Sociedade e Natureza/2012, Mestrado-PRODEMA/UFPB, 48p.

HOLANDA, A. B. Dicionário da Língua Portuguesa. 8ª ed. Curitiba, PR: Positivo, 2010.

PEREIA, K. R. S. A Misoginia nos Lais de Marie de France. In: JAIRO CARVALHO DO NASCIMENTO, J. C.; BLUME, L. H. S. III Encontro de História: poder, cultura e diversidade.  Caetité, BA: UNEB, 2006, Anais... Disponível em: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_III/katia_rosane.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

SALLEH, A. Ecosocialismo-Ecofeminismo. NUEVA SOCIEDAD, N° 122, Noviembre-Diciembre/1992, p. 230-233. Disponível em: http://nuso.org/upload/articulos/2190_1.pdf. Acesso em: 16 abr. 2012.

VERNANT, J. P. O Universo, os Deuses, os Homens. São Paulo:Companhia das Letras, 2000, 209p.

Recebido: 30/07/2012
Aceito: 05/12/2012

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