Contribuição do Leitor

DIAGNÓSTICO DAS VULNERABILIDADES DO AÇUDE DE BODOCONGÓ A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS

MONALISA CRISTINA SILVA MEDEIROS é Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestranda em Recursos Naturais – UFCG.

JOSÉ ADAILTON LIMA DA SILVA é Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestranda em Recursos Naturais – UFCG.

JANIERK PEREIRA DE FREITAS é Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande. Mestranda em Recursos Naturais – UFCG.


Resumo: O presente estudo tem como objetivo diagnosticar as vulnerabilidades da bacia hidrográfica do açude de Bodocongó (Município de Campina Grande – PB), buscando identificar e caracterizar as percepções dos atores sociais atuantes na área e em seu entorno, bem como analisar seus reflexos na realidade local. O método se baseou nos pressupostos da pesquisa qualitativa. A coleta de dados foi realizada a partir de entrevistas semi estruturadas com os moradores do entorno do açude. Constatou-se que, na percepção dos mesmos, o manancial é um ambiente totalmente degradado, em virtude das ações praticadas pela própria população e da ausência do poder público. Verificou-se a necessidade de medidas urgentes que visem à recuperação do açude, com objetivo de proporcionar um ambiente equilibrado, que traga benefícios para o meio ambiente físico, assim como para a população que outrora usufruiu os seus recursos naturais.
Palavras-chave: Diagnóstico, vulnerabilidades, percepção.

DIAGNOSIS OF THE VULNERABILITIES FOUND AT BODOCONGÓ DAM FROM THE POINT OF VIEW OF SOCIAL ACTORS.

Abstract: The present study aims to diagnose vulnerabilities basin weir Bodocongó, seeking to identify and characterize the perceptions of social actors working in the area and its surroundings, as well as analyze its effects on local reality in the city of Campina Grande - PB. The methodology used was based on assumptions of qualitative research where data collection was conducted from semi-structured interviews of residents who live around the pond. It was found that, in the perception of them, the fountain is an environment totally degraded because of actions taken by the population and lack of performance of the government, thus requiring urgent measures aimed at recovery of the reservoir, in order to provide a balanced environment, which brings benefits to the physical environment, as well as for the population once enjoyed natural resources.
Keywords: Diagnosis, vulnerabilities, perception.

INTRODUÇÃO

Desde sua fundação, a cidade de Campina Grande tem passado por problemas de abastecimento de água. O açude de Bodocongó foi criado como uma alternativa para a escassez de água, tendo sido de extrema importância para a sobrevivência de comunidades rurais próximas, servindo principalmente para uso domésticos e limpeza pessoal.

Diante dos elevados níveis de comprometimento ambiental que se observa atualmente no açude de Bodocongó, surgem a preocupação e a necessidade de observar a realidade e diagnosticar as vulnerabilidades ambientais, para uma melhor visualização das problemáticas encontradas na área. Embora os fatores naturais também transformem o espaço, esses processos naturais têm sido intensificados pela ação do ser humano, gerando impactos negativos ao meio ambiente físico e danos muitas vezes irreversíveis. Este estudo busca diagnosticar as vulnerabilidades da bacia hidrográfica do açude de Bodocongó, procurando identificar e caracterizar as percepções, interesses e ações dos diferentes atores sociais atuantes na área e em seu entorno, bem como analisar seus reflexos na realidade local.

Gestão dos recursos hídricos

Os problemas de escassez hídrica no Brasil, de acordo com Barbosa (2007), são oriundos, basicamente, da não adoção do modelo de gestão integrada, do crescimento exagerado das demandas que levam à degradação da qualidade da água e do modelo econômico insustentável. Tal situação é agravada nas áreas em que ocorre irregularidade das chuvas, e onde a qualidade da água vem sendo comprometida pelo aumento desenfreado da poluição das mananciais. Diante disto, é essencial uma gestão destes recursos, a fim de proporcionar um gerenciamento adequado, ou seja, um uso racional sustentável.

Assim, surge a necessidade do manejo integrado e gerenciamento de Bacias Hidrográficas. De acordo com Rocha e Kurtz (2001):

As partes técnicas e científicas usadas na montagem e na execução do Projeto Integrado, como, por exemplo, as realidades científicas das metodologias usadas na elaboração dos diagnósticos. E o gerenciamento de uma Bacia Hidrográfica refere-se às partes administrativas e políticas relativas ao Projeto Integrado. O Projeto Integrado de Manejo de Bacias Hidrográficas uma proposta educativa e corretiva para recuperar o meio ambiente deteriorado, sugerindo as melhores alternativas para a proteção e conservação da natureza, melhorando substancialmente a qualidade de vida do homem e da sociedade, permitindo o uso científico contínuo dos recursos naturais (p.7).

A gestão de recursos hídricos é definida como o conjunto de ações destinadas a regular o uso, o controle e a proteção dos recursos hídricos, em conformidade com a legislação e normas pertinentes. Ela integra projetos e atividades, com o objetivo de promover a recuperação e a preservação da qualidade e quantidade dos recursos das bacias hidrográficas brasileiras, e atua na recuperação e preservação de nascentes, mananciais e cursos d'água em áreas urbanas (AESA, 2012).

Castro (2005) ressalta que a gestão dos recursos procura planejar e administrar a água para que todos tenham acesso, interpretando a água de acordo com o conceito de desenvolvimento sustentável, procurando compatibilizar, cada vez mais, as demandas e ofertas dos recursos hídricos, para atender esta e às futuras gerações.

No Brasil, na década de 90, foi promulgada a Lei Federal n° 9.433 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Barbosa, 2007).

Percepção e vulnerabilidade ambiental

Segundo Tuan (apud Filho, 2010), a percepção é uma resposta tanto dos sentidos aos estímulos ambientais (percepção sensorial), como da atividade mental resultante da relação com o ambiente (percepção cognitiva), de modo que traz ao indivíduo novos dados para compreender o seu entorno e estabelecer relações com o ambiente.

Pesquisar a percepção ambiental de uma comunidade é muito importante para compreender a relação cognitiva e emocional desta com a unidade ecossistêmica. De acordo com Souza (2009), a percepção ambiental pode ser utilizada para avaliar a degradação ambiental de uma determinada região, pois o aporte da percepção fenomenológica pode proporcionar subsídios para a compreensão da realidade vivida pelos indivíduos.

O acúmulo de conhecimentos sobre o perceber do ambiente pelo ator social, suas concepções e os modos de utilizá-lo, torna-se uma ferramenta necessária para que haja, futuramente, uma transposição do saber científico, buscando a melhor maneira de diminuírem prováveis impactos causados por suas atividades, melhorando as relações entre o homem e o seu meio (Souza, 2009).

Vulnerabilidade ambiental pode ser compreendida como o risco de degradação do ambiente natural, podendo estar relacionada a diversos fatores como: a erosão do solo, perda de biodiversidade, assoreamento, contaminação do recurso solo/água, dentre outros (Costa; Uzeda; Fidalgo; Lumbrelas; Zarone; Naime & Guimarães, 2007).

Aspectos metodológicos da investigação

O açude de Bodocongó está localizado na área urbana do município de Campina Grande, na mesorregião do Agreste Paraibano, zona oriental do Planalto da Borborema, na bacia do Médio Paraíba; com latitude sul de 07º 13’ 50” e longitude oeste de 35º 52’ 52”. Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico, para embasamento teórico e entendimento aprofundado sobre o tema.

O presente trabalho consiste em um estudo de caso de abordagem quanti-qualitativa, com coleta de dados, pesquisa de campo e realização de entrevistas semi estruturadas (MARCONI; LAKATOS, 2005).

Análises dos resultados

A pesquisa de cunho qualitativo contou com a entrevista de 15 pessoas que residem nas proximidades do açude, tendo em vista que os mesmos conhecem e vivenciam a realidade. Inicialmente, abordou-se questões gerais sobre o meio ambiente. Verificou-se que 100% dos entrevistados se preocupam com os problemas ambientais, por perceberem que eles influenciam na vida do ser humano, podendo trazer prejuízos aos mesmos. Destes, 73% identificam os problemas que seguem apresentados abaixo.

Gráfico I
Gráfico I
Fonte: Pesquisa de Campo, 2012

Observou-se que 73% sabem o que é um manancial, e destes, 67% reconhecem e sabem qual manancial passa mais próximo de sua residência. Outro dado importante, é que 77% nunca participaram de atividade de Educação Ambiental. As atividades educativas de que participaram os 33% restantes incluem ações relacionadas justamente ao açude de Bodocongó, como as manifestações e reivindicações ocorridas em protesto para uma melhoria do ecossistema. Ou seja, nesta comunidade nunca foi desenvolvido nada que, de fato, pudesse leva-la a ter consciência do uso correto dos recursos naturais e dos problemas que afetam a região. Sem esta consciência, a população acaba deteriorando o espaço, muitas vezes, sem perceber os transtornos que sua ação trará ao meio ambiente físico e à população que ali reside.

No tocante às questões abertas, foram realizadas sete perguntas. A primeira, sobre a importância do açude para a cidade e a população. Constatou-se que muitos percebem que, apesar do nível de deterioração, o mesmo ainda é importante para cidade, por fazer parte da história da mesma, dentre outros fatores. Porém, há também aqueles que não percebem mais nenhuma utilidade do açude.

Quanto aos problemas ambientais identificados, observam-se vários impactos no açude, causados por ações antrópicas, como mostra gráfico abaixo.

Gráfico 2
Gráfico 2
Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

Questionados sobre os responsáveis pela situação que o manancial se encontra, atualmente, os entrevistados afirmam que a responsabilidade é dos governantes (60%), e outros afirmam que a culpa também é da própria população (73%), sobretudo por despejar resíduos sólidos no próprio açude, ou no entorno.

Quanto à qualidade da água, todos percebem como péssima (73%) e ruim (27%), em virtude do mal uso que veio se fazendo, ao longo dos anos, em grande parte, pela própria população, e pelas atividades ilegais desenvolvidas no local. O último questionamento foi com relação às possíveis sugestões para melhorar o ambiente. Os entrevistados apontam algumas alternativas como: manutenção (7%), conscientização da população (13%), despoluição das águas (20%), dragagem (33%), projeto de urbanização (40%), fiscalização (40%) e revitalização (47%).

Considerações finais

De maneira geral, observa-se que, atualmente, o açude de Bodocongó é um ambiente totalmente degradado, em virtude das ações antrópicas ocorridas ao longo dos anos. Os seus recursos foram intensamente explorados, sem nenhum manejo ou cuidado. Esta situação é relatada claramente por quem reside no local, por aqueles que acompanharam e continuam acompanhando este processo. Ainda hoje, mesmo com o pouco potencial que ali existe, algumas atividades são praticadas, contribuindo para a deterioração total do manancial.

Esta realidade evidencia a necessidade de medidas urgentes por parte do poder público, que visem à recuperação do açude. Os moradores que vivem tal realidade apontam várias sugestões, dentre elas a realização do projeto de urbanização. Deste modo, é necessário de fato vontade e interesse político, para que os estudos que já existem, assim como o que foi aqui apresentado, saiam do papel e sejam concretizados, a fim de possibilitar a recuperação do manancial, trazendo benefícios também à população.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AESA- Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Gestão de Recursos Hídricos no Estado da Paraíba. Disponível em: http://www.aesa.pb.gov.br/gestao/. Acesso em: 12 de abril, 2012.

BARBOSA, E. M. Introdução ao Direito Ambiental. Campina Grande: EDUFCG, 2007.

CASTRO, L. C.. A gestão dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do alto Iguaçu – PR. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Geografia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2005.

COSTA, T. C.C.; UZEDA, M.C.; FIDALGO, E.C.C.; LUMBRERAS, J.F.; ZARONE, M.J.; NAIME, U.J.; GUIMARÃES, S.P. Vulnerabilidade ambiental em sub-bacias hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro por meio de integração temática da perda de solo (USLE), variáveis morfométricas e o uso/cobertura da terra. Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 2007.

FILHO, L.V. da S. Qualidade e percepção ambiental: estudo de caso da bacia hidrográfica do Rio Passauna. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental). Universidade Federal do Paraná. Curitiba. Brasil, 2010.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

ROCHA, J. S. M. da; KURTZ, S. M. de J. M. Manual de manejo integrado de bacias hidrográficas. 4. ed. - Santa Maria: Edições UFSM CCR/UFSM, 2001.

SOUZA, A. H. F. F. Açude Jatobá I, Patos-PB: Colonização de invertebrados, usos e percepção ambiental dos atores sociais do seu entorno. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, 2009.

Recebido: 26/06/2012
Aceito: 03/11/2012

| ©2012 - Polêm!ca - LABORE | Contato (@) | <-- VOLTAR |