Contribuição do Leitor

INCLUSÃO SOCIAL: PROFESSORES PREPARADOS OU NÃO?

ELIZÂNGELA DE SOUZA OLIVEIRA
TALITA PEPES DA SILVA
MEYRECLER AGLAIR DE OLIVEIRA PADILHA
RAPHAELA DA SILVA BOMFIM
Graduandas do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Acre – Campus Floresta.


Resumo: A constituição Federal garante aos portadores de necessidades especiais o direito à educação de qualidade no ensino regular em instituições públicas de ensino. Entretanto, não há como incluir crianças com necessidades educativas especiais no ensino regular sem apoio especializado que ofereça aos professores orientação e assistência. O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre a preparação dos professores para receber em sala de aula os alunos com necessidades educativas especiais. A pesquisa foi realizada em duas escolas públicas, sendo uma de ensino fundamental e outra de ensino médio, ambas da rede estadual de ensino da cidade de Cruzeiro do Sul – Acre. A coleta de dados foi feita através de questionários aplicados aos professores que se encaixavam no perfil de amostra da pesquisa. Participaram desta pesquisa 20 professores, sendo 10 que lecionavam no ensino médio e 10 lecionavam no ensino fundamental. Os resultados mostram que alguns professores ainda estão despreparados para lidar com a educação inclusiva.
Palavras-chave: Educação, Inclusão, Professores.

SOCIAL INCLUSION: TEACHERS PREPARED OR NOT?

Abstract: The Federal Constitution ensures to the people with special educational needs the right to quality’s education in the regular education in the public schools. However, there is not how include children with special education needs in the regular education without specialized support that can offer to the teachers orientation and assistance. The present work aims to reflect on the preparation of teachers to receive in the classroom students with special educational needs. The research was realized in two public schools, one elementary school and one high school, both are state schools the city of   Cruzeiro do Sul – Acre. The survey of data was done trough of questionnaires to the teachers who fitted in the profile survey sample. The total number of teachers that participated this work was twenty, ten elementary school’s teachers and ten high school’s teachers. The results show that some teachers are unprepared to deal with inclusive education.
Keywords: Education, Inclusion, Teachers.

INTRODUÇÃO

A constituição Federal garante aos portadores de necessidades especiais o direito à educação de qualidade no ensino regular em instituições públicas de ensino. Contudo, sabe-se que os direitos constitucionais dessas pessoas não estão sendo respeitados, pois, a capacitação de professores para receber os alunos com necessidades educativas especiais é precária.

De acordo com Bueno (1999), “dentro das atuais condições da educação brasileira, não há como incluir crianças com necessidades educativas especiais no ensino regular sem apoio especializado, que ofereça aos professores dessas classes, orientação e assistência”. Assim a educação inclusiva é aquela que oferece um ensino adequado às diferenças e às necessidades de cada aluno e não deve ser vista lateralmente ou isolada mas, como parte do sistema regular. Para tanto, o quesito indispensável para a efetivação deste conceito é a formação adequada e contínua do professor (SANT’ANA, 2005; GLAT & FERNANDES, 2005).

A formação de professores é um aspecto que merece ênfase quando se aborda a inclusão. Muitos dos futuros professores sentem-se inseguros e ansiosos diante da possibilidade de receber uma criança com necessidades especiais na sala de aula. Há uma queixa geral de estudantes de pedagogia, de licenciatura e dos professores: “Não fui preparado para lidar com crianças com deficiência” (LIMA, 2002, p.40).

Acredita-se que a formação docente e a busca da qualidade do ensino para crianças com necessidades educativas especiais envolvem, pelo menos, dois tipos de formação profissional: a primeira é a dos professores do ensino regular que conte com o conhecimento mínimo exigido, uma vez que há a possibilidade de lidarem com alunos com “necessidades educativas especiais”; a segunda é a de professores especialistas nas variadas “necessidades educativas especiais” que possam atender diretamente os discentes com tais necessidades e/ou para auxiliar o professor do ensino regular em sala de aula (BUENO, 1993).

Apesar dos avanços dos ideários e de projetos político-pedagógicos, muitas instituições de ensino ainda não implementaram ações que favoreçam a formação de seus professores para trabalharem com a inclusão. Para tanto, é importante que eles compreendam o contexto sócio-histórico da exclusão e o da proposta de inclusão. Além disto, que possuam o domínio básico de conhecimentos que os auxiliem a se aproximarem das pessoas com deficiência, no sentido de integrarem com elas, obtendo assim subsídios para atuarem pedagogicamente (LIMA, 2002, p.122).

A legislação brasileira prevê que todos os cursos de formação de professores, do magistério à licenciatura, devem capacitá-los para receber, em suas salas de aula, alunos com e sem necessidades educacionais especiais, dentre os quais os alunos com deficiências. Mas será que, no cenário atual, os professores estão realmente preparados para garantir, na prática, o direito dessas pessoas? Portanto, o presente trabalho tem por objetivo refletir sobre este questionamento.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em duas escolas públicas, sendo uma de ensino fundamental e outra de ensino médio, ambas da rede estadual de Cruzeiro do Sul – Acre. As duas instituições escolhidas para a realização desta pesquisa seguiram alguns critérios, a saber, localização na zona urbana da cidade, ter espaço físico adequado para os alunos portadores de necessidades educativas especiais e ter, no registro de matrícula da escola, alunos com necessidades educacionais especiais.

Dos profissionais que lecionavam nas duas escolas foi retirada uma pequena amostra para a realização da pesquisa, no que se encaixam os professores que tiveram sua formação na Universidade Federal do Acre – UFAC.

A coleta de dados foi feita através de questionários aplicados aos professores que se encaixavam no perfil de amostra da pesquisa. Foram no total de 20 professores, 10 lecionavam no ensino médio e 10 lecionavam no ensino fundamental.

O questionário utilizado nesta pesquisa continha seis perguntas objetivas e uma pergunta dissertativa, tendo como pontos principais saber se os professores têm noções básicas da Língua Brasileira de Sinais e noções básicas sobre o Braile; constatar se o governo já disponibilizou cursos práticos com finalidade de aperfeiçoamento da educação inclusiva para professores; identificar se os professores estão orientando, de alguma maneira, os demais alunos para a convivência com os alunos com necessidades especiais; saber o que os professores entendem por inclusão educacional e constatar se durante a sua formação houve acesso aos conhecimentos para lidar, em sala de aula, com alunos portadores de necessidades especiais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os resultados obtidos, 70% do total de professores entrevistados (6 do ensino fundamental e 8 do ensino médio) não tiveram na sua formação acesso ao ensino para lidar em sala de aula com alunos portadores de necessidades especiais, apontando para uma falha curricular nos anos anteriores, ou seja, houve uma formação deficiente. Ressalta-se a declaração que Bueno (1993) fez ao afirmar que um professor de ensino regular deve ter na formação o mínimo de conhecimentos para atuar com estes alunos. Acredita-se, então, que como consequência dessa deficiência curricular está o desconhecimento da LIBRAS por parte de 45% dos entrevistados (4 do ensino fundamental e 4 do ensino médio) e do BRAILE por parte de 90% destes.

Apesar disso, 90% dos docentes (todos do ensino fundamental e 8 do ensino médio) participaram de cursos oferecidos pelo governo e isso torna o quadro menos preocupante já que com essas capacitações os educadores são melhor preparados para os desafios quando na Educação Especial. Ainda assim, Alves (2009) relata que para uma educação inclusiva mais efetiva

o importante não é só capacitar o professor, mas também toda equipe de funcionários desta escola, já que o indivíduo não estará apenas dentro de sala de aula. [...] Alguém tem por obrigação treinar estes profissionais. Não adiante cobrar sem dar subsídios suficientes para uma boa adaptação deste indivíduo na escola. Esta preparação, com todos os profissionais serve para promover o progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas
(ALVES, 2009, p.45,46).

Mittler (2003) acredita que ainda há poucas oportunidades de capacitação. Elas são fundamentais, pois não servem apenas para influenciar os sentimentos dos professores em relação à educação inclusiva, mas também para que os educadores possam refletir as propostas de mudanças que podem mexer com seus valores e crenças e até transformar a sua prática profissional.

Essa falta de capacitação se dá porque no Brasil, de acordo com Siems (2010), a preocupação com a formação dos professores voltada para a educação inclusiva é muito recente. De acordo com a autora, é necessário mais investimentos nos processos de formação para reconstruir as práticas educacionais, reorientando, assim, os processos exercidos na Formação de Professores.

Porém, partindo-se do pressuposto de que o sucesso da organização da educação especial nas escolas regulares depende da integração entre toda comunidade escolar e que as atitudes desta podem refletir nos alunos incluídos, há a necessidade de orientar, além dos profissionais, os demais discentes. Silva (2009) declara que “Incluir com a finalidade educacional exige atitude e colaboração dos colegas em relação aos alunos integrados”. Logo, a convivência entre os colegas de classe e da escola como um todo é, certamente, um fator que deve ser considerado no desenvolvimento dos educandos com necessidades educacionais especiais. Mesmo assim, apenas 60% dos educadores (5 do ensino fundamental e 6 do ensino médio)  orientaram seus alunos quanto à educação inclusiva.

Salientando essa reflexão, Costa (2010) aloca que para uma efetiva implantação deste modelo educacional deve-se esperar, além de tudo, uma mudança da postura humana. Dessa forma, acredita-se que pouco se aproveita o investimento de recursos, implantação de cursos e capacitações, organização curricular e adaptação do espaço escolar se não houver uma transformação de atitude em cada componente da instituição, bem como da sociedade em geral.

Em relação ao conceito educação inclusiva, os entrevistados apresentaram respostas parecidas (Tab. 1) e, assim como no trabalho de Costa (2010), percebeu-se que houve uma mistura de ideias sobre educação especial e integração escolar. Para Costa (2010),

os conceitos de integração e inclusão ainda geram muitas polêmicas no meio acadêmico, principalmente pelo fato de alguns autores os contraporem e outros acreditarem que se complementam. A confusão entre os conceitos se faz quando atribuem à educação inclusiva o processo de inserir o aluno com necessidade educacional especial no espaço de aula regular, tendo que para isso adaptar-se. Basta inseri-lo. Isso cria a ilusão que estão em correspondência com preceitos inclusivos.

Tabela 1: Conceito dos professores sobre Educação Inclusiva

Professores do Ensino Fundamental

Professores do Ensino médio

Professor 1

A educação inclusiva tem como objetivo inserir os alunos portadores de necessidades especiais em salas do ensino regular com finalidade de evitar, de certa forma, o preconceito e discriminação pelos quais passam.

A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes seguimentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação e assim diz a constituição.

Professor 2

É a experiência de disseminação do conhecimento a ampla, procurando abranger e alcançar, indistintamente, cada sujeito do processo ensino – aprendizagem.

Aquela que proporciona o convenio entre os alunos de forma geral, abrange inclusive os portadores de necessidades especiais.

Professor 3

Entendemos que, com a educação inclusiva a tendência é diminuir cada vez mais o índice de discriminação em relação aos deficientes físicos e dessa forma construirmos um mundo melhor.

É o tipo de educação que usa a integração dos alunos especiais ao ensino regular, isto é, incluí-los integralmente na sociedade.

Professor 4

A educação inclusiva para mim é onde todos os alunos tem o direito de estudar em classes com alunos ditos normais sem distinção onde estes apenas recebem um maior apoio com atividades diferenciadas.

Apoiar, compreender que temos de criar várias formas de ensinar. Acolher independente do aluno. Acima de tudo amar e respeitar sem preconceito. A palavra “inclusão” é um sinônimo de “amar”.

Professor 5

É a inclusão de alunos com necessidade especial, ou seja, que tenha algum tipo de deficiência, que esses alunos estejam inclusos no ensino regular, juntamente com todos os alunos.

É a educação que busca colocar as crianças  com necessidades especiais junto com as crianças ou jovens sem nenhum problema.

Professor 6

Educação inclusiva é uma educação para todos sem distinção. É um ensino voltado para sanar as dificuldades/deficiência no processo de aprendizagem onde todos se desenvolvam intelectual e emocionalmente dentro dos seus limites.

Oferecer ao aluno com necessidades educacionais especiais, as mesmas condições educacionais oferecidas aos demais. Porem com as adaptações necessárias para que possa haver aprendizagem e de acordo com a necessidade do aluno.

Professor 7

Uma forma de incluir a uma turma sem necessidades especiais, alunos que possuam tais necessidades visando harmonia e, sobretudo desenvolvimento mútuo entre as partes.

É uma educação cidadã, pois temos que tratar os alunos especiais de forma igualitária aos demais alunos. A inclusão desses jovens é de fundamental importância para uma sociedade mais justa.

Professor 8

A educação inclusiva surgiu para oferecer uma educação de qualidade significativa, com adaptações físicas e pedagógicas. Garantindo as crianças desde bem cedo, habilidades importante para o convívio social no futuro.

O ser humano é um ser social e necessita relacionar-se de maneira harmônica com outros independente de suas limitações daí a importância da educação inclusiva.

Professor 9

Trata-se de oferecer a todas as crianças portadoras de necessidades educacionais ou não, o direito a uma educação de qualidade, preparando-os para serem pessoas ativas dentro da nossa sociedade.

Uma educação que inclua os alunos com necessidades especiais, sem discriminação, mas dando-lhes oportunidades para que possam participar de atividades e de um ensino comum a todos os indivíduos no âmbito escolar.

Professor 10

É a educação que atende a todos, não excluindo as deficiências.

Uma educação que avalie as individualidades para estabelecer estratégias de ensino adequadas para promover o desenvolvimento integral do educando tornando – os cidadãos críticos e atuantes na sociedade.

Apenas um docente atribui à concepção de educação inclusiva o amor. Costa (2010) defende que com a perda de consistência dos discursos e falta segurança na representatividade da educação inclusiva há um apelo emotivo e afetivo onde se conclui que a educação inclusiva é uma atividade de amor. De acordo com a autora “as dificuldades sucumbem ante a nobreza do sentimento” e isso se dá porque ainda imagina-se “uma docência revestida de amor e cuidado” como nos tempos de outrora. Ainda assim, alguns dos participantes do trabalho de Costa (2010) acreditam que para lidar com alunos com necessidades educacionais especiais é inevitável amá-los, uma vez que “é preciso muita paciência, dedicação, cuidado”.

Logo, remete-se à reflexão apresentada no título deste trabalho: os docentes estão ou não preparados para trabalhar com a educação inclusiva? Mesmo que no decorrer de alguns anos tenha-se notado um fortalecimento no processo de inclusão, há muito a evoluir e entre tantos fatores, concorda-se com Sant’Ana (2005) que defende um reajuste na formação docente e Silva (2009) que afirma que o desenvolvimento da inclusão educacional “só pode ter bons resultados se forem feitos por meio da qualificação profissional”. Dessa forma, a ampliação e continuidade dos cursos de capacitação são indispensáveis para a preparação dos educadores – agentes que atuam diretamente no processo de inclusão social. Investimentos em tecnologias e em e materiais didáticos não devem ser descartados.

O que se espera é que o corpo docente esteja preparado para o trabalho da inclusão educacional e principalmente, em acordo com Silva (2009), “que com a educação inclusiva sejam abandonadas definitivamente as barreiras seletistas de aprendizagem” e que o meio social se adapte ao aluno incluído ao invés de buscar-se que o estudante se adapte à sociedade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES F. Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande desafio. Rio de Janeiro, WAK EDITORA, 2009.

BUENO JGS. Educação especial brasileira: integração /segregação do aluno diferente. São Paulo, EDUC/PUCSP, 1993.

BUENO JGS. Crianças com necessidades educativas especiais, política educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas? Revista Brasileira de Educação Especial. 2009; 3(5): 7-25.

GLAT R, FERNANDES EF. Da Educação Segregada à Educação Inclusiva: uma Breve Reflexão sobre os Paradigmas Educacionais no Contexto da Educação Especial Brasileira. Revista Inclusão: MEC/SEESP. 2005; 1(1).

LIMA PA. Educação Inclusiva e igualdade social. São Paulo; AVERCAMP, 2002.

MITTLER P. Educação Inclusiva:Contextos sociais. 1ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

SANT’ANA IM. Educação inclusiva: concepções de professores e diretores. Psicologia em Estudo. 2005; 10(2): 227-234.

SIEMS MER. Educação especial em tempos de educação inclusiva: identidade docente em questão. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010. 194p.

SILVA LMda. Educação inclusiva e a formação de professores. 2009. 90 f. Monografia apresentada como pré-requisito para coclusão do Curso de Especialização Latu Sensu à distância em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, Estado do Mato Grosso – Campus Cuiabá – Octayde Jorge da Silva. Cuiabá, 2009.

Recebido: 08/03/2012
Aceito: 31/03/2012

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