Questões Contemporâneas

DESERTIFICAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES NO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DOS ÍNDIOS/PB

RIVANILDO RICARTE DE OLIVEIRA é Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Especialista em Ciências Ambientais pela Faculdades Integradas de Patos – FIP.

JOSÉ DEOMAR DE SOUZA BARROS é Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Especialista em Agroecologia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialista em Ensino de Química pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestre e Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. E-mail: deomarbarros@gmail.com

MARIA DE FÁTIMA PEREIRA DA SILVA é Licenciada em Letras com Habilitação em Língua Inglesa e Vernácula pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Especialista em Língua Inglesa pela Faculdade São Francisco.


Resumo: O presente artigo teve por objetivo identificar os aspectos socioeconômicos e a percepção dos agricultores em relação à degradação ambiental provocada pelo desmatamento, na área do entorno do Serrote do Quati, em Cachoeira dos Índios – PB. A pesquisa foi realizada através de visitas domiciliares aos agricultores que moram nesta área, foram aplicados questionários com questões objetivas e subjetivas, relacionadas aos aspectos socioeconômicos dos entrevistados e caracterização das unidades agrícolas. Os resultados indicam que os agricultores pesquisados apresentam baixa escolaridade, fazendo uso intensivo do solo, na região ocorre a derrubada da mata nativa especialmente para a produção agrícola de subsistência. Constatou-se também que as famílias estão sensibilizadas em relação ao processo de degradação ambiental provocada pelo desmatamento.
Palavras-chave: desmatamento, unidades agrícolas, produção agrícola.

DESERTIFICATION AND ENVIRONMENTAL DEGRADATION: PERCEPTION OF FARMERS IN THE CACHOEIRA DOS ÍNDIOS - PB

Abstract: This article aims to identify the socioeconomic and perception of farmersabout the environmental degradation caused by deforestation in the area surrounding the Serrote the Coati in the Indian Waterfall - PB. The survey was conducted through home visits to farmers who live in this area, questionnaires were filled with objective and subjective questions related to the socioeconomic characteristics of respondents and agricultural units. The results indicate that farmers surveyed have low education, making intensive use of soil, the region is the felling of native forest particularly for subsistencefarming. It was also found that families are aware about the process of environmental degradation caused by deforestation.
Keywords: deforestation, farms, agricultural production.

INTRODUÇÃO

Segundo Neves et al. (2010), o Semiárido brasileiro compreende todos os estados do nordeste, além da região norte do Estado de Minas Gerais e nordeste do Espírito Santo, abrangendo uma área de 969.584,4 Km2. Sua população estimada é de 21 milhões de pessoas, correspondendo a 11% da população brasileira, constituindo, assim, a região semiárida mais populosa do planeta.

Nesta região, a presença de períodos prolongados de baixa pluviosidade é constante, com concomitantemente aumento significativo da temperatura, o que pode provocar altos índices de evaporação da água presente nos reservatórios (SANTOS & SILVA, 2009).

Nessa região, a vegetação predominante é a caatinga, que tem uma diversidade maior que qualquer outro bioma do mundo sob as mesmas condições de clima e de solo, mas está entre os biomas brasileiros mais degradados pela ação antrópica. Este Bioma encontra-se em acentuado processo de degradação, ocasionado principalmente, pelo desmatamento e uso inadequado dos recursos naturais (ARAÚJO 2010).

A degradação dos ecossistemas da caatinga traz como consequência o declínio da produtividade do sistema de produção, da renda e qualidade de vida do produtor rural (ARAUJO, 2010). O desmatamento e as queimadas são práticas comuns para a preparação da terra com fins agropecuários, alterando esses ambientes e tendo como conseqüência a diminuição da diversidade vegetal e animal (ALBUQUERQUE, et al., 2010).

O manejo inadequado e a superação da capacidade de suporte de ambientes semiáridos contribuem na intensificação do processo de desertificação em localidades que apresentam maior vulnerabilidade ou intensificação mais acentuada da exploração dos recursos naturais. Neste sentido, o processo de desertificação é resultante de uma relação direta entre fatores climáticos e mecanismos de manejo do Bioma Caatinga (SÁ e ANGELOTTI, 2009).

Assim, faz-se necessário a adoção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável no Semiárido brasileiro, no sentido de aumentar a capacidade de adaptação da sociedade e do sistema produtivo regional para uma melhor convivência com condições ambientais associadas às mudanças climáticas globais e ao processo de desertificação. O presente artigo teve por objetivo identificar  os aspectos socioeconômicos e a percepção dos agricultores em relação a degradação ambiental provocada pelo desmatamento na área do entorno do Serrote do Quati em Cachoeira dos Índios/PB.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada por meio de visitas domiciliares aos agricultores que vivem no entorno do Serrote do Quati, município de Cachoeira dos índios na Paraíba, no período de 01 a 25 de março de 2011. Foram aplicados questionários, em 20 domicílios, com 10 questões objetivas e 5 subjetivas, relacionadas aos aspectos socioeconômicos dos entrevistados e caracterização das unidades agrícolas.

Incluíram-se no estudo todas as famílias que por ocasião da visita dos entrevistadores estavam em casa e que tivessem um responsável adulto disponível para responder o questionário, aceitasse participar voluntariamente da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise de perfil dos agricultores tem revelado que a maioria dos pequenos produtores familiares da região vive exclusivamente da agricultura de subsistência, utilizando-se da prática do desmatamento da vegetação natural, por não conhecer alternativas de produção agrícola. O desmatamento no entorno do Serrote do Quati é uma realidade alarmante diante do processo de degradação ambiental da área, tendo em vista que na área de estudo são adotadas práticas agrícolas intensivas de cultivo do solo.

Após as análises dos dados, constatou-se que 90% dos agricultores que trabalham na área local são do sexo masculino e 10% do sexo feminino, apresentando uma média de idade de 45 anos. Vásquez et al. (2008), realizando pesquisa na zona rural de Cajazeiras/PB, verificaram que 67% dos produtores são do sexo feminino.

Esses dados estão de acordo com as características do agricultor da região, onde a maioria são homens, na faixa etária dos 40 a 50 anos. Todos que responderam à pesquisa são casados e têm de 5 a 8 filhos por casal.

Apenas 30% dos entrevistados já desenvolveram outra atividade profissional além do campo. Neste sentido estes agricultores apresentam uma relação de afetividade com a sua área de produção agrícola e são detentores de um conhecimento popular que vêem sendo construído entre gerações.

Com relação à renda familiar mensal, verificou-se que 80% dessas famílias possuem uma renda mensal inferior a 01 (um) salário mínimo, e 50% recebem algum tipo de benefício governamental, concordando com as observações feitas por Botto (2007) e Tavares (2009).

Constatou-se que 70% dos agricultores da região (Figura 01) não tiveram oportunidade de estudar e este fator certamente tem contribuído para a manutenção de um modelo de produção agrícola baseado no uso intensivo do solo.

Figura 01 – Escolaridade dos agricultores pesquisados

Vásquez et al. (2008) pesquisaram o perfil dos produtores orgânicos nos assentamentos Frei Damião e Santo Antônio, localizados no município de Cajazeiras/PB, verificaram que 67% dos produtores não concluíram o Ensino Fundamental. Botto (2007), em trabalho realizado em Itaiçaba/CE, verificaram que 35% dos chefes de família são analfabetos, assim como Tavares (2009), em pesquisa realizada no Semiárido Paraibano, em três comunidades que tiveram índices de analfabetismo, variando entre 21 e 38%.

Referindo-se à caracterização das unidades agrícolas (situação jurídica), verificou-se que apenas 20% das propriedades são próprias e 80% é arrendada. Com relação à dimensão territorial de cada propriedade onde esses agricultores produzem, 60% correspondem até cinco hectares, destinados principalmente à produção convencional, seguidos de pastagens. De acordo com Kiill et al. (2007), a utilização da caatinga ainda se fundamenta em processos meramente extrativistas para obtenção de produtos de origens pastoril, agrícola e madeireiro. E segundo Barreto et al. (2010), uma das pressões impostas à Caatinga, na busca pelo aumento da disponibilidade de alimentos para os animais, é o cultivo de pastagens.

Com relação aos tipos de agricultura praticados pelas famílias que moram na área do entorno do Serrote do Quati em Cachoeira dos Índios/PB, observou-se que 90% utilizam a agricultura convencional, com uso de agrotóxicos, e 10% dos agricultores adotam a agricultura orgânica. Quanto à força de trabalho utilizada nas unidades produtivas, verificou-se que é exclusivamente familiar, eventualmente empregando contratação de mão de obra temporária e/ou troca de serviços.

Na figura 02 são apresentados os principais problemas ambientais da região, onde o desmatamento é a principal causa, representando 60%, seguido pelas queimadas com 20%, além da extinção de animais e erosão do solo, ambos com 10%. Averiguou-se também que na região a mata nativa (caatinga) é desmatada principalmente para agricultura de subsistência, correspondendo a 70%, os demais 20% para pastagens e 10% para produção de carvão (Figura 3).

Segundo Brasileiro (2009), o avanço de processo de degradação ambiental na região deve-se a vários fatores, entre os quais, destacam-se: as práticas agrícolas inadequadas, tais como o desmatamento, a infertilidade e a compactação do solo, e os processos erosivos.

Figura 02 – Problemas ambientais observados na região

De acordo com Barros e Silva (2010), a agricultura convencional provoca diversos desequilíbrios na natureza, tendo em vista que esta agricultura contraria o pensamento de sustentabilidade. Dessa forma, além da poluição atmosférica, a saúde das pessoas é ameaçada pela qualidade das águas e dos alimentos, tendo em vista a contaminação por uma grande variedade de produtos químicos.

Segundo Albuquerque et al. (2010), a caatinga encontra-se bastante alterada, devido à substituição de vegetação nativa por áreas de cultivo e pastagens. Mais de 2 bilhões de pessoas usam lenha e carvão vegetal como principal combustível para cozinhar e para outras atividades domésticas.

Figura 03 – Fatores que influenciam o desmatamento da mata nativa

Indagados sobre as consequências do desmatamento para a fauna e a flora da região, 50% das familias entrevistadas responderam que ocasiona diminuição da vegetação, 40% a extinção de animais da fauna local e 10% diminuição dos recursos hídricos (lençóis d’água).

Segundo Barros (2011), a primeira consequência do desmatamento é a destruição da biodiversidade, como resultado da diminuição ou, muitas vezes, da extinção das espécies vegetais e animais, intensificando assim o processo da desertificação em regiões semiáridas.

Sobre as medidas de reversão, apenas 40% já ouviram falar em algum projeto de reflorestamento, mas concordam ser a maneira mais viável de evitar e diminuir o desmatamento local, indicando a organização das pessoas da comunidade no sentido de mudança da realidade vivenciada por estes produtores, no intuito de gerar melhorias na qualidade de vida da população local.

CONCLUSÕES

Os agricultores das áreas locais, caracterizam-se por apresentarem baixa escolaridade, fazendo uso desordenado do solo, provocando desmatamento na área citada. Apesar das famílias não utilizarem práticas sustentáveis de cultivo do solo, elas estão sensibilizadas em relação ao processo de degradação ambiental provocada pelo desmatamento.


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Recebido: 17/03/2012
Aceito: 02/04/2012

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