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JUVENTUDES, SUBJETIVIDADES E INTERCESSORES EM EXPERIÊNCIAS MIGRATÓRIAS TRANSNACIONAIS

DENISE COGO Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos-RS, com pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona. Pesquisadora Produtividade do CNPq e coordenadora do Grupo de Pesquisa Mídia, Cultura e Cidadania da Unisinos (www.gpmidiacidadania.com).

DEISIMER GORCZEVSKI Professora no Instituto de Cultura e Arte - Programa de Pós-Graduação em Comunicação na Universidade Federal do Ceará - UFC. Doutora em Ciências da Comunicação na Unisinos-RS. Pesquisadora nos Grupos: Mídia, Cultura e Cidadania, na Unisinos e Relação Infância, Juventudes e Mídia, GRIM, na UFC (www.grim.ufc.br/).


Resumo: O artigo analisa experiências migratórias transnacionais de jovens migrantes nas cidades de Barcelona e Porto Alegre. Atenta-se para os intercessores que operam impulsionando a criação de “projetos de migração” em suas complexas e singulares experimentações. A cartografia dos “porquês” os jovens entrevistados deixaram seus países de nascimento e escolheram os países de migração evocou algumas distinções conceituais, entre elas o modo como se compreende “motivos” e “desejos”. Ao final, são sugeridos alguns dos operadores que potencializam a escapar de uma lógica binária de afirmação identitária a partir do lugar de nascimento ou do lugar de migração para visualizarmos as experimentações migratórias – pessoais e coletivas - expandindo e oferecendo pontos de vistas privilegiados para compreendermos as subjetividades que emergem das migrações, na contemporaneidade.
Palavras-chave: Migração, Juventude, Subjetividade, Intercessores, Desejo

YOUTH, SUBJECTIVITIES AND INTERCESSORS IN TRANSNATIONAL MIGRATION EXPERIENCES

Abstract: The article analyzes transnational migratory experiences of migratory youths in the cities of Barcelona and Porto Alegre paying attention to the intercessors that, in their complex and unique efforts, operate by encouraging “migratory projects”. Mapping “why” the interviewee youths left their home countries and chose the migration countries suggested some conceptual distinctions including the way in which “motives" and "desires" are interpreted. Towards the end, it suggests some of the intervening elements that potentially lead away from a binary logic of positive identification based on birthplace or migratory location, enabling us to visualize both personal and collective migratory efforts, expanding that to achieve privileged viewpoints towards understanding the subjectivities emerging from contemporary migrations.
Keywords: Migration, Youth, Subjectivity, Intercessors, Desire

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, analisamos as trajetórias de migração - de quem “deixa o lugar de nascimento” e “de quem chega” – situando as implicações dos processos migratórios na composição das subjetividades de jovens migrantes e os intercessores de seus novos contextos de vivência. As analises derivam da aproximação com o universo de quinze jovens procedentes de países latino-americanos e europeus, nos contextos das cidades de Barcelona e Porto Alegre (1), que integraram uma pesquisa internacional mais ampla sobre mídia e migrações transnacionais realizada entre 2004 e 2008. (2)

Numa abordagem interdisciplinar circunscrevemos este estudo na perspectiva de uma análise das trajetórias migratórias em uma rede heterogênea configurada por distintas instituições, usos de tecnologias e saberes, entre outros componentes. Como método de pesquisa, recolhemos, através de entrevistas em profundidade, as narrativas de quinze jovens migrantes e suas experimentações com os processos migratórios, tomando como analisador a questão – Por que e como deixei meu país?

Compondo o mapa dos ‘porquês’, foram analisadas as narrativas sobre os lugares de nascimento (país, região, cidade de origem e nacionalidade dos entrevistados no que se refere à família, às relações de parentesco, vizinhança e amizade).  Também foram observados aspectos relativos à escolaridade, trajetória profissional e condições de residência, ou seja, como e porque escolheram os lugares para migrar e residir. Nas narrativas se apresentaram condições para a elaboração de mapas desses espaços/tempos, circunstâncias de acolhida e o porquê das escolhas.

No percurso analítico das narrativas juvenis, foram mapeadas algumas temáticas transversais, sendo ressaltadas as relações familiares e afetivas, bem como os modos como operam os conceitos de ‘desejo’ – aqui compreendido como produtor de mundos – e os múltiplos ‘intercessores’. Nas palavras de Deleuze (1992, p. 156):

a criação são os intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas [...], mas também coisas [...]. Fictícios ou reais, animados ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios intercessores. É uma série. Se não formamos uma série, mesmo que completamente imaginária, estamos perdidos. Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo quando isso não se vê.

Ambos os conceitos – desejo e intercessores – e seus modos de operar contribuíram, em especial, na cartografia dos movimentos de quem deixa o país de nascimento, produzindo modos de migrar nas travessias e nos lugares escolhidos como novos territórios geográficos e existenciais.

Migrações transnacionais e juventude: breve aproximação conceitual

O fenômeno das migrações(3) ransnacionais não é novo, sendo a mobilidade uma marca constituinte da própria história da humanidade. Desde a última década do século XX, é possível perceber uma intensificação e reconfiguração dos fluxos migratórios, a partir de estimativas que apontam para a existência, em 2010, de mais de 214 milhões de migrantes internacionais no mundo (4). O que, no entanto, os dados não revelam, é que o crescimento de migrantes é acompanhado do aumento de países envolvidos nas redes migratórias transnacionais, da diversificação do tipo de migrações e motivos dos deslocamentos, assim como do aprofundamento das consequências sociais, econômicas e culturais dos fenômenos migratórios, como lembra Cristina Blanco (2006).

  Os jovens entre 15 e 30 anos sempre se constituíram e seguem se constituindo uma proporção importante dos migrantes, a maioria procedente dos países em vias de desenvolvimento e países em transição (5), embora, paradoxalmente, a juventude siga sendo invisível na maioria dos debates de políticas públicas sobre migração internacional. Estima-se que os jovens entre 15 e 24 anos representam um terço do movimento migratório global anual e, aproximadamente, um quarto do número total de migrantes internacionais, em todo o mundo. Quando incluímos jovens com idades entre 25 a 29 anos, a juventude passa a constituir metade dos movimentos migratórios nos países em desenvolvimento e um terço do total de jovens no mundo.(6) A soma desses padrões indica que de 32 a 39 milhões de jovens migrantes são originários de nações em desenvolvimento (CASTRO, ABRAMOVAY, DE LEON, 2007). A proporção de jovens entre 15 e 19 anos que migram dos países em desenvolvimento leva à previsão de que a migração na América Latina seja 11% superior a da Europa Ocidental.

Nas pesquisas sobre os movimentos migratórios, muitos são os fatores que indicam o aumento na migração de jovens para os próximos anos, dentre os quais “a alta proporção de jovens em países em desenvolvimento, a propensão dessa parcela da população para a migração e os índices de desemprego entre os jovens nesses países.” (CASTRO, ABRAMOVAY, DE LEON, 2007, p. 150) e, mais recentemente, a crise econômica global que atinge especialmente Estados Unidos e Europa.

Na compreensão das experiências migratórias relacionadas à juventude, consideramos essencial reconhecer que a heterogeneidade dessas experiências em âmbito transnacional não possibilita associá-las ou reduzi-las a fatores essencialmente econômicos. Não nos permite, igualmente, conceber as migrações juvenis unicamente como movimentos de permanência que assumem um ponto de partida e chegada ou espacialidades fixas e temporalidades estáveis.  Tampouco nos possibilita afirmar a viabilidade de políticas públicas de integração sociocultural de jovens migrantes que não sejam plurais ou articulem diferentes aspectos dessas subjetividades dos migrantes.

Isso não implica em nos conduzirmos pelo apagamento das questões “objetivas” e circunstâncias materiais ou dos processos de dominação e desigualdade implicados nas dinâmicas de deslocamentos e hibridizações culturais que resultam do exercício da subjetividade dos jovens que migram. Ou seja, não postulamos absolutamente um simples e livre cruzar nômade de fronteiras, culturas e identidades como definidora das migrações em geral e, especialmente, das migrações juvenis na atualidade. (MEZZADRA, 1995).

Itinerário de uma pesquisa com jovens migrantes

Essa breve compreensão das migrações transnacionais pauta a análise proposta nesse artigo que toma como ponto de partida reflexões oriundas das narrativas de quinze jovens migrantes nas cidades de Barcelona e Porto Alegre.   Esse universo de jovens integrou um universo mais amplo de cento e quarenta migrantes latino-americanos e europeus que foram abordados nos dois contextos urbanos no âmbito da pesquisa internacional, mencionada anteriormente.  Desse conjunto de entrevistados, constatamos que trinta são jovens situados na faixa etária entre 19 e 30 anos, dos quais selecionamos quinze, com o objetivo de visualizar, nesse artigo, os intercessores que operam para mobilizar experiências migratórias transnacionais da juventude e colaboram para compreender os modos de migrar em suas complexas e singulares experimentações. (7)

Essa opção pelo recorte do universo da pesquisa a partir da idade não desconhece, contudo, a necessária complexidade que envolve a compreensão do fenômeno juventude. Desde uma perspectiva qualitativa, a ‘juventude’, como toda categoria socialmente construída, não tem uma definição única que abarque todas as suas dimensões. Se por um lado, definir ‘juventude’ implica em considerarmos também as classificações etárias (8), por outro não nos limitamos a elas.  Alguns autores procuram precisar as diferenças na passagem da infância para a fase adulta. Para além das características fisiológicas, que não são menos importantes, aparecem relacionados os aspectos psicológicos, sociais, econômicos e culturais (9). Para Melucci (2001), o interesse em estudar os jovens surge, principalmente, por estes serem vistos como “atores de conflitos” em potencial.  Essa abordagem pode ser evidenciada se considerarmos alguns fenômenos urbanos juvenis, entre eles, as mobilizações dos jovens em países árabes e europeus, como a Espanha, em 2010.

O exercício de observar o cenário urbano e, em particular, a juventude que migra com toda a sua diversidade sociocultural e comunicacional, nos levou a ampliar a análise conceitual em torno da categoria “juventude” para pensarmos em termos de modos de socialização juvenil (10). Retomando a leitura das narrativas dos entrevistados, construímos analises em torno das especificidades que conformam as experiências migratórias relacionadas à juventude, entendida como experiência de subjetividade que comporta dimensões socioculturais, políticas e econômicas.

Dos quinze jovens, priorizados nesse texto, onze residem em Barcelona e quatro, em Porto Alegre (11).

Sete jovens pertencem ao sexo masculino, e outros oito, ao sexo feminino. Os entrevistados latino-americanos somam doze e são nascidos na Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Os três jovens europeus entrevistados nasceram na Alemanha, França e Polônia.  No caso dos jovens entrevistados em Barcelona, alguns deles passaram por várias experiências anteriores de migração para outros países europeus e não europeus ou para outras cidades espanholas antes de se instalarem na capital catalã. O tempo de permanência nas duas cidades pesquisadas é de seis meses e cinco anos.

Dentre os entrevistados nas duas cidades, dois informaram possuir livre circulação por serem cidadãos da União Européia, um relatou possuir dupla cidadania (italiana e de seu país de nascimento), e três declararam possuir o que designam de permiso de residencia y trabajo. Cinco jovens migrantes afirmaram estar tramitando a regularização, sendo que outros quatro não estavam regularizados.

Na tabela a seguir, sintetizamos brevemente o perfil dos quinze entrevistados. (12)

CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS ENTREVISTADOS  EM PORTO ALEGRE E BARCELONA

Nome

País de nascimento

Idade

Atividade profissional atual

Formação Escolar/
Universitária

Tempo de estada em Porto Alegre/
Barcelona

Cidade  de residência

  Math

Alemanha

19

Serviço Subsidiário (13)

Ensino secundário completo

6 meses

Barcelona

 

Carmen

 

Argentina

 

27

Hotelaria e atividades de monitoria com crianças

 

Técnico em
Comércio Exterior

 
4 anos

 

Barcelona

Clara

Argentina

28

Sem atividade remunerada

Bacharel em Comércio Internacional

3 anos

 

Porto Alegre

 

Karen

 

Brasil

 

24

Cuidado de crianças e idosos

Curso de graduação incompleto em Direito

 

2 anos

 

Barcelona

Norma

Brasil

29

Designer gráfica

Publicitária

3 anos

Barcelona

Sergio

Colômbia

22

Serviços gerais (pedreiro) em construção civil

Curso Universitário incompleto em Comunicação Social

5 anos

Barcelona

 

Victor

 

Equador

 

24

Atua como estátua nas Ramblas (14)

 

Estudos primários

 

2 anos e
6 meses

 

Barcelona

 

Carlota

 

França

 

 

30

 

Coordenadora de empresa têxtil

Curso universitário incompleto de Filologia Hispânica. Cursos de Desenho e Estilismo Vestuário

 

2 anos

 

Barcelona

 

Rosa

 

Paraguai

 

24

 

Desempregada

Professora com formação em nível secundário

 

2 anos

 

Porto Alegre

Sebastián

Peru

28

Garçom

Arquiteto

5 meses

Barcelona

 

Sandra

 

Peru

 

 

28

Atendente de loja de moda e estudante de Máster em Psicologia

 

Psicóloga clínica

 

2 anos

 

Barcelona

 

Susana

 

Polônia

 

28

Produção audiovisual e
setor de serviços (15)

Curso de graduação em Proteção de Meio Ambiente e Especialização em Antropologia Visual

 
1 ano

 
Barcelona

Alberto

Uruguai

25

Músico

Professor de música

4 meses

Porto Alegre

Frank

Venezuela

30

Sócio em estúdio de música

Violonista clássico – Professor de música em escolas

3 anos e meio

Barcelona

 

 

Mauro

 

Uruguai

 

27

 

Garçom

Curso incompleto de graduação em Arquitetura e
Curso básico de hotelaria

 

3 anos

 

Porto Alegre

Jovens migrantes e seus intercessores de mudança

Analisar as narrativas dos entrevistados, em especial, os “porquês” de terem deixado seus países de nascimento para cruzarem fronteiras possibilitou a compreensão dos modos de migrar, em suas complexidades e singularidades. Numa primeira disposição de fatores e circunstâncias, foram visualizadas topologias socioculturais, econômicas, políticas, cognitivas, afetivas, éticas e estéticas, entre outras.

A cartografia dos “porquês” deixaram seus países de nascimento e escolheram os países de migração evocou algumas distinções conceituais, sendo a principal, o modo como se compreende “motivos” e “desejos”. Em outras palavras, são questões que sugerem escolhas e preferências produtoras de agenciamentos (16) para além de justificativas de qualquer ordem, como, por exemplo, as de ordem material e econômica. Nesse sentido, o conceito de desejo ofereceu contribuições desde a análise das narrativas que descrevem “projetos de migração” (COGO, 2005) como meios de produzir uma “vida-mundo” melhor em outro país.

A perspectiva de mudança de vida emerge, praticamente, em todas as narrativas que buscam explicar os “porquês” de deixar o país de nascimento. São trajetórias impulsionadas por um conjunto de motivações e desejos de outras experiências de vida. Motivos e desejos difíceis de serem analisadas de modo isolado, fragmentado. Constata-se, inclusive, que, nas entrevistas, as perguntas sobre a decisão de deixar o país e escolher outro lugar para viver, embora realizadas separadamente, apareciam explicitadas de forma entrelaçada nas narrativas dos jovens entrevistados.

Em Deleuze (2004), o desejo acontece e corre em um agenciamento. Desejo visto como ato de dispor, de fazer arranjos, de construir uma disposição encadeada de elementos que formam um conjunto. A produção desejante opera por arranjos, agregações. Essa disposição admite componentes heterogêneos estabelecendo ligações entre eles.

 Na análise dos processos de constituição dos desejos e motivações, projetos e ações dos que migram encontramos a presença de diferentes intercessores, compondo os modos dos jovens recriarem territórios existenciais, na contemporaneidade.  A seguir, nos dedicamos a analisar tais intercessorese as respectivas forças mobilizadas na decisão de migrar.

Os laços simbólico-afetivos como intercessores na decisão de migrar

Nas narrativas dos migrantes, foram enunciadas múltiplas motivações envolvendo aspectos culturais, ético-estéticos, políticos, econômicos, profissionais, bem como o desejo de ampliar os estudos e o conhecimento de novas culturas. O que nos conduz a problematizar as relações entre distintos intercessores que geram motivos e desejos de migrar em que se combinam experiências múltiplas e ao mesmo tempo singulares dos entrevistados.

Ao tomarmos o conceito de intercessores na análise das motivações para migrar, não estamos excluindo a pertinência deste conceito para a análise das relações mantidas e recriadas com os lugares de nascimento. Como observamos anteriormente, em grande parte das entrevistas, estas questões se apresentam entrelaçadas. Em raras ocasiões, os jovens separam suas motivações no interior das várias etapas do projeto migratório, conforme sugere a narrativa de Norma, brasileira que reside em Barcelona:

Decidí salir de Brasil por muchos motivos, primero […] yo había estudiado en Londres, antes de ir a vivir la primera vez he ido a estudiar inglés, y tal, con 21 años y me encantó […]. Cuando yo estaba con mi empresa en Brasil, que, antes de decidir venir aquí, había una situación muy difícil […] tuve tantos problemas […] que me desanimé de continuar allí, dije, quiero intentar otra cosa, y coincidió, bueno claro, que conocí […] mi marido catalán que estaba allí, y nada juntos hemos decidido intentar la vida aquí en Europa, porqué para el también, si el se quedara en Brasil sería muy complicado, al principio porqué el no sabía el idioma, que yo ya sabia ingles, y el español un poco y tal, y en Brasil la economía estaba peor de lo que está ahora […]. (Norma, Barcelona, 29 anos, nascida no Brasil) (17)

Entre os intercessores, retoma-se o alcance dos modos de criar laços tanto de parentesco como de amizade. No conjunto da análise, mais da metade dos entrevistados situam relações com familiares e amigos como decisivas para as escolhas dos lugares para viver. Algumas experiências relatadas ajudam a entender a importância desses intercessores e suas relações com um conjunto de argumentos para migrar.

No tenía la intención de quedarme, vine de vacaciones, luego aquí con mi hermana, no sé un arrebato que me dio [...]. Ella me dio la mitad del tiquete y la otra mitad me la dio mi tía, que vive en Alemania hace ocho o nueve años (Sergio, Barcelona, 22 anos, nascido na Colombia).

[...] tenía entonces dos opciones o irme a Marsella, donde no conocía a nadie o venirme aquí donde tenia una amiga, tenia un piso y entonces no tenia ningún lío de “donde voy a vivir” [...]. (Carlota, Barcelona, 24 anos, nascida na França).

[...] eu quero ir embora para Barcelona. [...] o que aconteceu foi o seguinte: era Natal e eu falei com o meu primo como é que era e tal e justo estava passando uma entrevista no Fantástico. [...]. E chamei minha mãe e falei: “Tá vendo isso aqui” [...] “Anota o nome. Eu vou morar aqui”. (Karen, Barcelona, 24 anos, nascida no Brasil).

Na análise das narrativas, visualizamos, ainda, motivações e desejos de migrar configurados e configuradores de “redes” tecidas por distintos laços que envolvem familiares, amigos, conhecidos de familiares e amigos. Essas distintas – e nem tanto – experiências afetivas foram apresentadas como relevantesintercessores das escolhas dos países para viver tanto dos que residem em Porto Alegre como os que elegeram Barcelona como território geográfico e existencial.

[...] Porque eu tenho um amigo que me dizia, que vivia acá, tocando música. [...] Ele dizia que em Brasil se vive bem [...]. (Alberto, Porto Alegre, 25 anos, nascido no Uruguai)

Quando eu cheguei aqui, a minha irmã conhecia uma menina que é da cidade vizinha [...] entrou em contato com ela e falou: “Olha, a minha irmã está chegando aí em Barcelona”. “[...] se tu pudesse dar uma força pra ela e coisa e tal”. Ela vive já há 12 anos. Daí ela pegou e me ligou e foi muito amável, me hospedou na casa dela e tal. E daí deu, aconteceu a causalidade de [...] a mulher que eu trabalho com ela hoje, que é brasileira, tava precisando de alguém para cuidar dos filhos dela. (Karen, Barcelona, 24 anos, nascida no Brasil).

Analisar um ou mais migrantes narrarem seus argumentos atravessados por relações familiares e afetivas, na verdade, como advertem Deleuze e Guattari, é indicativo de composição de agenciamentos. O desejo não se situa, assim, no plano da representação, mas da criação de agenciamentos. Nessa perspectiva, ressaltamos:

[...] agenciamentos de desejo no interior dos quais se analisa o que emperra e o que possibilita sua potencialidade transformadora. Análise de uma individuação dinâmica sem sujeito, de uma constelação funcional de fluxos sociais, materiais e de signos que são a objetividade do desejo. Análise de um devir. (GUATTARI. 1987, p. 8).

Os agenciamentos podem ser solitários, a dois, sendo, ao mesmo tempo, coletivos (18). Seguimos, então, nos perguntando como as relações com o “outro” foram decisivas para potencializar fluxos e mudanças. As “relações afetivas interculturais”, ou seja, o casamento, o namoro e, inclusive, as separações foram circunstâncias apresentadas por seis dos quinze jovens entrevistados. Nesse aspecto, também as experiências narradas nos oferecem elementos para seguirmos problematizando os motivos e desejos de migrar.

Aí eu comecei a vir pra aqui, que eu tinha uns conhecidos e tudo y bueno... [...]. Aqui Porto Alegre, aí bueno depois que eu comecei a namorar e aí vim pra aqui...aí eu decidi morar aqui eso fue em 2003[...]. (Mauro, Porto Alegre, 27 anos, nascido no Uruguai). 

Ele é gaúcho. Eu vim para cá porque me apaixone, né? (Rosa, Porto Alegre, 24 anos, nascida no Paraguai).

Peguei férias lá no Uruguai, vim pra aqui, pra observar e gostei e fiquei. E tava fazendo dois meses quase, quase que eu desisti, sabe? Conheci a minha esposa que é hoje ela e fiquei definitivo. (Alberto, Porto Alegre, 25 anos, nascido no Uruguai).

Nas relações de parentesco, amizades ou mesmo entre conhecidos, enfatizadas nas entrevistas, constatamos a criação de laços simbólicos-afetivos atuando como intercessores nas decisões e escolhas dos entrevistados. Analisamos a atuação dos intercessores como potentes produtores de afectos (19), sendo esses visualizados num plano das experimentações, dos fluxos, ou ainda, das virtualidades, o plano das sensações. Nessa perspectiva, encontramos as distinções oferecidas por Deleuze – em suas leituras de Spinoza – entre o que seriam os afectos alegres e os tristes. Os afectos produzidos por intercessores de sentimentos alegres se definem pelo aumento da potência de agir e, respectivamente, os sentimentos tristes pela redução. Os laços de parentesco e amizade, aqui percebidos como potentes intercessores nas tomadas de decisões por lugares para migrar, foram narrados, pelos jovens, como produtores de afectosna preservação dos vínculos identitários com os lugares de nascimento, como veremos a seguir.

O desejo de “outra vida” como intercessores na decisão de migrar

A perspectiva de melhorar as condições de vida, também compreendida como oportunidade de trabalho, ou ainda, como possibilidade de emprego e qualificação profissional, foi evidenciada em três das quatro entrevistas realizadas em Porto Alegre. Algumas experiências agregam em suas motivações as relações entre trabalho, qualificação profissional e estudos. No quadro de experiências extraído das narrativas dos entrevistados em Barcelona, a motivação profissional não é menor.

[…] en mi caso, por la experiencia de poder estudiar en otro sitio, conocer una realidad totalmente distinta, ver otros problemas, otras soluciones, otro tipo de cosas […].Crecer e obtener el reconocimiento que no podes tener en tu país, o crees que no podes tener en tu país. (Sebastian, Barcelona, 28 anos, nascido no Perú).

Porque Barcelona me pareció que es una ciudad que tiene más oportunidades eh […] para disciplinas creativas, como por ejemplo, estudios visuales. […] la cosa económica, para llevar la vida en Polonia precisas algo, algún dinero y para los estudiantes que terminan estudios no hay trabajo. (Suzana, Barcelona, 28 anos, nascida na Polônia).

No entanto, alguns entrevistados explicitam as diferenças e discriminações enfrentadas, principalmente, por serem migrantes latino-americanos ou vivenciadas por aqueles oriundos do leste europeu. Carmen, uma argentina que reside há quatro anos na Espanha, comenta:

[…] si no tienes una base, como tenia yo que en su momento tenía un contacto que a su vez me presentó mas gente […] no hubiera podido haberme quedado tanto tiempo […] a comparación de lo que creía, fue como que no, que llegas, pides trabajo aquí y ya está. No. Porque está todo el tema éste que me encontré acerca de los inmigrantes (actos de protesta: encierro en iglesias de inmigrantes), eres un inmigrante y te vencen los 3 meses (del visado) y eres una persona non grata, supuestamente, no? (Carmen, Barcelona, 27 anos, nascida na Argentina).

A experiência narrada pela estudante de antropologia visual, Suzana, residente em Barcelona, parece ser uma das possíveis formas de escapar dos padrões estabelecidos. Os encontros falam da potencialidade de afetar e ser afetado, do desejo de compartilhar planos e projetos de vida. Narrativa que parece fortalecer o lugar das redes de afeto como espaços de criação frente à discriminação e indiferença, a presença de intercessores que produzem afectos alegres se definem pelo aumento da potência de agir provocando deslocamentos e mudanças nos modos de existir.

Y busqué hacer mi vida nueva, mi vida más creativa pero también encontrar la gente con más cariño. Y de verdad encontré, encontré ahora mismo pasó casi un año pero conozco mucha más gente aquí, gente muy abierto, gente que está de verdad trabajando conmigo sobre mi proyecto o planeando hacer algo al futuro, conocí mucha más gente aquí en un año que allá [Londres] en seis años. Entonces fue un éxito [...] muy importante (Suzana, Barcelona, 28 anos, nascida na Polônia).

Ao enunciarem desejos de outra vida, algumas narrativas nos aproximam das leituras de Deleuze, em especial, ao ressaltar Foucault, afirmando a vida como obra de arte. São compreensões que destacam não apenas uma estética, mas também uma ética .

Para Deleuze (1992, p.126),

São estilos de vida, sempre implicados, que nos constituem de um jeito ou de outro [...] há nisso toda uma ética, há também uma estética. O estilo, num grande escritor, é sempre também um estilo de vida, de nenhum modo algo pessoal, mas a invenção de uma possibilidade de vida, de um modo de existência.

O “gosto por conhecer” outras culturas, outros modos de vida aparecem nas entrevistas em ambos os países. Nas narrativas, a vivência da migração como experiência cosmopolita parece colaborar na composição de afectos alegres.

Ganas de conocer otras culturas. Brasil és un país que está muy cerca. És un país hermano, digamos, también da Argentina. E no conocía por estar mui cerca, no conocía  la cultura do Brasil, las personas […]. Geralmente, há muchas cosas para hacer, muita criatividad en todas las áreas, en todos os campos que uno pretenda trabajar, conocer. (Clara, Porto Alegre, 28 anos, nascida na Argentina).

Entonces me encantó poder cambiar tus puntos de vista al ver otras culturas siempre que yo viajara […]. (Suzana, Barcelona, 28 anos, nascida na Polônia).

Si ya había pensado en estar una temporada en el extranjero, mas por motivos profesionales porque en mi país tuve la buena fortuna de lograr posicionarme, tocaba muchísimo, gané varios conciertos nacionales y se movía bien pero la buena ambición, me gustaría salir, ver lo que pasa afuera, formarme y luego claro regresar. Se dio esta oportunidad del concierto y yo la aproveché indirectamente porque en este momento no me había planteado quedarme. (Frank, Barcelona, 30 anos, nascido na Venezuela).

No caso de outros entrevistados, os gostos foram variando entre “gosto por viajar”, por “aventuras” e por “liberdade”.  No entanto, pretendem-se como “estilos de vida” dissociados de motivações econômicas. E, em alguns casos, como condição para realizar seus desejos.

É [...] a aventura [...] no Uruguai [...] foi uma coisa de aventura eu gosto de viajar, gosto de estar em lugares diferentes. (Mauro, Porto Alegre, 27 anos, nascido no Uruguai).

[…] lo que me facilita estar aquí, es trabajar y poder tener una base de dinero que me permita viajar y a su vez ver otras historias […] viajar más que es uno de mis, de las claves de mi vida y en Argentina esto mucho mas difícil, viajar a las afuera, manejándome con pesos, es algo imposible. (Carmen, Barcelona, 27 anos, nascida na Argentina).

As crises econômicas e políticas como intercessores na decisão de migrar

As questões políticas e econômicas aparecem, em grande número das narrativas dos entrevistados e, em alguns casos, assumida como articuladora de “projetos de migração individual e ou coletivo” (COGO, 2005). Se, na análise das entrevistas, foram identificadas dificuldades econômicas de ordem familiar e individual, chamaram atenção igualmente alguns fatos contextualizados por circunstâncias históricas e políticas. Para os jovens entrevistados em Porto Alegre e em Barcelona, as expectativas de melhoria nas condições econômicas e as oportunidades de trabalho condicionaram as escolhas dos países e cidades para migrar.

Nos estudos de Mezzadra (1995), as circunstâncias de vida material, assim como os processos de dominação e desigualdade que envolvem as experiências migratórias, devem ser consideradas na mesma medida que aspectos da subjetividade que pautam os vínculos, relações, conflitos e disputas sociopolíticas, econômicas e culturais das migrações nas sociedades contemporâneas.

Nas narrativas dos jovens migrantes – tanto em Porto Alegre como em Barcelona – foram enfatizadas questões políticas e situações de precariedade econômica como principais argumentos para deixar seus países de nascimento. Suzana, residente em Barcelona, questionada sobre sua decisão de sair da Polônia comenta:

Puede ser al principio porque […] claro porque en Polonia por muchos, muchos años eh... era un país comunista, entonces yo viví […] cuando era más joven y nosotros recuerdo teníamos siempre problemas para salir del país, problemas de vigilancia, problemas de vigilancia y control. Y cuando tenía […] veinte, veintiún años, claro que nuestro país era mucho más abierto pero tenía muchos deseos de conocer otros países para ver qué pasa en esos otros países que nosotros por muchos años no podíamos conocer […]. Fue esto al principio, después claro cuando entendí que de verdad quería irme de Polonia empecé a trabajar ya al principio como camarera y podía ganar más dinero que mi padre después de treinta años de trabajo profesional. Mi papá era ingeniero y yo ganaba mucho más dinero. (Suzana, Barcelona, 28 anos, nascida na Polônia).

No caso de Carmen, Argentina, também residente em Barcelona, o contexto econômico de seu país foi fundamental para suas escolhas de vida:

[…] al plantearse todo el tema de la crisis económica, social, de todo tipo en Argentina, bueno, me hizo replantear verdaderamente dónde me iba a instalar y decidí que tenia que volver a Argentina, reevaluar la situación, ver cómo estaba allí, y bueno a ver si me sentía en Argentina o si quería construir mi vida en Barcelona. Cuando volví a Argentina (en 2002) […], el tema del trabajo estaba fatal, […] por allí me permitía estudiar estando en la casa de mis padres pero el tema de no tener independencia financiera, después de haber estado 2 años y medio fuera por primera vez y que vivía por mi cuenta y bajo mi completa responsabilidad, no podía tolerar volver a vivir con mis padres y no tener esta independencia financiera que en Argentina se veía bastante complicado resolver. (Carmen, Barcelona, 27 anos, nascida na Argentina).

Considerações finais

Sem concluir, visualizamos algumas pistas e operadores que potencializam a experiência migratória e auxiliam a escapar de uma lógica binária de afirmação identitária a partir do lugar de nascimento ou do lugar de migração. Constatamos nas narrativas dos entrevistados experimentações migratórias – individuais e coletivas - expandindo e oferecendo pontos de vistas privilegiados para compreendermos as novas subjetividades que emergem das migrações na contemporaneidade.

No conjunto da análise, tanto dos “porquês” deixaram seus países de nascimento como dos motivos e desejos que os levaram a escolher outro lugar para viver, constatamos narrativas com histórias de rupturas, desvios, encontros e encantamentos provocados por intercessoresmúltiplos.Como vimos anteriormente, esse é um conceito expresso em séries, atuando de modo plural. Nas palavras de Vasconcelos (2005, p.8) “tratam-se sempre de intercessores a forçar o pensamento a sair de sua imobilidade”.

A construção analítica permitiu entender um pouco mais o enlace dos acontecimentos políticos, econômicos, familiares e afetivos no campo social e cultural, assim como algumas experimentações que levam às manifestações de bem e mal-estar, de queixas, ressentimentos, de perdas, de conquistas, de culpabilizações, de desafios e alegrias no percurso ou na perspectiva das migrações transnacionais de juventudes.

 


NOTAS:

(1) Nesse artigo, em função da delimitação de páginas, foi necessário recortar a analise dos contextos de ambas as cidades. Informações atualizadas de Barcelona podem ser acessadas no Departamento de Estadística. Ayuntamiento de Barcelona. http://www.bcn.es/estadistica/castella/index.htm .  Dados sobre a cidade de Porto Alegre podem ser encontrados no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). http://www.ibge.gov.br

(2) A pesquisa integrou o Programa Acadêmico de Cooperação Internacional Brasil-Espanha, financiada por CAPES (Brasil) e Ministerio de Educación y Ciencia (Espanha) e contou com a participação de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e do Departamento de Publicidade e Comunicação Audiovisual da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). Além das autoras de desse artigo, integraram o projeto outros 29 pesquisadores, entre professores e alunos brasileiros e espanhóis. Os resultados da pesquisa estão publicados em COGO; GUTIÉRREZ; HUERTAS, A. (coords.) (2008).

(3) Optamos pelo uso do termo migração e migrantes, no lugar de emigração/emigrante ou imigração/imigante, por entendermos ser mais adequado para dar conta da dinâmica fluída dos múltiplos fluxos migratórios, muitas vezes transitórios e feitos de múltiplos destinos e de idas e vindas. País de nascimento e país de migração são os termos que consideramos mais adequados para referir o local de partida do migrante (e não país de origem, por exemplo) e o local para o qual escolheu migrar (ao invés de termos como sociedade de acolhida ou sociedade receptora).

(4)  Segundo relatório da ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL PARA LAS MIGRACIONES (OIM).  Informe sobre las migraciones en el mundo 2010: el futuro de la migración: creación de capacidades para el cambio. Genebra, 2010. Cabe destacar, contudo, que as estimativas e dados estatísticos sobre as migrações não costumam contabilizar a presença de migrantes não regularizados.

(5)  O uso de termos como: “países em desenvolvimento”, “países em transição”, “nações em desenvolvimento” se deve ao fato de serem convencionados como “padrão” na análise de diversos órgãos de pesquisa nacionais e internacionais, bem como para alguns autores com pesquisas citadas nesse estudo. 

(6) Segundo o Relatório Estado de la Población Mundial 2006. Suplemento Jóvenes en Movimiento. UNFPA.

(7)  As quinze entrevistas utilizadas nesse artigo foram realizadas em Porto Alegre e Barcelona pelas autoras desse trabalho e por outros sete pesquisadores integrantes do Programa Cooperação Acadêmica Internacional Brasil-Espanha (CAPES-MEC). O processo de constituição do universo da pesquisa está relatado detalhadamente na obra com os resultados da pesquisa, citada anteriormente.

(8) Para a Organização das Nações Unidas (ONU), os jovens são definidos como pessoas em idades de 15 a 24 anos. Já para a Organização Internacional da Juventude – (OIJ) a intenção é de ampliação até 29 anos. Outra importante referência é a Organização Mundial de Saúde (OMS) que aponta, por exemplo, duas fases de constituição da adolescência: uma primeira que vai dos 10 aos 16 anos, e uma segunda, dos 16 aos 20 anos.

(9)  Melucci (2001); Oliveira (2001), Pochmann (2004), Soares (2004), entre outros.

(10) Essa abordagem apoia-se também em alguns estudos sobre “culturas juvenis”, dos quais citamos Abramo (1994) acrescentando, ainda, as contribuições dos estudos de García Canclini (2001), Sarlo (1997) e Melucci (2001).

(11) O peso diferenciado da faixa etária jovem no universo de entrevistados nas duas cidades está em consonância com as tendências dos movimentos migratórios mais amplos de Brasil e Espanha nos últimos anos. Evidenciamos uma presença migratória mais jovem e instalada há menos tempo em Barcelona do que em Porto Alegre.

(12) Por questão ética, os nomes dos jovens entrevistados foram alterados e suas condições de cidadania jurídica não aparecem mencionadas, embora tenham sido referidas nas entrevistas.

(13) Voluntariado em substituição ao serviço militar.

(14) Avenida do centro de Barcelona.

(15) Bares, restaurantes, salão de beleza.

(16) Nesse estudo, a acepção de “agenciamento” compreende as dimensões por onde o desejo corre. Nas palavras de Deleuze (2004), um agenciamento remete a quatro dimensões, sendo elas: “os estados de coisas, as enunciações, os territórios e os movimentos de desterritorialização”. Um “estado de coisas” entendido aqui como aquilo que convêm a uns e não convêm a outros – e seus estilos de enunciação. O agenciamento implica territórios, cada um com seu território, existem territórios. Podemos escolher um território. Por exemplo, ao entrarmos numa sala que não conhecemos, procuramos o lugar onde nos sentiremos melhores. Desse modo, também ocorrem processos que devemos chamar de desterritorialização, o modo como saímos do território.

(17) Na transcrição de trechos das entrevistas, optamos por manter o idioma utilizado pelo entrevistado: português, espanhol ou mescla entre os dois.

(18)  O termo “coletivo” está sendo usado aqui “no sentido de uma multiplicidade que se desenvolve para além do indivíduo, junto ao socius, assim como aquém da pessoa, junto a intensidades pré-verbais, derivando de uma lógica dos afetos mais do que de uma lógica de conjuntos circunscritos”. (GUATTARI, 1992, p. 20). O uso desse termo “implica também entrada de diversas coleções de objetos técnicos, de fluxos materiais e energéticos, de entidades incorporais, de idealidades estéticas, etc.” (GUATTARI, ROLNIK 1996, p. 319).

(19) Nos estudos de Spinoza, citados por Negri (1993, p. 249), comprende-se afectos como“las afecciones del cuerpo, por las cuales aumenta o disminuye, es favorecida o perjudicada la potencia de obrar de ese mismo cuerpo, y entiendo, al mismo tiempo, las ideas de esas afecciones”.

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Recebido: 14/02/2012
Aceito: 14/03/2012

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