REDE RÁDIO ARTE¹

 

MAURO JOSÉ SÁ REGO COSTA
Professor Associado da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense / UERJ; Coordenador do Laboratório de Rádio UERJ/Baixada e do Estúdio de Som e Música da FEBF/UERJ. Coordenador do Grupo Kaxinawá Pesquisas Sonoras

MARCELO WASEM
Professor Adjunto do Instituto de Artes / UERJ. Coordenador do blog Jogos de Escuta. Membro do Grupo Kaxinawá Pesquisas Sonoras.

ADRIANA GOMES RIBEIRO
Doutoranda em Educação na Pontifícia Universidade Católica - Rio de Janeiro (PUC/Rio), Membro do Kaxinawá Pesquisas Sonoras e do GRUPEM (Grupo de Pesquisa Educação e Mídia, da PUC-Rio).

PEDRO DE ALBUQUERQUE ARAUJO
Mestre em Educação, Cultura e Comunicação pela FEBF/UERJ. Membro do Kaxinawá Pesquisas Sonoras; Artista Visitante no Estúdio de Som e Música da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense/ UERJ.


Resumo: Estamos criando um portal na web para hospedar grupos e artistas sonoros e radioartistas individuais, grupos de pesquisas universitários do Brasil, além de grupos/artistas convidados do exterior. O objetivo é permitir o conhecimento mútuo e o intercâmbio entre artistas e produtores nessa área, assim como a possibilidade de produção coletiva de peças sonoras e de programas de rádio para transmissão em web radio e posteriormente, em uma variedade de rádios educativas universitárias.
Palavras-chave: Rede. Rádio arte. Artes sonoras. Rádios educativas universitárias.

Abstract: We are creating a web portal to host sound art groups and individual sound artists and radio-artists, university research groups, in Brazil, and groups/artists invited from abroad. The goal is to allow mutual knowledge and exchanges between artists and producers in this area, as well as the possibility of collective production of sound pieces and radio programs for broadcast on webradio and subsequently in a variety of university educational radios.
Keywords: Web. Radio-art. Sound art. University educational radios.

INTRODUÇÃO

A Rádio-Arte e as Artes Sonoras são uma região nova, pelo menos para o grande público, no universo da criação artística. Rádio-Arte é algo que se pode pensar desde o inicio do rádio na Alemanha (1923) a partir do conceito de hörspiel (peça sonora), como era então formulado, mas de forma mais ampla – integrando radio-arte, paisagens sonoras, radiodrama, documentário sonoro, poesia sonora – o conceito e sua discussão surgem em torno dos anos 70 (MAURUSCHAT, 2014). Quanto a artes sonoras, o termo é usado para descrever a pesquisa interdisciplinar no campo da música eletrônica e música com auxílio de computador, integrando áreas como acústica, eletrônica, informática, composição e psicoacústica, e seu estudo deu origem a uma região de pesquisa nova, a Sonologia, com espaço institucional definido no NuSom, Núcleo de Pesquisa em Sonologia no PPGMúsica da ECA/USP, no CCHLA da UFPb, no PPG Música da UFRJ, na UNIRIO, entre outros.  

Há um grupo de pesquisa internacional que não está ligado a nenhuma universidade pública ou privada, “The International Radio Art (and Creative Audio for Trans-media) Research Group” (IRARG)², que promove “uma melhor compreensão da rádio arte e seus derivados trans-mídia”, concebe-os em termos de suas “origens, seu desenvolvimento, suas manifestações atuais e futuras e seu impacto sociocultural”. O IRARG foi criado “em resposta à necessidade de uma plataforma para o compartilhamento”, assim como a Rede Rádio Arte, de maneira a estabelecer outra forma de produção reconhecida pela “erudição na rádio arte” sendo que, “este é um campo largamente ignorado dentro da academia”. O grupo possui objetivos claros: 1) a criação de uma rede de apoio de pesquisadores que estimulam as oportunidades de envolvimento internacional; 2) o lançamento de uma publicação on-line que seja revisada por pares.

Além destes objetivos, o grupo tem um site onde publica o que pensam seus Membros do Comitê de Assessoria³, tais como: manifestos sobre o que seria rádio arte, uma bibliografia extensa sobre o assunto e exemplos sonoros de rádio arte.

Um dos manifestos é de uma rádio on-line austríaca, a Kunstradio: Para uma definição de rádio arte – Kunstradio Manifesto(4), que nos propõe os seguintes princípios: 1) Radio Arte é o uso do rádio como um meio para a arte; 2) Rádio é ao vivo e não gravado no estúdio de produção; 3) A qualidade do som é secundária à originalidade conceitual; 4) Rádio é quase sempre ouvido combinado com outros sons – domésticos, de trânsito, de televisão, telefonemas, crianças brincando, etc; 5) Rádio arte não é arte sonora – nem é música –, rádio arte é rádio; 6) Arte sonora e música não são rádio arte apenas porque eles são transmitidos no rádio; 7) O espaço Rádio são todos os lugares onde o rádio é ouvido; 8) Rádio arte é composta de objetos sonoros experimentados no espaço do rádio; 9) O rádio de cada ouvinte determina a qualidade de som de um trabalho de rádio; 10) Cada ouvinte ouve a sua própria versão final de um trabalho para a rádio combinado com o som ambiente de seu próprio espaço; 11) O artista de rádio sabe que não há nenhuma maneira de controlar a experiência de um trabalho de rádio; 12) Rádio arte não é uma combinação de rádio e arte; rádio arte é rádio feita por artistas.

Já nós propusemos outra concepção do que seria rádio arte(5): “Entendemos que a arte radiofônica é um tipo de experimentação que pode ser pensada dentro uma categoria mais ampla: a da arte sonora. Compreendemos que arte sonora possui a abrangência para as produções sonoras (e artísticas) que pretendemos listar aqui: paisagens sonoras; poesia sonora, radiodrama; documentários sonoros; arquiteturas sonoras e objetos plásticos sonoros. (...) Assim, o termo arte sonora abarca criações radiofonizáveis e não radiofonizáveis - como o caso de instalações sonoras e da criação de objeto plásticos sonoros (que podem ser [- parcialmente -] radiofonizados). (...)”.

Mas rádio-arte e artes sonoras vão aparecer por aqui, em eventos artísticos mais amplos, apenas na 7ª Bienal do Mercosul, em 2009, com a página de rádio em streaming Radiovisual: excitadora de frequências, criada e “curada” por Lenora de Barros. E depois na 30ª Bienal Internacional de São Paulo (ago.-dez. 2012) com a Mobile Radio BSP, produzida pela equipe da mobile-radio.net.  A http://mobile-radio.net/ é ela mesma uma página internacional de rádio-arte e artes sonoras, cuja equipe produz bienalmente o RadialX, festival de rádio-arte da Radio Zero de Lisboa; produziu, recentemente, o Addicted2Random festival da Radio Corax, em Halle (Alemanha, julho 2013), e atua como centro de uma rede de 25 rádios experimentais de 17 países, que pode ser acessado pelo www.radia.fm.

Já estávamos com a ideia de montar este portal quando tivemos contato e participação na programação da Mobile Radio BSP, em 2012, com produções do Kaxinawá Pesquisas Sonoras. Este encontro ampliou nossa certeza sobre a possibilidade e a oportunidade da criação do portal, com a proposta de inserir no cenário da internet um espaço dedicado aos artistas, instituições de ensino e grupos de produção de arte sonora.

O Kaxinawá Pesquisas Sonoras faz produção de artes sonoras no Estúdio de Som e Música da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) – UERJ. O grupo de pesquisas, também formado em 2012, é composto por pesquisadores universitários, igualmente artistas sonoros, da FEBF e Instituto de Artes da UERJ e do IAD – Instituto de Artes e Design – da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)(6). O grupo já nasceu associado a este outro grupo de pesquisadores do IAD/UFJF, o GRUMAS - Grupo de Pesquisas em Música e Artes Sonoras. O GRUMAS organiza, anualmente, o EIMAS – Encontro Internacional de Música e Artes Sonoras(7) .

Dois professores do IAD e artistas sonoros – Daniel Quaranta e Alexandre Fenerich – também atuam no Programa de Pós-graduação em Música da Universidade Federal do Paraná(8) e, assim, trouxeram para a rede artistas sonoros deste programa como Flora Holderbaum e Lilian Nakao Nakahodo.

Junta-se a este núcleo o GRISsom, grupo de pesquisas em Linguagens Sonoras do Departamento de Comunicação da FFCH/UFMG, através da Graziela Mello Viana e Nísio Teixeira – seus coordenadores – e Elias Santos, coordenador executivo da Rádio UFMG Educativa(9).

Outro projeto universitário importante que faz parte da Rede é o Sussurro Música Contemporânea Brasileira – uma vasta sonoteca criada pelo compositor e pesquisador Rodolfo Caesar na Escola de Música da UFRJ, em 2006. Sussurro(10) disponibiliza um enorme acervo de gêneros diversos, das artes sonoras a músicas experimentais, live, auxiliadas-por-computador, algorítmicas, intermídia, poesia sonora, etc. compostas por grande parte dos compositores brasileiros atuais. Tudo pode ser ouvido direto no site e muitas permitem também download, com proteção ao seu uso comercial pela licença Creative Commons. Semelhante ao Sussurro, também na Rede está o grupo produtor da Rádio do Centro de Música Eletrônica (CME) do Instituto de Artes da UFRGS. Coordenado pelo Prof. Dr. Eloy F. Fritsch, o CME também disponibiliza através da Rádio seu acervo de peças nos gêneros Computacional, Concreto, Eletrônico, Eletroacústico, Paisagens Sonoras, etc. São composições de alunos, professores e participantes do Centro de Música Eletrônica reunidas nos últimos dez ano(11).

Entre os artistas sonoros independentes que fazem parte da Rede, começamos com a produtora musical, radioartista e também curadora, Lilian Zaremba. Lilian vem produzindo programas com música experimental e artes sonoras há 17 anos na Rádio MEC FM, do Rio de Janeiro. Seu primeiro programa do gênero, Radio Mutantis, foi transmitido de 1997 a 2001. A partir de 2005, começou o Rádio Escuta e atualmente, produz e apresenta Radio Mirabilis. Além de grande produção em instalações sonoras – gênero que mistura as instalações das artes plásticas com as artes sonoras –, Lilian também foi responsável por vários encontros e simpósios tratando da rádio arte e das artes sonoras, desde o primeiro Radioforum no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro), em outubro de 1997(12), ao evento O que eu faço é rádio, em 2006, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, com mesas redondas e mostras de produção radioartística, e ao Entreouvidos(13), no Parque Laje, em 2007. Em dezembro de 2013, fez a curadoria do Zebra Significa, um evento de arte sonora com uma estética radiofônica, rádioartistas ao vivo no palco de um bar de Rock’n Roll, o Saloon no Rio de Janeiro(14).

Foi a partir de O que eu faço é rádio que começamos um contato mais estreito com Luiz Guilherme Vergara, diretor do MAC. Recentemente, Vergara nos convidou para ajudar a montar uma rádio comunitária associada ao Museu, integrando o MAC a uma grande comunidade/favela localizada nas colinas próximas ao Museu. E lhe propusemos começar com uma webradio de radioarte/artes sonoras transmitindo da página do Museu – que deve estar em breve online.

Também na Rede, Thelmo Cristovam, de Olinda, Pernambuco, tem uma produção singular de uma geografia sonora do estado de Pernambuco – paisagens sonoras da Ilha de Fernando de Noronha, do Vale do Catimbau, do Mercado de S. José (Recife), das ruas e do tráfego urbano de Recife e Olinda, como também o projeto especial dos arredores do Lago Mamori no Amazonas(15). Tem também grande produção em música eletroacústica(16) e música instrumental improvisada, e um trabalho precioso de Oficinas de experiência com paisagens sonoras ao vivo – Ambientes Sonoros Imersivos – nas comunidades de Olinda e Recife(17).

Entre outros artistas sonoros na Rede estão: Renata Roman, de São Paulo, que teve participação semanal na Radio BSP, da 30ª Bienal SP, com Paisagens & Poéticas, em que selecionava um poeta de um bairro de São Paulo e mixava sua participação à paisagem sonora do mesmo bairro – dentro de seu grande projeto de mapeamento sonoro da cidade(18); Marssares, cujo trabalho é definido por Lilian Zaremba como uma junção entre a música, os mixes, os mashups dos DJ’s e a arte sonora, e cuja produção inclui joias como as peças que compôs usando os instrumentos inventados por Walter Smetak, apresentadas na exposição que Lilian organizou no MAM de São Paulo(19); Diogo Reis, DJ e produtor de uma singular festa de música eletrônica, techno, mix no Rio de Janeiro – a Moo(20) – , marcante pelo cuidado técnico sonoro e de design, trazendo o universo do entretenimento, das baladas, para o espaço da Arte – e que reúne em torno de si uma turma especial de músicos experimentais e DJ’s criadores que apresentará na Rede; Alex Hamburguer, que trabalha desde os anos 80 com poesia visual e sonora, com participações diversas e singulares nos programas radiocaos transmitidos pela Rádio Roquete Pinto (Rio de Janeiro), Rádio USP (São Paulo) e Rádio EParaná (Curitiba)(21) e que criou cerca de 30 trabalhos em arte-performance, publicou 5 livros de ‘poesia verbal’ e 2 CDs de ‘poesia sonora’ – parte do acervo da Printed Matter Bookstore, New York, e do Compendium of Contemporary Fine Prints, Hamburgo, Alemanha.

Os demais artistas sonoros na Rede, até o momento, são Floriano Romano, Tato Taborda e Anja Mauruschat. Floriano Romano começa suas atividades de artista sonoro fazendo um programa de rádio sobre e com artistas plásticos, na Rádio Madame Satã, que transmitia como rádio livre ou “pirata”, a partir de um estúdio na Lapa, Centro do Rio de Janeiro. “O Inusitado” era o nome e o clima do programa, transmitido de 2002 a 2004. Em seguida, criou vários objetos sonoros inusitados como: uma mochila com um transmissor de rádio, microfone e alto-falante para performances nas ruas, em shopping centers, e supermercados no qual se pode escutar a frase: NÃO, NÃO, NÃO, NÃO PRESTE ATENÇÃO!!!(22); uma Máscara Sonora, com a aparência de uma máscara contra gases, com duas caixinhas de som que tossem sem parar; ou um guarda-chuva que transmite continuamente o som de chuva enquanto ele passeia no sol. O que ficou mais conhecido foi o “Chuveiro sonoro”, um chuveiro que ao ser aberto transmite gravações de gente cantando no chuveiro. Romano passou recentemente em concurso para a disciplina de Escultura, na Escola de Belas Artes da UFRJ, onde está formando outros escultores sonoros. Curiosamente, Marcelo Wasem, do grupo Kaxinawá Pesquisas Sonoras, fez percurso recente semelhante, passando para a vaga de professor efetivo na disciplina de Escultura no Instituto de Artes da UERJ. Nesta instituição, pesquisa e ministra aulas sobre arte pública, relacional e colaborativa, assim como sobre arte sonora e radiofonia. Suas investigações precedem a área acadêmica, com práticas poéticas diversas(23), desde a criação de rádios temporárias ou instauração de processos colaborativos em periferias até a produção de peças sonoras misturando paisagens sonoras com trilhas musicais. Essas investigações produzem ressonâncias com o trabalho que está sendo desenvolvido pelo Artista Visitante do Estúdio de Som e Música FEBF/UERJ, Pedro de Albuquerque Araujo, através das pesquisa/aulas em arte sonora e a invenção de peças sonoras.

Tato Taborda. Desde 1985 compõe trilhas sonoras para teatro, cinema e televisão – Prêmio Mambembe, em 1996, pelo conjunto de trabalhos daquele ano -, ao mesmo tempo, trabalhava com eletroacústica, fazendo parte, desde 1981, do grupo do Estúdio da Glória (o primeiro estúdio criado para composição eletroacústica no Rio de Janeiro), junto com os compositores Tim Rescala, Rodolfo Caesar e Sandra Lobato. A última face da obra de Tato é a composição de trilhas para dança contemporânea, em parceria com a bailarina e coreógrafa Maria Alice Poppe, desde 2003, com vários trabalhos marcantes como “Tão Sertão”, “Tempo Líquido”, “A Tempo”, “3 Mulheres e um Café”, “Código-fonte”(24) e, o último, “Caprichosa voz que vem do pensamento”, uma “improvisação para dançarina e piano preparado” que ganhou uma versão dramatúrgica, com a parceria do diretor Aderbal Freire Filho. Outro trabalho recente importante foi a ópera A Queda do Céu (The Fall of the Sky) no Teatro Musicado em Três Partes AMAZONAS (Music theatre in three parts) apresentado na Bienal de Munique de 2010. O trabalho tem um primeiro ato musical TILT – música de Klaus Schedl e texto de Roland Quitt – seguido pela ópera do Tato, inspirada na música do povo indígena Ianomâmi e concluído com uma conferência ilustrada sonora e videograficamente – In expectation of the efficiency of a rational method for a solution to the problem of climate change (À espera da eficiência de um método racional para a solução do problema das mudanças climáticas) – concepção, texto e direção de Peter Weibel.

Anja Mauruschat, além de artista sonora é uma produtora radiofônica e professora da Universidade de Basel (Suiça). De 2002 a 2012 trabalhou para a estação de rádio pública Bayerischer Rundfunk em Munique, no departamento de rádio drama (Redação em Hörspiel & Medienkunst). Desde 2012 é pesquisadora assistente da Universidade de Basel.  Fizemos contato com Anja no encontro de Radio Research 2013, da ECREA(25), em Londres, e desde então estamos trocando trabalhos e propostas(26).

Outra participante da Rede que não se define simplesmente como artista sonora é Janete el Haouli, ex-professora do Departamento de Música e diretora da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina. Janete produziu durante 14 anos o programa ‘Música nova: rádio para ouvidos pensantes’ na Rádio Universidade FM da UEL e foi diretora da rádio por quatro anos. Criou e dirigiu o Núcleo de Música Contemporânea (1993 / 2008) e realizou projetos de criação radiofônica para a WDR (Colonia), DeustchandRadio (Berlin), Radio Educación (Mexico), Rádio Cultura FM SP, entre outras. Sua pesquisa de mestrado sobre o músico e pesquisador da música vocal italiano Demétrio Stratos – Demetrio Stratos – em busca da voz-música – foi publicado na Itália (1999), no Brasil (2002) e no México (2006).  Hoje, Janete continua a produzir eventos, cursos, apresentações de radioarte na sua Toca, em Londrina, um espaço alternativo criado no início de 2013(27).

Entre os grupos de artes sonoras que fazem parte da Rede começamos com o Al Revés, um grupo paulista revelado (para nós) pela Radio BSP.  Al revés, música eletrônica experimental, fazia programas quinzenais durante a Bienal. Seu contato conosco na rede é Alexandre Marino. O grupo se auto define em seu site “um projeto musical que promove e desenvolve pesquisas e trabalhos livres de contornos de estilo, moda ou mercado. Seu objetivo é reunir materiais que beirem os limites da criação musical (...)”(28) Apontam como seus apoiadores os selos Bedroom Research – “selo francês criado em 2002 por Subjex, Fletch e Deework, agora gerenciado por Matt Subjex” – trabalham com Hip-Hop, Techno, Protofractalglitchstep, Sci-Folk...(29), Psicotropodelia que, por exemplo, lança seu “Psicotropodelia Music Vol.5” – álbum coletânea de Vários Artistas do Brasil, Bélgica, Austrália, Rússia, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Uruguai.  “Este volume da série de coletâneas comemora os 5 anos do Psicotropicodelia Music (netlabel). Com mais de 3 horas de faixas inéditas apresenta – em uma infinidade de estilos – uma síntese das nossas intenções musicais”(30).  E o V/Vm Test Records(31), além dos Decisive Sound Records,  Frozen Elephants e Okiru.  O Al Revés também lança discos através de seu selo digital Al Revés, para download gratuito sob licença Creative Commons(32).

Outro grupo membro da Rede é o Plano B. O Plano B Lapa começou como uma loja de discos (lps e cds) em 2004 e, após algumas mudanças, se estabeleceu com os atuais sócios, Fernando S. Torres e Fátima Lopes,  e um perfil e objetivos bem delineados: de apenas uma loja de discos, passa a abrigar performances, apresentações, shows e outros projetos, basicamente de arte e música experimental/de vanguarda, tendo como principal característica estarem fora do circuito comercial, fora do mercado fonográfico, fora dos circuitos institucionalizados. Grande parte das apresentações realizadas no Plano B Lapa pode ser classificada como música "experimental" (apesar deste termo ser um tanto deficiente: a maior parte dos artistas NÃO está ‘experimentando’, pelo contrário, sabe muito bem o que quer fazer e está fazendo). Vários outros processos e linguagens, como performances trans-midiáticas, vídeo-arte, instalações (sonoras ou não), arte sonora automatizada e cursos, palestras e workshops relacionados aos meios de produção e técnicas artísticas também encontraram espaço na loja. Localizada na Lapa, bairro do Rio de Janeiro conhecido por sua tradição noturna e concentração de grande número de pessoas nos finais de semana, o Plano B Lapa manteve suas portas abertas e realizou todos seus eventos gratuitamente. Em seus quase 10 anos de atividades o Plano B Lapa abrigou mais de 300 apresentações de artistas de estados brasileiros como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco, Distrito Federal, Bahia, Espírito Santo e Ceará, e países como Japão, Alemanha, Áustria, Estados Unidos, Polônia, Inglaterra, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Peru, Colômbia, França, Suécia, Holanda, Bélgica, Canadá, Finlândia, Suíça, Irlanda, África do Sul, Espanha, Luanda e Portugal(33). O Plano B, como loja de discos e espaço de apresentação de música experimental, teve que fechar em janeiro de 2014. Mas o projeto Plano B continua vivo. E o acervo de muitos gigabytes, das 300 apresentações gravadas, poderá ser aos poucos disponibilizado na Rede e por outros canais.

Também, o grupo português OSSO – OSSO Associação Cultural – e seu projeto de rádio ECOS. Através de parceria com a webradio stress.fm, os programas do projeto são transmitidos eventualmente promovendo a interação entre o público presente nos eventos e os que chegam online. Representam a OSSO/ECOS na nossa rede Nuno Torres e Ricardo Jacinto, com quem fizemos contato em 2013, em Lisboa, na sede da Associação, na Rua das Janelas Verdes, 13. Nuno Torrres é saxofonista e participa de conjuntos de música de improvisação, electroacústica e reducionismo. Ricardo Jacinto, atualmente doutorando no SARC – Sonic Arts Research Center, em Belfast; desde 1998 tem apresentado o seu trabalho de artes sonoras em concertos e performances, em Portugal e noutros cantos. Mas o http://www.osso.pt/projectos/ecos/ vem organizando eventos centrados nas paisagens sonoras como o RADIO OPEN CALL Intermission: Audio portraits of Place – Mapping the Space between A and B – um mapeamento sonoro de Lisboa e outros quaisquer lugares de onde vem (setembro 2013) – e em artes sonoras, como  - The Stranger that is next to me – A Broadcast & Live Web Stream Radio Event, 7 - 9 March 201(34), organizado pelo produtor sonoro Brandon La Belle(35).

E, finalmente, QUINTAVANT. A produtora Quintavant nasceu no Audio Rebel, casa de shows, estúdio e loja em Botafogo, Rio de Janeiro. Desde 2013 vem promovendo apresentações de artes sonoras e música além da Audio Rebel, no Circo Voador e Cinemateca do MAM. Em março de 2014, por exemplo, com Arrigo Barnabé, apresentação de seu Clara Crocodilo no Audio Rebel; em 9 de maio J-P Caron e Alê Fenerich musicando colagens de filmes de terror, especialmente de Dario Argento, na Cinemateca do MAM. Quintavant já criou um selo fonográfico – QTV – que lançou discos de artistas como Baby Hitler, Bemônio, e Negro Léo; também numa parceria com o selo polonês Bocian Records, lança dois volumes de “Bota Fogo”, com o registro do show de improvisação instrumental livre do baterista norueguês Paal Nilssen-Love com os músicos Eduardo Manso, Felipe Zenícola e Arthur Lacerda no Audio Rebel em 25/04. O representante do QUINTAVANT na Rede é o Bernardo Oliveira(36).

A Rede funcionando

Enfim, o projeto da RedeRádioArte, no momento, funcionando na plataforma Wordpress(37), permite a cada um dos membros acesso direto a sua própria página – todas as páginas enumeradas no cabeçalho da página de entrada – onde faz o upload de peças cujo acesso é livre em streaming para qualquer outro usuário ou visitante.

Além das páginas específicas para a produção de cada membro, há mais duas funções, que estão em janelas verticais do lado esquerdo da página: a Webradio e a Criação Colaborativa; e uma janela de links para os sites, blogs e outros canais digitais que pertencem aos membros da Rede. A Webradio apresenta uma série de podcasts, enviados pelos membros, e cuja seleção será refeita semanalmente. Os membros enviam seus podcasts para a página, por seu painel, e a seleção é feita pelos administradores da página. Preferimos a seleção de podcasts a uma webradio em streaming para dar ao ouvinte a possibilidade de escolher o que quer ouvir livremente, sendo os podcasts de durações variadas, até ultrapassando uma hora. Esta webradio é que será reproduzida na página de abertura do MAC – Museu de Arte Contemporânea – de Niterói(38), assim que o repertório enviado pelos membros for suficiente.

A outra janela – Criação Colaborativa – serve para que os membros disponibilizem peças que poderão ser trabalhadas, remixadas, misturadas, reutilizadas de forma livre por outros membros, que farão o upload do resultado para a mesma janela e para recepção aberta. Só os membros têm acesso ao uso prático da página. As peças remixadas terão acesso livre em streaming.

Ao mesmo tempo em que buscávamos a participação dos diversos artistas e grupos como membros da rede, fizemos contato com diversas rádios educativas universitárias com a proposta de, em breve, começarmos a produzir um programa semanal de uma hora – 50 min. mais chamadas – que será transmitido, de preferência, no mesmo horário por uma série de rádios. Desta forma, o gênero rádio arte/artes sonoras poderá chegar aos ouvidos de um público que nunca teve acesso a este tipo de produção.

NOTAS:

(1) Trabalho apresentado no DT4 GP Rádio e Mídia Sonora no XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – INTERCOM 2014, Foz do Iguaçu;

(2)V. http://www.internationalradioartresearchgroup.org/.

(3)Membros do Comitê de Assessoria: Elisabeth Zimmermann, Gregory Whitehead, Sabine Breitsameter, Atau Tanaka, Götz Naleppa, José Iges, Virginia Madsen, Perla Olivia Rodriguez, Lilian Zaremba, Erik Granly Jensen, Louis Niebur, Tetsuo Kogawa, Anna Friz, Colin Black.

(4)Conforme disponível em: http://www.kunstradio.at/TEXTS/manifesto.html.

(5)V. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2013/resumos/R8-1459-1.pdf; http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/8635.

(6)Compõem o Kaxinawá Pesquisas Sonoras Mauro Sá Rego Costa, Adriana Gomes Ribeiro, Pedro de Albuquerque Araújo e Marcelo Wasen, autores desta comunicação, além dos Prof. Dr. Pedro Leite Lopes (FEBF/UERJ), o músico e informata Carlos Alexandre Moraes – também mestre pelo PPG da FEBF – e Marcelo Lopes, técnico em áudio e “piloto” do Estúdio de Som e Música da FEBF.

(7)V. http://www.ufjf.br/eimas/

(8)V. http://www.humanas.ufpr.br/portal/artes/pos-graduacao/musica/.

(9)V. http://www2.fafich.ufmg.br/gris/index.php/nucleos-de-pesquisa/linguagens-sonoras (acessado em 22/11/2014).

(10)V. http://sussurro.musica.ufrj.br/ (acessado em 22/11/2014).

(11)V.  http://www.ufrgs.br/musicaeletronica/anexos/radio/ (acessado em 22/11/2014).

(12)A produção deste encontro foi publicada em: ZAREMBA, Lilian; BENTES, Ivana. Rádio Nova. Constelações da Radiofonia Contemporânea. Rio de Janeiro: UFRJ, ECO, Publique, 1999.

(13)Também publicado em: ZAREMBA, Lilian (org). Entreouvidos: sobre rádio e arte. Rio de Janeiro: Soarmec Editora /OiFuturo, 2009. 220p.

(14)https://www.facebook.com/events/204060666448324

(15)V.  http://www.funarte.gov.br/conexaoartesvisuais/contemplados/pesquisa-mapeamnento-sonoro-do-vale-do-catimbau/; http://vgerme.blogspot.com.br/

(16)V. p. ex. https://soundcloud.com/thelmocristovam e https://soundcloud.com/vgerme (acessado em 22/11/2014).

(17)V.  https://www.youtube.com/user/ThelmoEscuta/videos (acessado em 22/11/2014).

(18)V. http://ateliesonoro.blogspot.com.br/ (acessado em 22/11/2014).

(19)V. http://radioforumbr.com/category/2-radioforum/lilian-zaremba-blogs/

(20) https://www.facebook.com/MOO.Eventos; http://cargocollective.com/moo-historico (acessado em 22/11/2014).

(21)V. http://www.radiocaos.com.br/website/?p=1328; http://radioforumbr.com/poesiasonora/; http://poeticasexperimentaisdavoz.wordpress.com/2007/09/01/4/ (acessados em 22/11/2014).

(22)V. https://www.youtube.com/watch?v=iyMszlJkMLk

(23)Projeto Ondas Radiofônicas no Museu da Maré (Prêmio FUNARTE Interações Estéticas, 2009); Circuito Interações Estéticas - Rádio Interofônica em quatro cidades, Ministério da Cultura (MinC) e Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) 2010. Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais - 8ª Edição - Rádio Interofônica #5 Descartografias visuais, sonoras e audiovisuais em Cachoeira/BA, Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) 2011.

(24)V. http://radioforumbr.com/sounddesigndanca/ (acessado em 22/11/2014).

(25)European Communication Research and Education Association.

(26)V. artigo de Anja Mauruschat publicado na revista Polêm!ca da UERJ, na Oficina Híbridos. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/10610/8486.

(27)Veja Toca Arte Ação Criação em http://triolecultural.blogspot.com.br/2013/07/toca-arte-acao-criacao_11.html (acessado em 22/11/2014).

(28)V. http://alreves.org/about.php?lang=br (acessado em 22/11/2014).

(29)V. http://www.bedroomresearch.com/ (acessado em 22/11/2014).

(30)V. http://www.psicotropicodelia.com/ (acessado em 22/11/2014).

(31)V. http://brainwashed.com/vvm/ (acessado em 22/11/2014).

(32)V. http://www.alreves.org/(acessado em 22/11/2014).

(33)V. https://www.facebook.com/planoblapa?fref=ts  (acessado em 22/11/2014).

(34)V. http://errantbodiesspace.blogspot.de/2014/06/the-stranger-that-is-next-to-me.html /(acessado em 22/11/2014).

(35)V. http://www.brandonlabelle.net/acoustic_territories.html /(acessado em 22/11/2014).

(36) V. https://www.facebook.com/quintavant /(acessado em 22/11/2014).

(37)V. https://rederadioarte.wordpress.com/ /(acessado em 22/11/2014).

(38) V. http://www.macniteroi.com.br/ /(acessado em 22/11/2014).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido em: 21/11/2014
Aceito em: 03/11/2014

 

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