PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO EM EMPRESAS DO SETOR DE SERVIÇOS NO MUNICÍPIO DE SOUSA/PARAÍBA

 

EDNA MARIA DE OLIVEIRA MARTINS
Graduada em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande. Participou do projeto de pesquisa intitulado: Práticas Socioambientais e Sustentabilidade: um estudo exploratório em empresas do setor de serviços no município de Sousa/Paraíba.

MARIA DE FÁTIMA NÓBREGA BARBOSA
Graduada em Administração de Empresas pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Gestão Empresarial pela Universidade Estadual da Paraíba. Mestre em Ciências da Sociedade pela Universidade Estadual da Paraíba. Doutora em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Capina Grande. Professora da Universidade Federal de Campina Grande. Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande.


Resumo: Atualmente, a questão ambiental está sendo uma importante preocupação das empresas, que por meio de pressões ambientais vêm buscando reestruturar suas atividades e adotar modelos e técnicas que mitiguem seus aspectos e impactos ambientais. Partindo desse contexto atual, esse trabalho tem por objetivo geral identificar as práticas socioambientais em empresas do setor de serviços no município de Sousa – PB. De forma específica busca: verificar as possíveis ferramentas e modelos ambientais utilizados pelas empresas; identificar o nível de sustentabilidade do município onde se localizam as empresas e descrever a percepção de alguns stakeholders acerca das práticas socioambientais das empresas do setor de serviços e da sustentabilidade do município. Os procedimentos metodológicos pautaram-se em uma pesquisa exploratória, bibliográfica e descritiva, tendo como ponto de partida o método indutivo. Dentre os principais resultados obtidos, constatou-se a mínima utilização de práticas socioambientais pelas empresas, bem como a inexistência de indicadores de performance ambiental. Conforme dados primários e secundários, os stakeholders percebem de forma diferenciada a contribuição das práticas socioambientais para a sustentabilidade do município.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Gestão ambiental. Desenvolvimento.

PRACTICES AND SOCIAL AND ENVIRONMENTAL SUSTAINABILITY: AN EXPLORATORY STUDY IN THE SERVICES SECTOR ENTERPRISES IN THE MUNICIPALITY OF SOUSA – PARAÍBA

Abstract: Currently the environmental issue has been an important business concern, that by environmental pressures they are seeking to restructure their activities and adopt models and techniques to mitigate its environmental aspects and impacts. Based on this current context, this article aims to identify the environmental practices of companies in the service sector in the city of Sousa-PB. By specific way it aim to: verify possible environmental models and tools used by companies, identify the level of sustainability of the municipality where businesses are located and describe the perception of some stakeholders about the environmental and social practices of companies in the service sector and the sustainability of the municipality. The methodological procedures guided by an exploratory research and descriptive literature, based on inductive method. Among the main results, we found minimal use of environmental practices by companies, as well as the lack of environmental performance indicators. As primary and secondary data, the stakeholders perceive differentcontribution of environmental practices for the sustainability of the municipality.
Keywords: Sustainability. Environmental management. Development.

INTRODUÇÃO

A globalização vem provocando mudanças significativas no ambiente empresarial e na relação destas como os seus stakeholders (pessoas diretamente interessadas ou afetadas pela organização, como sindicatos, fornecedores, governo, colaboradores, entidades setoriais). Uma das principais mudanças ocorridas foi no que se refere ao gerenciamento ambiental, onde, no decorrer dos anos e principalmente depois da criação do termo Desenvolvimento Sustentável, em 1987, pela comissão Brundtland, foram se inserindo no ambiente das empresas ferramentas e políticas que melhorassem e minimizassem seus aspectos e impactos ambientais.

Essa nova visão ambiental das empresas se deu principalmente pelo surgimento da pressão ambiental por parte de governos, ONG’s, normas ambientais e consumidores, que mudaram sua percepção quanto aos impactos ambientais e utilização dos recursos naturais.

A partir do surgimento do Desenvolvimento Sustentável e das pressões ambientais por parte dos stakeholders, as empresas começaram a implantar e desenvolver diversas ferramentas de gestão ambiental. Algumas das principais ferramentas e modelos de gestão são tratadas neste trabalho: Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e Responsabilidade Social Corporativa (RSE); a Produção Mais Limpa; a Ecoeficiência; a Auditoria Ambiental; a Avaliação de Impactos Ambientais; Marketing Ambiental; Educação Ambiental. Ainda se verificou nesse trabalho a Performance Ambiental das empresas pesquisadas.

A partir da descrição destas ferramentas e do conhecimento da realidade de algumas empresas do setor de serviços da cidade de Sousa – PB, indaga-se: Quais as possíveis relações entre as práticas socioambientais das empresas do setor de serviços e a sustentabilidade do município onde se desenvolve essas atividades empresariais?

Portanto, esta pesquisa tem a pretensão de explorar e disseminar informações sobre o gerenciamento ambiental e a contribuição para a sustentabilidade do município.

Assim, para responder ao problema de pesquisa foram definidos os seguintes objetivos:

1) Objetivo Geral: Identificar as práticas socioambientais em empresas do setor de serviços no município de Sousa – PB e suas contribuições para a sustentabilidade do município;

 2) Objetivos Específicos: verificar as possíveis ferramentas e modelos ambientais (práticas socioambientais) utilizados pelas empresas; identificar o nível de sustentabilidade do município onde se localizam as empresas; descrever a percepção de alguns stakeholders acerca das práticas socioambientais das empresas do setor de serviços e da sustentabilidade do município.

Fundamentação Teórica

As demandas dos stakeholders e da própria globalização com relação aos cuidados ambientais estimulam as empresas a direcionarem esforços no intuito de adequar seus processos no sentido de reduzir e/ou eliminar impactos ambientais negativos, para isso, estas se utilizam de várias ferramentas e modelos ambientais como o SGA, a Responsabilidade Social Corporativa, a Produção mais Limpa, a Ecoeficiência, a Auditoria Ambiental, a Avaliação do Impacto Ambiental, o Marketing Ambiental, a Educação Ambiental.

Essas ferramentas e modelos ambientais foram considerados para os objetivos dessa pesquisa. Além disso, ainda embasou esse artigo a dimensão performance ambiental das empresas e o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, esses temas serão expostos de forma sistematizada a seguir.

O Sistema de Gestão Ambiental disponibiliza ferramentas que estabelecem mudanças através de mecanismos e técnicas essenciais para a melhoria do desempenho e auxílio na identificação e gerenciamento de obrigações e riscos ambientais, podendo também compensar custos de melhoria de impactos ambientais e eliminar trade-offs.

A obtenção do SGA regulada pelo padrão internacional baseado na norma ISO 14001 faz parte do conjunto de Normas ISO 14000, que estabelecem os requisitos mínimos de implantação de um sistema de gestão ambiental de forma que proporcione uma melhoria contínua do desempenho ambiental.

Segundo Gasi e Ferreira (2006, p. 56) a Produção Mais Limpa (P+L) “reflete uma mentalidade de produzir com mínimo impacto, dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, não se contrapondo ao crescimento e considerando que os resíduos são produtos com valor econômico negativo”.

Segundo Demajorovic (2006) o WBCSD considera Ecoeficiência um modelo de gestão ambiental responsável pela produção de produtos e serviços a preços competitivos, que atendam às necessidades humanas e melhorem a qualidade de vida ao mesmo tempo em que diminuem os impactos ambientais.

A Auditoria Ambiental é um “processo sistemático, documentado e independente para obter evidências de auditoria a avaliá-las objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios de auditoria são atendidos” (NBR ISO 19011, 2002).

Vilela Junior (2006) afirma que a prática da auditoria ambiental vem ganhando grande aceitação nas áreas pública e privada, tanto pelos seus bons resultados como pela expansão das empresas que utilizam a ferramenta.

De acordo com Sánchez (2006) o processo de Avaliação de Impacto Ambiental pode ser aplicado durante todo o período de vida do empreendimento, desde sua fase de implantação até sua desativação, além do trabalho dedicado à aprovação do projeto através das etapas de monitoramento, supervisão, auditoria, documentação e análise.

O surgimento do Marketing Verde introduz uma mudança no valor percebido pelo consumidor, que se dispõe a preferir produtos e serviços verdes, por gerarem menor impacto ambiental. Conforme Voltolini (2006), o marketing verde se define na mudança de expectativas dos consumidores com relação a produtos e empresas, pelo fato de evoluírem para um consumo mais crítico e responsável baseado numa nova consciência ética.

De acordo com Borger (2006), Howard Bowen é o precursor dos estudos sobre Responsabilidade Social Empresarial, onde afirma que as ações empresariais influenciam na vida dos cidadãos. Bowen afirma também que as empresas devem compreender seu impacto social e o seu desempenho social e ético, devendo avaliá-los por meio de auditorias e incorporá-los em sua gestão.

Segundo Simons (2006), a Declaração da Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental define a Educação Ambiental como um estímulo à formação de comportamentos positivos em relação ao meio ambiente, conscientizando e melhorando a compreensão de problemas.

A educação ambiental surgiu no final dos anos 80 como um tema abordado em palestras que tratavam da questão ambiental, a partir daí houve boa evolução na aplicação desta ferramenta nas empresas, mas ainda há certa resistência em sua implantação, sendo na maioria das vezes feita de forma parcial.

No que se refere ao Desempenho Ambiental, atualmente se considera indispensável à avaliação e medição do desempenho ambiental das empresas, quantificando sua eficiência e eficácia por meio de métricas ou indicadores de desempenho que se constituem em informações importantes para uma boa tomada de decisão acerca do sistema de gestão.

Conforme Bortolin et al (2008), no Brasil, a Fundação Nacional da Qualidade propõe um modelo composto por oito indicadores para avaliação do desempenho das empresas brasileiras, estes indicadores avaliam desde aspectos financeiros, de responsabilidade pública, de mercado e clientes, inovação, processos, pessoas, aquisição e fornecedores até o ambiente organizacional.

Farias e Ribeiro (2009) argumentam que a melhoria no desempenho ambiental afeta a política de divulgação ambiental, com a finalidade de demonstrar aos stakeholders suas intenções e iniciativas de prevenção à degradação do meio ambiente e afetar positivamente na sua avaliação, conferindo um maior valor agregado à empresa, refletindo em um maior desempenho econômico.

Conforme o Relatório de Brundtland (1987) o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer suas próprias necessidades.

Lafer apud Martins e Cândido (2012) destaca que o termo desenvolvimento sustentável é repleto de valores que possuem forte relação com os princípios, a ética, as crenças e os valores que fundamentam uma sociedade ou comunidade e sua concepção de sustentabilidade.

Numa visão mais econômica, o desenvolvimento sustentável pode ser entendido como “um processo de transformação que combina crescimento econômico com mudanças sociais e culturais, reconhecendo os limites físicos impostos pelos ecossistemas, fazendo com que as considerações ambientais sejam incorporadas em todos os setores e também na arena política” (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008).

Materiais e Métodos

O método de pesquisa adotado neste trabalho foi o indutivo, que conforme Marconi e Lakatos (2010) é um processo mental que parte de dados particulares suficientemente constatados para se inferir uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Este método de abordagem implica um conjunto de procedimentos adotados na investigação de fenômenos ou no caminho para chegar-se à verdade. (CERVO; BERVIAN, 1983).

As dimensões utilizadas nessa pesquisa foram as ferramentas: sistema de gestão ambiental; produção mais limpa; ecoeficiência; auditoria ambiental; avaliação de impacto ambiental; marketing ambiental; responsabilidade social corporativa; educação ambiental; performance ambiental e social.

As variáveis observadas foram: política ambiental; conservação de matérias-primas e energia; controle da poluição; número de auditorias ambientais internas realizadas; planejamento ambiental; informações ambientais; política de responsabilidade social corporativa e indicadores de performance ambiental e social.

As dimensões, variáveis e critérios de análise se pautaram em Rodrigues e Barbosa (2012). Quanto aos fins, esta pesquisa foi exploratória e descritiva.   Quanto aos meios, esta pesquisa se caracteriza como bibliográfica, documental e de campo. Os procedimentos utilizados na coleta de dados foram os seguintes: observação não participante, aplicação de um formulário com questões abertas e fechadas acerca da utilização pela empresa das seguintes ferramentas ambientais: sistema de gestão ambiental; produção mais limpa; ecoeficiência; auditoria ambiental; avaliação de impacto ambiental; marketing ambiental; responsabilidade social corporativa; educação ambiental; performance ambiental e social.  

O tratamento dos dados dessa pesquisa foi realizado através de um método misto, ou seja, foram utilizadas técnicas quantitativa e qualitativa numa proporção que contribuiu para obter esclarecimentos consistentes e complementares acerca da problemática que se investigou.

Uma técnica quantitativa utiliza, entre outros aspectos, raciocínio de causa e efeito, mensuração e observação, teste de teorias, instrumentos predeterminados que dão origem a dados estatísticos; uma técnica qualitativa, por sua vez, permite que o pesquisador chegue a determinadas conclusões a partir de variadas experiências individuais, bem como através de abordagens participatórias; uma técnica de método misto se utiliza dos procedimentos metodológicos inerentes às perspectivas quantitativa e qualitativa, no sentido de uma compreensão ampliada do problema de investigação (CRESWELL, 2007).

Os sujeitos da pesquisa foram formados por 17 pessoas do sexo masculino e uma do sexo feminino.  Contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa os donos das empresas do setor de serviços do município, englobando restaurantes, postos de gasolina, empresas mecânicas e gráficas, além da opinião de entidades ligadas a este mesmo setor no município.

O universo da pesquisa foi constituído por empresas do setor de serviços dos ramos de restaurantes, gráficas, postos de gasolina e empresas mecânicas, consideradas como geradoras de impactos ambientais negativos em decorrência das atividades produtivas que desenvolvem. Deste universo, tiveram participação no resultado do trabalho 18 empresas, constituindo uma amostra por acessibilidade composta por 3 empresas gráficas, 6 restaurantes, 5 postos de combustível e 4 empresas mecânicas.

Resultado e Discussão

Conduta e Performance Ambiental

O quadro 1 apresenta os resultados obtidos pelos pesquisadores para a conduta e performance ambiental e social das empresas pesquisadas. Os critérios utilizados para esta avaliação em positiva ou negativa foi uma adaptação feita a partir do trabalho de Rodrigues e Barbosa (2012).

DIMENSÕES DA CONDUTA

AVALIAÇÃO

Sistema de Gestão Ambiental

Negativa

Produção Mais Limpa

Negativa

Ecoeficiência

Positiva

Auditoria Ambiental

Negativa

Avaliação de Impactos Ambientais

Negativa

Marketing Ambiental

Negativa

Responsabilidade social corporativa

Negativa

Educação Ambiental

Negativa

PERFORMANCE AMBIENTAL E SOCIAL

AVALIAÇÃO

Indicadores de performance ambiental e social

Negativa

     Quadro 1: Conduta e performance ambiental e social das empresas
  Fonte: Pesquisa de Campo (2013)

No que se refere ao Sistema de Gestão Ambiental, apenas 1 das empresas possui um responsável pelo setor ambiental, em 9 empresas o responsável é o próprio dono, e 8 empresas responderam que não possuem este responsável, correspondendo a 44% do total. Na empresa que possui um responsável pelas questões ambientais, este não se encontra dentro da estrutura organizacional da mesma, sendo representado por uma empresa de consultoria ambiental. Conforme critérios adotados na pesquisa a variável foi avaliada negativamente, pois 86% das empresas não possuem uma política ambiental escrita.

De acordo com os critérios adotados, a Produção Mais Limpa foi avaliada de forma negativa, pois apesar de 66% das empresas possuírem mecanismos de conservação de energia, 67% destas empresas não fazem medição do consumo de água.

No que se refere à Ecoeficiência a maioria das empresas adotam práticas de controle à poluição. Dentre elas, os postos de combustíveis são os que mais adotam práticas de controle, decorrentes principalmente das exigências ambientais da prática de suas atividades operacionais, que os levam a regular continuamente suas operações. Os restaurantes também se destacam no controle da poluição, reciclando recipientes plásticos, doando materiais orgânicos e reciclando óleo. As empresas mecânicas reciclam o óleo dos carros vendendo principalmente para empresas que trabalham com a construção de asfalto, além de venderem o ferro velho, já no caso das gráficas, estas não são muito preocupadas com a questão da poluição, muitas não adotam nenhuma prática de controle da poluição. A variável foi avaliada de forma positiva, pois 83% das empresas pesquisadas praticam atividades de controle à poluição.

Dentre as 18 empresas, apenas 1 empresa faz Auditoria Ambiental através de uma empresa de consultoria especializada, correspondendo a 5% do total. As demais empresas justificaram que não utilizam a auditoria ambiental, 72% por que não sofrem pressões de órgãos de fiscalização, 11% por que acredita não ter impactos ambientais e as demais afirmaram ter outras prioridades. Portanto, por não haver no mínimo 50% dessas empresas com a atuação de auditoria ambiental vigorando, esta variável terá avaliação negativa.

No que diz respeito à Avaliação de Impacto Ambiental alguns dos principais impactos decorrentes das atividades realizadas por empresas destes ramos são o efeito estufa e exaustão dos recursos naturais (50%), seguido por contaminação do solo (44%) e a destruição da camada de ozônio (33% das empresas).

Quanto à avaliação dos impactos ambientais, um total de 78% das 18 empresas não faz esse tipo de avaliação, enquanto apenas 22% das empresas procuram avaliar seus impactos através de avaliações periódicas ou com a utilização do EIA/RIMA na implantação do empreendimento. Esta dimensão foi avaliada de forma negativa, pelo fato de que mais da metade das empresas pesquisadas não faz nenhum tipo de avaliação de impacto ambiental.

Com relação ao Marketing Ambiental, contatou-se que 56% dos clientes não fazem nenhum tipo de exigência ambiental, dentre estes, a maior parte é constituída por clientes de empresas mecânicas, correspondendo a 75%. No que diz respeito ao atendimento de reclamações dos clientes, 83% das empresas afirmam atender às exigências, enquanto 17% afirmam não possuir exigências ou não atender as exigências de seus clientes. Pelo fato de as variáveis mais importantes para o marketing ambiental possuírem valores negativos, não havendo divulgação de informações ambientais às partes interessadas, esta variável foi avaliada negativamente.

No tocante à Responsabilidade Social Corporativa, 72% das empresas respondeu que definem suas estratégias de acordo com as normas de organizações governamentais e 28% definem de acordo com as exigências do mercado interno. No que diz respeito à utilização de políticas de responsabilidade social, apenas 11% das empresas adotam essa prática, enquanto as demais não se pautam nesse critério. Portanto, esta variável foi avaliada de forma negativa.

Com relação à Educação Ambiental, 67% das empresas afirmam utilizar algum tipo de programa de educação ambiental por meio da reciclagem, reuso, reutilização e conservação de água, energia, produtos químicos, entre outros, no entanto, estas práticas são feitas de maneira informal, não havendo política ou documentos que regulem e tratem do assunto. Outra importante informação é que nenhuma das empresas possui ou promove atividades de educação ambiental junto à comunidade onde se localizam. A variável foi avaliada de forma negativa, pois mesmo se utilizando de algumas práticas ambientais internamente, nenhuma das empresas possui um programa de educação ambiental formalizado ou que seja desenvolvido junto à comunidade.

Dentre as empresas pesquisadas, apenas 11% possui algum indicador de performance ambiental e social, sendo que estas estão apenas cumprindo a legislação enquanto as demais responderam não utilizar este tipo de indicadores por não ser exigido pelos órgãos de fiscalização. As empresas que utilizam padrões mínimos de performance ambiental apenas os aplicam às áreas de tratamento e conservação de água, efluentes líquidos, resíduos sólidos, emissões atmosféricas e energia elétrica. Esta variável foi avaliada negativamente, pois menos de 50% das empresas possui indicadores de performance ambiental.

Nível de Sustentabilidade do Município

Nosso trabalho utiliza o modelo de indicadores de sustentabilidade aplicado por Martins e Cândido (2012) para definir a contribuição dada pelas empresas do setor de serviços para a sustentabilidade do munícipio, o qual utiliza uma abordagem sistêmica que envolve aspectos sociais, demográficos, econômicos, político-institucional, ambiental e cultural.

Segundo dados secundários obtidos através da pesquisa de Martins e Cândido (2012), o município de Sousa-PB, está caracterizado com um nível de sustentabilidade em alerta, numa classificação do IDSM (Índice de Desenvolvimento Sustentável para os Municípios) que categoriza cada município em um dos cinco níveis de sustentabilidade (ideal, aceitável, alerta, crítico e sem informação).

Análise da Percepção dos Stakeholders acerca das Ações da Empresa em relação à Gestão Ambiental e Sustentabilidade do Município

Esta análise teve por objetivo contribuir com as empresas no sentido de fazê-las entender as demandas dos atores mais importantes para o seu negócio de quais práticas os mesmos esperam que as empresas internalizem em relação à gestão ambiental e a sustentabilidade do município. Esse diálogo poderá trazer vínculos mais fortes e duradouros entre as partes.

Nesta parte foram utilizados dados secundários da pesquisa de Rodrigues e Barbosa (2012) junto à secretaria de desenvolvimento do município de Sousa e ao SEBRAE do município, com o intuito de descrever as opiniões destes acerca da sustentabilidade e comparar com os dados colhidos no SESC, agente mais próximo das empresas de serviços.

Na pesquisa junto aos agentes sociais se utilizou de formulário onde os indicadores foram classificados de acordo com as seguintes classificações: pouco importante, importante e muito importante para a sustentabilidade do município.

Na dimensão cultural, a secretaria de desenvolvimento do município, o SEBRAE e o SESC, consideraram de grande importância a existência de bibliotecas públicas, a existência de centros culturais e a existência de unidades de ensino superior. O SEBRAE também considerou como indicadores importantes, a existência de teatros ou salas de espetáculos e o SESC citou a existência de ginásios de esporte e estádios.

No tocante à dimensão demográfica, a secretaria de desenvolvimento, o SEBRAE e o SESC consideraram como indicador de muita importância apenas a taxa de crescimento da população, enquanto o SEBRAE e o SESC ainda consideraram de muita importância os indicadores: razão de dependência da população; a taxa de crescimento da população e taxa de fecundidade. Apenas o SESC considerou a densidade demográfica como um indicador muito importante para a sustentabilidade do município.

Quanto aos indicadores da dimensão social, estes atores sociais destacaram como indicadores de muita importância o índice de gini da distribuição do rendimento, a oferta de serviços básicos de saúde, a taxa de mortalidade infantil, a prevalência de desnutrição total, a taxa de escolarização, o analfabetismo funcional e a adequação de moradia. A secretaria de desenvolvimento e o SEBRAE consideraram o rendimento familiar per capita. O SEBRAE e SESC consideraram a taxa de alfabetização. Individualmente, a secretaria considerou a esperança de vida ao nascer, o SEBRAE considerou as famílias atendidas por transferências de benefícios sociais e a mortalidade por homicídio e o SESC ainda considerou a esperança de vida ao nascer e a imunização contra doenças infecciosas infantis.

No que se refere à dimensão institucional, a secretaria de desenvolvimento, o SEBRAE e o SESC consideram muito importante o acesso a serviços básicos da justiça. A secretaria de desenvolvimento e o SESC também consideram o comparecimento nas eleições muito importante. O SEBRAE considerou transferências intergovernamentais da união e o funcionamento dos conselhos municipais como muito importante e o SESI considerou como muito importante apenas o acesso público à internet e despesas por função. Apenas a secretaria de desenvolvimento considerou o acesso aos serviços de telefonia muito importante e apenas o SESC deu importância às despesas por função (cultura, urbanismo, gestão ambiental, C&T, desporto e lazer).

No que tange à dimensão ambiental, o indicador considerado de muita importância pelos três agentes sociais foi apenas o acesso ao esgotamento sanitário (urbano). A secretaria de desenvolvimento e o SEBRAE ainda consideraram importante o acesso a abastecimento de água (urbano). O SEBRAE e o SESC consideram muito importantes o acesso a serviços de coleta de lixo doméstico (urbano) e a conservação de matas e florestas. Individualmente, foi considerado muito importante pela secretaria de desenvolvimento do município a qualidade das águas saneadas urbanas e as pastagens e lavouras, o SEBRAE considerou a qualidade das águas saneadas (urbano) e o SESC considerou o consumo médio per capita de água, o volume de água tratada (para consumo humano) e as matas e florestas.

Referente à dimensão econômica, estes agentes consideraram de maior importância a participação da agropecuária no PIB, no entanto, a secretaria de desenvolvimento e o SEBRAE também consideraram a participação da administração pública no PIB como muito importante e o SEBRAE e SESC consideraram a participação da indústria no PIB, e a renda proveniente de trabalho como muito importantes. O SESC ainda ressaltou que a participação do comércio e serviços no PIB e o PIB per capita são muito importantes para a sustentabilidade do município.

Considerações Finais

Baseando-se na análise dos resultados percebe-se a fragilidade quanto às questões ambientais das empresas pesquisadas, com oito dimensões negativas e apenas uma positiva (ecoeficiência), o que indica a mínima contribuição dessas empresas para a sustentabilidade do município.

As práticas ambientais das empresas estão mais bem representadas pela ferramenta ambiental ecoeficiência. As demais ferramentas ambientais necessitam ser incorporadas na estrutura organizacional das empresas.

A performance ambiental destas empresas também foi avaliada de forma negativa, inviabilizando a quantificação dos impactos ambientais provocados pelas suas atividades. As práticas de responsabilidade social corporativa também não estão sendo utilizadas pela maioria das empresas, comprometendo consequentemente, as relações com as partes interessadas diretamente com as empresas.

As práticas ambientais em vigor na empresa estão relacionadas diretamente com o atendimento às normas e exigências dos órgãos reguladores.

Os indicadores considerados muito importantes simultaneamente pelos atores sociais a serem observados para a sustentabilidade do município foram: no tocante à dimensão cultural, existência de bibliotecas públicas, a existência de centros culturais e a existência de unidades de ensino superior; no tocante à dimensão demográfica, apenas a taxa de crescimento da população; no que se relaciona à dimensão social, o índice de gini da distribuição do rendimento, a oferta de serviços básicos de saúde, a taxa de mortalidade infantil, a prevalência de desnutrição total, a taxa de escolarização, o analfabetismo funcional e a adequação de moradia, no que diz respeito à dimensão institucional, apenas acesso a serviços básicos da justiça; na dimensão ambiental o indicador considerado de muita importância pelos três agentes sociais foi apenas o acesso ao esgotamento sanitário (urbano) e na dimensão econômica foi dada maior importância à participação da agropecuária no PIB.

Os resultados obtidos demonstram falhas de gerenciamento quanto à utilização de ferramentas socioambientais, o que incentiva as empresas a implantarem e fortalecerem suas estratégias e o desenvolvimento ambiental. Através dos resultados obtidos no decorrer desta pesquisa, sugere-se às empresas a implantação de um SGA, a avaliação dos impactos ambientais provocados por suas atividades, a implantação de programas de Responsabilidade social corporativa e a medição de seu desempenho através de indicadores de performance ambiental.

Este trabalho tem como principais contribuições instigar o entendimento por parte das empresas estudadas e dos seus stakeholders acerca dos impactos provocados pelo desempenho de suas atividades e sua contribuição para a sustentabilidade do município, como também abrir caminho para outros possíveis trabalhos sobre o tema. Como limitações, apresenta: número reduzido de stakeholders e empresas entrevistados; o número de indicadores em cada dimensão da conduta ambiental e social talvez não sejam tão abrangentes para se fazer generalizações. Portanto, sugere-se que esta pesquisa possa ser aprofundada, com utilização de maior quantidade de indicadores e coleta de maiores informações dos stakeholders, além da aplicação em outros setores.

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Recebido: 26/07/2014
Aceito: 26/11/2014

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