Catástrofe, luto e memória: narrar para elaborar as metamorfoses das cidades
DOI:
https://doi.org/10.12957/mnemosine.2023.76208Palavras-chave:
catástrofe, memória, cidade.Resumo
Nosso tempo é marcado pelo adensamento das catástrofes presentes e passadas, assim como pelos desafios de narrar tais eventos traumáticos em busca de reparação e elaboração. O presente ensaio experimenta uma reflexão conceitual e sensível sobre nossos encontros com as vertigens das sucessivas desterritorializações urbanas e suas relações possíveis com os corpos que envelhecem nas cidades. O compromisso ético com a memória da catástrofe reside neste desafio paradoxal de trabalhar a favor da lembrança e do esquecimento, visto que, por um lado, os eventos estão ameaçados de soterramento e aniquilação e, por outro, exigem um esforço de elaboração e transmutação. A lembrança, nesta perspectiva, não está comprometida com a tentativa de reiterar o longínquo adormecido; trata-se antes de trazer à tona as multiplicidades inatuais para complexificar o presente em sua duração. O que está em jogo é a ferida que sobrevive, reivindicando não o resgate da paisagem, mas a produção de um desvio a partir das ruínas que já não podem mais ser ignoradas. Liberar o passado para a criação: desafio daqueles que se debruçam sobre as cinzas para viver o luto e ultrapassá-lo, afirmando uma posição de travessia que acompanha as metamorfoses das cidades.