8 de janeiro de 2023, um golpe de ar azedo

Autores

  • edson passetti Professor livre docente na Faculdade de Ciências Sociais PUC-SP e coordenador do nu-sol (núcleo de sociabilidade libertária) www.nu-so.org
  • diego lucato Pesquisador no nu-sol.

DOI:

https://doi.org/10.12957/mnemosine.2023.76206

Resumo

Depois, todos da mídia democrática disseram ter avisado que algo anunciado aconteceria no 8 de janeiro ou nos dias seguintes. Informações da inteligência do Estado, da sua segurança federal, estadual e distrital indicavam a iminente invasão dos palácios dos três poderes em Brasília. As autoridades responsáveis por manter a ordem optaram pelo diálogo e/ou omissão, pretendendo administrar a ameaça de mobilização que rondou e governou, recentemente, os acampamentos de bolsonaristas diante dos QGs do Exército pelo Brasil.

Os acampados, financiados por empresários e abençoados por políticos, militares, policiais, juristas, pastores etc. e tal, escutavam suas músicas sertanejas, comiam churrascos e/ou marmitas quentinhas, tomavam uma bebidinha aqui ou ali, compartilhavam notícias, jogavam entre cartas de baralho uma prosa e meia sobre o patriotismo, o mito, a intervenção militar, seu messias e um tanto de futebol, mulheres e política. Entendiam que cedo ou tarde viria a palavra-chave para ativar a jogada final para depor o presidente eleito, os juízes do STF e os deputados e senadores comunistas ou simplesmente frouxos ou corruptos.

8 de janeiro de 2023 aconteceu sem muitas novidades, porém surpreendendo. Afinal, os fascistas, antes de tudo, prezam em destruir o que há. Segundo eles, tudo começará da estaca zero com sua direção central e autocrata. Os revolucionários russos, em 1917, tomaram o Palácio de Inverno em S. Petersburgo fazendo menos estragos, pois sabiam que sua missão era ocupar o Estado. Antes, em 1871, os communards tomaram Paris e derrubaram a coluna da place Vendôme, símbolo do domínio burguês e aristocrático, que teve no seu alto de Luís XIV a Napoleão Bonaparte, entremeado pela alusão à Revolução Francesa... Mas nesses acontecimentos e em muitos outros havia povo em luta contra a ordem. O que se via em Brasília era a determinação da ordem na ordem.

Em 8 de janeiro de 2023 só havia autoritários acobertados por certas forças repressivas, empresariais, políticas e jurídicas. Não havia nem houve confronto entre facções políticas, forças diversas, só houve o desfile destrutivo de legião fascista, sob o olhar cúmplice de policiais. Não foi algo similar aos anos 1930 quando os anarquistas enfrentavam os fascistas nas ruas, enquanto os comunistas articulavam umas e outras palacianas. Era um tempo em que o governo do movimento de 1930, mais tarde chamado pela historiografia de “revolucionário”, estancara a Constituição de 1934, as anunciadas novas eleições e fazia crer que tudo caminhava para um golpe de Estado capitaneado por Getúlio Vargas, seu messias militar. Os fascistas, por meio dos integralistas, ostentavam armas e seus uniformes de milicianos, tentando aterrorizar a população que se envergonhava de ser povo. Foram derrotados pelos anarquistas da Federação Operária de São Paulo, que articulou, desde 1933 no Centro de Cultura Social de São Paulo, as demais forças antifascistas, na batalha da Praça da Sé (RODRIGUES, 2017). Combateram os fascistas protegidos pelos ombros getulistas até logo após o golpe de 1937, quando os integralistas foram descartados.

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Publicado

2023-05-25

Como Citar

passetti, edson, & lucato, diego. (2023). 8 de janeiro de 2023, um golpe de ar azedo. Mnemosine, 19(1). https://doi.org/10.12957/mnemosine.2023.76206

Edição

Seção

Artigos