Eu, no singular, plural: a obra Menino sem passado como um vasto tecido de subjetividades

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/matraga.2025.85277

Palavras-chave:

Subjetividades, Alterficção, Menino sem passado, Silviano Santiago

Resumo

Este artigo discute as expansões da subjetividade do narrador-personagem em Menino sem passado, de Silviano Santiago. Na narrativa, o escritor se reinventa como protagonista, autodenominando-se “menino sonâmbulo”, para narrar suas memórias de infância. Tal sonambulismo sinaliza a natureza híbrida do sujeito e de suas lembranças, compreendendo o eu como um tecido de alteridades que coexiste no real e no inventado e que cultiva uma “obsessão de querer ser outro” (Santiago, 2021a, p. 36). Para tanto, valemo-nos do neologismo alterficção, de Nascimento (2017), como categoria de reflexão para pensarmos na reinvenção de si, na escrita, a partir das redes de intersubjetividade. Também nos ancoramos em Collot (2004, 2006) e no próprio Santiago (2004), a fim de refletirmos sobre os modos como essa relação eu-outro se manifesta na obra. Nessa linha intersubjetiva, abordamos a “comunidade textual” – ideia barthesiana aqui retomada por Carvalhal (2006) – que se estabelece entre Menino sem passado e Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, em especial o poema “Infância”. Assim, na constante busca por se reinventar, Silviano Santiago recusa as heranças patriarcais que insistem em prescrever sua vida e, com isso, assume como seu único e legítimo testamento essa poética de Drummond. Tal conversa entre os autores mineiros foi subsidiada por Barthes (1971), Carvalhal (2006), Kristeva (2005), Merquior (2012), Villaça (2006) e Santiago (2006, 2021b).

Biografia do Autor

Mirella Carvalho do Carmo, Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Mestra em Letras/Literatura, pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). É membra do Grupo de Pesqui- sa: Linguagem Literária e Educação Estética (CNPq/UFLA) desde 2019 e do Grupo de Pesquisa: A educação dos afetos, através da literatura, na formação inicial e continuada do professor e do discente da escola básica (CNPq/UFSJ) desde 2024.

Andréa Portolomeos, Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Doutora em Letras/Literatura Comparada pela UFF. Bolsista de pós-doutorado do CNPq na UFF. Atuou na UERJ, como professora de literatura brasileira, na Especialização em Literatura Brasileira. É professora associada de literatura brasileira no curso de Letras da UFSJ e professora permanente do Programa de Mestrado em Teoria Literária e Crítica da Cultura da UFSJ (PRO- MEL). É líder do Grupo de pesquisa no CNPq, “A educação dos afetos, através da literatura, na formação inicial e continuada do professor e do discente da escola básica”.

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Publicado

2025-02-26

Como Citar

Carvalho do Carmo, M., & Portolomeos, A. (2025). Eu, no singular, plural: a obra Menino sem passado como um vasto tecido de subjetividades. Matraga - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Letras Da UERJ, 32(64), 141–154. https://doi.org/10.12957/matraga.2025.85277

Edição

Seção

Estudos Literários