“A mania do horrível”: o grotesco e a Primeira Guerra Mundial na literatura brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/matraga.2024.84035

Palavras-chave:

Literatura brasileira, Século XX, Primeira Guerra Mundial, grotesco

Resumo

Partindo da perspectiva das poéticas do mal — uma investigação de cunho teórico e historiográfico dedicada aos modos artísticos de representação e de expressão literárias dos aspectos mais sombrios e perturbadores da experiência humana —, o artigo descreve o impacto que os grandes conflitos bélicos novecentistas, sobretudo a Primeira Grande Guerra, tiveram sobre as narrativas literárias brasileiras das primeiras décadas do século XX. O objetivo é demonstrar como as transformações na percepção dos avanços científicos e tecnológicos — de enaltecidos motores do progresso a temidas ferramentas de extermínio — impactaram a criação literária. Nossa hipótese é a de que o grotesco foi a principal estratégia artística para dar conta de uma percepção de irracionalidade e absurdo que permeou o período. Para ilustrar o argumento, apresentamos passagens de obras de Coelho Neto, João do Rio, Alfredo Taunay, Júlia Lopes de Almeida, Gustavo Barroso, Mário Sette e Afonso Schmidt.

Biografia do Autor

Júlio França, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

É professor associado de Teoria da Literatura do Instituto de Letras da UERJ. Tem doutorado em Literatura Comparada pela UFF (2006), com pós-doutorado na Brown University (2015). É bolsista de produtividade do CNPq e do Prociência (UERJ).

Daniel Augusto P. Silva, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

É professor adjunto de língua e literatura francesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É doutor e mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UERJ, onde também realizou uma especialização em Tradução em Língua Francesa.

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Publicado

2024-09-29

Como Citar

França, J., & P. Silva, D. A. (2024). “A mania do horrível”: o grotesco e a Primeira Guerra Mundial na literatura brasileira. Matraga - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Letras Da UERJ, 31(63), 477–489. https://doi.org/10.12957/matraga.2024.84035

Edição

Seção

Estudos Literários