Ritual de cura para salvar um menino no ventre: mundos em guerra e a cosmovisão Jarawara em “O espírito aboni das coisas”, de Itamar Vieira Junior
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2024.82743Palavras-chave:
Jarawara, Amazônia, Guerras, Itamar Vieira JuniorResumo
No sudoeste do estado do Amazonas, entre os rios Juruá e Purus, habita uma etnia da família linguística Arawá quase totalmente invisibilizada entre a população brasileira: os Jarawara. Em sua cosmovisão, o mundo, organizado entre quatro espaços distintos (terra, água, abaixo da terra e céu), é tecido, de forma abstrata e concreta, pela coexistência de todos os seres: humanos, animais, plantas, árvores, espíritos (inamati) e bichos (yama). Esse mundo animista, na concepção Jarawara, apresenta-se constantemente como perigoso e em guerra, razão pela qual é preciso estabelecer laços com os espíritos (Maizza, 2009; 2012). É justamente da cultura desse povo que Itamar Vieira se alimenta em uma das narrativas que compõe o seu livro Doramar ou a Odisseia. Trata-se do conto “O espírito aboni das coisas”, no qual o leitor acompanha a saga do guerreiro Tokowisa pela floresta e pelas águas amazônicas, a fim de encontrar um objeto (abatosi) que, manipulado pelo xamã da aldeia, seja capaz de salvar sua esposa e seu filho (ainda no ventre) de um feitiço lançado pelo líder espiritual da aldeia rival, contra a qual estão em guerra. Tomando essa narrativa, nosso objetivo neste texto é articular uma análise Ecocrítica do conto, apropriando-nos de aspectos que caracterizam o seu enredo e suas personagens para tecermos correlações entre a cosmovisão Jarawara (as relações em um mundo constantemente perigoso, em guerra) e os modos como o escritor baiano elabora sua ficção.
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