“Carioca fala bi[s]coito?”: um estudo de avaliação sobre as variantes alveolar e pós-alveolar na comunidade de fala do Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.12957/matraga.2024.79899Palavras-chave:
Coda (s), Variedade carioca, Avaliação social, Prestígio, EstigmaResumo
Estudos de produção mostram que, independentemente da idade, do sexo, da escolaridade e da classe social, a coda (s) é majoritariamente realizada na variedade carioca como fricativa pós-alveolar, ocorrendo as outras variantes (fricativa alveolar, fricativa velar/glotal e ausência da coda) em percentuais bastante reduzidos. Esta pesquisa observa a avaliação social das variantes alveolar e pós-alveolar da coda (s) na comunidade de fala do Rio de Janeiro, partindo da hipótese de que a variante alveolar da coda (s) poderia ser avaliada pelos cariocas como prestigiada, não sendo relacionado qualquer grau de estigma ou prestígio à realização da fricativa pós-alveolar. Para tanto, um experimento de avaliação, usando a técnica de matched guise, foi aplicado em 43 jovens universitários da comunidade de fala do Rio de Janeiro. Relativamente à variante pós-alveolar, os resultados seguiram a tendência já apontada por Melo (2017, 2022), isto é, de que a esta variante não são atribuídos nem prestígio e tampouco estigma. Relativamente à variante alveolar, observou-se que os participantes atribuíram certo grau de prestígio a essa variante, sendo o número de itens – dois por sentença – decisivo para a atribuição deste prestígio. Argumenta-se que o prestígio atribuído à variante alveolar possa estar relacionado à avaliação do falar carioca tanto por falantes de outras variedades como pelos próprios cariocas, motivo pelo qual seria mais bem avaliada em contexto de maior monitoramento. Espera-se que estudos futuros com outros grupos sociais possam avançar na análise dos significados sociais das variantes da coda (s), sobretudo no que diz respeito à frequência das variantes.
Referências
AULER, Mônica. A difusão lexical num fenômeno de aspiração em português. In: Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG, 1992.
CARVALHO, Rosana Siqueira de. Variação do /S/ pós-vocálico na fala de Belém. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Pará, 2000.
DRAGER, Katie. Experimental methods in sociolinguistics. In: Janet Holmes and Kirk Hazen (Eds.) Research Methods in Sociolinguistics: A practical guide, Wiley-Blackwell, p. 58-73, 2013.
GALVÃO MAIA, Edson. Enfraquecimento do /S/ em coda silábica em dados do sul do Amazonas (Brasil). Estudos de Linguística Galega. 2018, 219-236. doi:10.15304/elg.ve1.3593. Disponível em: (31 October, 2023).
GRYNER, Helena e MACEDO, A. V. T. A pronúncia do -S pós-vocálico na região de Cordeiro – RJ. In: Maria Cecília Mollica; Mário Eduardo Martellota. (Org.). Análises linguísticas: a contribuição de Alzira Macedo. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações - FL/UFRJ, p. 26-51, 2000.
GUY, Gregory R. Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: aspects of the phonology, syntax, and lan¬guage history. PhD Dissertation. University of Pennsylvania, 1981.
JOHNSON, D.E. Getting off the GoldVarb standard: Introducing Rbrul for mixed-effects variable rule analy¬sis. Language and Linguistics Compass, 3 (1), 359–383. DOI: 10.1111/ j.1749-818X.2008.00108.x, 2008.
LABOV, William. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
LABOV, William; ASH, Sharon; RAVINDRANATH, Maya; Weldon, Tracey; BARANOWSKI, Maciej; NAGY, Naomi. Journal of Sociolinguistics. Blackwell Publishing: p. 431-463, 2011.
LAMBERT, W. E. et al. Evaluational reactions to spoken languages. Journal of Abnormal and Social Psycho¬logy, vol. 60(1), 44-51, 1960.
MELO, Marcelo A. S. L. de. Direcionalidade da mudança sonora: o papel do item lexical e da avaliação so¬cial. Rio de Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Linguística) – UFRJ, Faculdade de Letras, Rio de Janeiro, 2017.
MELO, Marcelo A. S. L. de. Padrões de avaliação de duas variáveis sonoras na comunidade de fala do Rio de Janeiro: uniformidade ou diferentes tendências?. ORGANON, v. 37, p. 102-124, 2022.
MEYERHOFF, Miriam. Introducing Sociolinguistics. New York: Routledge, 2011.
OUSHIRO, Livia. Identidade na pluralidade: avaliação, produção e percepção linguística na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Letras) – USP, FFLCH, São Paulo, 2015.
PEIRCE, J. W.; GRAY, J. R.; SIMPSON, S.; MACASKILL, M. R.; HÖCHENBERGER, R.; SOGO, H.; KAST¬MAN, E.; LINDELØV, J. PsychoPy2: experiments in behavior made easy. Behavior Research Methods. 2019.
SAHIN MD, AYBEK EC. Jamovi: an easy to use statistical software for the social scientists. Int J Assess Tools Educ; 6:670–92, 2019.
SCHERRE, Maria Marta Pereira; MACEDO, A. V. T. Restrições fonético-fonológicas e lexicais: o -S pós-vo¬cálico no Rio de Janeiro. In: Maria Cecília Mollica; Mário Eduardo Martelotta (org.). Análises linguísticas: a contribuição de Alzira Macedo. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações - FL/UFRJ, p. 52-64, 2000.
SCHILLING-ESTES, Natalie. 2002. Investigating stylistic variation. In: The Handbook of Language Varia¬tion and Change, ed. J. Chambers and N. Schilling-Estes, 375-401. Oxford: Blackwell.
TESCH, L. M. Avaliações sobre os sotaques das capitais do sudeste. In: VI Congresso Nacional de Estudos Linguísticos (CONEL), 6, 2023, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (ES).
VIEIRA, Laise Aparecida Diogo. A língua falada no teatro e em telenovelas brasileiras: um percurso pela história das ideias linguísticas. São Paulo: UNICAMP, 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
AUTORIZAÇÃO
A Matraga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ está autorizada a publicar o artigo ora submetido, caso seja aceito para publicação online. Fica atestado que a contribuição é original, que não está sendo submetida a outro editor para publicação, e que a presente declaração é a expressão da verdade.
Os trabalhos publicados no espaço virtual da Matraga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ serão automaticamente cedidos, ficando os seus direitos autorais reservados à Matraga. Sua reprodução, total ou parcial, é condicionada à citação dos autores e dos dados da publicação.
A Matraga utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.