Literatura, música, atmosferas: Senhorita Else, de Arthur Schnitzler

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/matraga.2024.77171

Palavras-chave:

Lteratura Comparada, Arthur Schnitzler, Robert Schumann, Guy de Maupassant, Atmosferas decadentistas

Resumo

Em Senhorita Else (Fräulein Else), publicado em 1924, fluxo de pensamento e composição musical se arti­culam, produzindo atmosferas que, a um só tempo, manifestam turbulências históricas da Viena da época e delas escapam. Nessa novela criada pelo médico e escritor Arthur Schnitzler (cujo pai era médico de Freud), acompanha-se o monólogo interior de uma jovem vienense de dezenove anos pertencente a uma família abastada à beira da ruína. No livro, a jovem Else vê-se diante de uma situação crítica: precisa obter, a qualquer custo, um empréstimo para salvar o pai endividado. É o que irá tentar junto a um rico sexagenário, vendedor de obras de arte, que lhe promete emprestar a soma sob uma condição: vê-la nua. A novela é atravessada por turbilhões de afetos: erotismo, força vital, inclinações insurgentes, impulsos suicidas, amor pelo pai, indigna­ção, desprezo, raiva. No ápice do enredo, fragmentos da partitura do Carnaval de Schumann entrelaçam-se ao texto, no momento em que Else cumpre e descumpre sua promessa, desnudando-se diante dos hóspedes do hotel para, a seguir, suicidar-se com uma overdose de Veronal, fármaco então muito utilizado para tratar insônia e excitabilidade nervosa. O clímax atmosférico é composto a partir de fragmentos de uma escrita musical que ritmam a crise final de Else, seu fluxo de consciência em processo de abolição. O desfecho, a morte, articula de modo indecidível sua destruição e um voo final: “Ich fliege... ich träume... ich schlafe... ich träu... träu – ich flie...”(Estou voando... estou sonhando... estou dormindo... son... son... - voan...”).

Biografia do Autor

Maria Cristina Franco Ferraz, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Professora Titular de Teoria da Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da ECO. Mestre em Letras e Doutora em Filosofia pela Universidade de Paris 1 – Sorbonne, com três estágios de pesquisa pós-doutorais em Berlim e outro realizado em Paris, com bolsas CAPES/DAAD e CAPES-PRINT. Pesquisadora do CNPq. Autora, dentre outros, dos livros Nietzsche, o bufão dos deuses; Platão: as artimanhas do fingimento; Homo deletabilis; Ruminações: cultura letrada e dispersão hiperconectada e, com E. Saint Clair, Para além de Black Mirror – estilhaços distópicos do presente.

Referências

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Publicado

2024-01-27

Como Citar

Franco Ferraz, M. C. (2024). Literatura, música, atmosferas: Senhorita Else, de Arthur Schnitzler. Matraga - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Letras Da UERJ, 31(61), 154–165. https://doi.org/10.12957/matraga.2024.77171

Edição

Seção

Estudos Literários