O poder do descontrole: observações sobre gênero, corpo e poder no ideário do “parto humanizado”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/irei.2024.87893

Palavras-chave:

parto humanizado, poder, emoção

Resumo

Neste artigo discutimos o empoderamento da mulher no ideário do Parto Humanizado. Para tanto, examinamos a categoria “partolândia”, um momento em que a parturiente é instada a deixar-se levar pelos seus “instintos”, abrindo mão de qualquer controle sobre si. A partir das descrições da “partolândia” nas redes sociais, examinamos como controle e descontrole empoderam a mulher que pare. Duas formas de poder estão em jogo: o poder médico (razão e ciência no controle do parto) em oposição à capacidade do corpo feminino de dar à luz. Nossa hipótese é de que, durante o parto, ocorre uma transição entre o controle pela razão e o controle pelo corpo, mediada por uma gramática emocional composta por medo e covardia. A entrada na “partolândia”, implicando entrega total aos ditames do corpo, seria uma forma paradoxal de “controlar” essa passagem a partir do descontrole.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jane Russo, UERJ

Doutora em Antropologia Social. Professora Titular do Instituto de Medicina Social, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Marina Nucci, Instituto de Medicina Social

Doutora em Saúde Coletiva. Professora Adjunto do Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Maria Claudia Coelho, UERJ

Doutora em Saúde Coletiva. Professora Adjunto do Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Referências

ALLEBRANDT, Débora.

(2023). Planejando rotas de fuga: uma autoetnografia dos desafios da humanização do parto no ambiente hospitalar em Maceió – AL. Interseções, v. 24 n.3, p. 420-445.

ARAÚJO, Claudine.

(2023). O Plano de Parto no limiar do (re)conhecimento. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

CARNEIRO, Rosamaria.

(2015). Cenas de parto e políticas do corpo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

COELHO, Maria Claudia.

(2021). As Emoções no Teatro da Política: uma apresentação à Antropologia das Emoções. Librevista, n. 46.

DAVIS-FLOYD, Robbie.

(2021). The technocratic, humanistic, and holistic paradigms of childbirth. International Journal of Gynecology & Obstetrics, n. 75, p. S5-S23.

DINIZ, Carmen Simone; CHACHAM, Alessandra.

(2006). O “corte por cima” e o “corte por baixo”: o abuso de cesáreas e episiotomias em São Paulo. Questões de Saúde Reprodutiva, v. 1, n. 1, p. 80-91.

GIACOMINI, Sonia.

(2011). Emoção “brega” e relações de gênero na feira de São Cristóvão: corações, corpos e mentes em transbordamento emocional. In: COELHO, Maria Claudia; REZENDE, Claudia (org.); Cultura e sentimentos: ensaios em antropologia das emoções. Rio de Janeiro, Contra Capa/FAPERJ, p. 27-43.

LUTZ, Catherine.

(1990). Engendered emotion: gender, power, and the rhetoric of emotional control in American discourse. In: LUTZ, Catherine; ABU-LUGHOD, Lila. (org.); Language and the Politics of Emotion: studies in emotion and social interaction. Cambridge, Cambridge University Press, p. 69-91.

LUTZ, Catherine.

(1988). Unnatural emotions: everyday sentiments on a Micronesian atoll and their challenge to Western theory. Chicago, University of Chicago Press.

ODENT, Michel.

(2016a). Pode a humanidade sobreviver à medicina? Rio de Janeiro, Instituto Michel Odent.

ODENT, Michel.

(2016b). A prioridade hoje é mamiferizar o parto. Disponível em: https://www.institutomichelodent.com.br/blog-instituto-michel-odent/michelodentmamiferizarparto Acesso em: maio 2024.

ODENT, Michel.

(2000). A cientificação do amor. São Paulo: Terceira Margem.

OLAH, Renata.

(2010). A partolândia. Disponível em: http://www.renataolah.com.br/2010/11/partolandia.html Acesso em: maio 2024.

REZENDE, Claudia.

(2020). "Eu segurei e ela nasceu!”: percepções do corpo em narrativas de parto. Interseções, v. 22, p. 264-283, 2020.

RIOS, Fábio; COELHO, Maria Claudia.

(2020). Emoção e masculinidade no universo do futebol no Brasil. Cadernos Pagu, n. 58, e205807.

ROHDEN, Fabiola.

(2001). Uma Ciência da Diferença: sexo e gênero na medicina da mulher. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

RUSSO, Jane; NUCCI, Marina.

(2020). Parindo no paraíso: parto humanizado, ocitocina e a produção corporal de uma nova maternidade. Interface, v. 24, p. 1-14.

SALEM, Tania.

(2007). O casal grávido: Disposições e dilemas da parceria igualitária. Rio de Janeiro, FGV Editora.

SCHIEBINGER, Londa.

(2004). Nature’s Body: Gender in the making of modern science. New Brunswick, Rutgers University Press.

SILVA, Fernanda; NUCCI, Marina; NAKANO, Andreza; TEIXEIRA, Luiz Antonio.

(2019). “Parto ideal”: medicalização e construção de uma roteirização da assistência ao parto hospitalar no Brasil em meados do século XX. Saúde e Sociedade, v. 28, n. 3, p. 171-184.

TORNQUIST, Carmen.

(2004). Parto e Poder: O movimento pela humanização do parto no Brasil. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina.

Downloads

Publicado

2025-08-07

Como Citar

RUSSO, Jane; NUCCI, Marina; COELHO, Maria Claudia. O poder do descontrole: observações sobre gênero, corpo e poder no ideário do “parto humanizado”. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 26, n. 3, 2025. DOI: 10.12957/irei.2024.87893. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/intersecoes/article/view/87893. Acesso em: 17 ago. 2025.