O poder do descontrole: observações sobre gênero, corpo e poder no ideário do “parto humanizado”
DOI:
https://doi.org/10.12957/irei.2024.87893Palavras-chave:
parto humanizado, poder, emoçãoResumo
Neste artigo discutimos o empoderamento da mulher no ideário do Parto Humanizado. Para tanto, examinamos a categoria “partolândia”, um momento em que a parturiente é instada a deixar-se levar pelos seus “instintos”, abrindo mão de qualquer controle sobre si. A partir das descrições da “partolândia” nas redes sociais, examinamos como controle e descontrole empoderam a mulher que pare. Duas formas de poder estão em jogo: o poder médico (razão e ciência no controle do parto) em oposição à capacidade do corpo feminino de dar à luz. Nossa hipótese é de que, durante o parto, ocorre uma transição entre o controle pela razão e o controle pelo corpo, mediada por uma gramática emocional composta por medo e covardia. A entrada na “partolândia”, implicando entrega total aos ditames do corpo, seria uma forma paradoxal de “controlar” essa passagem a partir do descontrole.
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