Reconfigurações da maternidade patriarcal sob o neoliberalismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.12957/irei.2024.86753

Palavras-chave:

maternidade, neoliberalismo, feminismo matricêntrico

Resumo

Este artigo analisa como o ideal de maternidade se reconfigura sob o neoliberalismo, mantendo, contudo, elementos essenciais que subordinam as mulheres e geram nelas um sentimento de culpa e inadequação. A partir da perspectiva do feminismo matricêntrico, associado à teórica Andrea O’Reilly, exploramos discursos contemporâneos que vinculam a maternidade à lógica neoliberal, em especial os conceitos de intensive mothering e new momism. Argumentamos que, embora as mulheres tenham conquistado maior presença na esfera pública, a maternidade segue sendo apresentada como uma vocação natural e exclusiva, agora atravessada pela lógica do mercado. Essa ideologia exige das mães dedicação extrema, conhecimento especializado e alto investimento emocional e financeiro no desenvolvimento dos filhos. O resultado é uma sobrecarga que reforça desigualdades de gênero e obscurece a necessidade de políticas públicas que redistribuam o cuidado. Por fim, defendemos a necessidade de um feminismo matricêntrico que compreenda a maternidade como questão política e promova formas de maternagem emancipadoras. Somente ao reconhecer o impacto das construções sociais sobre a experiência materna, será possível construir alternativas que respeitem as mulheres como indivíduos plenos, para além do papel materno.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alana Fontenelle, Universidade Federal do Ceará

Pós-doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará.

Referências

ARIÈS, Philippe.

(1978) . História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

BADINTER, Elisabeth.

(1985). Um amor conquistado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

BADINTER, Elisabeth.

(2011). O conflito: a mulher e a mãe. Tradução de Véra Lucia dos Reis. Rio de Janeiro. Record.

BEAUVOIR, Simone de.

(2009). O segundo sexo. São Paulo: Civilização Brasileira.

CARNEIRO, Rosamaria.

(2021). Cansaço e violência social: sobre o atual cotidiano materno. Cadernos Pagu, n.63.

CHASE, Susan E.; ROGERS, Mary F.

(2011). Mothers & children. New Brunswick: Rutgers University Press.

CRITTENDEN, Ann.

(2001). The price of motherhood. New York: Metropolitan.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian.

(2016). A nova razão do mundo. São Paulo: Boitempo.

DINIZ, Carmen et al.

(2000). Saúde das mulheres: experiência e prática do coletivo feminista sexualidade e saúde. São Paulo, CFSS.

DONATH, Orna.

(2017). Mães arrependidas. Rio de Janeiro: Record.

DOUGLAS, J. Susan; MICHAELS, W. Meredith.

(2007). The new momism. In: O'REILLY, Andrea (ed.). Maternal theory: essential readings. Toronto: Demeter Press.

FEDERECI, Silvia.

(2018). Revolucione en punto cero. Trabajo domestico, reproduccion y luchas feministas. Buenos Aires, Tinta Limon Ediciones.

FOX, Bonnie.

(2006). “Motherhood as a class act.” In: BEZANSON, Kate; LUXTION, Meg (eds.), Social reproduction. Kingston: McGill-Queens University Press.

FRASER, Nancy.

(maio - ago. 2020). Contradições entre capital e cuidado. Tradução José Ivan Rodrigues de Sousa Filho. Princípios: Revista de Filosofia, Natal, v. 27, n. 53.

HALLSTEIN, D. Lynn O’Brien; O’REILLY, Andrea (ed.).

(2012). Academic motherhood in a post-second wave context. Toronto: Demeter Press.

HAYS, Sharon.

(1996). The cultural contradictions of motherhood. New Haven: Yale University Press.

HAYS, Sharon.

(2007). Why Can’t a Mother Be More Like a Businessman?. In O’REILLY, Andrea (org.). Maternal Theory: Essential Readings. Bradford, Canada. Demeter Press.

HERNANDEZ, Alessandra; VÍCTORA, Ceres.

(jan./jun. 2019). Criação de filhos, recriação de pais: práticas e discursos sobre os modos sensíveis de criação infantil. Áltera, João Pessoa, v. 1, n. 8, p. 38-60.

HEINEMANN, Uta Ranke.

(1999). Eunucos pelo Reino de Deus. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.

HIRSHMAN, Linda R.

(2006). Get to work. New York: Viking.

MENDONÇA, Maria Collier de.

(2014). A maternidade na publicidade. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

O’REILLY, Andrea.

(2007). Feminist mothering. In: O’REILLY, Andrea (ed.). Maternal theories: essential readings. Toronto: Demeter Press.

O’REILLY, Andrea.

(2013). “It saved my life”. Journal of the Motherhood Initiative for Research and Community Involvement, vol. 4, n. 1, p. 185-209.

O’REILLY, Andrea.

(2016). Matricentric feminism. Toronto: Demeter Press.

OKIN, Susan Moller.

(2008). Gênero, o público e o privado. Revista Estudos Feministas, v. 16, n. 2, p. 305-332.

PULHEZ, Mariana Marques.

(2015). Mulheres mamíferas: práticas da maternidade ativa. 201 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

RICH, Adrienne.

(1986). Of women born. New York: Norton.

ROUSSEAU, Jean-Jacques.

(1992). Emílio ou Da educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

RUDDICK, Sarah.

(1989). Maternal thinking. Boston: Beacon Press.

SCAVONE, Lucila.

(2001). A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais. Cadernos Pagu, n. 16, p.137-150.

VÁSQUEZ, Georgiane.

(2014). Maternidade e feminismo: notas sobre uma relação plural. Revista Trilhas da História, vol. 3, n. 6, p. 167-181.

Downloads

Publicado

2025-08-07

Como Citar

FONTENELLE, Alana. Reconfigurações da maternidade patriarcal sob o neoliberalismo. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 26, n. 3, 2025. DOI: 10.12957/irei.2024.86753. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/intersecoes/article/view/86753. Acesso em: 11 set. 2025.