Reconfigurações da maternidade patriarcal sob o neoliberalismo
DOI:
https://doi.org/10.12957/irei.2024.86753Palavras-chave:
maternidade, neoliberalismo, feminismo matricêntricoResumo
Este artigo analisa como o ideal de maternidade se reconfigura sob o neoliberalismo, mantendo, contudo, elementos essenciais que subordinam as mulheres e geram nelas um sentimento de culpa e inadequação. A partir da perspectiva do feminismo matricêntrico, associado à teórica Andrea O’Reilly, exploramos discursos contemporâneos que vinculam a maternidade à lógica neoliberal, em especial os conceitos de intensive mothering e new momism. Argumentamos que, embora as mulheres tenham conquistado maior presença na esfera pública, a maternidade segue sendo apresentada como uma vocação natural e exclusiva, agora atravessada pela lógica do mercado. Essa ideologia exige das mães dedicação extrema, conhecimento especializado e alto investimento emocional e financeiro no desenvolvimento dos filhos. O resultado é uma sobrecarga que reforça desigualdades de gênero e obscurece a necessidade de políticas públicas que redistribuam o cuidado. Por fim, defendemos a necessidade de um feminismo matricêntrico que compreenda a maternidade como questão política e promova formas de maternagem emancipadoras. Somente ao reconhecer o impacto das construções sociais sobre a experiência materna, será possível construir alternativas que respeitem as mulheres como indivíduos plenos, para além do papel materno.
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