Como os estudos críticos interseccionais e a ecofenomenologia conferem inclusão política aos animais não humanos
DOI:
https://doi.org/10.12957/irei.2023.71305Palavras-chave:
Animais, Estudos Críticos, Fenomenologia.Resumo
O objetivo do presente artigo é revelar que os campos filosóficos da fenomenologia e dos estudos críticos em suas diversas interseccionalidades têm significativo potencial para tratar da questão animal, dando origem ao que vem sendo chamado de “ecofenomenologia”, pois permitem que enxerguemos animais não humanos como sujeitos intencionais e comunicativos e questionemos a própria divisão Homem-natureza e noções filosóficas antropocêntricas. Diante desse cenário, no presente artigo pretendemos revelar, (i) a partir dos estudos críticos interseccionais e seguindo os pós-estruturalistas, que a divisão humano-animal é uma construção que pode e deve ser questionada; e (ii) que a ecofenomenologia pode ser empregada para que modifiquemos a posição e o tratamento concedido aos animais não humanos em nossas sociedades, e que, em razão dos dois últimos pontos, (iii) qualquer teoria política que leve a sério a questão da inclusão deve levar em consideração o sujeito animal.
Referências
ADAMS, Carol J.
(2010). The Sexual Politics of Meat: A Feminist-Vegetarian Critical Theory. New York: Continuum.
ALMEIDA, Philippe Oliveira de.
(2022). As fronteiras móveis entre o humano e o não humano: a questão animal na teoria anti-essencialista de Angela P. Harris. In: BRAGA-LOURENÇO, Daniel; BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula (orgs.). AUBERT, Anna Caramuru Pessoa (Coord.). Estudos e direitos dos animais. Porto Alegre: Editora Fi.
ANDERSON, Virginia DeJohn.
(2004). Creatures of Empires: How Domestic Animals Transformed Early Americas. Nova York: Oxford University Press.
ARENDT, Hannah.
(1976). The Origins of Totalitarianism. Nova York: A Harvest Book.
AUBERT, Anna Caramuru Pessoa.
(2022). Do ecofeminismo à ecofenomenologia: uma discussão sobre a eutanásia de animais não humanos a partir do cuidado e da comunicação interespécies. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; AUBERT, Anna Caramuru Pessoa; MELO, Arthur Cezar Alves de; SILVA, Gustavo Cardoso (Orgs.). Deficiências & Fenomenologia. Porto Alegre, RS: Editora Fi. p. 125-160.
BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; KIEFER, Sandra Filomena Wagner.
(2016). Para além do antropocentrismo: uma proposta de reflexão. Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, 11 (22): 15-49.
BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula.
(2012). A Dignidade Humana no Direito Constitucional Alemão. Rio de Janeiro: Lúmen Juris.
(2022). Animais na fenomenologia: um campo de pesquisa a explorar nos estudos sobre animais. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; LOURENÇO, Daniel Braga (orgs.). AUBERT, Anna Caramuru Pessoa (Coord.). Estudos e Direitos dos Animais: teorias e desafios. Porto Alegre, RS: Editora Fi. p. 129-157.
BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; AUBERT, Anna Caramuru Pessoa.
(2022a). Eles sofrem? Por um novo tratamento moral dos animais não humanos. Revista Jurídica Luso-Brasileira, 8, n. 1, p. 185-219.
(2022b). Para Além do Direito: um olhar fenomenológico sobre a questão do abandono de animais não humanos idosos, adoentados ou com deficiência. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; LOURENÇO, Daniel Braga (Orgs.). AUBERT, Anna Caramuru Pessoa (Coord.). Estudos e Direitos dos Animais: teorias e desafios. Porto Alegre, RS: Editora Fi, p. 228-261.
(2023). Visões crítica e fenomenológica do capacitismo para animais não humanos. In: BARBOSA-FOHRMANN, Ana Paula; AUBERT, Anna Caramuru Pessoa; AGUIAR, Carina Martin de; NASSER, Ricardo Massao Nakamura (Orgs.). Pessoas com deficiências e animais não humanos: recortes fenomenológicos. Cachoeirinha: Editora Fi, p. 213-235.
BETHENCOURT, Francisco.
(2013). Racisms: From the Crusades to the Twentieth Century.
BRAIDOTTI, Rosi.
(2013). The Posthuman. Cambridge: Polity Press.
BUCHANAN, Brett.
(2008). Onto-Ethologies: The Animal Environments of Uexküll, Heidegger, Merleau-Ponty, and Deleuze. Albany: State University of New York Press.
CAMPBELL, Fiona Kumari.
(2009). Contours of Ableism: The Production of Disability and Ableness. Nova Iorque: Palgrave Macmillan.
CRENSHAW, Kimberlé.
(2002, jan.). Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Dossiê III, Conferência Mundial contra o Racismo, Rev. Estud. Fem., v. 10, n. 1.
DERRIDA, Jacques.
(2008). The Animal That Therefore I Am. Nova Iorque: Fordham University Press.
DIAS, Maria Clara.
(2018). A perspectiva dos funcionamentos: um olhar ecofeminista decolonial. Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p. 2503-2521.
DINIZ, Débora. VÉLEZ, Ana Cristina González.
(1997). Bioética feminista: a emergência da diferença. Revista de Ciências Sociais, IUPERJ, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3.
DONALDSON, Sue; KYMLICKA, Will.
(2011). Zoopolis: A Political Theory of Animal Rights. New York: Oxford Press.
DONOVAN, Josephine.
(2017). Interspecies Dialogue and Animal Ethics: The Feminist Care Perspective. In: KALOF, Linda (ed.). The Oxford Handbook of Animal Studies. New York: Oxford University Press.
FELIPE, Sonia T.
(2021, abr.). Os animais no campo da ética: do androcentrismo ao ginocentrismo? Reflexões sobre o alcance e os limites da ética animalista. In: Praxis Seminar: Research Colloquium in Practical Philosophy 2020/2021. Disponível em: https://cful.letras.ulisboa.pt/praxis/praxis-seminar-2020-21-s13/?fbclid=IwAR35tH-nLTysNkK3GVSnsInGDyynz6-nymz8vjwdpX0sKdjK0BwI2p2FVBc. Acesso em: 02 mar. 2022.
FOUCAULT, Michel.
(1996). Les mots et les choses: une archéologie des sciences humaines. Paris: Éditions Gallimard.
(2010). Os Anormais: curso no Collège de France (1974-1975). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes.
HARRIS, Angela P.
(2000, jun-dez.). As pessoas de cor deveriam apoiar os direitos dos animais? Tradução de Diego Oliveira da Ressureição e Pedro Aillon Forbrig. Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, v. 7, ano 5, p. 43-71, p. 45. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/RBDA/article/view/11040/7960. Acesso em: 2 mar. 2022.
HUNT, Lynn.
(2009). A invenção dos direitos humanos: uma história. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras.
JACKSON, Zakiyyah Iman.
(2020). Becoming Human: Matter and Meaning in an Antiblack World. Nova York: New York University Press.
JONAS, Hans.
(2006). O princípio da responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Tradução de Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto.
KANT, Immanuel.
(1985). Resposta à pergunta: que é “esclarecimento”? (“Aufklërung”). In: KANT, Immanuel. Textos seletos. Trad. Raimundo Vier e Floriano de Sousa Fernandes. 2. ed. Petrópolis: Vozes.
(1980). Fundamentação da metafísica dos costumes. In: KANT, Immanuel; CHAUÍ, Marilena de Souza (coord.). Os pensadores: Kant II. Seleção CHAUÍ Marilena de Souza. Trad. Tania Maria Bernkopf, Paulo Quintela e Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Abril Cultural.
KIM, Claire Jean.
(2015). Dangerous Crossings: Race, Species, and Nature in a Multicultural Age. Nova York: Cambridge University Press, p. 285.
KING, Charles.
(2019). Gods of the Upper Air: How a Circle of Renegade Anthropologists Reinvented Race, Sex and Gender in the Twentieth Century. Nova York: Doubleday.
LESTEL, Dominique; BUSSOLINI, Jeffrey; CHRULEW, Matthew.
(2014). The Phenomenology of Animal Life. Environmental Humanities, v. 5, p. 125-148.
LOBO, Lilia Ferreira.
(2015). Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina.
LOUREIRO, Claudia Regina de Oliveira Magalhães da Silva; AUBERT, Anna Caramuru Pessoa.
(2021). Por uma contextualização dos termos “raça” e “etnia” a partir das perspectivas biológicas, sociológicas e do direito internacional. Revista Brasileira de Direito Internacional, v. 7, n. 2.
MARTINY, Kristian Moltke.
(2015). How to Develop a Phenomenological Model of Disability. Medicine, Health Care and Philosophy, v. 18, 4, p. 553-565.
MEIJER, Eva.
(2019). When Animals Speak. Toward an Interspecies Democracy. New York: New York University Press.
NACONECY, Carlos.
(2014). Ética & Animais: um guia de argumentação filosófica. Porto Alegre, EDIPUCRS.
ROSENDO, Daniela; ZIRBEL, Ilze.
(2019). Dominação e sofrimento: Um olhar ecofeminista animalista a partir da vulnerabilidade. ROSENDO, Daniela et al. (orgs). Ecofeminismos: fundamentos teóricos e práxis interseccionais. Rio de Janeiro: Ape’Ku, p. 84-99.
SANTOS, Robinson dos.
(2019). Observações sobre a noção de teleologia em Jonas. In: FALABRETTI, Ericson; OLIVEIRA, Jelson (orgs). Fenomenologia da vida. Caxias do Sul, EDUCS, p. 121-137.
SZTAJNSZRAJBER, Darío.
(2015). Extrato da aula “La cuestión animal”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zUnHbliFLWk. Acesso em: 18 maio 2022.
THOMAS, Keith.
(1988). O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais, 1500-1800. Trad. João Roberto Marins Filho. São Paulo: Companhia das Letras.
UEXKÜLL, Jakob von.
(1926). Theoretical Biology. New York: Hartcourt, Brace & Company.
(1934). A Stroll Through the Worlds of Animals and Men: A Picture Book of Invisible Worlds. In: SCHILLER, Claire H. (Org.). Instinctive Behavior: the development of a modern concept. Trad. Claire H. Schiller. New York: International University Press.
WEISBERG, Zipporah.
(2015). “The Simple Magic of Life”: Phenomenology, Ontology, and Animal Ethics. Humanimalia: a journal of human/animal interface studies, v. 7, n. 1.
WOLFE, Cary.
(2010). What is Posthumanism? Minneapolis: University of Minnesota Press.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Ana Paula Barbosa-Fohrmann, Anna Caramuru Pessoa Aubert

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Interseções - Revista de Estudos Interdisciplinares está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).