Uma cosmopolítica afroindígena da performance no culto aos Caboclos

Autores

  • Fábio Alex Ferreira da Silva Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

DOI:

https://doi.org/10.12957/irei.2021.64920

Palavras-chave:

Culto aos caboclos. Performance afroindígena. Cosmopolítica.

Resumo

Caboclos, entidades espirituais com características indígenas e regionais, inserem-se no Candomblé em uma perspectiva liminar. Suas presenças evocam formas de comportamento sociorrituais nas fronteiras de tradições reterritorializadas. Por um lado, o termo foi utilizado para denominar um resultado da mistura entre indígenas e brancos, operando uma diluição da identidade e apagamento étnico através da mestiçagem. Por outro, as expressões de espiritualidades indígenas nas religiões afro-brasileiras foram pensadas sob a formulação teórica do sincretismo. No entanto, articulando uma contramestiçagem, as ações das entidades operam um engajamento na transformação do significado da categoria Caboclo, antes utilizada para denominá-las em campos teóricos da mistura. Ao abordá-los na perspectiva dos estudos da performance, com ênfase no “aqui e agora”, enfatizamos as possiblidades de uma composição que estabelece relações entre suas ações e poderes a um conjunto de articulações de um imaginário social. A performance possibilita um  devir da experiência, um material em movimento. No culto aos caboclos, agenciam-se poderes a partir da função integradora do ritual, estabelecendo um acesso a domínios e ancestralidades indígenas. Mais do que representações, nos terreiros são mobilizados modos de relação com uma possibilidade de cultura indígena viva na ação das entidades. Suas manifestações são o encontro entre mundos – um encontro “afroindígena” – experiências narradas e atualizadas nas práticas rituais. Contrabalanceando formulações teóricas dos campos de estudos da performance e estudos das religiões afro-brasileiras, buscamos analisar o repertório utilizado na restauração de comportamentos dos caboclos, considerando sua manifestação como um ato cosmopolítico. A manifestação das entidades, afirmando uma identidade indígena, apresenta homologias com processos de etnogênese de povos indígenas do Nordeste. Partindo da premissa de que na performance o “como se” não se diferencia do “é”, utilizamos a categoria “performados” para designar e propor uma possível leitura da apresentação dos Caboclos nos candomblés.

Biografia do Autor

Fábio Alex Ferreira da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

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Publicado

2022-02-04

Como Citar

Ferreira da Silva, F. A. (2022). Uma cosmopolítica afroindígena da performance no culto aos Caboclos. Interseções: Revista De Estudos Interdisciplinares, 23(3). https://doi.org/10.12957/irei.2021.64920

Edição

Seção

Dossiê Raza, cuerpo y performance en América Latina, reproducciones y subversiones estético-políticas de la cultura