Atenção à população em situação de rua em unidades de saúde da família: a percepção de trabalhadores da saúde

Resumo

A complexidade do fenômeno situação de rua reforça a importância de políticas públicas para o seu efetivo enfrentamento e requer uma resposta global urgente, por retratar a negação da dignidade humana e a privação de direitos, com repercussões para a saúde. Este estudo objetivou caracterizar a atenção à saúde prestada à população em situação de rua, em unidades de saúde da família, na perspectiva de trabalhadores da saúde e identificar estratégias e dificuldades para abordagem dessa população. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em unidades de saúde da família, de um município de grande porte do interior paulista, em 2020. Notou-se que há barreiras sociais e organizacionais ao acesso à saúde dessas pessoas, as quais podem causar a diminuição da busca pelo cuidado. As equipes de saúde pouco identificaram a demanda dessa população em suas unidades e não realizaram atividades de capacitação sobre a temática. Pela falta de formação, os trabalhadores não utilizavam a janela de oportunidade para tratar as condições de saúde e realizavam o atendimento com base nas situações de urgência. Pode-se dizer que a dificuldade de acesso aos serviços e a falta de formação específica do trabalhador da saúde constituem um ciclo que se perpetua na negação do direito à saúde dessa população. É preciso oferecer momentos formativos sobre a temática, para mudanças no processo de trabalho e na programação e oferta de ações assistenciais, de promoção da saúde, prevenção de agravos e de redução de danos, fundamentadas na especificidade desse grupo populacional.