Filosofia da ciência e evolução: uma contribuição ao ensino. Parte 2. O que é uma teoria?

Autores

  • Francisco José de Figueiredo Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Professor Associado do Departamento de Zoologia (UERJ).
  • Levy Aquino de Oliveira Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Graduando em Ciências Biológicas

DOI:

https://doi.org/10.12957/sustinere.2020.50835

Palavras-chave:

Filosofia da Ciência, Método científico, Evolução, Ensino de Biologia

Resumo

A falta de conhecimento básico em filosofia da ciência por parte de professores e alunos tem proporcionado, em diversos níveis, impedimentos quanto à assimilação de conceitos fundamentais da investigação científica, notadamente hipótese, lei, fato e teoria. Consequentemente, o ambiente social subjacente torna-se propício para a disseminação de informações falsas e a instalação de propostas pseudocientíficas. Como pré-requisito para a compreensão do metafenômeno evolutivo, conceitos básicos e outros correlatos são analisados e discutidos, com exemplos aplicados ao evolucionismo moderno.  A estrutura interna de uma teoria científica é discutida à luz de diferentes correntes de pensamento da filosofia da ciência contemporânea e a legitimidade da teoria evolutiva é avaliada.  Categorizações das ciências são apresentadas e discutidas com ênfase na questão da historicidade. Assume-se que o conflito entre ciência e religião pode ser atribuído à falta de distinção explícita entre linguagens literal e simbólica; as duas formas de aquisição de conhecimento possuem caminhos e objetivos diferentes e podem conviver em regime de iluminação recíproca em sociedades com reduzida disfunção social. Apesar das controvérsias e debates quanto a mecanismos e processos envolvidos, a teoria evolutiva gera predições, mostra elevado acúmulo de evidências empíricas e resiliência ao acomodar novos dados. Acrescida de influxos recentes, permanece como a melhor explicação para a história da biodiversidade em nosso planeta. A proposta alternativa de “criacionismo científico” não se sustenta pela total falta de evidências empíricas, baseando-se em argumentos tautológicos, falaciosos ou intestáveis.

Biografia do Autor

Francisco José de Figueiredo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Professor Associado do Departamento de Zoologia (UERJ).

Doutor em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Zoologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência nas áreas de Paleoictiologia e Biologia Comparada, desenvolvendo pesquisas sobre a sistemática e taxonomia de peixes teleósteos do Cretáceo e do Terciário do Brasil.

Levy Aquino de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Graduando em Ciências Biológicas

Departamento: Zoologia de Vertebrados

Área: Filogenia de peixes; Filosofia da Ciência e Evolução Biológica

 

Referências

ALVES, R. Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e as suas regras. 7ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

AMORIM, D.S. Fundamentos de Sistemática Filogenética. Ribeirão Preto: Holos, 2011.

ARMSTRONG, K. A Bíblia. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

AVISE, J.C. Phylogeography: The history and formation of species. Cambridge: Harvard University press, 2000.

AYALA, F. J. Darwin y el Diseño Inteligente: Creacionismo, Cristianismo y Evolución. Trad. Miguel Angel Coll. Madrid: Alianza Editorial, 2006.

BAUMAN, Z. Intimations of Postmodernity. London and New York: Routledge, 1992.

BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

BLEIDORN, C. Phylogenomics: An Introduction. Cham: Springer, 2017.

BOCK, W.J. The synthetic explanation of macroevolutionary change —a reductionistic approach. In: J.H. Schwartz and H.B. Rollins (eds.), Models and Methodologies in Evolutionary Theory. Bull. Carnegie Mus. Nat. Hist. 13: 20-69, 1979.

BUNGE, M. La Investigación Científica. 2ª. ed. Barcelona: Ariel, 1985.

CALLAHAN, T. Secret Origins of the Bible. Altadena: Millenium Press, 2002.

CARNAP, R. The Value of Laws: Explanation and Prediction. p. 12–16 In M. Gardner (Ed.) Philosophical Foundations of Physics. New York: Basic Books, 1966.

CARROLL, S.B. The making of the fittest: DNA and the ultimate forensic record of Evolution. New York: W.W. Norton and Co., 2006.

CARROLL, S.B. Endless Forms Most Beautiful. London: Quercus Publishing, 2011

CHALMERS, A. O que é Ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.

CHAMBERLIN, T.C. Studies for students: the method of multiple working hypotheses. Journal of Geology 5(8): 837-848, 1897.

CHIAVENATO, J.J. Religião: da origem à ideologia. Ribeirão Preto: FUNPEC, 2002.

CIVITA, V. (Ed.). Hume: Vida e Obra. São Paulo: Abril Cultural, 1999.

CLELAND, C. E. Historical science, experimental science, and the scientific method. Geology, 29: 987-990, 2001.

COYNE, J.E. Speciation. Sunderland, MA: Sinauer, 2004.

COYNE, J.E. Por que Evolução é uma verdade. São Paulo: JSN Editores, 2014.

DARWIN, C. R. The origin of species by means of natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life. 6th edition. Chicago: Encyclopedia Britannica, [1872]1952.

EHRMAN, B.D. Que Jesus disse? O que Jesus não disse? Rio de Janeiro: Pocket Ouro, 2005.

EHRMAN, B.D. Evangelhos Perdidos: As batalhas pela escritura e os cristianismos que não chegamos a conhecer. São Paulo: Editora Record, 2008.

ELDREDGE, N. Unfinished Synthesis: Biological hierarchies and modern evolutionary thought. New York: Oxford University Press, 1985.

ELDREDGE, N. Macroevolutionary Dynamics: Species, Niches and Adaptive Peaks. New York: McGraw-Hill, 1989.

ELDREDGE, N. Reinventing Darwin: The great evolutionary debate. London: Orion Books, 1995.

ELDREDGE, N. O Triunfo da Evolução. Ribeirão Preto: FUNPEC, 2010.

EVANS, B. História Natural da Tolice. Rio de Janeiro: Ed. Vecchi, 1952.

FERRAGUTI, M.; C. CASTELLACCI. Evoluzione: Modelli e Processi. Milão: Pearson Italia, 2011.

FIGUEIREDO, F.J.; OLIVEIRA, L.A. Filosofia da Ciência e Evolução: Parte 1. Por que ciência? Sustinere (in press), 2020.

FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N.A. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: Girafa Editora, 2003.

FOREY, P. (Ed.) The Evolving Biosphere: Chance, change and challenge. London: BMNH-Cambridge University Press, 1981.

FRIEDMAN, R.E. Who wrote the Bible? New York: HarperCollins, 1997.

FRODEMAN, R. Geological reasoning: Geology as an interpretive and historical Science. GSA Bulletin, 107(8): 960-968, 1995.

FUTUYMA, D.J. Biologia Evolutiva. Ribeirão Preto: SBG, 1993.

FUTUYMA, D.J. Science on Trial: the case for evolution. Sunderland, MA: Sinauer, 1995.

GEE, H. In Search of Deep Time: Beyond the Fossil Record to a New History of Life. Ithaca: Cornell University Press, 1999.

GOULD, S.J. Ontogeny and Phylogeny. Cambridge: Belcknap Harvard, 1977.

GOULD, S.J. The Structure of Evolutionary Theory. Cambridge: Belkenap Press, 2002.

GRAVES, R.; PATAI, R. O Livro do Gênese: Mitologia Hebraica. Rio de Janeiro: Xenon, 1994.

GREGORY, T.R. Evolution as fact, theory, and path. Evo Edu Outreach, 1:46–52, 2008.

GRENZ,S.J.; GURETZKI, D.; NORDLING, C.F. Dicionário de Teologia. São Paulo: Editora vida, 2000.

HAWKING, S; MLODINOW, L. O Grande Projeto: Novas Respostas para as Questões Definitivas da Vida. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011.

HEIDEGGER, M. Being and time. New York: Harper and Row, 1962.

HENNIG, W. Elementos de Sistemática Filogenética. Buenos Aires; EDUEBA, 1968.

HOFSTADTER, R. Social Darwinism in American Thought. Philadelphia: University of Pennsylvania Press., 1944.

HULL, D. Science as a Process: An Evolutionary Account of the Social and Conceptual Development of Science. Chicago and London: The University of Chicago press, 1987.

HULL, D.; RUSE, M. (eds.). The Philosophy of Biology. Oxford and New York: Oxford University Press, 1998.

HUME, D. Tratado da natureza humana. 2ª.ed. São Paulo: UNESP, 2001.

JABLONKA, E.; M.J. LAMB. Evolução em quarto dimensões: DNA, comportamento e a história da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

JOHNSON, P.E. Darwin on Trial. Downers Grove: InterVarsity Press, 1991.

KISCHLAT, E.E. Os conceitos de espécie: uma abordagem prática. Caderno La Salle XI, Canoas, 2(1): 11-35, 2005

KUHN, T.S. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: The University of Chicago Press, 1970.

LAKATOS, I. Science and Pseudoscience. In Philosophical Papers, vol. 1. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.

LAKATOS, I. Falsification and the Methodology of scientific. Research Programmes. pp. 91-196. In: LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. (eds.) Criticism and the Growth of Knowledge. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

LOSEE, J. Introdução Histórica à Filosofia da Ciência. São Paulo: Editora Itatiaia e EDUSP, 1979.

MACBETH, N. Darwin retried: an appeal to reason. Boston, Gambit Incorporated, 1971.

MAGEE, B. As Ideias de Popper. São Paulo: Cultrix, 1974.

MAGNANI, M. Spiegare i miracoli – interpretazione critica di prodigy e guarigioni miracolose. Bari: Edizioni Dedalo, 2005.

MAYR, E. Systematics and the Origin of Species. New York: Columbia University Press, [1942] 1982.

MAYR, E. Populations, species and Evolution. Cambridge: Harvard University Press, 1970.

MAYR, E. What Evolution is. New York: Basic Books, 2001.

MAYR, E. Biologia, ciência única. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

MAYR, E. Isto é biologia: a ciência do mundo vivo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

MEDAWAR, P. The Art of Soluble. New York: Pelican Books, 1969.

MEIER, R.; WILLMAN, R. The hennigian species concept. p.30-43. In: Wheeler, Q. e Meier, R. (eds.) Species concepts and phylogenetic theory: a debate. New York: Columbia, 2000.

MILNER, R. The Encyclopedia of Evolution: Humanity’s Search for its Origins. New York: Henry Holt, 1990.

MOORE, R.C.; LALICKER, C.G.; FISCHER, A.G. Invertebrate Fossils. New York: McGraw-Hill, 1952.

MORRONE, J. ¿Quién le teme al darwinismo? Ciencia: 78-88, 2003.

MORRONE, J. Evolutionary Biogeography: An integrative approach with case studies. New York: Colomubia, 2009.

NAS (National Academy of Sciences of the USA). Teaching about evolution

and the nature of science. Washington, DC: National Academies press, 1998.

NEIVA, E. O Racionalismo Crítico de Popper. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1998.

NELSON, G.; PLATNICK, N. Systematics and Biogeography: Cladistics and Vicariance. New York: Columbia, 1981.

NELSON, G. Species and taxa: systematics and evolution. p. 60-81. In: Otte, D.; Endler, J.A. (eds.) Speciation and its consequences. Sunderland, MA: Sinauer, 1989.

NELSON, G.; LADIGES, P. Biogeography and the molecular dating game: a futile revival of fenetics? Bull. Soc. Geol. Fr., 180(1): 39-43, 2009.

OTTE, D.; ENDLER, J.A. (eds.) Speciation and its consequences. Sunderland, MA: Sinauer, 1989.

PATTERSON, C. Evolution. New York: Cornell University Press, 1978.

PEQUENO, M. 10 Lições sobre Hume. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.

PETERS, R. A Critique for Ecology. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

PIGLIUCCI, M. Do we need and extended evolutionary synthesis? Evolution 61: 2743-2749, 2007.

PIGLIUCCI, M.; MÜLLER,G.B. (eds.) Evolution: The extended synthesis. Cambridge; MIT Press, 2010.

PIGLIUCCI, M. Nonsense on stilts: how to tell science from bunk. Chicago: Chicago University press, 2013.

PIGLIUCCI, M.; M. BOUDRY (eds.) Philosophy of Pseudoscience. Chicago: Chicago University Press, 2013.

PINKER, S. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

PLATT, J.R. Strong Inference. Science 146: 347–53, 1964.

POPPER, K. Conjecturas e refutações. Brasília: UnB, 1972.

QUEIROZ, K. & M. DONOGHUE. Phylogenetic systematics and species revisited. Cladistics 6: 83-90, 1990.

RIDLEY, M. Evolution and Classification: The Reformation of Cladism. New York: Longman, 1986.

RIDLEY, M. Evolução. Porto Alegre: Artemed, 2006.

RIEPPEL, O.C. Fundamentals of Comparative Biology. Basel: Birkhauser Verlag, 1988.

ROSEN, D.E. Fishes from the uplands and intermontane basins of Guatemala: revisionary studies and comparative geography. Bull. Am. Mus. Nat. Hist., 162: 267-376, 1979.

RUSE, M. La Revolución Darwinista. Madrid: Alianza editorial, 1979.

SAGAN, C. O Mundo assombrado pelos demônios: A ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das letras, 2000.

SHERMER, M. Why Darwin Matters. The Case against Intelligent Design. New York: Henry Holt, 2006.

SHERMER, M. Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas? São Paulo: JSN, 2011.

SHOMRAT, T. e LEVIN,M. An automated training paradigm reveals long-term memory in planarians and its persistence through head regeneration. J. Exp. Biol. 216: 3799-3810, 2013.

SIMPSON, G. G. Tempo and Mode in Evolution. New York: Columbia University Press, 1944.

SIMPSON, G.G. The major features of Evolution. New York: Columbia University Press, 1953.

SMITH, A.B. Systematics and the fossil record: documenting evolutionary patterns. Oxford: Blackwell, 1994.

SMITH, P.J. Ceticismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

SOBER, E. Philosophy of Biology. Boulder, CO: Westview Press, 1993.

SOBER, E. Evidence and Evolution: The Logic behind the Science. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

SOBER, E. Did Darwin write the Origin backwards? Philosophical Essays on Darwin’s Theory. Amherst and New York: Prometheus Books, 2011.

SOKAL, R. & T. CROVELLO. The biological species concept: a critical evaluation. Am. Nat. 104:127-153, 1970.

STERELNY, K.; GRIFFITHS, P. Sex and Death: Na Introduction to Philosophy of Biology. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1999.

WARD, P. O Fim da Evolução: extinções em massa e preservação da biodiversidade. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1997.

WHEELER, W. Systematics: A Course of Lectures. Chichester: Wiley-Blackwell, 2012.

WHEELER, Q.D; PLATNICK, N.I. The Phylogenetic Species Concept (sensu Wheeler and Platnick). p. 55-69. In: Q.D; Wheeler, R Meier (Ed.). Species concepts and phylogenetic theory: a debate. New York: Columbia University Press, 2000.

WILEY, E.O. Is the evolutionary species fiction? A consideration of classes, individuals and historical entities. Syst. Zool. 29: 76-80, 1980.

WILEY, E.O. Phylogenetics: the Theory and practice of phylogenetic systematics. New York: J. Wiley and Sons, 1981.

WILEY,E.O.; LIEBERMAN, B.S. Phylogenetics; Theory and practice of phylogenetic systematics. New York: J. Wiley, 2011.

WILKINS, J.S. Species: A History of the Idea. Berkeley: University of California press, 2009.

WILLIAMS, G.C. Adaptation and Natural Selection. Princeton: Princeton University Press, 1966.

WINSTON, J.E. Describing Species: practical taxonomic procedure for biologists. New York: Columbia, 1999.

WISE, D.U. Creationism's Geologic Time Scale. Am. Sci., 86(2): 160-173, 1998.

ZOPPO, D. Prog: una suite lunga mezzo secolo. Roma: Arcana, 2011.

ZUNINO, M.; ZULLINI A. Biogeografia: la dimensione spaziale dell’evoluzione. Milano: Casa Editrice Ambrosiana, 1995.

Downloads

Publicado

16-07-2020

Como Citar

de Figueiredo, F. J., & de Oliveira, L. A. (2020). Filosofia da ciência e evolução: uma contribuição ao ensino. Parte 2. O que é uma teoria?. Revista Sustinere, 8(1), 164–202. https://doi.org/10.12957/sustinere.2020.50835

Edição

Seção

PERSPECTIVAS DA CIÊNCIA