PARA ALÉM DA SEDUÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NOS ESTADOS UNIDOS: confrontando o poder, construindo uma agenda histórico-cultural

Resumo

A maior parte da literatura sobre educação inclusiva proclama os benefícios e as promessas da participação significativa nos sistemas educacionais. Entretanto, a despeito de tais promessas, estes estudos não abordam as subjacentes questões de poder sociais e históricas. No presente artigo examinamos três questões que rompem com o fascínio da inclusão. Em primeiro lugar, reconhecemos o paradoxo do apelo para inclusão numa sociedade profundamente estratificada que tem marginalizado historicamente comunidades distintas; o não reconhecimento de uma estratificação de longa data na sociedade norte-americana aumenta o risco de tornar a educação inclusiva cúmplice no projeto histórico de assimilar os oprimidos numa sociedade estratificada. A seguir, examinamos o papel do poder elencado na fusão histórica entre raça e diferenças de capacidade, bem como a maneira como tais diferenças construídas socialmente estão localizadas no corpo. A educação inclusiva não pode mais ignorar o cruzamento desses marcadores de diferenças já que isso fragmenta as experiências dos alunos na sociedade contemporânea norte-americana resultando na perda da oportunidade de desmontar uma das formas em que corpos racializados são regulamentados nas escolas da nação. A terceira questão focaliza a aparente erosão da atenção das comunidades escolares e políticas para com a educação inclusiva, fato que se reflete no uso decrescente desse construto no material de pesquisa, nas prioridades de financiamento e nos registros legislativos. Argumentamos que as fragilidades identificadas na educação inclusiva justificam o estímulo de uma postura reflexiva nesse campo visando o engajamento sistemático com o papel do poder na estruturação de oportunidades educacionais e na promoção do projeto social reconstrucionista prometido pela educação inclusiva.