Satisfação com a vida em idosos residentes na comunidade
Resumo
Introdução: A avaliação positiva de bem-estar e satisfação
com a vida (SV) influencia os desfechos de saúde na velhice.
O estudo da SV pode auxiliar na prevenção de perdas funcionais
e da mortalidade. Objetivo: Investigar a associação entre
SV (atual/global e comparada com pessoas de mesma idade)
e dados sociodemográficos, saúde física e mental, suporte
social, capacidade funcional (desempenho em Atividades
Básicas e Instrumentais de Vida Diária – ABVDs e AIVDs) e
cognição de idosos da comunidade. Materiais e métodos:
Inquérito realizado no Estudo Fibra-JF, em Juiz de Fora (MG),
com 427 idosos (≥65 anos). Utilizou-se entrevista semiestruturada
e instrumentos validados para o Brasil. Resultados:
Houve predomínio de mulheres (69,6%). As médias etária e de
escolaridade foram de 74,44 (DP=6,87) e 5,42 (DP=4,16) anos,
respectivamente. Identificou-se maioria com alta SV global/
atual (p<0,001) e comparada (p<0,001). A SV atual associou-se
significativamente com cognição (p<0,001) e sintomas depressivos
(p<0,001) e a SV comparada, com escolaridade (p=0,041)
e sintomas depressivos (p<0,001). A razão de prevalência
entre SV hoje e sintomas depressivos e cognição foi de 0,949
(IC=0,931-0,967) e 0,847 (IC=0,812-0,883), respectivamente.
Alta SV comparada associou-se negativamente com sintomas
depressivos [RP=0,904 (IC=0,876-0,933)] e escolaridade, com
prevalência de alta satisfação 1,38 vezes maior entre os analfabetos
do que entre aqueles com alta escolaridade. Conclusões:
Perdas cognitivas e sintomas depressivos podem diminuir a
SV em idosos. Compreender os fatores que modificam o curso
natural de SV pode auxiliar a intervenção clínica e psicológica,
proporcionando mais chances de bem-estar aos idosos.
Descritores: Satisfação pessoal; Qualidade de vida;
Envelhecimento.
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