Editorial

Autores

  • Roberto A. Lourenço Departamento de Medicina Interna. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.12957/rhupe.2017.38550

Resumo

O presente fascículo inclui dois artigos que se dedicam
a rever um tema de grande atualidade, revisões geradas
a partir das teses de doutorado dos autores.1,2 Trata-se
de leitura indispensável para entender os desafios que
a comunidade científica tem no futuro imediato para
definir com maior adequação como rastrear e diagnosticar
sarcopenia.
A sarcopenia foi definida no final da década de 1980
como redução da massa muscular esquelética, associada
à diminuição de força muscular, desfechos adversos de
saúde e mortalidade elevada.3 Durante a década de 1990,
uma série de propostas foi desenvolvida tendo como
meta a operacionalização do diagnóstico e propondo
instrumentos de aferição e valores de referência que
separassem massa muscular esquelética normal daquela
associada aos eventos acima mencionados.4-6
Um conjunto de evidências epidemiológicas surgidas
na década subsequente sugeriu que força muscular e
desempenho funcional estão mais fortemente associados
a desfechos adversos e mortalidade elevada do que
a própria massa muscular.7 Tal fato levou vários grupos
internacionais a sugerirem que essas variáveis fizessem
parte da própria definição conceitual de sarcopenia, assim
como de sua definição operacional e de algoritmos
de rastreamento e diagnóstico.8-10 Provavelmente, as
recomendações do European Working Group on Sarcopenia
of Older Person (EWGSOP),8 publicadas em 2010,
foram as que obtiveram o maior número de adeptos.
Diversos trabalhos foram publicados, a partir de então,
analisando o perfil de força e massa musculares, assim
como de desempenho funcional de populações idosas
nos vários continentes.11,12 Não obstante todo o sucesso
da proposta do EWGSOP, logo ficou claro que problemas
conceituais e operacionais dificultavam a sua aceitação
consensual. Uma das questões é que a nomeação de pré-
-sarcopenia, para os casos em que só a massa muscular
estava reduzida, criou uma contradição nos termos:
a palavra sarcopenia foi gerada a partir dos radicais
gregos sarco (carne) e penia (redução). Por outro lado,
o algoritmo de rastreamento, composto de um exame
da velocidade de marcha (VM) e da força de preensão
manual (FPM), quando normal, excluía a possibilidade
de serem identificados indivíduos com massa muscular
esquelética reduzida. Também preocupante era o fato
de que os valores de referência propostos para a VM
(0,8 m/s) e a FPM (20 e 30 kgf, para mulheres e homens,
respectivamente) levavam à classificação inadequada de
populações latino-americanas e sul-europeias.13 Pouco
tempo atrás, Cruz-Jentoft e colaboradores publicaram a
uma versão revista do consenso europeu (EWGSOP-2).14
Quando comparada com a proposta de 2010, algumas
modificações foram introduzidas, resultando em alterações
substanciais no algoritmo sugerido para identificação
de casos suspeitos. Entre as mudanças, vale a pena
salientar a caracterização de alterações da funcionalidade
como marcador de gravidade e a redução dos valores de
referência de FPM. No entanto, a revisão de 2018 ainda
carrega uma série de problemas. Em primeiro lugar, há
que se considerar que a estratégia de rastreamento de
casos está delineada para selecionar indivíduos suspeitos
em situações clínicas definidas — tais como consultórios
e ambulatórios médicos — uma vez que não há qualquer
evidência científica de que o rastreamento de populações
na comunidade tenha eficiência ou efetividade no
manejo de sarcopenia. Ainda, o SARC-F, instrumento
sugerido para identificação inicial de suspeitos, tem se
mostrado de baixa acurácia, devido, sobretudo, a uma
reduzida sensibilidade, implicando na exclusão de um 

grande número de indivíduos falso negativos. O passo
seguinte, a medida da força de membros superiores ou
inferiores (FPM e o teste de levantar e sentar em uma
cadeira, respectivamente) dos selecionados pelo SARC-F
resultará na exclusão de indivíduos sarcopênicos, sem
dinapenia. O próximo passo diagnóstico será uma investigação
de massa muscular em indivíduos dinapênicos,
seguida de uma caracterização de gravidade de acometimento,
por meio de testes de função (velocidade de
marcha, SPPB, TUG, teste de caminhada de 400 m). Em
resumo, o algoritmo de identificação de casos proposto
pelo EWGSOP-2 pode gerar e excluir um grande número
de falsos negativos e diagnosticar apenas indivíduos sarcopênicos
com dinapenia. Essa abordagem descartaria os
portadores de massa muscular esquelética sem alteração
de força ou função, provavelmente aqueles que mais se
beneficiariam de intervenção precoce Referências
Roberto A. Lourenço


Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2017;16(2):69-70
Editor executivo

Biografia do Autor

Roberto A. Lourenço, Departamento de Medicina Interna. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Departamento de Medicina Interna. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Publicado

2018-12-06

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Editorial